quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Retrospectiva literária 2015


Pela quarta vez, consecutiva, participo da Retrospectiva Literária, promovida pela Angélica Roz, do blog Pensamento Tangencial. A iniciativa trata-se de uma blogagem coletiva que reúne mais de 100 blogs todo o ano.

Se comparado aos três anos anteriores, 2015 foi um ano em que li pouco, não consegui aumentar o ritmo de leituras e nem manter a média. Nem por isso foi um ano fraco. Fiz leituras deliciosas, intensas e prazerosas. Li muitos infantis e infanto-juvenis e conheci outras escritoras mulheres.

Bom, vamos aos tópicos da retrospectiva:

A aventura que me tirou o fôlego:

Os meninos da biblioteca, de João Luiz Marques

A luta de Heitor, personagem do Blog do Le-Heitor (http://blogdoleheitor.sintaxe.com.br/), para que a biblioteca do seu bairro não seja demolida, trouxe boas emoções e me fez embarcar nessa aventura.

O suspense mais eletrizante:

O clube do suicídio, de Robert L. Stevenson

Leio muito pouco livros de suspense, mas esse do Stevenson me pegou em cheio. As histórias ali reunidas são muito bem construídas e prendem a sua atenção, com destaque para “O médico e o monstro”.


O romance que me fez suspirar:

O brilho do bronze, de Boris Fausto

O livro é um diário escrito por Boris Fausto depois da morte da esposa, com quem foi casado por 49 anos. Ele fala da dor do luto, do amor que os uniu e do seu cotidiano. Tocante, sem ser depressivo.

A fantasia que me encantou:

A hora dos ruminantes, de J. J. Veiga

Não sei como ainda não tinha lido esse livro, é um pequena obra-prima, um misto de realismo fantástico e alegoria, com metáforas e símbolos, cujo pano de fundo é a cidade fictícia de Manarairema. Por trás da trama, uma sutil crítica ao regime ditatorial. Maravilhoso.

O clássico que me marcou:

Dom Casmurro, de Machado de Assis

Foi uma releitura, que me encantou ainda mais. Capitu, sem dúvida, é uma das grandes personagens femininas da literatura brasileira.

O livro que me fez refletir:

A hora dos ruminantes, de J. J. Veiga

Com seu tom metafórico dentro de um contexto histórico-político ditatorial, não tem como não refletir com esse livro.

O livro que me fez rir:

Eu, Robô, de Isaac Asimov

Marco na ficção científica e na introdução das leis da Robótica, o livro é leve e sensível. Trata-se de uma coletânea de contos que narra a história dos robôs de forma bastante divertida. Não tem como não rir com as peripécias dos personagens Powel e Donovan.

O livro que me fez chorar:

Reze pelas mulheres roubadas, de Jennifer Clement

Choro de qualquer forma, em qualquer livro, até nos engraçados, mas este de Jennifer trouxe um choro sentido ao me deparar com uma história triste que acontece no México e as mulheres que são roubadas pelo narcotráfico na região de Guerrero para serem suas escravas. Embora ficcional, o livro traz um retrato bem delineado de uma realidade insana.

O livro que me decepcionou:

Onde estaes felicidade, de Carolina Maria de Jesus

Livro com textos inéditos de Carolina Maria de Jesus, e lançado por ocasião do seu centenário, “Onde estaes felicidade” foi publicado praticamente sem recursos, o que talvez explique a qualidade da edição, que traz alguns erros, acabando por comprometer a escrita de Carolina. O título do livro trata-se de um conto, que, por sinal, é maravilhoso, mas os demais escritos ficaram amontoados, talvez pelos problemas da edição, o que me decepcionou um pouco. Carolina merecia mais.

O livro que me surpreendeu:

A noite do oráculo, de Paul Auster

Primeiro livro que leio do autor e  já fiquei fascinada com sua escrita, com sua engenhosidade, com seu enredo. Achei simplesmente maravilhoso e um dos melhores livros que li no ano.

O livro que devorei:

Sérgio Y. vai à América, de Alexandre Vidal Porto

Leio devagar, mas num bom ritmo e, quando percebo que estou acelerando paro, para continuar mais tarde. Não gosto de terminar um livro rápido demais. Mas com este não consegui, aliás não conseguia parar, li muito, muito rápido, na verdade devorei. A história e a escrita de Vidal Porto prendem sua atenção de forma que você quer continuar, continuar e continuar.

