sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Os livros mais vendidos

Eu adoro listas, especialmente se estas forem de livros. Pois é, hoje, quando se comemora o Dia Nacional do Livro, data esta instituída por ter sido no dia 29 de outubro de 1810 que a Real Biblioteca Portuguesa foi transferida para o Rio de Janeiro, originando assim a Biblioteca Nacional, vi um artigo interessante no site do UOL sobre os 21 livros mais vendidos de todos os tempos.

Estes livros bateram a marca das 50 milhões de cópias vendidas, um número bastante considerável, o que não significa, necessariamente, que são os mais lidos. Mas, o que mais gostei é que da lista de 21 livros, eu li – e li mesmo – pelo menos 12 (graças a Harry Potter), ou seja, mais da metade. Destes, dois estão na minha lista de preferidos: Harry Potter e a Ordem da Fênix e O Pequeno Príncipe.

Da lista dos 21, ainda, três eu não li, mas assisti ao filme: O Senhor dos Anéis, Ben Hur e A Marca do Zorro. Não é a mesma coisa, eu sei, mas conheço a história.

Para não fazer mais mistério sobre os livros, listo abaixo os 21 mais vendidos de todos os tempos – e o quanto venderam –, destacando em verde aqueles que já li.

1. A Bíblia – 6 bilhões (este pelo menos uma parte)
2. O Livro Vermelho, Mao Zedong – 900 milhões
3. O Alcorão – 800 milhões
4. Xinhua Zidian (dicionário chinês) – 400 milhões
5. O Livro de Mórmon, Joseph Smith Jr. – 120 milhões
6. Harry Potter e a Pedra Filosofal, J. K. Rowling – 107 milhões
7. E Não Sobrou Nenhum (O Caso dos Dez Negrinhos), Agatha Christie – 100 milhões
8. O Senhor dos Anéis, J.R.R. Tolkien – 100 milhões
9. Harry Potter e o Enigma do Príncipe, J. K. Rowling – 65 milhões
10. O Código da Vinci, Dan Brown – 65 milhões
11. Harry Potter e a Câmara Secreta, J. K. Rowling – 60 milhões
12. O Apanhador no Campo de Centeio, J.D. Salinger – 60 milhões
13. Harry Potter e o Cálice de Fogo, J. K. Rowling – 55 milhões
14. Harry Potter e a Ordem da Fênix, J. K. Rowling – 55 milhões
15. Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban, J. K. Rowling – 55 milhões
16. Ben Hur: Uma Narrativa de Cristo, Lew Wallace – 50 milhões
17. Heidi´s Years of Wandering and Learning, Johanna Spyri – 50 milhões
18. O Alquimista, Paulo Coelho – 50 milhões
19. Meu Filho, Meu Tesouro, Dr. Benjamin Spock – 50 milhões
20. O Pequeno Príncipe, Antoine de Saint-Exupéry – 50 milhões
21. A Marca do Zorro, de Johnston McCulley – 50 milhões

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Reportagem em quadrinhos

Se me perguntassem, hoje, “onde eu gostaria de estar?”, a minha resposta seria rápida e direta: em Porto Alegre, e isso por uma simples razão: a capital gaúcha abrigará, de 29 de outubro a 15 novembro, a sua 56ª Festa do Livro (http://www.feiradolivro-poa.com.br/), considerada a maior a céu aberto das Américas. E o que é melhor, totalmente gratuita, democrática, plural.

Mas se a feira começa na sexta e segue por mais duas semanas, por que então eu gostaria de estar lá antes? E a minha resposta não poderia ser mais natural do que a outra: para participar do I Encontro Internacional de Jornalismo em Quadrinhos, que começa amanhã e vai até o dia 30 de outubro, como um evento paralelo à Feira do Livro de Porto Alegre, mas que infelizmente não poderei presenciar.

A programação é de primeira (http://www.goethe.de/ins/br/poa/ver/pt6596308v.htm) e terá, entre os convidados, os quadrinistas alemães Atak e Jens Harder. Dos nacionais estarão presentes Aristides Dutra, mestre em Jornalismo em Quadrinhos; Felipe Muanis, jornalista, ilustrador e professor; Gilmar Rodrigues, jornalista; e Spacca, desenhista e escritor de quadrinhos históricos, entre outros.

