terça-feira, 30 de março de 2010

História de lar

Eu não tenho certeza quando foi, mas acredito que há quase um ano voltei a minha atenção para livros infantis e percebi, com apreensão, que a maioria deles eu não havia lido, sem falar dos novos, publicados rotineiramente. Mas nada que não pudesse ser corrigido, assim, venho intercalando minhas leituras habituais com essas obras infanto-juvenis, extraindo delas imenso prazer.

A mais recente leitura, voltada para o universo infantil, mas que também encontra espaço no mundo adulto, foi o clássico O Vento nos Salgueiros, do escritor inglês Kenneth Grahame. Escrito inicialmente em forma de cartas para o filho, o livro de Grahame ganhou uma versão no teatro com a peça Toad of Toad Hall, adaptada pelo roteirista A.A. Milne.

Não conhecia o livro e só vim a tomar conhecimento dele em 2008, quando li Os Livros e os Dias, obra de Alberto Manguel, escritor argentino naturalizado canadense. Misturando memória com crítica literária, Manguel, narra as 12 releituras feitas no período de um ano, dedicando a cada uma um mês. Mais do que resenhas, o escritor entremeia fatos do cotidiano com as passagens dos livros lidos. E, entre as obras comentadas por ele, O Vento nos Salgueiros me chamou bastante a atenção por ter relação com lar, casa, amizade, família. Lembro que, na época, cheguei a anotá-la para ler oportunamente.

O tempo passou, minha lista de livros a ler só fez crescer, e aquela obra ficou perdida no meio de tantos outros títulos. Este ano, porém, ao ler Uma Mente Inquieta, de Kay R. Jaminson, já comentado nesse blog, vi mais uma referência a O Vento nos Salgueiros. Era um dos livros infantis que Kay, já no auge da sua doença maníaco depressiva, voltava com maior frequência e no qual se sentia dominada. A leitura, diz ela, por vezes era pontuada por choros e mais choros, sobretudo no trecho em que a Toupeira, um dos personagens, lembrava e descrevia sua casa:

“Recentemente, apanhei meu exemplar de The Wind in the Willows, que ficou na estante sem ser tocado desde que recuperei minha capacidade de ler, e tentei detectar o que foi que provocou uma reação tão dilacerante. Depois de uma breve busca encontrei a passagem que estava procurando. A Toupeira, que há muito tempo estava afastada da sua casa subterrânea, explorando o mundo da luz e da aventura com seu amigo Ratinho, está passeando numa noite de inverno e de repente, com a lembrança com força total, sente o cheiro da sua velha casa. Desesperada para revisitá-la, ela luta para convencer o Rato a acompanhá-la” – escreve Kay.

– Por favor, Ratinho! – implorou a pobre Toupeira, com o coração angustiado. – Você não está entendendo! É a minha casa, minha velha casa! Acabo de sentir seu cheiro, e ela fica por aqui, bem pertinho. Eu preciso ir lá, preciso, preciso! Ai, Ratinho, volte! Por favor, volte aqui!

Kay diz que nesse ponto da leitura, lembrou “com exatidão e com uma força visceral do que eu havia sentido ao ler o trecho pouco tempo depois de ter começado a tomar lítio: eu sentia falta de casa, da minha mente, minha vida de livros e do ambiente amigo, meu mundo, no qual a maioria das coisas tinha seu lugar e no qual nada de terrível conseguia penetrar para causar destruição”.

Foi o bastante para mim. Eu não podia mais adiar a leitura de O Vento nos Salgueiros, era chegada a hora. E foi com grande satisfação que mergulhei na leitura, me encantando e me divertindo com a trama toda. A história foca quatro personagens: Toupeira, Rato, Sapo e Texugo, animais aos quais são atribuídas características humanas. A trama é permeada por misticismo, aventura, moral e camaradagem.

Dos personagens gostei mais do Toupeira, pela coragem em deixar a casa, sair para a aventura, querer conhecer outros lugares e pessoas, ser amável e valente. O Rato também merece um à parte, pela docilidade, companheirismo e disposição para a aventura. O Texugo é um sábio, já o Sapo é o personagem mais controverso: aventureiro, inconsequente, presunçoso, mas de bom coração.

