Utilizado diariamente
pela população não motorizada, o transporte coletivo pode render boas histórias
– e amizades – aos seus usuários. Eu mesma já protagonizei algumas, das quais
fiz questão de perpetuar neste blog, logo no seu início, como aquela em que,
leitora assídua nas viagens, chegava a ter – e ainda tenho – flashes de personagens
e de cenas lidas ao adentrar em alguns vagões do metrô paulistano.
Esta, no entanto, é
uma das visões mais amenas proporcionadas pelo transporte coletivo, que vivem
lotados, por vezes apresentam problemas e transtornam a vida das pessoas que
precisam utilizá-lo. No meu caso, não chega a ser tanto, pois tenho um horário
razoavelmente bom para entrar no trabalho e que me tira do horário de pico na
parte da manhã. No entanto, na volta para casa a história é outra e acabo
entrando na dança, afinal, não se passa incólume pelo metrô ao ser um usuário.
As histórias até
poderiam ser engraçadas se, muitas vezes, não fossem trágicas. Mas é possível
encarar com bom humor e tornar sua viagem se não agradável, ao menos mais fácil
de levar. E é exatamente essa a proposta de Andréia G. Garcia, usuária dos
trens da CPTM e do metrô SP e blogueira ( http://www.aviajantedotrem.com.br/
), que em seu livro A Viajante do Trem,
traz crônicas divertidas sobre a rotina nos transportes coletivos paulistanos.
“Usei de um ambiente
muitas vezes cruel e sacal para várias pessoas e estressante para a maioria,
para ter uma oportunidade de sociabilização e criatividade, relatando histórias
com humor e leveza, mesmo quando elas não o são”, escreve Andréia na contracapa
do seu livro, dando mostras assim da sua disposição em fazer de um tempo
ocupado nos trens em momentos de descontração, aprendizado e interação.
As crônicas reunidas
no livro são curtas e diretas e falam do dia a dia dos usuários no transporte
coletivo, suas agruras, suas dificuldades, seus relacionamentos, tudo com muito
bom humor. Estão lá personagens de carne e osso que escutam funk no último volume, os vendedores
ambulantes, as conversas de quem já se faz íntimo de pessoas que acabaram de
conhecer, os dorminhocos que ficam balançando o corpo e a cabeça ameaçando quem
está ao lado, os “tartarugas” que empatam a vida dos outros, as moças que fazem
verdadeiro malabarismo para se maquiarem, os “pescoções” em busca da leitura
alheia, as estações e seus nomes pitorescos, os leitores, os comilões e suas
marmitas, e uma galeria infinita de gente e de fatos que quem utiliza os trens
é capaz de reconhecer.
Ao final do livro, um
capítulo dedicado a jingles e
marchinhas, o “Cante com a Viajante”, traz paródias bem engraçadas de músicas
do nosso popular, como estas:
(I)
Ei, vc aí, me dá meu lugar aí
Me dá meu lugar aí.
Ei, vc aí, me dá meu lugar aí
Me dá meu lugar aí.
Não vou dar, não vou dar não.
Eu sou folgado e estou cansadão.
Vou fingir, babar e até dormir.
Esquece, esquece, esquece,
Daqui não vou saiiiiiir!!!
(II)
O trenzão vai surgindo
E eu já tremo à toa
O povo empurra e
Eu perco a bolsa
Seu João, não vem não,
Se esfrega de novo e
Leva um safanão!
A Viajante do Trem é mesmo pura diversão. Aventure-se também, tenha uma boa
leitura e uma boa viagem, literalmente.
*(Para quem quiser
conhecer a autora, ela estará participando de um bate-papo com os usuários na
Estação Luz (CPTM), às 12h30, do dia 28/10 (terça-feira). A conversa faz parte do
Projeto Livro Livre CPTM – 9ª edição,
de incentivo à leitura. Na oportunidade serão distribuídos 100 livros A Viajante do Trem, com direito a
autógrafo. O apoio é do Jornal Estação. O Projeto
Livro Livre ocorrerá de 27 a 31/10.)
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