Nunca tinha lido nada de William Faulkner, o premiado escritor
norte-americano, agraciado em 1949 com o Nobel
de Literatura, em 1951 e 1955 com o National
Book Awards, e em 1955 e 1962 com o Pulitzer.
Por isso, nem sabia por onde começar. Já tinham me falado que seus livros eram
muito densos e difíceis de ler, o que me deixava com um pé atrás, mas acabei me
deparando com Enquanto agonizo, obra
publicada em 1930, indicada em um dos Clubes de Leitura dos quais participo.
Faulkner alegou ter escrito o romance em seis semanas,
enquanto trabalhava, em uma usina elétrica, levando carvão para a caldeira. Durante
a noite, não tinha muito trabalho, então aproveitou para escrever. Uma façanha
e tanto, já que o livro é considerado uma de suas principais obras, na qual
utiliza da técnica da narrativa de fluxo de consciência, com vários narradores.
Cada um abre um capítulo, alguns mais longos e outros mais curtos.
Confesso que narrativas com fluxo de consciência me cansam. Fico
perdida entre os pensamentos dos personagens e acabo confusa, o que fatalmente
me obriga a retomar os trechos lidos. Com Faulkner não foi diferente, embora os
capítulos, não muito extensos, facilitassem a leitura, mesmo com a diversidade
de vozes narrativas.
Da estranheza e dificuldades iniciais surgiu uma empatia
grande que, por fim, se transformou em um fascínio, uma entrega ao livro, à
história. Rendi-me a Faulkner e terminei o livro completamente encantada.
São 59 capítulos nos quais se alternam as vozes de 15
personagens diferentes. A história gira em torno da morte da matriarca de uma
família pobre do sul dos Estados Unidos: Addie Bundren, casada com Anse Bundren,
com o qual tem cinco filhos: Cash, Darl, Jewel, Dewey Dell (a única mulher) e
Vardaman (este um menino ainda).
Moribunda, a mãe assiste da janela a confecção de seu caixão
por Cash, o filho mais velho que é carpinteiro e tem um problema na perna em
razão de um acidente. A cena é, no mínimo, surreal, como neste trecho narrado
por Darl:
É por isso que ele está
lá fora embaixo da janela, martelando e serrando aquele maldito caixão. Onde
ela pode vê-lo. Onde todo ar que ela aspira está impregnado das marteladas e
serradas onde ela pode vê-lo dizendo Veja. Veja que beleza estou fazendo para a
senhora.
Com a morte de Addie, seguida de seu funeral, começa o
martírio da família para enterrá-la, pois era seu desejo ser sepultada na
cidade de Jefferson, distante do lugarejo onde moram. Nessa empreitada vamos
conhecendo os personagens e, principalmente, o marido e os filhos de Addie,
cada qual com seus problemas, como se vivessem em um mundo à parte: da gravidez
de Dewey Dell (que vai em busca do aborto, pois a família não sabe de seu
estado), passando pelas loucuras de Darl (o personagem com mais voz) até
Vardaman, que associa a mãe a um peixe, as histórias vão se encaixando.
Mas a viagem não é fácil, dificultada ainda mais pelas
recentes chuvas que caíram na região e acabaram inundando as pontes principais
sobre o rio. Na travessia, o caixão é jogado para fora da carroça em que era
transportado, mas Jewel, um dos filhos, consegue resgatá-lo. Assim, a viagem
prossegue por mais de uma semana, uma peregrinação em que o leitor acaba se
enredando, como se fizesse parte daquela caravana absurda, que já começa a
trazer no bojo o cheiro da morte.
Uma das passagens mais interessantes é quando a morta, Addie
Bundren, tem sua vez na narrativa. Faulkner também dá voz à mulher, que conta
sua versão dos fatos, esclarecendo e enriquecendo partes da história. Aos
poucos tudo vai ficando mais claro e o leitor se vê tomado pelo livro.
O desfecho da história é surpreendente, mas não deixa de ser
engraçado. E ao chegar ao fim, temos a certeza de que valeu a pena a
persistência, esquecer as estranhezas iniciais, avançar um pouco mais na
leitura e se deleitar com a escrita de Faulkner.
Nunca li esse livro, mas pela sua resenha deve ser bem interessante!
ResponderExcluirQuem sabe um dia...
Gostei do blog, seguindo...
Bjs, Lu
http://resenhasdalu.blogspot.com.br/
Luiza, pra mim foi uma bela surpresa.
ExcluirSe um dia quiser ler, acho que não vai se arrepender. Beijos.