Já comentei várias vezes aqui minha paixão por quadrinhos, especialmente pelo Jornalismo em Quadrinhos, gênero que tem se destacado nos últimos anos, cujo grande expoente, pelo menos para mim, é o cartunista e jornalista Joe Sacco.

Até conhecer seus trabalhos, em 2001, especialmente Palestina – Uma nação ocupada, e que me inspirou a fazer uma monografia para a pós em Jornalismo Internacional, eu nunca tinha ouvido falar em Jornalismo em Quadrinhos. A descoberta da graphic novel foi uma surpresa bastante agradável e se tornaria um ícone no gênero para mim.

A reportagem em quadrinhos de Sacco foi lançada no Brasil em 2000, com 144 páginas. Sabe-se que durante muito tempo, a abordagem da questão palestina apresentada pelas mídias tradicionais – jornais, revistas, televisão – mostrava apenas um lado do conflito – israelense – em detrimento do outro – palestino. De uma maneira criativa e original, Joe Sacco decidiu, entre 1991-1992, verificar “in loco” a situação e retratar em quadrinhos o dia a dia dos palestinos, mostrando quem são, o que pensam, o que sentem, como vivem. O resultado foi uma excelente reportagem em quadrinhos, primeiramente publicada em uma série de nove revistas e, posteriormente, editada como livro, em dois volumes – o segundo é Palestina – Na faixa de Gaza.

O primeiro volume destaca, entre outros aspectos, o campo de refugiados de Balata, na Cisjordânia, a detenção, o aprisionamento e o interrogatório de palestinos, feitos por autoridades israelenses, e a questão das mulheres palestinas. O conflito não só é explicado historicamente, como traz os fatos no seu cotidiano, com depoimentos e representações do que aconteceu naquela região. O próprio autor se insere no enredo, se retratando como um personagem, ele próprio, um repórter em busca de uma boa reportagem, que vive no meio do povo, ouvindo suas histórias e dando forma estética a elas.

Sacco é da escola do quadrinho underground e formou-se em jornalismo pela Universidade de Oregon. Com Palestina, ele ganhou o American Book Awards e o Prêmio HQ Mix 2000 de melhor graphic novel estrangeira. Palestina foi considerada ainda Melhor Nova Série pelos Harvey Awards (os Óscares na comunidade dos comics) e foi largamente mencionada em publicações como The Utner Reader e Washington City Paper.

É de Sacco, também, as reportagens em quadrinhos Área de Segurança: Gorazde e Uma história de Sarajevo sobre a Guerra da Bósnia. Mais recentemente publicou Notas sobre Gaza, que narra um fato histórico acontecido em 1956, data do assassinato de 275 palestinos em Khan Younis, vila na faixa de Gaza. Este constituiu-se mais num trabalho de historiador. O jornalista assina, ainda, outros trabalhos, sempre mesclando a história com os quadrinhos.

Na verdade, livros em quadrinhos começaram a ter sucesso nos Estados Unidos no início dos anos de 1990, a partir da publicação de Maus, de Art Spiegelman. O livro misturava cenários detalhados e elementos surreais para narrar a saga dos seus pais, que eram judeus, durante a II Guerra. Com seu livro, Spiegelman fez com que o mundo levasse a sério a possibilidade de fazer jornalismo em quadrinhos. Outro exemplo é a obra de Will Eisner, em que uma cidade inteira é desvendada sob ângulos insuspeitados no magnífico New York – The Big City.

Outros quadrinistas, como Keiji Nakazawa, também seguem pela mesma linha, com o tocante Gen – Pés Descalços – Uma história de Hiroshima. A obra é autobiográfica e foi lançada em quatro volumes. Trata-se da história do autor crescendo em uma família pacifista durante a Segunda Guerra e enfrentando a devastação física e espiritual causada pelo homem. Eletrizante e emocionante, a série tornou-se um dos maiores clássicos da narrativa sequencial japonesa, com mais de cinco milhões de exemplares vendidos e versões para cinema, desenho animado e até mesmo uma ópera.