A passagem que Kay Jamison descreve no seu livro, é, de fato, a mais marcante do livro. Deixo aqui mais um trecho, aquele em o Toupeira reencontra seu lar, para encerrar assim esta reflexão:

Mas antes de fechar os olhos deixou-os passear pelo seu velho quarto, amolecer na chama da lareira que brincava com coisas que haviam sido parte inconsciente dele, e que agora o recebiam de volta sorridentes, sem rancor. Estava exatamente no estado de espírito a que o habilidoso Rato trabalhara para conduzi-lo. Via claramente quão despojada e simples, quão acanhada, mesmo, era a sua casa; mas via claramente, também, o quanto significava para ele, e o valor especial que tinha um porto como aquele na vida de alguém. Não queria de maneira nenhuma abandonar sua nova vida e seus espaços incríveis, virar as costas ao sol, ao ar puro e a tudo o que ofereciam e engatinhar de volta para casa e ficar quieto; o mundo lá de cima era forte demais, ainda o atraía, mesmo estando ali embaixo, e sabia que teria de retornar ao palco principal. Mas também era bom pensar que tinha para onde voltar, este lugar que era todo seu, estas coisas que estavam tão alegres de vê-lo novamente e com as quais podia sempre contar para as mesmas sinceras boas-vindas.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Ele, agora, é uma estrela


Para Roger:

“Cães não precisam de carros luxuosos, casas grandes ou de roupas chiques. Água e alimentos já são o bastante. Um cachorro não liga se você é rico ou pobre. Esperto ou não. Inteligente ou não. Dê o seu coração e ele dará o dele. De quantas pessoas podemos dizer o mesmo? Quantas pessoas fazem você se sentir raro, puras e especiais? Quantas pessoas nos faz sentir...extraordinários?" (John Grogan – Marley & Eu).

quarta-feira, 24 de março de 2010

Cães

Sempre que vou ao Sesc, para as aulas de yoga, fico na expectativa das leituras que posso fazer depois da prática. Como a aula é bem cedo e entro mais tarde no trabalho, tenho um bom tempo livre entre uma atividade e outra, mais ou menos uma hora e meia. Assim, aproveito esse tempo para ir até a sala de leitura do Sesc e ficar lá lendo revistas, jornais e os livros que me acompanham diariamente.
O momento é único e tenho encontrado grande prazer nele. Na verdade, até anseio por ele. Nestes últimos dias, porém, não estou conseguindo relaxar e tirar proveito desses instantes agradáveis, embora fugazes. Seja por não ter ido ao Sesc, seja por não me concentrar no prazer das leituras. Infelizmente, a vida nos prega muitas peças e, vez por outra, nos vemos cercados de preocupações e problemas.

Roger, meu cãozinho, está doente e tem me inquietado muito. Quase que diariamente preciso levá-lo à veterinária, uma vez que seu estado demanda cuidados extras. Talvez a cirurgia seja uma alternativa, mas tomar uma decisão diante de um animal de estimação, que já é parte integrante da família, não é tão simples assim. Tudo o que quero é que ele não sofra e fique bem. Isso até me faz lembrar da frase que a dona do Pet Shop me falou quando foi diagnosticada a doença dele:

– Era tão bom quando eles vinham aqui só para tomar banho.

Hoje, Roger ficou sob os cuidados da minha sobrinha, encarregada, no meu lugar, de levá-lo à veterinária para tomar soro. Com a folga pude voltar para a minha yoga e a sala de leitura. Mas a concentração passou longe e tudo ao redor girava em torno do meu cão. Na bancada com as revistas, duas publicações lembraram-me dele: A National Geographic Brasil, cuja capa da edição de março trazia a vira-lata Moqueca, chamando o leitor para a extensa matéria sobre esses velhos companheiros, e a Galileu, que estampava um cão com um olho claro e outro escuro na capa, acima da manchete A Ciência revela – Como ele vai ser no futuro.

Então, deixei tudo de lado e peguei as duas revistas para folhear e poder ler rapidamente as matérias. Em uma delas, até, havia referências a livros com histórias de animais e a relação com o homem. Um deles fiz questão de anotar para, mais para frente, procurar e ler: Timbuktu, do escritor norte-americano Paul Auster. O livro é um misto de fábula e romance, que narra a amizade entre um vira-lata (Mr. Bones) e um poeta indigente semilouco (Willy). Juntos, eles perambulam por um mundo que não tem lugar para eles. A história é vista pelos olhos e os pensamentos do cão.