A melhor HQ:

Um contrato com Deus, de Will Eisner

Eisner is the best. E este romance gráfico é um primor tanto nas histórias quanto nos desenhos. Tocante, forte, genial.

O livro que abandonei:

A montanha mágica, de Thomas Mann

Há muito tempo queria ler este livro e, depois de “Morte em Veneza”, achei que estava pronta para essa aventura, mas... patinei na leitura. A história é interessante, mas o livro é longo demais, e a leitura não flui tão bem, além disso queria e precisava ler outros livros. Por ora abandonei, mas pretendo voltar mais para frente.

A capa mais bonita:

Mulheres, de Carol Rossetti

O livro é um retrato do respeito, dignidade, amor próprio de mulheres diversas, com representativas ilustrações. A capa é um show à parte.

O primeiro livro que li no ano:

A teoria geral do esquecimento, de José Eduardo Agualusa

Este livro ganhei de amigo secreto do clube de leitura do qual participo e deixei-o para abrir o meu ano de leituras m 2015. Foi bom começar por ele, porque tornou meu início de ano mais mágico, poético e reflexivo. Linda história. Lindo autor.

O último livro que terminei:

Eu, Fernando Pessoa, de Susana Ventura e Guazzelli

Retrato de Fernando Pessoa em quadrinhos, com texto de Susana Ventura, que traz à  luz os últimos de Fernando Pessoa, entremeados de poemas e explicações sobre os heterônimos. Show.

O livro que li por indicação:

Sangue no olho, de Lina Meruane

Li uma resenha em um blog literário na internet e fiquei bastante curiosa. Comprei o livro, li e amei. Uma história que se confunde com a realidade, e na qual o leitor se vê inserido,  passando a sentir as mesmas sensações da protagonista. Muito bom.

A frase que não saiu da minha cabeça:

A felicidade vem da coragem de fazer algo novo – Sérgio Y. vai à América

O (a) personagem do ano:

Flush, de Flush – memórias de um cão, de Virgínia Woolf

Personagens animais sempre me fascinam, com Flush não poderia ser diferente. Divertido, leve, apaixonante, Virgínia não poderia ter feito melhor o retrato de um cão real, dando-lhe pensamentos e imaginação. Lindo.

O (a) autor (a) revelação:

João Luiz Marques , com Os meninos da biblioteca
                                            
Conheço João e seu personagem Heitor do blog, mas vê-lo em uma história de livro me deixou mais encantada ainda.  Sabia da capacidade literária de João, mas realmente foi uma revelação para mim esse livro e espero que ele escreva mais aventuras de Heitor para brindar seus leitores também no papel.

O melhor livro nacional:

A hora dos ruminantes, de J. J. Veiga

Sem dúvida, o melhor nacional que li este ano.

O melhor livro que li em 2013:

A hora dos ruminantes, de J. J. Veiga

Precisa falar mais alguma coisa? Só podia ser esse.

Li em 2014... 31 livros

A minha meta literária para 2015 é:                                                                                 

Prosseguir com minhas leituras, mas não mais com tanta ansiedade. Ler livros da minha estante, escritoras mulheres, latino-americanos, autores de língua portuguesa, biografias... e ler tijolões, como Guerra e Paz e Ulysses, além de livros em inglês. São desafios que vou me impor. Será que consigo? Vamos ver...

Os dez (e aqui incluo todos os gêneros, sem ordem de preferência)

Teoria geral do esquecimento, José Eduardo Agualusa
A hora dos ruminantes, J. J. Veiga
Reze pelas mulheres roubadas, Jennifer Clement
Flush – memórias de um cão, Virgínia Woolf
Um contrato com Deus, Will Eisner
Dom Casmurro, Machado de Assis
Os meninos da biblioteca, João Luiz Marques
Sangue no olho, Lina Meruane
Noite do oráculo, Paul Auster
A Redoma de vidro, Sylvia Plath


Bônus para

A obscena senhora D, de Hilda Hilst

E que venham mais leituras em 2016. Feliz Ano Novo a todos!

terça-feira, 25 de agosto de 2015

6 anos

Já se passaram seis anos do blog...

