segunda-feira, 30 de maio de 2011

#letras365 - Sarau Literário via Twitter

Toda vez que se fala de sarau, sempre me vem à mente um tempo distante, em que pessoas de interesse comum se reuniam, geralmente à noite, quem sabe até à luz de velas, em casas anfitriãs, para festejar, dançar, ler, cantar, enfim, compartilhar suas afinidades e preferências comuns no mundo das artes e da cultura popular.

Segundo o Aurélio, a palavra sarau, substantivo masculino, vem do galego serao, e significa festa noturna, em casa particular, clube ou teatro (1); concerto musical noturno (2); ou ainda festa literária noturna, especialmente em casas particulares (3). Ou seja, não muito diferente daquilo que escrevi.

Bastante comum no século XIX, a prática perdeu um pouco seu espaço para a televisão e, depois, para a internet. Mais recentemente, com o advento das redes sociais, parecia não ter mais sentido – se bem que algumas manifestações ainda persistem em centros e espaços culturais. Felizmente não é esse o caso.

Sábado passado fiquei sabendo de uma iniciativa bastante interessante de jovens twitteiros e blogueiros que estão promovendo um Sarau Literário via Twitter, por meio da comunidade literária #letras365.

A ideia partiu do estudante de Letras, Renan O. Pacheco (@renanop), e recebeu o apoio da também estudante de Letras, Daniele Freitas (@Daniele_SF) e de Giselle Zamboni (@gisellezamboni). Juntos, eles estão organizando o Sarau, um espaço democrático, que acontecerá no dia 11 de junho, das 19 às 21 horas, no twitter. É só chegar e tuitar suas criações literárias, ou retuitar.

Não há regras para participar, mas Renan dá algumas sugestões:

“• Não publique textos de terceiros: nós queremos ler sua obra, não do Caio Fernando Abreu ou do Millôr (a menos que este participe também).

• Não divulgue blogs, sites, ou similares. Entenda isso como uma conversa durante uma declamação: não é o momento adequado para isso.

• Não publique outra coisa que não sejam textos literários, RTs e comentários durante essas duas horas: já que você vai ao sarau, está lá, acredito que os outros assuntos possam ser adiados.

• E por favor, divulgue e participe, o cartaz acima pode ser publicado em qualquer blog, é só copiar a imagem. O s@rau não é do Renan, da Daniele, nem da Giselle, é nosso.

• Não se esqueça da data, horário e o principal a hashtag: #sarauletras365

As adesões estão pipocando e, é claro, eu também vou participar. E você?

Dúvidas, críticas ou sugestões:
rop.renan@hotmail.com ou @renanrop
dani.s.freitas@gmail.com ou @Daniele_SF
gisellezamboni@uol.com.br ou @gisellezamboni

quarta-feira, 25 de maio de 2011

As melhores coisas do mundo

Fazer aniversário, ganhar presentes – mesmo pequenos – o mês inteiro, ouvir Something com os Beatles, passear na Casa das Rosas, tomar café, comer chocolates, encontrar os amigos, ler um bom livro, lembrar-se de um filme assistido no cinema e vê-lo passar na TV, dormir, acordar com a cantoria dos pássaros, ouvir a trilha sonora de Across the universe, afagar um cão...

Estes são alguns dos itens que fazem parte da minha lista de “as melhores coisas do mundo”, comprovando que, para ser feliz não é preciso muito mais, basta apenas ter a “alma adolescente” e apreciar o que de bom a vida lhe oferece – e olha que ela oferece muito.

A lista começou a ser desenhada na minha cabeça enquanto lia As melhores coisas do mundo, roteiro do filme com o mesmo título lançado pela Coleção Aplauso, da Imprensa Oficial. O roteiro é assinado pelo escritor Luiz Bolognesi, em parceria com a cineasta Laís Bodanzky, diretora dos sucessos cinematográficos Chega de Saudade e Bicho de Sete Cabeças.

Assisti As melhores coisas do mundo no ano passado e me surpreendi com a história de Mano, interpretado pelo jovem ator Francisco Miguez. Trata-se de um adolescente que vive as descobertas e as dificuldades da adolescência, quando um acontecimento familiar passa a interferir na sua rotina da escola. Frente a isso, ele tenta se encontrar e descobrir seu caminho.

O filme, lançado em 2010, foi inspirado na série de livros Mano, do jornalista Gilberto Dimenstein e da escritora Heloísa Prieto. A película recebeu oito prêmios no Festival do Recife, incluindo melhor filme e melhor roteiro.

Em abril, por causa do meu aniversário, resolvi me presentear com um livro e lembrei que na livraria da Casa das Rosas, espaço cultural localizado na Avenida Paulista, em São Paulo, os aniversariantes do mês podem adquirir livros pela metade do preço. E foi lá que avistei As melhores coisas do mundo, o roteiro do filme transformado em livro. Não pensei duas vezes, era esse que eu queria.

