De alguns
anos para cá, os quadrinhos brasileiros ganharam mais espaço com a produção e o
lançamento de álbuns de qualidade inquestionável. Entre eles, Daytripper, a graphic novel de Fábio Moon e Gabriel Bá, publicada no Brasil pela
Panini, que ganhou o Eisner em 2011
como melhor minissérie; o álbum Morro da
Favela, de André Diniz, lançado em 2011 pela Leya Brasil, que alcançou o
mercado exterior; e Bando de Dois ( Zarabana Books) e Astronauta Magnetar (Graphic MSP), de Danilo Beyruth, que faz um
belíssimo trabalho. Isso só para citar alguns.
Embora lançado em 2009, outro álbum também merece
destaque por trazer à tona o cotidiano brasileiro de uma forma bastante poética
e humana: Sábado dos meus amores, de
Marcello Quintanilha, que foi publicado pela Conrad Editora num belo
encadernado.
A HQ traz seis histórias, que se misturam entre crônicas
e contos. A primeira, Plena
de Flôroi é uma homenagem ao cronista Rubem Braga e sua crônica A borboleta
amarela, escrita em 1952. Em apenas seis quadros, dispostos em uma página,
Quintanilha consegue sintetizar a crônica e complementá-la com uma visão
sensível. Não tem como não se emocionar.
As cinco histórias a seguir são um pouco mais longas, com exceção de Atualidade,
também contada em uma página. Nesta um operário se ressente do resultado de um
jogo de loteria. Os demais contos são: De como Djalma Branco perdeu o amigo
em dia de jogo, no qual um torcedor fanático pelo Flamengo, morador na
periferia do Rio de Janeiro, vive às voltas com as superstições do jogo
Já Dorso conta a história de um carregador que se autoflagela
por não conseguir esquecer seu passado como trabalhador na roça; Escola
primária remete à
região nordeste do Brasil, onde uma garota se enamora de um jangadeiro; por fim, A fuga de Zé Morcela fala de
um ajudante de circo que gosta de um jogo de carteado e um guarda-civil marcado
pelo complexo de inferioridade.
São histórias simples, que retratam o dia a dia de pessoas simples, das
quais se sobressai a humanidade de suas relações. Os finais parecem não ter
desfecho, mas com uma visão mais atenta percebe-se o desenlance que o
quadrinista quis dar. E os desenhos são bastante expressivos e impressionam
pela força, como o último quadro do conto Escola Primária, que foca o
rosto e o sorriso tímido da garota frente ao jangadeiro.
Artista autodidata por excelência, Marcello Quintanilha
iniciou-se como quadrinista em 1988, desenhando histórias de terror e artes
marciais. Na época, assinava sob o pseudônimo de Marcello Gaú.
Teve vários trabalhos publicados e prêmios conquistados
no Brasil. Em 1999 a Conrad lançou seu primeiro livro, Fealdade de Fabiano Gorila. Em 2005 publicou seu segundo livro: Salvador, da coleção Cidades Ilustradas, da Casa 21.
Hoje Marcello reside em Barcelona, na Espanha, onde faz a
série de quadrinhos Sept Balles Pour
Oxford , da editora belga Editions du Lombard, junto com os roteiristas
Jorge Zentner e Montecarlo. E colabora, também, para os jornais La Vanguardia e El País, como ilustrador.
Vale a pena conferir seus trabalhos.
(Publicado
originalmente no Cubo 3 – http://www.cubo3.com.br em 7/2/2012, com atualizações)
Sempre bom ver "garotas" (rs) divulgando HQs.
ResponderExcluirTenho essa "graphic" em minha coleção e tb gostei bastante.
Ótimo trabalho esse seu, em comentar a edição e indicá-la, junto a outros títulos.
Abraços!!