Todos esses trabalho, outros que não citei – como O Fotógrafo, de Didier Lefèvre, que misturam fotos e quadrinhos, sobre a guerra do Afeganistão – e os que ainda estão por vir confirmam a possibilidade de unir duas linguagens tão diferentes como a do jornalismo e a do quadrinhos. Sobre isso, o jornalista José Arbex Jr, que foi meu professor na pós e assina o prefácio de Palestina – Uma nação ocupada, dá o veredicto certeiro:

... A notícia se nunca foi um “relato objetivo”, até porque, não existe a “linguagem objetiva”, hoje funciona apenas como uma peça de legitimação de determinada ordem ou percepção do mundo. Ela é um ingrediente do “grande show” transmitido diariamente pelos oligopólios da comunicação. Ao diluir as fronteiras entre os gêneros, ao tratar o mundo como show e o show como notícia, a mídia permitiu, em contrapartida, que outras linguagens, como a dos quadrinhos, reivindicasse para si o estatuto do jornalismo. E aí se resolve o impasse aparente.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Vlado

Em sua 32ª edição, o Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos recebeu, este ano, mais de 300 trabalhos – reportagens relacionadas aos direitos humanos – vindos de todas as regiões brasileiras. Os vencedores (confira no site http://www.premiovladimirherzog.org.br/), nas 10 categorias – rádio, jornal, TV reportagem, TV documentário, TV imagem, fotografia, arte, revista, rádio e internet – receberão o prêmio hoje, dia 25 de outubro, data em que se comemora os 35 anos da morte do jornalista Vladimir Herzog.

Nascido Vlado Herzog, em 1937, na Croácia, Vladimir (nome adotado ao se naturalizar brasileiro) foi jornalista, professor e dramaturgo. Meu interesse por esse personagem da vida real surgiu quando era estudante de jornalismo, em 1979, quatro anos depois da sua morte misteriosa, nos porões do DOI-CODI, em plena ditadura militar.

Mas foi somente dez anos depois dos acontecimentos que eu pude compreender melhor sua história, ao ler Vlado – retrato da morte de um homem e de uma época, do jornalista Paulo Markun, que foi amigo de Herzog. O livro mostra quem foi Vlado, por que ele foi preso e o que acontecia no DOI-CODI, revelando como sua morte repercutiu dentro dos altos escalões do governo.

A obra traz ainda depoimentos daqueles que conviveram, pessoalmente ou profissionalmente, com Herzog, e informações colhidas de documentos oficiais, como o IPM – Inquérito da Polícia Militar, e notas em periódicos.

Vlado foi militante do PCB - Partido Comunista Brasileiro (que no período da ditadura era proibido, mas existia clandestinamente) e lutava abertamente pela restauração da democracia no país.

Em 1975, ele era diretor de jornalismo da TV Cultura, de onde foi convocado pelos agentes do II Exército a prestar depoimento sobre as ligações que mantinha com o PCB. Herzog compareceu no dia 24 de outubro ao DOI-CODI, local onde foi torturado. Junto a ele estavam os jornalistas George Benigno Duque Estrada e Rodolfo Konder, que confirmaram o seu espacamento.

No dia seguinte, Vlado foi encontrado morto, em sua cela, tendo um cinto amarrado ao pescoço, sugerindo suicídio, por enforcamento. Os militares apressaram em divulgar a foto de Herzog sem vida para justificar a causa da morte.

A sociedade, no entanto, não aceitou a versão oficial e saiu às ruas para protestar, tendo em vista haver várias inverdades, como o fato dele ter se enforcado com um cinto, objeto que os prisioneiros não possuíam. As pernas, além disso, estavam dobradas e no pescoço apenas duas marcas de enforcamento, o que supõe que sua morte deu-se por estrangulamento.

Vlado era casado com a publicitária Clarice Herzog, com quem tinha dois filhos. Tendo passado por maus momentos após a morte do marido, Clarice conseguiu que a União fosse responsabilizada, de forma judicial, pela morte de Vlado. Contribuiu para isso a mobilização da sociedade brasileira e da imprensa que, incorformadas com o regime, aceleraram também o início das discussões pela redemocratização do país.

Trinta anos após a morte de Vladimir Herzog e vinte anos da publicação do seu livro sobre o amigo, Paulo Markun lançou mais uma obra relacionada ao caso: Meu Querido Vlado, - que conta a história de Herzog e do sonho de uma geração, sob um ponto de vista bastante pessoal, apresentando relatos emocionantes e surpreendentes desde a época do jornalismo na TV Cultura até o suicídio forjado pelo regime.