Foi uma leitura prazerosa, ainda mais por se tratar de um roteiro, em que as cenas, as marcações, as falas – e os pensamentos -, os ângulos, enfim, tudo é demarcado e contado. Acho que foi a primeira vez que li um roteiro e gostei muito, sobretudo por já conhecer a história e, assim, poder rememorá-la a cada cena, a cada página virada.

Para escrever o roteiro, Bolognesi conta que utilizou o “método antropológico de fazer roteiros”, ou seja, construir personagens “que não são meras projeções de nosso imaginário e valores pessoais, mas representações de mundo dotadas de alteridade”. Em outras palavras, no lugar de criar adolescentes que expressem a visão que ele tem destes, conseguiu chegar a personagens que representam uma visão de mundo que eles próprios têm. E isso não é fácil, porque requer pesquisa, muita pesquisa, ouvir as pessoas e encorajá-las a expressar seus valores e visões de mundo. É valorizar o estranhamento, sem ignorá-lo.

Quando soube disso lembrei-me das aulas de Antropologia Cultural na Puccamp, quando fiz a graduação em Jornalismo. Era uma das matérias que mais gostava, pelo seu método de conhecer e estudar outras culturas, respeitar as etnias, saber dos seus valores, aceitar suas diferenças. E foi com um prazer a mais que li o roteiro.

E para fazê-lo, Bolognesi e Laís percorreram diferentes escolas de São Paulo, fazendo uma série de nove minuciosas entrevistas com grupos de cinco a oito adolescentes. Foi assim que chegaram ao universo dos jovens de hoje, marcado pela fase escolar em que o bullying faz parte da rotina e como os adolescentes reagem e tentam se livrar dessa pecha.

Quero destacar ainda um dos personagens do roteiro, a garota Carol, interpretada no filme pela jovem atriz Gabriela Rocha, e seu inseparável caderninho de anotações, uma espécie de diário, em que pontua sentimentos, frases e emoções. Em tempos de internet, blogs e afins, ter um objeto reservado, um companheiro só seu, para compartilhar suas sensações, como o ranking de “as melhores coisas do mundo” que ela lista no final do filme, não deixa de ser inusitado – e belo.

sábado, 21 de maio de 2011

No clube de leitura

Reservado, esquisito, indeciso, solitário. Assim é Virgile, personagem principal de Talvez uma história de amor, quinto romance do escritor francês Martin Page. Um dia, ele chega a sua casa e encontra na secretária eletrônica um recado de Clara dizendo que o namoro estava terminado. Triste e desconfortante. Até aí tudo bem, o absurdo da situação é que Virgile não se lembra da relação e muito menos de Clara. No embaraço dessa decusçai o protagonista vê sua vida virar do avesso e decidi então ir em busca dessa mulher.
 
O enredo é curioso e até surreal. Não é à toa que este foi o livro escolhido pelos integrantes do Clube de Leitura Bookworms, criado em novembro do ano passado pela Paula, professora da rede particular de ensino e in-company, do blog Bookworms ( http://the-bookworms-club.blogspot.com/ ).

O grupo se reúne uma vez por mês, no café da Casa das Rosas, em São Paulo, em meio a um cenário cultural acolhedor e deslumbrante, para compartilhar impressões sobre livros e fazer novas amizades.

Na última quinta-feira aconteceu uma dessas reuniões do Clube, do qual participei pela segunda vez, a primeira com uma leitura indicada. Com o tempo frio, optamos por realizar as discussões dentro do café (geralmente os encontros são feitos ao ar livre, nas mesinhas concentradas no pátio interno da Casa das Rosas, contíguo ao café). Estávamos em dez pessoas, nove mulheres, apenas um rapaz.

Antes das discussões, uma breve conversa sobre livros que queremos ler, que já lemos, que estamos lendo, indicações de leituras, autores, gostos literários, enfim, tudo que envolve o mundo da Literatura. Depois cada um falou das impressões sobre o livro escolhido pelo grupo, suas dúvidas com relação a ele, o que ficou e trouxe para nossas vidas.

Talvez uma história de amor não chega a ser um grande livro. Tive altos e baixos com relação a ele, a começar pela escolha. Quando o grupo decidiu por ele, não me senti muito animada. A sinopse não me “pegou”, mas novata no Clube, acatei, afinal, muitas vezes erramos nas nossas pré-avaliações. Eu mesma já tive provas disso quando uma amiga convidou-me para assistir, em uma da edição da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, o filme “Across the Universe”. Não tinha lido nada sobre o filme, não sabia o que esperar, não era uma escolha minha..., mas mesmo assim fui e, confesso, AMEI! Acredito que até mais do que minha amiga. Tanto que comprei depois o DVD, assisti várias vezes e adquiri ainda o CD com as músicas do filme. Assim, podia dar uma chance ao livro... quem sabe eu não me surpreenderia.