Um pouco ausente agora, mas voltando em breve.


quarta-feira, 10 de junho de 2015

De onde vem o Português?

Linda e rica, a língua portuguesa vai muito bem, obrigada. É a sexta mais falada no mundo, sendo usada por mais de 250 milhões de habitantes. O português é a língua oficial em oito países: Portugal, Brasil, Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe e Timor Leste, além de Goa (estado da Índia) e Macau (região administrativa especial na China), em cada um com características e peculiaridades diferentes.
 
Mas você já parou para pensar de onde vem o Português? A resposta parece óbvia: de Portugal, com certeza. Mas, para aprofundar melhor nessa discussão, o livro De onde vem o Português?, com texto de Susana Ventura e ilustrações de Silvia Amstalden, se coloca nessa missão, para deleite dos “marinheiros de primeira viagem” ou ainda para “um capitão das Letras”.
 
No livro, publicação da Editora Peirópolis, Susana nos leva a “navegar pelas origens da Língua Portuguesa”, por meio dos “castelos medievais na Península Ibérica até às terras além-mar”. Em linguagem fácil e direta, ficamos sabendo das mudanças pelas quais o idioma passou, seus primeiros contadores de histórias que ajudaram a divulgar suas façanhas, os navegadores que levaram o idioma a outras terras e sua difusão pelo mundo.
 
 
As ilustrações de Silvia dão um colorido todo especial à narrativa de Susana, fazendo-nos navegar tranquilamente pelas páginas, numa aventura bastante prazerosa. E o que é melhor, um belo incentivo à leitura.
 
 
 
 
 
 

terça-feira, 26 de maio de 2015

A ajuda que vem dos voluntários

Em uma sociedade cada vez mais consumista e cercada de todas as facilidades que a vida moderna proporciona, é preciso destacar as iniciativas voltadas para a gentileza e o trabalho comunitário. É o que fazem, por exemplo, os voluntários, pessoas abnegadas que, por iniciativa própria, prestam serviços à comunidade ou organizações institucionais e não governamentais, dispondo do seu tempo para levar auxílio e conforto aos necessitados.

E é exatamente este o foco do livro Faces da ajuda humanitária: a saga de voluntários da Cruz Vermelha, da jornalista Sibele Oliveira, que será lançado nesta quinta-feira, dia 28 de maio, a partir das 18h30, na Livraria da Vila do Shopping Pátio Higienópolis, em São Paulo. Publicado pela Chiado Editora, o livro traz perfis de dez voluntários da entidade que dedicam parte de suas vidas a assistir vítimas de conflitos armados, catástrofes naturais e outros desastres.

Este é o primeiro livro publicado pela jornalista, que tive o prazer de ler, em primeira mão, quando ela o estava escrevendo. Conheci Sibele em 2009, nas aulas de Pós-graduação em Jornalismo Literário, da Associação Brasileira de Jornalismo Literário – ABJL, e de lá para cá, acompanhei seu processo de escrita e sua vontade de levar ao conhecimento da sociedade o trabalho do voluntariado.

Dentre os perfis traçados no livro, está o da psicóloga Melissa Couto, que auxiliou parentes e amigos dos 242 jovens mortos no incêndio da boate Kiss, que aconteceu em 2013, em Santa Maria (RS), bem como ajudou os sobreviventes a conviverem com o trauma.

Outra história é de David Sanza, cuja vivência em diversos ofícios contribuiu para fazer procedimentos médicos em lugares onde não havia profissionais. Em um desses locais, ele chegou a improvisar um hospital para prestar auxílio aos feridos e, em outro, comandou uma unidade do Corpo de Bombeiros no meio de um conflito entre as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), o governo colombiano e as comunidades indígenas da região.

O livro traz ainda a trajetória de Jean-Henry Dunant, o comerciante que mobilizou políticos, acadêmicos, militares, reis, rainhas e seus súditos para criar a Cruz Vermelha, ao lado de outras quatro pessoas. Pela criação, Dunant foi um dos agraciados com o Prêmio Nobel da Paz, em 1901.

Além de Dunant, Sibele destacou o trabalho de Maria Rennotte, fundadora da filial paulistana da entidade, uma mulher que se notabilizou por não se conformar com as desigualdades e injustiças do final do século 19.