Hoje, passados 35 anos da morte de Vlado, o país respira aliviado por não viver mais em regimes ditatoriais, como aqueles dos anos de 1970. No entanto a população deve estar sempre alerta, cobrando de seus governantes o compromisso com a democracia, exigindo seus direitos e o respeito para com a liberdade de expressão.

E que nunca mais a população brasileira passe por momentos nebulosos como aqueles, tão bem retratados na música O Bêbado e a Equilibrista, de João Bosco e Aldir Blanc, especialmente na estrofe:

"Chora!
A nossa Pátria
Mãe gentil
Choram Marias
E Clarisses
No solo do Brasil... "

Para saber mais sobre Vladimir Herzog, acesse http://vladimirherzog.org/


quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Pelo ciclo da cana-de-açúcar

Quando comecei a organizar minhas leituras no blog “Leituras que não esqueço”, espaço criado para anotar passagens marcantes das obras lidas, me confrontei com livros convividos há um bom tempo, fazendo com que uma gostosa nostalgia se apoderasse de mim. Foi como reler – e reviver – tudo novamente, relembrando até mesmo o momento vivido na época. Deu até vontade de reencontrar aqueles livros, alisar suas capas, folhear suas páginas, passear os olhos pelo texto, saborear mais uma vez suas histórias. É como rever um velho amigo, mais que isso, é como estar diante de si mesmo, encarando um outro eu, o eu que ficou gravado em cada folha do livro.

Dentre as leituras passadas, uma em especial me trouxe lembranças muito agradáveis, por fazer parte de um universo que muito me fascinou – e ainda fascina –, constituindo-se, ou melhor, dando sequência ao pilar que despertou de vez a paixão pelos livros em mim: Fogo Morto, de José Lins do Rego.

O livro é uma obra-prima do regionalismo brasileiro e fala sobre a decadência dos engenhos de cana-de-açúcar na região nordeste, retratada pelo autor de forma bem realista. Na verdade, este livro seguiu-se o chamado "ciclo da cana-de-açúcar", que começou com "Menino de Engenho", passando por "Doidinho", ambos de 1933, "Banguê" (1934), “O Moleque Ricardo” (1935) até chegar em "Usina” (1936). Fogo Morto foi publicado em 1943 e traz personagens mencionados nos demais livros.

Considero, este, o meu livro preferido, porque remete à minha adolescência, quando tinha de 14 para 15 anos, época em que passei a me interessar mais pela literatura, impulsionada, sobretudo, por uma professora de Português que tive no final do 1º e começo do 2º grau: Dona Rosemeire. Suas aulas eram magníficas, com leituras, exercícios de criatividade, apresentações de textos.

Fogo Morto é um romance dividido em três partes, cada uma com um protagonista e sua história, mas que ao final se entrelaçam. São eles: mestre José Amaro, coronel Lula de Holanda e capitão Vitorino, um dos melhores personagens já criados, uma espécie de "Dom Quixote" dos sertões. Simplesmente lindo! Suas aventuras e desventuras – talvez mais desventuras do que aventuras – me fascinavam e me faziam solidária a ele.

Menino de Engenho conta a história do menino Carlinhos, enviado depois da morte da mãe para o engenho Santa Rosa, onde será criado pelo avô e pelos tios. Ali acompanha um novo tempo de transformações econômicas e sociais, com a chegada das modernas usinas de açúcar. Quando atinge a idade escolar, vai para o colégio não mais como um menino ingênuo, mas já sacudido pelas emoções do corpo.

A história de Carlinhos prossegue em Doidinho, livro no qual o personagem passa para o internato, alimentando o desejo de voltar ao engenho Santa Rosa. Na escola conhece os bons e os maus, a amizade, o amor, os horrores, os castigos e a tirania do diretor. Começa assim a sua transição para Carlos de Melo e uma nova consciência social.

Em Banguê, Carlos de Melo, após terminar os estudos e formar-se em advogado, volta a viver no Engenho Santa Rosa. Ali encontra o avô doente e o engenho em situação precária.