Já nas primeiras páginas a história me encantou. O jeito de narrar do autor prendeu minha atenção de imediato, cheio de detalhes e descrições que me fizeram lembrar as aulas de Jornalismo Literário, eu realmente estava ficando fascinada. Só que, pouco depois, umas dez páginas além, a história caiu no lugar comum, ou eu que não estava num bom momento, não sei, o fato é que achei meio monótono, meio chato, mas continuei lendo, sem muito interesse. E foi assim até bem mais da metade do livro. Depois a história deu uma guinada e situações absurdas se sucederam, ficou mais dinâmico e o final, embora óbvio, ficou na medida.

O personagem é um sujeito estranho, que mora sozinho e não se acerta com ninguém. Seus pais trabalham em circo e sua infância e parte da adolescência foram vividas embaixo das lonas, transportadas de cidade em cidade, numa vida errante e nada convencional.
Talvez isso ajude a entender a personalidade de Virgile, um cara em busca de uma vida normal, toda certinha, mas que no fundo esbarra na sua inaptidão – ou mesmo vontade – de seguir um padrão. É o anti-herói que ora você se identifica, ora você sente raiva, principalmente quando ele deixa a vida o levar, de equívocos em equívocos, sem interferir. Nesse turbilhão vale ressaltar as reflexões feitas pelo personagem, algumas bem legais, outras um pouco cansativas.

Gostei dessa primeira experiência em um Clube, outras leituras virão e, com elas, a oportunidade de belas discussões, sem falar na amizade que surge – e se fortalece – a cada reunião.

O próximo encontro já está marcado, assim como a leitura. Desta vez será On the road - pé na estrada, de Jack Kerouac, ainda bem porque estava na minha lista.

Para quem se interessar, entre no blog da Paula, saiba como participar e os dias dos encontros.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Uma grande festa literária

Férias é tudo de bom. Significa tempo para descansar, relaxar, repor energias e para fazer o que não se pode – e deseja – quando se está trabalhando, enfim é puro prazer. E se podemos conciliar as férias com atividades das quais gostamos, melhor ainda.

Estou falando de férias agora, mas as minhas se encontram a três meses de distância. O que me fez lembrar delas é que há quatro anos, pelo menos, costumo tirá-las em julho e, consequentemente, as associo à Flip – Festa Literária Internacional de Paraty, que acontece, geralmente, naquele mesmo mês, e destino certo das minhas três últimas férias tiradas.

Este ano, porém, contrariando a lógica, as minhas férias foram transferidas para agosto. É que na mesma semana de julho em que será realizada a Flip, a empresa em que trabalho promoverá um evento e terei de cobrir. Imaginem, então, a minha frustração de não poder ir à Festa Literária, ainda mais este ano que terá a presença do cartunista e jornalista Joe Sacco, expoente do Jornalismo em Quadrinhos, trabalho este que inspirou minha monografia na pós de Jornalismo Internacional e me conquistou, de vez, para o mundo dos quadrinhos.

Mas como nem tudo é definitivo, minha esperança era de que pudesse participar da festa, pelo menos, no final de semana. Seria corrido, mas se pudesse ver Joe Sacco, valeria a pena.

Hoje essa pequena esperança começou a se tornar realidade quando, na coletiva da Flip 2011, pude comprovar, na programação distribuída à imprensa, que Joe Sacco estará na mesa que acontece no sábado, dia 9, às 12 horas. Perfeito, perfeitíssimo! Era a possibilidade que eu esperava. Um fim de semana curto, mas com a expectativa de poder vê-lo – e ouvi-lo – de perto, naquela atmosfera literária, numa das cidades mais bonitas do Brasil.

A Flip 2011, que chega a sua nona edição com um novo curador, o jornalista Manuel da Costa Pinto, tem uma lista de convidados bastante diversificada e eclética, que condiz com o autor homenageado deste ano: o escritor Oswald de Andrade, um dos mais importantes introdutores do Modernismo no Brasil e criador do ideário antropofágico.

Com a colaboração precisa de Marília de Andrade, filha de Oswald, os organizadores da Flip elaboraram uma programação sob medida em homenagem ao escritor modernista. Haverá uma exposição com documentos e obras de Oswald de Andrade e mesas literárias que discutirão suas ideologias, como a da abertura da Flip, em 6 de julho, que contará com a participação de Antonio Candido, 93 anos, professor e estudioso da literatura brasileira e estrangeira, que foi amigo pessoal de Oswald.

A Flip deste ano traz 29 autores de 13 países, numa verdadeira celebração de vários idiomas: inglês, espanhol, francês, italiano, húngaro e, é claro, o português. Juntos eles discutirão, em 18 mesas, ciência filosofia, tecnologia, linguagem e muita literatura.

“A predominância desta edição é para a ficção e romance, sem detrimento das outras áreas do saber”, informou Costa Pinto. Segundo ele, haverá representantes da literatura do século XX, como o escritor João Ubaldo Ribeiro, cuja obra é o ápice da literatura brasileira; o romance moderno será expresso pelo italiano Antonio Tabucchi e o americano James Ellroy; o romance experimental será representado pela argentina Pola Oloixarac e pelo português Valter Hugo Mãe; já o húngaro Péter Esterházy e o francês Emmanuel Carrère tratam da ficção e não ficção, com uma abordagem mais autobiográfica.