Claro, não pude deixar de me emocionar e de me sentir tocada. É óbvio que alusão a cães remeteu-me novamente ao Roger e não consegui mais prosseguir com a leitura. Arrumei minhas coisas, levantei-me e fui embora.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Quantos livros por mês?

Acredito que todo leitor que se preze sente, vez por outra, uma angústia lancinante por não conseguir ler tudo aquilo que gostaria de ler. Alguns até conseguem empreender um ritmo mais veloz às suas leituras, outros, no entanto, são mais vagarosos – eis o meu caso. Daí a inquietação que sinto quando, diariamente, me deparo com novas possibilidades de leituras reclamando um lugar na minha extensa lista de livros a ler neste e nos próximos anos. A propósito disso, já refiz a lista inúmeras vezes. Só hoje, umas três.

Essa ansiedade, às vezes, atrapalha, porque ao invés de saborear, apreciar ou deleitar as leituras, fico me perturbando com a não leitura. Não deveria ser assim. Porque penso, também, que o mais importante não é ler este ou aquele livro, ou então a quantidade de livros lidos, mas sim aquilo que se apreende e vive em cada leitura.

Lembrando ainda da entrevista de Umberto Eco ao Sabático, quando um visitante olha para a coleção de 30 mil volumes da biblioteca do escritor em Milão e lhe pergunta se já leu todos aqueles livros, ele responde de duas maneiras: "Não. Esses livros são apenas os que devo ler na semana que vem. Os que já li estão na universidade" – e – "Não li nenhum, se não, por que os guardaria?".

A resposta de Eco me tranquiliza, assim como o post do escritor e crítico literário, José Castello, na abertura do seu blog (http://oglobo.globo.com/blogs/literatura/): “a idéia é falar não só dos livros que me chegam e que, com frequência, me escapam. Mas também dos livros que li e que, porque me deixaram fortes marcadas, nunca me abandonam”.

Penso que Castello quis dizer que há livros que ele não leu, mas em contrapartida há os que ele leu e lhe causaram um grande impacto. Assim, o que importa mesmo é a maneira como nos relacionamos com os livros e como a leitura desses livros transformam as nossas vidas.

Toda essa reflexão surgiu depois que vi a enquete “Quantos livros por mês” da Livraria da Folha. O texto explicativo fala que o livro Os 7 Hábitos das Pessoas Altamente Eficazes, de Stephen R. Covey, recomenda ler um livro por semana (quatro obras por mês). Daí a indagação: qual é a sua média de leitura? Para conferir acesse http://polls.folha.com.br/poll/1007702/

A minha média é dois livros por mês. Pouco? Pode ser, e é claro que gostaria de ler muito mais, mas este é o meu ritmo. A ansiedade persiste, mas aos poucos vou dominando. Se conseguirei ler todos os livros que quero ou não, isso eu ainda não sei. Acho que sempre haverá o que ler e quer saber? Graças a Deus!

quarta-feira, 17 de março de 2010

A perenidade do livro

Quando o assunto é biblioteca, sempre acabo discutindo com Adilson, meu colega de trabalho. Ele considera que essas edificações, onde se guardam coleções de livros, documentos e periódicos, estejam fadadas ao esquecimento pela geração futura por causa da agilidade de pesquisa da internet. Até já comentei isso no blog.

Talvez seja para me provocar e me tirar do sério, pois não acredito que ele possa realmente pensar dessa maneira, mas o fato é que discordamos quanto a essa questão. E mais: divergimos também com relação à longevidade do livro impresso.
Pobre Adilson! Se ele tivesse lido a entrevista que o escritor italiano Umberto Eco concedeu ao Sabático – Um tempo para leitura, o novo caderno cultural voltado para literatura e para o mercado editorial que o Estado de S. Paulo está publicando aos sábados, pensaria diferente. Bom, mas resolvi isso e enviei por e-mail a ele. Só espero que leia.

Na entrevista, o autor de O Nome da Rosa fala que “o desaparecimento do livro é uma obsessão de jornalistas, que me perguntam isso há 15 anos...” E mais adiante diz: “O livro, para mim, é como uma colher, um machado, uma tesoura, esse tipo de objeto que, uma vez inventado, não muda jamais. Continua o mesmo e é difícil de ser substituído. O livro ainda é o meio mais fácil de transportar informação”. Lindo!