O Moleque Ricardo situa-se fora do ambiente rural e narra a experiência do personagem que dá título à obra. Ricardo é um garoto que vivia no Engenho Santa Rosa, mas que o abandona seduzido pela vida na capital pernambucana. É o romance mais político de Lins do Rego e que aponta as desigualdades sociais e econômicas dos habitantes.

Usina, por fim,retorna à história do moleque Ricardo, agora de volta ao engenho Santa Rosa, depois de oito anos de ausência. Neste livro aparece também Carlos de Melo que, fugindo dos problemas em torno do engenho, entrega o patrimônio a parentes, tornando-se assim a Usina Bom Jesus.

O autor, José Lins do Rego Cavalcanti, nasceu eum Pilar, na Paraíba, e, ao lado de Graciliano Ramos e Jorge Amado, figura como um dos romancistas regionalistas mais prestigiosos da literatura nacional. Otto Maria Carpeaux, conforme informações na Wikepédia, dizia que José Lins era "o último dos contadores de histórias".

Ele escreveu ainda outros romances e crônicas, mas foram os livros acima que li, pelo menos até hoje. E isso me faz lembrar que preciso acrescentar, na minha lista de livros a ler para o ano que vem, outras obras de José Lins do Rego e de seu mundo regionalista. Ainda bem que sempre é tempo de retomar nossas leituras.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Sempre perto do livros

Para quem gosta de livros não tem melhor programa do que ir a livrarias, bibliotecas, eventos literários ou qualquer atividade do gênero. Pois é. Lendo o post da Lia, do blog Quero morar em uma livraria, escrito no ínício deste mês, identifiquei-me de imediato com suas peripécias pelo mundo da literatura.

Ela conta que, morando agora nos Estados Unidos, esteve visitando a Portage District Library, a biblioteca pública da cidade onde reside, para prestigiar o Book Sale, um evento especial de venda de livros. A visita rendeu-lhe boas compras, tanto para ela quanto para a filha, e o que é melhor a um preço bastante aprazível.

Não contente com esse fato e apesar do frio que fazia na cidade, ela e a filha foram para a Barnes & Noble, a maior livraria varejista dos Estados Unidos, com a desculpa de tomar um café, mas que ao final acabou se revelando em mais um motivo para adquirir novos livros. Não deu outra, mais uma compra impulsionada pela paixão literária. E pensei comigo:

– A Lia não tem jeito mesmo..., mas entendo, acho que faria o mesmo.

Aí lembrei que recentemente eu passei por uma aventura semelhante, mas com menos gasto.
Já há um bom tempo queria conhecer a Biblioteca de São Paulo, o espaço literário inagurado em fevereiro deste ano no local onde funcionava a Casa de Detenção do Carandiru, em São Paulo.

O projeto arquitetônico é bárbaro, com amplas janelas e portas de vidros, e por privilegiar o verde existente no lugar, um convite a caminhadas e ao lazer. Já o prédio da biblioteca em nada lembra os espaços austeros característicos desses locais. Com pufes coloridos e poltronas confortáveis espalhados pelo chão, a biblioteca tem cabanas coloridas no pavimento térreo, destinado às crianças e aos adolescentes. Aviõezinhos de papel em tamanho gigante, dependurados nos tetos, completam a decoração. Há ainda auditório para palestras e eventos e uma área externa coberta com café e espaço para apresentações artísticas.

No primeiro andar, destinado ao público adulto, há mesas de leituras, computadores e poltronas aconchegantes. Podem ser consultados livros e DVDs, dispostos com facilidade de acesso. É possível passar horas no local, lendo, descansando, sonhando, se emocionando.

Em rápida conferida pelo acervo vi muitos livros que desejo ler e muitos outros descobertos no calor da visita, mas como já tinha uma pilha de obras em minha casa, algumas de outras bibliotecas, contive meu ímpeto, mas marquei de voltar lá para fazer expressivos empréstimos.
Quando sai da biblioteca – estava com minha irmã e minha sobrinha – resolvi andar um pouco pelo parque, mas depois surgiu a ideia de irmos ao Shopping Center Norte, que fica naquela região. Fazia frio também e nos apressamos pelo caminho para espantar o mau tempo.