Outro destaque da nona edição é a transferência da Tenda do Telão e da Tenda dos Autógrafos para o mesmo lado em que funciona a Tenda dos Autores. O espaço em que as duas tendas ficavam, nas edições anteriores, será ocupado pela Flipinha e pela Flipzona, voltadas respectivamente para os públicos infantil e adolescente. A ideia é desafogar o centro histórico.

Com relação a essas duas atividades, sua coordenadora, Cris Maseda, ressaltou que estas não se tratam de eventos apenas, elas são, na verdade, “o resultado do trabalho que a Casa Azul realiza o ano inteiro nas escolas de Paraty, para a promoção da leitura de literatura entre as crianças e jovens da cidade”. Por sinal, um belo trabalho que, espera-se, frutifique ainda mais.

Confira a programação completa da nona edição da Flip no site da Festa: http://www.flip.org.br/programas.php

* A foto é de Walter Craveiro

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Apoio à Fundação Dorina Nowill

Venho “flertando” com a Fundação Dorina Nowill, instituição filantrópica voltada à ampla integração dos deficientes visuais à sociedade, há um bom tempo. Ciente do belo trabalho que realizam de assistência, inclusão e difusão para o Livro do Cego no Brasil, ocorreu-me o desejo de participar, como voluntária, da entidade, mas ainda sem saber, ao certo, como colaborar, tendo em vista o meu horário de trabalho.

No ano passado decidi arriscar e, em contato com a entidade, trabalhei como voluntária durante as eleições de 2010. A Fundação é um dos locais de votação e meu trabalho consistia em auxiliar os deficientes visuais que votariam naquela sessão.

Foi uma experiência breve, mas rica. Por não dispor de mais horas livres, venho atuando na parte de eventos ocasionais, mas o suficiente para conhecer e admirar ainda mais o trabalho desenvolvido pela instituição.

Fundada em 1946 por Dorina Nowill, a entidade era conhecida como “Fundação para o Livro do Cego no Brasil”, hoje chamada “Fundação Dorina Nowill para Cegos”. A instituição dedica-se à inclusão social das pessoas com deficiência visual, por meio da produção e distribuição gratuita de livros em Braille, falados e digitais. Estes materiais são distribuídos diretamente às pessoas com deficiência visual e para mais de 1.400 escolas, bibliotecas e organizações de todo o Brasil.

Além disso, a Fundação oferece, gratuitamente, programas de serviços especializados à pessoa com deficiência visual e sua família, nas áreas de educação especial, reabilitação, clínica de visão subnormal e empregabilidade.

Em todos esses anos de atuação, a Fundação já atendeu mais de 17.000 pessoas nos serviços de clínica de visão subnormal, reabilitação e educação especial. Produziu mais de 1.600 obras em áudio e tornou acessíveis aproximadamente 900 títulos digitais.

Esta não é a primeira vez que falo da Fundação Dorina Nowill. Em dois posts anteriores já havia comentado o trabalho da instituição e de sua fundadora. Aqui:
http://leituraseobservacoes.blogspot.com/2011/04/ler-com-outros-olhos.html


Para conhecer mais o trabalho da Fundação Dorina Nowill acesse http://www.fundacaodorina.org.br/

Este post faz parte da blogagem coletiva em apoio à Fundação Dorina Nowill: por livros acessíveis aos cegos, promovida pelo blog Livros e Afins ( http://livroseafins.com/ ), do Alessandro Martins.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Leitores jovens, leitores sempre

Em um curso de Literatura que fiz, há cinco ou seis anos, no Centro Cultural Banco do Brasil, em São Paulo, assisti ao vídeo de uma entrevista feita com José Mindlin sobre os livros que marcaram sua vida. Em dado momento, ele disse uma frase que não pude esquecer e que, aliás, já até a citei neste blog em outro post:

– O importante é ler, seja lá o que for. A seletividade, vem com o tempo.

A lembrança dessa frase me ocorreu no sábado, quando li a reportagem de capa da revista Veja desta semana: “Uma geração descobre o prazer de ler”, assinada por Bruno Meier, sobre a literatura consumida pelos jovens na era digital. Segundo a reportagem, muitos desses “novos leitores”, que agora estão se aventurando pelas leituras clássicas, foram estimulados por livros infanto-juvenis como as sagas Harry Potter, da inglesa J. K. Rowling, e Crepúsculo, da americana Stephenie Meyer.

O enfoque da reportagem já era suficiente para atrair minha atenção, mas qual não foi minha surpresa quando vi que uma das jovens retratadas era a blogueira Íris Figueiredo, do Literalmente Falando ( http://www.literalmentefalando.com.br/ ), um blog que acompanho há algum tempo. Aliás, a primeira vez que cheguei a ele o que mais me surpreendeu foi o fato de Iris ser extremamente jovem e já com um repertório bom para discutir e falar de livros com desenvoltura.

