Nas ruas e avenidas
das grandes cidades é comum encontrar “pedintes”, sobretudo crianças, abordando
motoristas ou pedestres em busca de trocados ou algo para comer. Muitas vezes
passamos por elas – quando não nos desviamos – repetindo mecanicamente não ter “nenhum
trocado” ou, se muito, despejando algumas moedas sem muito valor em suas mãos
para nos livrarmos logo, tanto dos centavos quanto dos pequenos.
Mas será que não nos
surpreenderíamos se esse pedido, ao invés de ser dinheiro, comida, passagem ou
coisas desse gênero, fosse um simples “Me paga um livro?”. Acho que seria algo inesperado.
E foi exatamente isso o que aconteceu com José Rezende Jr., jornalista e
escritor, quando ele se encontrava em um shopping de Brasília. O pedido, de tão
inusitado, inspirou Rezende a escrever uma história, transformada no livro Fábula Urbana, com ilustrações de
Rogério Coelho, e publicada pela editora Edição de Janeiro.
O livro, que
apresenta um formato inusitado, alongado e estreito, remetendo a ideia de
prédio, tem no seu traçado a geometria da cidade grande. E o texto, colocado em
balões, dá início ao diálogo entre um menino de “camisetão” e shorts e um homem
de terno todo alinhado, que se encontram dentro de um shopping da cidade:
“Ei tio! Me paga um livro?”
“Não tenho trocado.”
Depois dessa
resposta mecânica, o homem digere a cena e cai em si, embasbacado com o pedido
do menino, assim como o leitor se surpreende com o que virá depois. Os diálogos
nos balões se sucedem, alternando-se entre um e outro, mas o homem cede e pede
que o menino escolha um livro. A resposta deste é singela:
“Tio, como é que escolhe?”
O menino demonstra
assim toda sua fragilidade e inocência, e mais ainda quando o homem escolhe um
livro e lhe dá, sem saber que o pequeno não sabe ler.
A história prossegue
com o homem lendo o livro para o menino, suscitando nele lembranças e emoções em
um e fuga da realidade no outro. No entanto, finda a leitura, os dois se
separam e o homem é arrebatado por um sentimento de culpa, por medo, pela
solidão. Então, o caminho dos dois se cruza novamente...
É impossível não se
comover com a “pequena” história. O texto, aliado às belas ilustrações, tocam
fundo, faz a gente pensar neste estar no mundo e no poder da fantasia para
atenuar as mazelas da vida.
Conheci a história
em um quadro do Fantástico, programa
exibido aos domingos pela TV Globo, onde Fábula
Urbana foi encenada e me apaixonei de “cara”. Sua leitura se tornou urgente
para mim. Hoje a considero necessária e uma bela maneira de comemorar o Dia Nacional do Livro.
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