Ao chegarmos no shopping, a primeira coisa que me ocorreu à cabeça foi uma só:
Vamos à Saraiva? – eu sugeri, perguntando.
Mas acabamos de ver livros... – disse minha irmã.
Achei o fato engraçado, porque minha fome de livros, ainda que fosse só para vê-los não havia sido saciada. Então respondi:
É que eu ainda não a vi depois da reforma. Parece que o espaço ficou maior. Vamos, vai?
Está bem – ela concordou.

E lá fomos nós, de novo, mergulhar no paraíso dos livros. E que paraíso, porque a livraria ficou linda, bem distribuída, com lugar para shows e eventos culturais, um belo café, onde bebericamos algo, e um grande, mas grande espaço mesmo – térreo e superior – para prateleiras de livros e mais livros. Definitivamente nada mais me importava, eu estava realizada.


* A foto é de Mario Silva, produtor cultural da Biblioteca de São Paulo.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Voltando a ser criança

Todo adulto guarda um resquício de criança dentro de si. Se não, pelo menos deveria. Coração puro, contentamento fácil e encanto pela vida são características infantis que todo ser humano deveria preservar. Pelo menos eu acredito nisso ou, então, eu queira justificar meu impulso consumista dos últimos dias.

É que, embalada pelo Dia das Crianças, resolvi me presentear e nada melhor do que livros para serenar meus ânimos. E não podia ser um livro qualquer, tinha de ser uma obra infanto-juvenil para ficar de acordo com as comemorações da semana.

Assim, comprei Caderno de Viagens da Pilar, um livro que é um convite à escrita. Trata-se das anotações de viagens de Pilar, uma menina muito divertida, bastante teimosa, que gosta de aventuras. E o melhor é que o leitor poderá também embarcar nelas, pois há espaços para escrever e registrar suas próprias lembranças e anotações de viagens.

O livro faz parte de uma série criada por Flávia Lins e Silva, jornalista, escritora, roteirista e documentarista. A primeira história foi Diário de Pilar na Grécia, seguida de As Peripécias de Pilar na Grécia, A Folia de Pilar na Bahia e O Agito de Pilar no Egito. O Caderno de Viagens da Pilar foi lançado recentemente e resolvi comprá-lo antes dos volumes iniciais talvez por oferecer a possibilidade de também fazer anotações no livro.

Além deste, encomendei ainda – e estou esperando receber – A Ilha de Nim, da escritora canadense Wendy Orr. Este foi indicação da amiga Michele, enquanto estávamos em uma fila de cinema aguardando para assistir Sherek e aproveitamos para falar de Harry Potter, O Senhor dos Anéis, Percy Jackson e outras obras do gênero.

O livro conta a história de Nim, uma menina que vive em uma ilha isolada com seu pai cientista, Jack, a iguana marinho Fred, a leoa marinha Selkie, a tartaruga Chica e uma antena parabólica para acessar seu e-mail.

Tudo corre normalmente até que o pai de Nim desaparece com seu barco a vela e Nim parte em seu resgate, contando com a ajuda de seus amiguinhos.

Mal posso esperar para ler esses livros, o que não deve demorar muito, ainda mais porque são curtinhos e fáceis de ler. Mas, a despeito dessa acessibilidade toda, o prazer e a emoção neles contidos, com certeza ultrapassam a quantidade de páginas impressas. São aventuras para soltar – e ficar – na imaginação.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Todo dia é Dia da Leitura

Para quem não sabe, o 12 de outubro, além de feriado por ser este o Dia da Padroeira do Brasil (Nossa Senhora Aparecida) e o Dia das Crianças é, também, desde o ano passado, o Dia Nacional da Leitura, conforme a Lei nº 11.899. E esta semana, de 11 a 17 de outubro, é a Semana Nacional da Leitura e da Literatura. Todas essas festividades serão coroadas, ainda, no final do mês com a comemoração do Dia Nacional do Livro, em 29 de outubro.

A instituição do Dia Nacional da Leitura foi uma iniciativa do Instituto Eco Futuro, uma organização não governamental, criada em 1999, cuja missão é “gerar e difundir conhecimento e práticas que contribuam para a construção coletiva de uma cultura de sustentabilidade junto a indivíduos e grupos sociais”.