Além dela, a reportagem traz depoimento do escritor paranaense Miguel Sanches Neto, cujo twitter (@miguelsanchesnt ) sou seguidora. Autor de livros como Herdando uma Biblioteca, Alugo Palavras (este, inclusive, recomendadíssimo pela minha amiga Gil), Chá das cinco com o Vampiro e o recente Então você quer ser escritor?, entre outros, Sanches Neto tem um história de vida de superação, que mostra como é possível driblar a pobreza e chegar a se tornar um dos mais importantes críticos literários contemporâneos do país.

Depois da familiaridade com esses personagens, ainda pude conhecer, na matéria, outra jovem leitora, a Taize Odelli, que tem um blog bacana onde resenha livros, o r.izze.nhas ( http://rizzenhas.com/ ). Como Iris, ela também iniciou-se por Harry Potter. E aqui uma curiosidade minha: quando Harry Potter foi lançado, eu já era adulta, leitora constante, com alguns clássicos lidos no currículo, mas nem por isso deixei de me encantar pela saga do bruxinho. Quando o li, que por sinal não era o primeiro da série (comecei pelo terceiro – O prisioneiro de Azkaban), fiquei fascinada, tornando-me fã contumaz.

Ainda sobre a reportagem da Veja, há que se destacar os quadros inseridos em cada página, mostrando como uma leitura puxa outra, de forma que, você pode até se iniciar por Harry Potter e Crepúsculo, ou até mesmo por A Cabana ou A menina que roubava livros, que se gostou destes pode também apreciar outros, como os clássicos A metamorfose (Franz Kafka), Crime e Castigo (Dostoiévski), Guerra e Paz (Leon Tolstói), Dom Casmurro (Machado de Assis) e Orgulho e Preconceito (Jane Austen), entre outros.

E se o leitor da matéria for atento, perceberá que a reportagem da Veja teve início bem antes das páginas em que o texto começa. O ponto de partida está no editorial com o sugestivo título de Pega e lê, uma referência a Santo Agostinho, um dos sábios da Igreja Católica a quem credita-se a descoberta de que se podia ler sem enunciar as palavras. É um pequeno – e muito saboroso – aperitivo para a leitura que vem a seguir.

E é muito bom saber que os jovens estão lendo, lendo muito, lendo tudo, lendo clássicos.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

“Ler os clássicos é melhor do que não os ler”

A afirmativa acima foi feita por Ítalo Calvino, escritor italiano, que encontrou na frase a melhor razão para responder a pergunta Por que ler os clássicos? Não, por acaso, título de uma de suas obras que trata especificamente deste assunto.

Clássicos são obras consideradas exemplares em qualquer lista de cânones (conjunto de regras) ocidentais ou ainda pela opinião pessoal de um leitor. Para mim são livros eternos, para serem lidos em qualquer época, difíceis de esquecer, que contém linguagem apurada e estilos próprios para tratar das questões da vida e da alma humana.

Sempre que posso, incluo os clássicos nas minhas leituras, mas, por mais que me esforce, sempre tem aquele que fica pacientemente à minha espera nas estantes das bibliotecas. É o caso de Guerra e Paz, do escritor russo Léon Tolstói, obra inigualável da qual ouvi e li comentários favoráveis, cuja narrativa acontece de 1805 a 1813, durante a campanha de Napoleão na Áustria, a invasão da Rússia e a retirada das tropas francesas. É uma mescla de romance, epopeia militar e filosofia.

Lembrei-me do livro por causa de uma enquete publicada no Blog da Companhia das Letras que pergunta Qual clássico você sempre quis ler? ( veja aqui http://bit.ly/jw23P1 ).

A questão pode ser respondida até às 23h59 do dia 17 de maio. Após o prazo, dois comentários serão sorteados e seus autores poderão ganhar um dos clássicos que a Peguin-Companhia lançou recentemente: Do contrato social, de Jean-Jacques Rousseau, ou A menina do capuz vermelho e outras histórias de dar medo, de Angela Carter.

Ao fazer o meu comentário na enquete do Blog da Companhia pensei logo em Guerra e Paz, e minha justificativa não podia ter sido outra. A importância da obra, sua qualidade literária e a história fascinante seriam os motivos óbvios para querer ler, mas o tamanho do livro – 924 páginas! – é, para mim, o maior obstáculo para não ter lido ainda. Sou uma leitora vagarosa e temo demorar tempo demais mergulhada nessa leitura, em detrimento de outras. E, mesmo que a leitura flua naturalmente, um clássico é um clássico, não dá para ler de uma tacada só. Assim, vou adiando o meu desejo.

Depois que deixei meu comentário gravado, pensei em outro clássico que gostaria muito de ler: Os Sertões, do escritor brasileiro Euclides da Cunha. E até hoje me pergunto porque não o fiz, já que o livro não é tão volumoso assim e, além do mais, tive uma fase bem regionalista – que ainda gosto – e poderia, muito bem, ter lido essa obra, como tantas outras que estão esperando sua vez de serem devoradas.