Sobre a questão da perenidade do livro impresso, Umberto Eco e o escritor, bibliófilo e roteirista Jean-Claude Carrière, mediados pelo jornalista francês Jean-Phillippe de Tonac, travaram apaixonante discussão. O resultado pode ser conferido no livro N'Espérez pas vous Débarrasser des Livres ("Não Espere se Livrar dos Livros”), publicado o ano passado e que será lançado no Brasil pela editora Record, em abril próximo, com o título Não contem com o fim do livro, que mal posso esperar para ler.

Enquanto o livro não chega, a discussão ganhará ainda mais contornos no final de março, quando acontece, o Primeiro Congresso Internacional do Livro Digital, no Hotel Maksoud Plaza, em São Paulo. O encontro é o tema central do 36º Encontro de Editores e Livreiros, promovido pela Câmara Brasileira do Livro, que firmou parceria com a Frankfurter Buchmesse, responsável pela maior e mais importante feira editorial do mundo, realizada em Frankfurt, para a concretização do evento.

O Congresso será realizado entre os dias 29 e 31 de março e tem por objetivo debater os desafios e as oportunidades que o futuro reserva ao setor de livros no país, além da convergência das mídias e novos modelos de negócios. O público-alvo são os editores, livreiros e distribuidores e são esperadas, ainda, as participações de autores, gerentes de marketing, executivos da área de negócios e conteúdo digital, advogados especializados em Direito Autoral, jornalistas, profissionais de TI e Web, publicitários e interessados no assunto.

Algumas personalidades internacionais confirmadas são Michael Smith, o diretor executivo do Fórum Internacional de Publicações Digitais, entidade que reúne a indústria de publicações digitais (e-book); o colombiano Pablo Francisco Arrieta Gomez, CEO, diretor acadêmico e fundador do Monitor Capacitação Digital e consultor de empresas como Macromedia, Adobe, Wacom e Nokia; e a espanhola Arantxa Mellado, advogada atuante no mercado editorial, responsável pela criação da ediciona.com, um dos mais importantes espaços virtuais de encontro do mundo literário, entre outros.

Esta será uma excelente oportunidade para debater e discutir o futuro do mercado de livros. Acredito que a tecnologia tem o seu lugar e deve prosseguir, mas a as invenções consolidadas, com o livro, permanente há cinco séculos, não podem ser descartadas como objetos obsoletos e ultrapassados. Há espaço para todos.

Para mais informações e conferir a programação do congresso, acesse http://www.congressodolivrodigital.com.br/

sexta-feira, 12 de março de 2010

Semeando o conhecimento

"Sempre imaginei que o paraíso seria uma espécie de biblioteca." - Jorge Luis Borges

Já tive a oportunidade de falar, aqui, da minha paixão por bibliotecas. Desde que me conheço por gente frequento bibliotecas, mas de uma, em especial, me lembro com muito carinho: a biblioteca do Colégio Dom José de Camargo Barros, em Indaiatuba (SP), onde cursei o 2º grau. Além de ser um espaço em que os livros enchiam os olhos e a mente de promessas de boas histórias, a bibliotecária do local era uma profissional de mão cheia, extremamente capacitada e conhecedora do seu ofício.

Infelizmente, não me recordo do nome dela, os anos passam e a memória começa a dever quando mais precisamos. Mas o importante não é seu nome, mas a lembrança que tenho dela, do seu trabalho incansável e perfeito à frente da biblioteca da escola, orientando os alunos na leitura e indicando livros. Por isso, a ela, em especial, e a todos os bibliotecários, quero parabenizá-los neste 12 de março, o Dia do Bibliotecário.

A data foi instituída, no Brasil, pelo Decreto nº 86.631, por ser o dia do nascimento do engenheiro Manuel Bastos Tigre, que se tornou escritor, poeta e bibliotecário, sendo considerado como o primeiro profissional da área concursado do Brasil.

Em 1906, Manuel fazia aperfeiçoamento em eletricidade nos Estados Unidos, onde conheceu o bibliotecário Melvil Dewey, que instituiu o Sistema de Classificação Decimal. Foi um desses encontros que marcam a vida da gente, tanto que, em 1915, Bastos largou a profissão para trabalhar com biblioteconomia.