A iniciativa teve início em 2006 com a ideia de incluir no calendário brasileiro um dia de mobilização nacional em que as leituras de literatura ocupassem vários espaços, como casas, bibliotecas, escolas, parques... tendo como objetivo incentivar a leitura desde a primeira infância, fazendo disso uma prática popularizada por todo o Brasil.

Várias atividades foram realizadas na ocasião, em parceria com a educadora Maria Betânia Ferreira (do blog Pingo é Letra), como cursos e leituras públicas e distribuição do Passaporte da Leitura com dicas de como instituir o hábito da leitura.

Para este ano, dentre as atividades desenvolvidas, está a do escritor e produtor cultural Laé de Souza, do grupo Projetos de Leitura e um dos parceiros do Dia Nacional da Leitura. Ele coordenará uma ação para divulgar, incentivar o hábito da leitura e facilitar o acesso ao livro. Para tanto, contará com o apoio da Universidade Cidade de São Paulo (Unicid) que disponibilizará 120 voluntários, estudantes do curso de Letras. Estes estarão, de 11 a 17 de outubro, distribuindo 600 livros em várias regiões da capital paulistana para leitores de toda as idades.

Os livros, “Nos Bastidores do Cotidiano”, de Laé de Souza, serão deixados aleatoriamente em pontos de alta circulação. Na capa do livro estará um folheto explicativo para que o leitor, após a leitura, deixe o livro em outro local para que outras pessoas também possam ter acesso a ele, criando assim um corrente de leitores.

Achei a ideia fabulosa e a iniciativa muito bem-vinda, mas é preciso não se esquecer de que todo o dia é Dia da Ler e que os livros devem fazer parte da nossa vida sempre, diariamente, constantemente. E viva a leitura!
Mais informações acesse: www.dianacionaldaleitura.com.br/2010/

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Leitura lenta, mas constante

Todo início de mês, alguns blogueiros costumam fazer um balanço das leituras realizadas no mês anterior, destacando quantos e quais livros leu. Fico admirada do fôlego desses leitores por dois motivos:

1. A quantidade de livros lidos, geralmente dez ou mais.

2. O livro lido, propriamente dito, quase sempre com mais de 300 páginas.

Além da admiração, porque muitos desses blogueiros são pessoas jovens, chego a ter uma "pontinha" de inveja, porque nem de longe passo perto dessa marca. Isso porque, na maior parte das vezes, minha medida não passa de dois livros. Tá, pode chegar a três, mas isto se os livros não forem muito volumosos, ou seja, não dispuserem muitas páginas.

Mas, para minha surpresa, o mês passado, devo dizer com todo o orgulho, li um pouco (só um pouquinho) mais, chegando à marca de 5 livros! Senti-me vitoriosa, acho que consegui empreender um ritmo bom nas minhas leituras, focando mais no ato de ler. Contudo, devo confessar que os livros não eram lá muito grandes, em média com 280 páginas, o que significa que o meu feito não foi tão “feito” assim..., mas eu chego lá.

Na verdade, já comentei neste blog que o meu processo de leitura é mais lento, fora que o tempo disponível que tenho para ler se restringe às minhas viagens de ida e volta ao trabalho, quando entro no metrô, e também logo após minhas aulas de yoga no Sesc, onde fico por mais uma hora na sala de leitura até dar a hora de ir para o serviço.

Também tem mais um adendo: eu gosto de ler devagar mesmo e por vezes chego a voltar algumas páginas para reler algum trecho que não ficou bem compreendido. É que tenho a impressão de que se deslancho depressa demais, a leitura rapidamente me escapará, bem como sua compreensão. Além do mais, é preciso uma pausa para pensar naquilo que se leu.

Arthur Schopenhauer, filósofo alemão, já dizia que “quanto mais lemos menos rastro deixa no espírito o que lemos: é como um quadro negro, no qual muitas coisas foram escritas umas sobre as outras...”. Por isso, “... se lemos continuamente sem pensar depois no que foi lido, a coisa não se enraíza e a maioria se perde.”

Concordo com ele, pelo menos isso acontece comigo. Talvez por isso prefira ir mais devagar. Mas que fico com uma “pontinha” de inveja de quem lê muito, ah isso fico!

