Nunca pensei na
leitura como um isolamento, como uma forma de ficar comigo mesma, de evitar as
pessoas e viver em um mundo à parte. Ao contrário, ler para mim sempre foi algo
tão fascinante que busco constantemente dividir isso com outras pessoas. Por
isso, não me incomodo de emprestar livros, mesmo que eles não voltem mais – a
não ser que no meio esteja algum dos preferidos. Da mesma forma, sempre sonhei
em ter uma biblioteca na sala da minha casa, para que o visitante pudesse contemplá-la
e sentir-se tentado a pegar, manusear e querer ler um livro. Acho que para mim,
uma tímida por natureza, os livros seriam uma porta pela qual eu pudesse chegar
ao outro.
Não é à toa que
escolhi ser jornalista e justamente em uma época na qual a profissão exigia
saída a campo, ou melhor, não se concebia outra forma de fazer reportagem, a
não ser indo às ruas, falando pessoalmente com as pessoas, verificar in loco os fatos. Hoje a realidade é
outra. Muitos jornalistas estão fechados nas redações – às vezes até na própria
casa –, fazem entrevistas via telefone e e-mail, consultam a internet. O “corpo
a corpo” ficou restrito a poucos profissionais, infelizmente.
Mas se na profissão
não busquei o isolamento, na leitura também não procuro a reclusão. Assim, na
minha trajetória como leitora, iniciada na adolescência, a prática
intensificou-se ainda mais há cerca de sete anos, na procura por Clubes de
Leitura, espaços onde pudesse partilhar sensações dos livros lidos com outros
leitores. Tive algumas experiências pelo caminho que acabaram não vingando, mas
finalmente acabei me engajando em um clube assim, e em mais outro, e ainda em
outros possíveis, dependendo do interesse. Vejo com bons olhos essas possibilidades
e espaços, que se multiplicam em uma cidade como São Paulo.
E, nesse tempo todo,
longe de me isolar, de me tornar uma pessoa reclusa, a leitura me fez conhecer
mais pessoas, propiciou novas amizades, trouxe amigos queridos, ampliou os meus
contatos e abriu um mundo novo – e, com ele, as portas da minha casa para uma
vida social e cultural satisfatória.
Se ainda sobra tempo
pra ler? Sim, claro, sempre. Não poderia ser diferente, e posso dizer que hoje
leio muito mais do que antes, mas sem pressa, com atenção e um livro de cada
vez. Sem esquecer as releituras, sempre necessárias e duplamente prazerosas.
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