Trabalhou como bibliotecário no Museu Nacional do Rio de Janeiro e na Biblioteca Nacional; e foi diretor da Biblioteca Central da Universidade do Brasil. Sua contribuição para a disseminação da cultura e da informação no país foram notórias, por isso, nada mais justo do que celebrar o Dia do Bibliotecário na data do seu nascimento, hoje, há exatos 128 anos.

* Foto André Kertész [ man on ladder reading ] 1929.

quinta-feira, 11 de março de 2010

O ano de Nabuco

O preconceito ainda é uma opinião ou ideia preconcebida e irrefletida fortemente arraigada no ser humano. Eu mesma, apesar de abominar esse tipo de comportamento, me pego às vezes prejulgando uma ou outra pessoa, e por questões bobas. Mas tento me policiar e erradicar, de vez, esses pensamentos da minha mente.

Por isso, quero registrar aqui que, pelo menos um tipo preconceito deverá ser lembrado ao longo deste ano: o racial. É que 2010 foi instituído o Ano Nacional Joaquim Nabuco, que marcará os 100 anos da morte do pensador, escritor, diplomata, político e abolicionista pernambucano, e um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras.

Joaquim Aurélio Barreto Nabuco de Araújo foi um dos principais mentores do abolicionismo, se opondo veementemente contra a escravidão. Para tanto, lutou por meio de atividades políticas e de escritos, como Abolicionismo, Campanha Abolicionista no Recife e Escravos – poesias, entre outras. Foi, ainda, fundador, em 1878, da Sociedade Antiescravidão Brasileira, e responsável, em grande parte, pela Abolição em 1888.

Embora as atividades do Ano tenham começado no início do mês, hoje, dia 11, acontece a abertura oficial da Programação do Ano Nacional Joaquim Nabuco. A solenidade será no Auditório Benício Dias, na Fundação Joaquim Nabuco, no Recife (PE).

É uma iniciativa louvável e que nos dará a oportunidade de conhecer um pouco mais desse grande homem e de sua importância histórica, política, literária e intelectual no Brasil. Sempre é tempo.

Saiba mais sobre o Ano Joaquim Nabuco:
http://www.fundaj.gov.br/notitia/servlet/newstorm.ns.presentation.NavigationServlet?publicationCode=16&pageCode=1457

quarta-feira, 10 de março de 2010

Tempo de travessia

Há um tempo em que é preciso
abandonar as roupas usadas
Que já tem a forma do nosso corpo
E esquecer os nossos caminhos que
nos levam sempre aos mesmos lugares.
É o tempo da travessia.
E se não ousarmos fazê-la,
Teremos ficado para sempre
À margem de nós mesmos".

Hoje, para terminar a aula de yoga, a professora leu esse pequeno poema de Fernando Pessoa. A mensagem não poderia ter sido mais propícia, mais direcionada, mais certeira.

É incrível como poucas palavras têm o poder de sintetizar e dizer tudo aquilo que precisamos ouvir.

Para quem se encontra nesse mesmo momento, fica então registrado. Reflitam e sigam em frente.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Tesouro no lixo

Hoje de manhã, antes de sair para o trabalho, liguei a TV para assistir ao Bom Dia Brasil. Dificilmente faço isso, mas eu queria, na verdade, ver detalhes do Oscar 2010, a consagração de Guerra ao Terror como o melhor filme, e a premiação de Kathryn Bigelow, que tornou-se a primeira mulher a vencer na categoria direção. Um destaque e tanto – e merecido –, a ser comemorado muito, ainda mais porque hoje é o Dia Internacional da Mulher.

No entanto, as manhãs são sempre corridas e enquanto a TV estava ligada e antes do banho, eu sai com meu cachorro, arrumei minha cama, preparei meu café e só então sentei diante da telinha para acompanhar o jornal. Acabei não vendo nada do Oscar (será que já tinha passado?), em compensação, peguei o final de uma matéria que falava de livros encontrados no lixo por catadores de papel e que serviram de base para a organização de biblioteca comunitária em uma região carente.

Achei a iniciativa bem bacana e lembrei-me que, em 2004, soube de uma notícia envolvendo um riquíssimo material histórico e uma catadora de papel em São Paulo. Trata-se de uma bela história e que começa mais ou menos assim:
“Telma empurra o carrinho de supermercado lotado para dentro do pequeno jardim e entra na cozinha. Olha para o relógio de parede: seis e cinco. Hora de acordar o filho, preparar o café da manhã e levá-lo para a escola. A curiosidade vai ter que esperar.