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

A voz do rádio

Considero-me uma pessoa moderna, atenta às novas tendências e tecnologias. Gosto de tudo o que é novidade e, na medida do possível, procuro me inteirar e aderir aos modismos. Mas, vez por outra me pego em antigas paragens e sem abrir mão de velhos e inesquecíveis objetos. É o caso do rádio, mais precisamente do radinho de pilha, aquele que a gente colocava em qualquer lugar para ouvir notícias, programas e músicas.

Há muito tempo deixei de ter um, mas pasmem (!) sinto falta dele, principalmente de manhã, quando sento para tomar café e fico ansiando por saber notícias, hora, previsão do tempo, tão bem propagdos pelas ondas sonoras da AM, é isso mesmo AM. Tá, tudo isso eu posso conseguir ligando o aparelho de som na FM, o rádio do celular, o MP3 ou mesmo sintonizando a televisão, mas, sinceramente, não é a mesma coisa, pelo menos para mim. Acho que falta aquele ar de intimidade que só um radinho de pilha e a AM podem oferecer.

Hoje, dia 6, faz dez anos do falecimento de Hélio Ribeiro, grande radialista, jornalista e narrador brasileiro, que fez muito sucesso nas décadas de 1970 com o seu programa “O Poder da Mensagem”, na Rádio Bandeirantes. A voz dele, de barítono, era inconfundível, e que inspirou Chico Anysio a criar o personagem Roberval Taylor, radialista que tinha aquele vozeirão sonoro e potente.

Em seu programa de rádio, Hélio Ribeiro apresentava crônicas, textos e mensagens e fazia traduções livres de música norte-americana e italiana. Era muito bom ouvi-lo e foi melhor ainda lê-lo, quando mais tarde seus textos foram organizados no livro O Poder da Mensagem, que descobri na década de 1980 e reli recentemente num ímpeto de saudosismo.

Dos textos contidos neste livro, destaco alguns trechos da mensagem “Receita incompleta para construir a paz de espírito”:

“...É preciso colocar amor nas coisas que se quer fazer e procurar amar as que se devem fazer, e nunca dizer que se fará amanhã o que não se achou justo fazer hoje.

...É de caráter não dizer de ninguém na sua ausência o que não se teria coragem de dizer frente a frente.

...É preciso aprender o que é bom, venha de onde vier, e disltingui-lo do mau mesmo que venha endossado por gente do mundo inteiro.”

Até parece autoajuda e pode ser até que seja, mas para mim é muito mais do que isso, as mensagens dele fazem bem e elevam a paz de espírito.

Para saber mais acesse: http://www.helioribeiro.com/v4/

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

O santo da natureza

Nascido Giovanni di Pietro di Bernardone, Francisco de Assis abandonou uma vida de riqueza e conforto para se dedicar aos pobres e à natureza, aos quais dedicou inúmeros cânticos e poemas. Em 1979 foi proclamado, pelo papa João Paulo II o santo patrono dos ecologistas, por isto, neste dia 4 de outubro, dedicado ao santo e aos animais, deixo aqui um de seus escritos, para marcar a data, lembrando ainda do respeito que devemos ter para com os seres da natureza. Afinal, somos todos criaturas de Deus.

Cântico das criaturas

Louvado sejas, meu Senhor
Com todas as tuas criaturas.
Especialmente o senhor irmão Sol
Que clareia o dia
E com sua luz nos ilumina
E ele é belo e radiante,
Com grande esplendor:
De ti, Altíssimo, é a imagem.

Louvado sejas, meu Senhor
Pela irmã Lua e as Estrelas
Que no céu formastes claras
E preciosas e belas.

Louvado sejas, meu Senhor
Pelo irmão Vento.
Pelo ar, nublado
Ou sereno, e todo o tempo
Pelo qual às tuas criaturas dás sustento.

Louvado sejas, meu Senhor
Pela irmã Água
Que é muito útil e humilde
E preciosa e casta.

Louvado sejas, meu Senhor
Pelo irmão Fogo
Pelo qual iluminas a noite
E ele é belo e jovial
E vigoroso e forte

Louvado sejas, meu Senhor
Por nossa irmã, a mãe Terra
Que nos sustenta e governa
E produz frutos diversos
E coloridas flores e ervas.