São coisas da vida..., mas ainda bem que podemos reparar essas falhas, priorizando nossas leituras, não perdendo tempo e concentrando-se naquilo que realmente importa. Afinal, como aponta Calvino: "os clássicos são livros que, quanto mais pensamos conhecer por ouvir dizer, quando são lidos de fato mais se revelam novos, inesperados, inéditos”.


* A capa que ilustra este post é de uma adaptação publicada pela Companhia das Letras. Não é o texto original.

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Quer ouvir um conto de fadas?




Com muita imaginação e desenvoltura, esta linda garotinha conta uma história sobre animais e magia. Muito lindo! Não resisti à tentação e resolvi postar no blog para compartilhar o vídeo.

É uma delícia ouvir a menina contar a história de forma tão simples e constante. Percebe-se que a pessoa que está com ela, provavelmente a mãe, a incentiva a continuar, sem censura, sem medo. É assim que nasce uma contadora de histórias.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Memórias machadianas

A notícia não é nova, mas é recente, e seu teor só vem confirmar aquilo que os brasileiros já sabem sobre a qualidade da obra literária de Machado de Assis, um dos maiores escritores nacionais: Memórias Póstumas de Brás Cubas é uma leitura envolvente e atual, embora tenha sido publicada originalmente em 1880.

A descoberta é do cineasta americano Woody Allen, que listou o livro de Machado entre seus favoritos, ao lado de escritores como J. D. Salinger, autor de O Apanhador no Campo de Centeio. A revelação foi feita em entrevista ao jornal britânico The Guardian, com bastantes elogios: “Fiquei chocado ao ver como é encantador. Não conseguia acreditar que ele viveu há tanto tempo, como ele viveu. Você pensaria que foi escrito ontem”, afirmou Allen.

Memórias Póstumas de Brás Cubas é realmente uma obra primorosa. Li há um bom tempo e confesso que a história ainda vive rondando pela minha cabeça. Trata-se de uma narrativa fantástica, feita em primeira pessoa por um defundo-autor. O narrador é Brás Cubas, personagem que já está morto quando o romance se inicia e que vai recontando a própria vida do fim para o começo.

A ironia é um traço marcante na obra de Machado de Assis e não poderia ficar de fora da vida de Brás Cubas. A princípio, ele aparece como um ser elevado, forte, poderoso, mas ao final fica claro ser exatamente o contrário: frágil e sujeito às intempéries da vida.

Com escrita marcante, Memórias Póstumas encanta todo leitor que por ela se aventurar. A linguagem é primorosa, os diálogos saborosos, as descrições na medida certa, enfim, um texto delicioso de ler.

Não é à toa que fascina inúmeros leitores, como é o caso, também, do escritor argentino-canadense Alberto Manguel, que o incluiu em sua obra Os livros e os dias, uma espécie de diário pessoal e ensaio crítico. Para escrevê-lo, Manguel escolheu para reler durante um ano, todo mês, um romance, totalizando 12. E, depois registrou as impressões em seu diário. Ao lado de Machado, figuram obras de Bioy Casares, Conan Doyle, Cervantes, Goethe e Margareth Atewood, entre outros.

No capítulo em que aborda Memórias Póstumas de Brás Cubas, Manguel confessa ter uma afeição grande pelo livro, surpreendendo-se sempre ao constatar que poucos de seus amigos as leram:


"... Presumimos que o que nos dá prazer deve dar prazer aos outros: na verdade, todos acabamos nos dando conta de que nosso círculo particular de companheiros de leitura, daqueles que compartilham nossos amores íntimos, é muito pequeno (Onze amigos comparecem ao enterro de Brás Cubas quando ele começa a contar a história de sua triste vida – apenas onze.)”

E completa a seguir:

“Conto em minhas estantes com cinco edição de Brás Cubas (três em traduções) e vários estudos biográficos. Considerando a popularidade de Sterne, de Punchon (imerecida, a meu ver – não tenho paciência com ele), de Cortázar, acho difícil entender por que Machado de Assis se mantém (fora do Brasil, claro) como um escritor secreto. Não há ninguém propriamente como ele; todos os três autores que mencionei compartilham com Machado de Assis uma preocupação com o modo como a ficção deve lidar com uma realidade fraturada, peneirada pelo tempo, mas ele é o único a contar uma história que se permite mostrar ao leitor desconjuntada, por assim dizer, como um jogo Meccano, de tal maneira que caiba a nós, no final das contas, reunir as partes, construindo, enquanto lemos, uma narrativa que, embora inteiramente inteligível, não segue nenhum padrão preestabelecido visível.”

Considerado, de fato, como o maior nome da literatura nacional, Joaquim Maria Machado de Assis nasceu em 1839, no Rio de Janeiro, de uma família humilde: o pai exercia os ofícios de pintor e dourador, e a mãe era lavadeira. Dedicado às letras, escreveu em praticamente todos os gêneros literários – poesia, crônica, dramaturgia, conto, folhetim, jornal e crítica literária.

Sua extensa obra compreende nove romances e peças teatrais, 200 contos, cinco coletâneas de poemas e sonetos, e mais de 600 crônicas.