Quando volta, não cai direto na cama como todos os dias. Tira do carrinho um dos tantos sacos plásticos que recolheu na madrugada. Sacos plásticos e outras tralhas ela recolhe aos montes. São seu sustento. Não foi isso que atraiu sua atenção. Este é diferente. Bastou uma rápida olhada dentro para perceber que ele traz pistas de uma história: documentos, fotos, um caderno com capa de couro, uma caixa de papelão cheia de pastas, tudo com jeito e cheiro de antigo. Pega uma xícara de café e se senta no sofá da pequena sala, acompanhada do saco plástico. Tira de dentro o caderno de capa de couro, abre e lê a primeira página”.

Um pequeno texto fazia a introdução das impressões e lembranças que uma mulher de 52 anos, muito doente, começava a escrever. Ao final, ela assina, não o seu nome verdadeiro, mas o apelido pelo qual ela era mais conhecida, uma surpresa – até mesmo para ela, que já não o usava há um bom tempo: Pagu.

Musa do movimento modernista brasileiro, Patricia Rehder Galvão, ou melhor, Pagu era uma mulher à frente do seu tempo e que viveu intensamente: era escritora, jornalista, poeta, desenhista, tradutora, diretora de teatro, militante revolucionária (ufa!) e uma das mais alucinantes paixões do escritor Oswald de Andrade, um dos promotores da Semana de Arte Moderna, em 1922, e com quem teve um filho: Rudá de Andrade, nome da mitologia tupi, que simboliza o deus do amor.

Por uma dessas distrações da vida, há seis anos, documentos, fotos, livros e cadernos de Pagu foram jogados em um saco de plástico azul e deixados em uma esquina do bairro do Butantã, em São Paulo. Pelo local, passava Selma Morgana Sarti com seu carrinho de supermercado utilizado para transportar os papéis que ela cata nas ruas durante a madrugada. Ela não tinha noção do que havia no saco, mas ficou curiosa e quando constatou o seu teor achava que deveria ter grande importância.

Depois de examinar o conteúdo, ler o material e ver e rever as fotos, ela entrou em contato com uma estudante que morava próxima da sua casa. Por meio dela e de um outro colega, o material foi encaminhado ao Arquivo Edgard Leuenroth da Unicamp, onde atualmente se encontra.

Mas a sensibilidade de Selma no cuidado com o material não foi esquecida. Inspirada na sua história, a escritora Lia Zatz lançou, pela Coleção A Luta de Cada Um (destaca brasileiros notáveis que corajosamente enfrentaram inúmeros desafios em busca de um mundo melhor), o livro Pagu, falando sobre a trajetória da musa modernista.

O enredo é contado por Selma, que virou a personagem “Telma”, a catadora de papéis e objetos descartáveis que se depara com o saco plástico contendo cartas, fotos, documentos e pastas. Com esse material, Telma reconstrói a vida de Pagu, tendo como pano de fundo a capital paulista do início do século XX.

A linguagem é clara, simples e direta, com uma diagramação leve. repleta de fotos e ilustrações. O texto é delicioso, mas o mais importante é poder conhecer um pouco mais sobre essa grande mulher que foi Pagu e sua importância na história brasileira.

Relembrando Pagu faço assim uma pequena homenagem a todas as mulheres nesse dia tão especial. As nossas conquistas foram importantes, mas ainda há muito o que fazer, só faço votos para que, num futuro próximo, não precisemos mais ter um dia para sermos lembradas e respeitadas. Que todos os dias sejam o dia da mulher, assim como o dia do homem, do idoso, da criança, do deficiente, de todas as raças e de todos os povos.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Um lindo selinho

Não me lembro ao certo se foi eu quem a encontrou na blogosfera ou se foi ela quem me achou, o fato é que quando vi, pela primeira vez, o blog Quero morar em uma Livraria , da Lia, eu fiquei boquiaberta e pensei:

– “Aqui, é o meu lugar!”.

Então passei a frequentar o seu espaço constantemente, afinal, além de falar dos livros que lê – e olha que a Lia lê muito, num ritmo que é praticamente impossível de alcançar, pelo menos para mim –, ela dá dicas de sites interessantíssimos sobre livrarias, bibliotecas, promoções, coleções, enfim, uma infinidade de prazeres literários, sempre entremeados de belíssimas fotos.

