quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Na Flip, pela sétima vez

Mais de uma semana depois de finalizada, a Flip – Festa Literária Internacional de Paraty, de 2014, não me sai da cabeça, ainda que tenha participado dela seis vezes anteriormente. Além de todo o charme e fascínio que a festa e a cidade exercem, talvez seja, também, porque não escrevi sobre a edição no blog. Então vamos aos fatos.
 

 A Flip este ano esteve diversificada, com variedades de temas nas mesas literárias – política, humor, causa indígena, ditadura, astronomia e literatura, claro –, e duas grandes novidades: o show de abertura e a Tenda do Telão foram abertos ao público. Se a primeira, com Gal Costa, emocionou e encantou a todos com o belo repertório da cantora baiana, a segunda teve alguns contratempos, como a falta de cobertura que expôs os participantes ao sol e ao barulho nos arredores, além de problemas no som e falta de fones de tradução para todos, mas nada que não pudesse ser contornado para o deleite dos amantes da literatura.  
 
A mesa de abertura foi inusitada, bem ao estilo Millôr Fernandes, o homenageado deste ano na Flip. Agnaldo Farias, crítico de arte, apresentou uma série de desenhos, caricaturas, colagens e pinturas de Millôr, seguida por uma entrevista com Jaguar, comandada por Hubert e Reinaldo, do Casseta & Planeta. Foi uma bela oportunidade para conhecer mais e melhor sobre a obra desse desenhista, humorista, dramaturgo, escritor, tradutor e jornalista brasileiro.
 
Das mesas que assisti destaque para Poesia & Prosa, com Charles Peixoto, poeta que eu não conhecia, Gregório Duvivier, uma bela surpresa, e Eliane Brum, com sensibilidade à flor da pele; Livre como um Táxi, com Antonio Prata, muito divertido, e Moshin Hamid, escritor paquistanês que ainda quero ler muito; Encontro com Andrew Solomon, que contou histórias emocionantes; Memórias do Cárcere: 50 anos do Golpe, com Bernardo Kucinski, Marcelo Rubens Paiva e Persio Arruda, que tocaram em um assunto espinhoso, mas que, por isso mesmo, não pode cair no esquecimento; e A Verdadeira História do Paraíso, com o mexicano Juan Villoro, maravilhoso, e Etgar Keret, escritor israelense.
 

Ah, sem esquecer da mesa Os Possessos, com a escritora americana Elif Batuman, e o escritor russo, Vladimir Sorókin, o primeiro dessa nacionalidade em uma Flip. Elif, descendente de turcos, se especializou em literatura russa, e Sorókin é um dos principais intelectuais na resistência ao regime de Vladimir Putin. E ainda a divertidíssima Romance em dois Atos, com Daniel Alarcón, escritor peruano, e Fernanda Torres, que tietou o tempo inteiro seu companheiro de mesa e proporcionou boas risadas no público presente.
 
A programação paralela sempre convidativa vem se constituindo em atração a mais da Festa, que vale sempre a pena conferir, como as mesas da Casa Folha, do Sesc, da Casa do Roteirista e da Casa da Cultura, onde, aliás, assisti a uma peça, em inglês, Eu, Malvolio, com o ator britânico Tim Crouch, numa recriação da peça Noite de Reis, de Shakespeare. Divertidíssima, apesar do meu inglês precário. Na verdade, havia legendas em português, mas como o ator improvisava muito, perdi as piadas... , enfim, valeu ainda assim. Na plateia, assistindo, as presenças ilustres de Fernanda Torres, Débora Bloch e Fernanda Montenegro, elegante e distinta, como sempre.
 
O bom ainda da Festa foi reencontrar amigos queridos, que fiz em Flips passadas, conhecer novas pessoas, e se divertir na praça da Matriz, com a decoração das letras do alfabeto de Millôr e as traquinagens das crianças que participam da Flipinha. Tudo isso emoldurado pelas ruas de pedras e os casarios coloridos do centro histórico de Paraty, coroados pela beleza da natureza, com praias, rios e um céu azul limpíssimo. Um cenário perfeito, um paraíso.
E que venha a Flip 2015.