Das obras publicadas do autor, li também Dom Casmurro, Quincas Borba, Memorial de Aires e Helena, todos romances. Ainda não me aventurei por outros gêneros de sua obra, mas já recomendaram – e muito – os contos, que são impagáveis. Daqueles que li, porém, Memórias Póstumas de Brás Cubas – e seu realismo fantástico - tem lugar cativo na minha memória e no meu coração. É o meu preferido. Não dava pra ser diferente.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Criatividade todo dia

Num passado remoto, o homem precisou de muita imaginação para transformar seus pontos fracos – em comparação a outras espécies vivas – em instrumentos fortes, para conseguir sobreviver. Assim, com a evolução da espécie e o raciocínio cada vez mais lógico, o ser humano pode firmar-se como uma raça resistente e dominadora por toda a terra.

Nessa empreitada, a humanidade precisou contar – e muito – com a criatividade, essa capacidade de inventar, criar, conceber na imaginação, e transformar isso em realidade, para sua utilidade ou seu prazer.

Muitas das facilidades que encontramos hoje – e que se tornaram hábitos – foram criadas a partir da ideia formulada na mente daqueles primeiros habitantes da Terra. Elas foram sendo testadas, manipuladas, transformadas e aperfeiçoadas através de gerações e gerações, cuja criatividade não cessa, embora, muitas vezes, ela possa estar bloqueada em razão das pressões de uma vida atribulada e cada vez mais competitiva.

E é para falar sobre essa questão, a da criatividade e como desenvolvê-la, que a professora e doutora em Ciências da Comunicação, Monica Martinez, concebeu o livro Tive uma ideia! – O que é criatividade e como desenvolvê-la, lançado pelas Edições Paulinas. A publicação é o resultado de dez anos de pesquisa, tratada no livro com linguagem simples e direta.

Conheci Monica Martinez há quatro anos, quando fiz o curso de Redação Criativa no Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo. Entusiástica e dinâmica, Monica conduziu com didática e conhecimento as aulas de redação, ensinando técnicas que transformaram a sala num verdadeiro laboratório de ideias e belos textos criativos.

Foi com ela que conheci a Jornada do Herói, método narrativo mítico criado pelo mitólogo Joseph Campbell, após analisar mitos, contos populares e de fadas de todo o mundo. Nesses estudos, Campbell percebeu haver uma estrutura básica que permeia essas narrativas e que se tornou o cerne do livro O herói de mil faces, publicado em 1949.

A partir desse trabalho, Monica estruturou um novo modelo de construção de histórias de vida para comunicadores sociais e que se encontra no livro Jornada do Herói: a estrutura narrativa mítica na construção de histórias de vida em Jornalismo, publicado pela Fapesp e Annablume, em 2008.

Depois desse curso, reencontrei Monica no ano passado, quando cursava a pós-graduação em Jornalismo Literário, da qual ela fazia parte do corpo docente. E, mais recentemente, no lançamento do livro Tive uma ideia!, na Livraria Martins Fontes, em São Paulo.

Com apenas 80 páginas, o livro é um delícia de se ler, e devo confessar que chegou em boa hora. Afinal, depois de quase seis anos atuando com publicações técnicas, na área da Odontologia, minha criatividade andava meio em baixa. Pra dizer a verdade, até colocava em dúvida sua existência.

O livro se divide em seis capítulos, sendo que o primeiro dá uma rápida pincelada de história e teoria, além de abordar a criatividade em diferentes povos e seus conceitos, o que é fundamental para contextualizar e entender o assunto. Os capítulos seguintes tratam do processo criativo em si, apresentando portais da criatividade, passo a passo do processo, etapas da criação, perfis criativos e, por fim, a importância da motivação.

O que se conclui é que não existem fórmulas mágicas e que aquele mito de que a criatividade cai, literalmente, do céu , inspirada por uma luz divina – embora isso possa acontecer – não é verdadeiro: “Como é o nascimento de uma nova ideia? Há muitos equívocos relacionados à criatividade, mas talvez o principal deles seja o de que se trata de geração espontânea, algo que cai do céu como um raio ou surge como um estalo. É claro que isso pode ocorrer, mas os estudos sugerem que mais do que a chegada a um lugar brilhante em si, a criatividade é um processo.”

Assim, ser criativo requer conhecimento, estudo, ousadia, prática, dedicação e, sobretudo, paixão, porque não gostar do que se faz é um dos principais motivos que levam as pessoas à passividade e – para usar um termo forte – inanição. Mas Monica não fica só na conceituação, ela aponta ainda algumas técnicas que visam estimular o indivíduo, a partir da reflexão, a perceber o que está impedindo sua criatividade de aflorar e, assim, levá-lo à ação. E é exatamente isso que todos nós buscamos.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Biografias estão em alta

Recentemente, ao circular por algumas livrarias da cidade, deparei-me com uma série de lançamentos, dispostos nas bancadas e em prateleiras, que versavam sobre o mesmo gênero literário: Biografias. Muitas delas sobre personalidades do mundo da música, como Elvis Presley, e algumas de artistas vivos, como Lobão, Justin Bieber, Amy Whinehouse. Sem falar na dos políticos, como José Sarney, Mandela e Barack Obama.

