domingo, 29 de dezembro de 2019

Retrospectiva Literária 2019

Minhas leituras em 2019

Este foi um ano de leituras incríveis e prazerosas, mantendo praticamente o mesmo ritmo de 2018. Pretendia ler mais, mas nem por isso deixei de atingir metas, pois este ano li mais livros escritos por mulheres, tanto que cheguei em setembro percebendo que só tinha lido um autor homem até aquele momento. Não foi proposital, mas à medida que você vai lendo mulheres, acaba descobrindo outros livros escritos por elas e o interesse vai aumentando. Foi uma delícia! Mas quero manter um certo equilíbrio, então para 2020 vou continuar lendo livros escritos por mulheres, mas por homens também. O importante é ter prazer no que se lê.

Vamos então à minha Retrospectiva Literária 2019:

A fantasia que me encantou:

Kafkianas, de Elvira Vigna
Não chega a ser uma fantasia, mas a proposta de Elvira em recontar contos de Kafka foi mágica e supreendente. Nunca tinha lido nada dela e gostei muito. 

O clássico que me marcou:

Meu Pé de Laranja Lima, de José Mauro de Vasconcelos
Faz tempo que eu queria ler esse livro e este ano a oportunidade surgiu. Que bom!
É lindo, saudosista, delicado, triste, belo, emocionante. Chorei muito, quase não conseguia prosseguir na leitura, mas cheguei ao final totalmente entregue. Eu já tinha lido um livro do autor antes: Coração de Vidro, que é bastante tocante e li várias vezes. Hoje não tenho mais coragem de ler, porque o livro, embora belo e necessário, é muito triste, de cortar o coração.

O terror que me arrepiou:

As Coisas que Perdemos no Fogo, de Mariana Enriquez
Os contos narrados pela autora são mesmo de arrepiar, mas sua prosa é uma delícia. Vale a pena se aventurar e sentir medo.

O livro que me fez refletir:

Memórias da Plantação, de Grada Kilomba
A autora foi uma grande descoberta, porque não a conhecia. O livro traz episódios cotidianos de racismo, escritos por meio de histórias com um viés psicanalítico. Para mim foi essencial porque pude conhecer e compreender melhor a questão. Essencial.

O livro que me fez chorar:

Os Ossos dos Mortos, de Olga Tokarczuk
O livro da Nobel de Literatura deste ano parecia despretensioso, enveredou para o suspense e o policial e culminou como uma poderosa bandeira contra a crueldade para com os animais. É de arrancar lágrimas e reflexões.
Entretanto, outros três livros também me fizeram chorar copiosamente: O Meu Pé de Laranja Lima, que já comentei, e Jardim de Inverno e O Olho Mais Azul, que falarei mais para frente.

O livro que me decepcionou:

A Paixão pelos Livros, vários autores
Adoro livro que fala sobre livros e, por isso, a expectativa quanto a essa obra era grande. Embora alguns textos sejam deliciosos, outros, entretanto, me pareceram enfadonhos. Nota 6.

O livro que me surpreendeu:

Fique Comigo, de Ayòbámi Adébáyò
Livro incrível da escritora nigeriana, que me arrebatou do início ao fim. O romance é narrado pela protagonista Yejide e pelo seu marido Akin, de forma a conhecer e compreender os dois lados. A trama mescla conflitos familiares pela necessidade de se ter filhos, com a situação política do país. É surpreendente.

O livro que devorei:

A Louca da Casa, de Rosa Montero
Então, eu não falei que gosto de livro que fala sobre livros? Pois é, esse é um belo exemplo pela maneira bem humorada e tocante da narradora-autora. É uma delícia, sem falar na dica que dá de outros livros. Maravilhoso!

A capa mais bonita:

Só Garotos, de Patti Smith
A autora e seu amigo, o fotógrafo Robert Mapplehorpe, ilustram a capa, em uma foto afetiva que mostra o amor e a amizade entre os dois. Muito linda, sem falar na história em si, nada convencional, permeada de altos e baixos, escrita com paixão e sensibilidade por Patti Smith. 

O primeiro livro que li no ano:

Desta Terra nada Vai sobrar a Não Ser o Vento que Sopra sobre Ela, de Ignácio de Loyola Brandão
O livro que ganhei no amigo secreto do clube Traçando Livros foi o escolhido para abrir as minhas leituras de 2019. Eu já tinha lido dele Não Verás País Nenhum, obra maravilhosa e inesquecível, então quis me aventurar nessa nova distopia de Loyola Brandão. Ele não decepcionou, embora ainda goste mais de Não Verás País Nenhum.