E agora, ela ainda me brindou com um lindo selinho, que reproduzo aqui. As regras? Bom, tenho de falar 7 coisas sobre mim e repassar para 7 pessoas (que, se quiserem, podem fazer o mesmo). É um desafio e tanto, pois nem sempre é fácil falar sobre a gente, mas vamos lá:

1. Amo ler e sou vidrada no objeto livro.

2. Sonho em formar e ter uma biblioteca em casa, mas já estou a caminho.

3. Sou jornalista, atuo na área e adoraria poder trabalhar, também, em uma editora de livros.

4. Gosto de estudar e estou sempre procurando novos cursos para frequentar.

5. Respeito e admiro os animais, e tenho um carinho todo especial por cães.

6. Sou fã e apaixonada por Johnny Depp.

7. Dou valor ao meu espaço, ao lugar onde vivo – país, estado, cidade, bairro –, mas sem xenofobia.


Repasso para:



Adriana (Dri) - A menina do fim da rua




Michele Prado - Ser e tecer

Cristiane - SUITIVA

terça-feira, 2 de março de 2010

Ele fará falta

Parece brincadeira, mas o fato é que ficar sem internet é como se ver isolado do mundo, à margem dos acontecimentos, privado de contatos e, perdendo assim, o fio condutor da história. Pois é assim que estou me sentindo hoje, depois de três dias sem acessar a rede mundial de computadores. E o mais incrível disso tudo é que fiquei em casa, assistindo a TV e tudo o mais, noticiários, novelas, programas de auditório..., bom tá certo que algumas vezes coloquei alguns filmes em DVD para me distrair, mas vi os jornais da Record, Bandeirantes, Globo... e posso assegurar que em nenhum deles soube da morte do bibliófilo José Mindlin, em 28 de fevereiro, no domingo. Dá para acreditar?

Só hoje, ao ligar o computador, e ver entre os e-mails recebidos um que falava sobre a morte do bibliófilo. Imagine o susto e a surpresa que tive. Mas, mesmo já passados dois dias do acontecimento, eu não poderia deixar de registrar aqui esse fato, principalmente porque em um curso de Literatura que fiz no Centro Cultural Banco do Brasil, em São Paulo, pude ver um depoimento, via vídeo, do bibliófilo, em que ele falava dos livros que marcaram a sua vida. Mas o que mais ficou desse depoimento foi uma frase que ele proferiu, que era mais ou menos assim:

– O importante é ler, seja lá o que for. A seletividade, vem com o tempo.

Com isso ele quis dizer que as pessoas deveriam ler o que quisessem, sem serem criticadas por isso, com o argumento de que é má literatura. O que vale é ter o gosto pela leitura. Com o tempo, elas passarão a ser mais seletivas, buscando qualidade literária naquilo que leem.

Ao longo de sua vida, José Mindlin reuniu a Biblioteca Brasiliana, considerada a mais importante coleção do gênero no Brasil, formada por um particular. O acervo – cerca de 40 mil volumes entre livros e manuscritos – foi doado em 2009 à Universidade de São Paulo (USP), mas alguns dos livros e documentos podem ser consultados na internet (http://www.brasiliana.usp.br/). São obras de literatura brasileira e portuguesa, manuscritos históricos e literários, periódicos, livros científicos e didáticos, enfim uma infinidade de textos memoráveis.

Entre as obras colecionadas estão raridades como a primeira edição de “Grande Sertão: Veredas”, de Guimarães Rosa, e a primeira edição de “O Guarani”, de José de Alencar.
Filho de emigrantes judeus, Mindlin nasceu em São Paulo e começou a formar sua biblioteca aos 13 anos. Era advogado, jornalista e empresário e foi membro da Academia Brasileira de Letras.

Entre as obras que escreveu, destaco “Uma Vida Entre Livros”, um livro de memórias em que ele nos abre sua biblioteca, contando a história de sua formação, seu amor pelos livros e as aventuras que viveu por eles. Este livro, que há muito tempo desejo comprar, é uma verdadeira jóia, que vale a pena ter na biblioteca, para ser frequentemente apreciado, manuseado e lido.

José Mindlin estava internado há cerca de um mês no hospital Albert Einstein e sua morte foi causada por falência múltipla de órgãos. Ele tinha 95 anos. Uma vida verdadeiramente dedicada aos livros.