Gênero literário em que o autor narra a história da vida de uma pessoa ou de várias pessoas, as biografias geralmente contam a vida de alguém após sua morte. Atualmente, em razão do apelo popular e por contar com um público cativo, ansioso por histórias de vidas das celebridades da moda, as biografias passaram a retratar, com mais frequência, pessoas ainda vivas – e jovens.

Biografias, na verdade, sempre constituíram-se num gênero bastante atraente ao público-leitor, em diversas partes do mundo, mas no Brasil ganhou mais força há quase 20 anos, como lembrou Luiz Schwarcz, da Companhia das Letras, em entrevista ao caderno “Mais”, da Folha de S. Paulo, em dezembro de 2004: “O diferencial é que ele sempre foi sucesso no mundo e está crescendo no Brasil, especialmente desde os anos de 1990.”

Mas o fato de haver tantos biografados jovens e – teoricamente – com pouca bagagem para uma biografia, me intrigou, porque sempre associei o gênero a ampla pesquisa, convivência com o retratado (quando vivo) ou com seus familiares e amigos próximos e farta documentação para contextualizar o momento histórico em que o personagem vive.

Para entender melhor esse “boom” das biografias, sobretudo no Brasil, conversei rapidamente com o pesquisador, escritor, jornalista e professor, Sergio Vilas Boas, que tive o prazer de conhecer em 2009, quando cursei a pós-graduação em Jornalismo Literário, na Academia Brasileira de Jornalismo Literário.

Sergio, que foi meu professor no curso. é autor de vários livros, entre eles Biografias & Biógrafos (Summus, 2002), Biografismo: reflexões sobre as escritas da vida (Unesp, 2008), Perfis – e como escrevê-los (Summus, 2003) e Os estrangeiros do trem N (Rocco, 1997), com o qual ganhou o Prêmio Jabuti de reportagem em 1998.

Na breve entrevista que ele me concedeu, uma surpresa: o lançamento de uma biografia que está escrevendo, ainda este ano. Acompanhe:

Sobre Leituras e Observações: A que você atribui o aumento do número de publicações de (auto) biografias?
Sergio Vilas Boas
- Atribuo isso à necessidade de o público-leitor lidar com histórias que eles acreditam que aconteceram de fato, principalmente as que se referem a seus "ídolos". A ficção, infelizmente, não tem sabido criar personagens verdadeiramente empáticos.

Como estudioso em (auto) biografias, como você vê o crescente interesse por esse gênero literário?
Esse interesse não é de hoje. Vem de longa data (cresceu muito nos últimos 20 anos). Considero positivo pelo aspecto do despertar da leitura; e negativo do ponto de vista da relevância. Nem todo mundo sabe escrever ou contrata o ghost-writer certo. Para quem aprecia a arte da palavra, muitas dessas autobiografias ou memórias podem soar ingênuas e toscas.

No passado, as (auto) biografias eram escritas de forma cronológicas e bastante cansativas de ler. Quais são as diferenças entre as atuais e as antigas?
A cronologia rígida ainda é uma limitação de que os biógrafos e memorialistas não conseguem se livrar. Por trás disso, a crença de que a vida vivida é a "vida conforme o relógio".

Quais os elementos que uma boa (auto) biografia deve conter para prender a atenção do leitor?
Pesquisa profunda, entrevistas detalhadas, reconstrução literária de cenas/episódios relevantes.

Das atuais publicações do gênero que se encontram nas livrarias no momento (Obama, Sarney, Agassi, Mandela, Lobão, Padre Cícero, entre outras), qual você recomendaria?
Não leio mais esse tipo de texto com a mesma avidez de dez anos atrás, e, dessas que você mencionou, só recomendo a do Padre Cícero.

Algumas celebridades, embora jovens como é o caso de Justin Bieber, Restart, Amy Whinehouse, também ganharam biografias. Você acha que elas já têm conteúdo de vida o suficiente para isso ou é questão de oportunismo e marketing?
São textos oportunistas e estarão esquecidos em alguns meses.

Além de livros dedicados ao gênero, você já escreveu alguma biografia? Qual? Se não, pretende fazê-lo?
Não tenho o menor interesse em escrever uma biografia do tipo das que abarrotam as livrarias: calhamaços gigantescos, catálogos cronológicos com índices onomásticos incontornáveis, volume em detrimento da relevância, às vezes remontando a bisavós e avós, e narração onisciente e autoritária. Por enquanto, minha opção é a de escrever sobre vivos, de maneira em que eu também possa me expressar como coadjuvante da construção. Este ano devo lançar O Homem das Telecoms, perfil de 200 páginas sobre um megaempresário brasileiro dos setor de telecomunicações.


* Para saber mais sobre Sergio Vilas Boas acesse http://www.sergiovilasboas.com.br/