Faces da ajuda humanitária: a saga de voluntários da Cruz Vermelha é um livro inspirador, cuja leitura flui e transforma.  Acompanhe a seguir, uma breve entrevista com Sibele Oliveira sobre as motivações do livro e seus projetos futuros na literatura.

Blog - Seu livro de estreia é uma reportagem sobre o fundador da Cruz Vermelha e as experiências de alguns voluntários da entidade. Por que optou por esse gênero de narrativa para sua primeira publicação?
Sibele Oliveira - Como leitora, sempre me interessei por narrativas de transformação. O tipo de história que nos faz ver a vida com outros olhos. E o que esses voluntários fazem é um belo exemplo disso. Por isso quis escrever sobre eles. A minha intenção era conhecer o dia a dia deles, descobrir o que os move a estar em lugares que muitos não gostam nem de olhar. É outro mundo. Um mundo que valeu muito a pena conhecer.

O que te tocou na história da Cruz Vermelha e dos voluntários para você escrever sobre eles?
A história da Cruz Vermelha é fascinante. Desde a sua criação, é uma história movida por sonhos. E isso me inspira. Quanto aos voluntários, eu os admiro porque enquanto o mundo está cheio de pessoas voltadas apenas para os próprios interesses, eles têm prazer em se dedicar a quem nem conhecem.

Como foi seu processo de escrita até a publicação do livro?
Fui apresentada a alguns voluntários por uma funcionária da Cruz Vermelha de São Paulo e escrevi os perfis deles. Quando pensei que tinha concluído o livro, conheci outros voluntários e senti que não podia deixá-los de fora. Por fim, resolvi contar também a história do fundador da Cruz Vermelha, um homem muito humano que com o seu sonho construiu um império humanitário.

Quais são seus projetos na escrita? Livro-reportagem ou ficção? Ou ambos?
Penso em escrever um livro de ficção. É uma ideia antiga que ainda não pude colocar no papel. Mas confesso que tenho uma predileção por histórias reais. Em minha opinião, são mais impactantes. Tenho o projeto de escrever outros dois livros nos moldes deste primeiro.

Mais informações acesse a página do livro no Facebook: www.facebook.com/ajudahumanitaria

quarta-feira, 13 de maio de 2015

Flip - cada vez mais abrangente

Prestes a embarcar na ”minha” oitava Flip – Festa Literária Internacional de Paraty –, que acontecerá de 1º a 5 de julho, percebo que a ansiedade diminuiu um pouco, mas não a vontade de participar, mais uma vez, daqueles dias repletos de literatura, tietagem e amizades em meio a um cenário mágico e aconchegante. Para mim, continua sendo o melhor evento literário do Brasil.

Em 2015, o grande homenageado será Mario de Andrade, cujo septuagésimo aniversário de morte é lembrado neste ano. Motivos a mais para estar na Flip, já que o escritor participou de um dos momentos que mais me fascinam na história literária paulistana: a Semana de 22. Se bem que a festa não se restringirá a apenas essa faceta do escritor, pois Mario tem uma abrangência muito maior na literatura e na cultura do país, devendo ser reinterpretado por diversos pontos de vista.

A mesa de abertura, por exemplo, “As margens de Mario”, traz três estudiosos para destacar ângulos diferentes do escritor e poeta. A argentina Beatriz Sarlo falará sobre a faceta internacional de Mario; Eduardo Jardim ressaltará a relação com o Rio de Janeiro; e Eliane Robert Moraes abordará o lado erótico nas obras, entre elas Macunaíma.

A programação principal contará com a participação de 39 autores, sendo 16 internacionais. As mesas contemplarão diversos temas, como poesia, sexo e erotismo na literatura, ciência, relações familiares e afetivas, romance policial, política internacional, literatura de vigem, música, arquitetura, políticas culturais. Uma diversificação que começou o ano passado, quando Paulo Werneck assumiu a curadoria da festa.

Dos convidados da Flip 2015, estou na expectativa de Roberto Saviano e de Colm Tóibin. O primeiro, jornalista italiano, é autor de Gomorra, livro-reportagem sobre o funcionamento da máfia italiana e que o obrigou a viver sobre proteção policial depois da publicação. É dele também Zero, Zero, Zero, obra que retrata o mercado internacional de cocaína.