O livro que li por indicação:

O Quarto Branco, de Gabriela Aguerre
A indicação partiu de uma crítica lida, depois escolhida para discussão no clube Leia Mulheres. Romance delicado, trata de memória e descendência, e a construção de um lugar para guardar a dor. Muito bom.

A frase que não saiu da minha cabeça:

"A vida sem ternura não é lá grande coisa", de Meu Pé de Laranja Lima.
Frase que merece ser refletida e repetitida, diariamente. 

O (a) personagem do ano:

Foram duas:
Pécola, de O Olho mais Azul, de Toni Morrison.
A menina negra que queria ter um olho azul para ser bela e amada enterneceu meu coração. Sua construção é bastante tocante. Toni Morrison escreve lindamente, com firmeza, verdade e emoção, dando forma e alma aos seus personagens.

Janina, de Os Ossos dos Mortos
Engraçada, esotérica, apaixonada pelo poeta William Blake, maluca, defensora dos animais. Esses são apenas algumas das características de Janina, que detesta seu nome, e dá nomes aos outros conforme eles lhe parecem. Personagem única, ela nos encanta e emociona, tornando-se inesquecível.

Livro mais longo:

Jardim de Inverno, de Kristin Hannah
Com 416 páginas, esse foi o livro mais longo que li no ano e confesso que fiquei entregue. Até pouco mais da metade o enigma que envolvia uma das personagens era desconhecido e a história tendia a conflitos familiares, entretanto, depois disso, a narrativa tem uma reviravolta surpreendente e terrivelmente emocionante. Fui às lágrimas sem me segurar.

Livro mais curto:

Com Meus Olhos de Cão, de Hilda Hilst
A autora foi econômica neste livro, mas nem por isso deixou de ser impactante. Com 96 páginas, esse foi o livro mais curto que li e, como sempre acontece com as leituras de Hilda, o complexo se torna encantador. Se entendi, pouco importa. O que importa é que senti.

O último livro que terminei:

Úrsula, de Maria Firmina dos Reis
Primeiro romance brasileiro escrito por uma mulher, em 1859, sob o pseudônimo de "uma maranhense", Úrsula é um livro à moda antiga, repleto de detalhes, mas nem por isso menos interessante, e eu não podia deixar o ano terminar sem lê-lo. Trata-se de um clássico, que aborda a questão da escravidão e o abolicionismo. Necessário.

O melhor livro nacional:

Olhos d' água, de Conceição Evaristo
Da autora eu já tinha lido Ponciá Vicência, e fiquei apaixonada pela sua prosa, mas quando li Olhos d'água fiquei totalmente entregue. Os contos que compõem o livro tratam da população afro-brasileira centrada na pobreza e na violência que sofrem. Recomendadíssimo.

O melhor livro que li em 2019:

O Olho Mais Azul, de Toni Morrison
Em seu primeiro romance, Toni Morrison comove, ao tratar com delicadeza, o desejo de uma menina negra, Pecola, de ter um olho azul para ser bonita e escapar do preconceito racial. O que mais impressiona no livro, além da história triste de Pecola, é a abordagem que a autora faz de outros personagens, alguns nem tão bons assim, mas sem julgar e culpar. Imprescindível.

Li em 2019... 33 livros.
Destes, 28 foram escritos por mulheres.

A minha meta literária para 2020 é:  
Ler mais, mais, mais.

Os 10 livros mais amados deste ano:

O Olho Mais Azul, de Toni Morisson
Memórias da Plantação, de Grada Kilomba
Fique Comigo, de Ayòbámi Adébáyò
Olhos D´Àgua, de Conceição Evaristo
Os Ossos dos Mortos, de Olga Tokarczuk
Eu Sei Porque o Pássaro Canta na Gaiola, de Maya Angelou
As Mulheres de Tijucopapo, de Marilene Felinto
Enterre Seus Mortos, de Ana Paula Maia
Meu Pé de Laranja Lima, de José Mauro de Vasconcelos
Redemoinho em Dia Quente, de Jarid Arraes


E que venham mais e belas leituras em 2020.
Feliz Ano Novo de bons livros!

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