Já Colm Tóibin, que esteve na Flip 2004, despertou em mim o interesse por ser um escritor irlandês, país natal de James Joyce e que tem atraído minha atenção nos dois últimos anos. É autor de A luz do farol, O mestre, Mães e filhos e O testamento de Maria.

Quero ainda ver o argentino Diego Vecchio, que está lançando no Brasil Micróbios, obra humorada que aborda personagens adoentados; o brasileiro Boris Fausto, com o seu autobiográfico O brilho do bronze, no qual fala da morte da esposa; o queniano Ngugi wa Thiong’o, cotado para o Nobel de Literatura e autor de Um grão de trigo; a brasileira Ana Luisa Escorel, primeira mulher a ser contemplada com o Prêmio São Paulo de Literatura com Anel de vidro; o francês Riad Sattouf, autor da graphic novel autobiográfica O árabe do futuro; e o cubano Leonardo Padura, escritor e jornalista, autor do romance histórico O homem que amava os cachorros, sobre a vida de Leon Trótsky.

Mas não é só na programação principal que giram meus interesses. A Flip é muito abrangente e contará, neste ano, com a participação de bons autores e ilustradores na Flipinha. Dentre estes a ilustradora Simone Matias, que conheci na Flip 2008 e com a qual tenho a oportunidade de compartilhar da sua amizade. Entre seus trabalhos estão O estribo de prata, de Graciliano Ramos.

Neste ano a Flip terá a Oficina de Design de Livros, ao invés da tradicional Oficina Literária. Para ministrar os cursos foram convidadas a holandesa Irma Boom e a brasileira Elaine Ramos que, juntas, farão abordagens distintas do livro como objeto artístico, tanto em seus aspectos industriais quanto artesanais.

E isso sem falar na programação paralela que sempre traz bons temas com excelentes autores e personalidades do mundo literário e artístico.

Como se vê, a Flip é bastante diversificada e universal. Para mim é fascinante e sedutora, já que me envolve de tal maneira que quero sempre voltar para lá, ano após ano. Uma experiência rica e que vale muito a pena vivenciar.

Saiba mais sobre a Flip 2015 aqui 

domingo, 10 de maio de 2015

Amor de mãe em Harry Potter

Foi numa noite fria e cinzenta que me despedi da saga Harry Potter, em um clima bem característico e similar ao seu universo mágico e por vezes sombrio. Sou fascinada por Harry Potter e seu universo mágico, devo confessar, mas principalmente pelos livros, pela forma como foi construída, pela trama bem elaborada e amarrada, pelos personagens bem construídos, repletos de heróis e vilões, pela história de amizade e companheirismo, enfim por tudo o que uma boa narrativa representa.

Mas assisto também aos filmes que, se muitas vezes não são um primor, pelo menos divertem e ajudam a dar vazão a imaginação que criamos ao ler os livros. Neste caso, é interessante ver que algumas imagens são iguais, idênticas até, e poucas diferentes.

Harry Potter e as Relíquias da Morte é o sétimo e último livro da saga e, adaptado para o cinema, foi dividido em duas partes. A última aventura é muito engenhosa, muito boa, repleta de detalhes. Harry Potter amadureceu e com eles seus milhares de fãs. Da história infantil e engraçada do primeiro livro (A Pedra Filosofal), que introduziu toda a história do pequeno bruxo, o último carrega um tom mais sombrio e sóbrio, já iniciado com o quarto livro da série, O Cálice de Fogo.

Muitos personagens povoam as páginas de As Relíquias da Morte e grandes surpresas estão reservadas para Harry e sua turminha. Juntos, eles buscam – para destruir – as horcruxes com as quais Voldemort dividiu sua alma, para assim matá-lo. Uma empreitada dura, repleta de percalços e reviravoltas, mas também uma jornada de revelações, persistência, coragem e amizade.

Cabe ainda um comentário sobre o último episódio, algo para refletir, e que percebi somente quando assisti ao filme. Talvez já tenha sido citado, mas não tomei conhecimento, mas é interessante notar que Valdemort foi derrotado duas vezes pelo amor de mãe, assim como Harry foi salvo por ele. Na primeira vez que o bruxo tentou matar o garoto, a mãe deste se colocou na frente e lançou um feitiço protetor; na segunda, quando Voldemort confronta Harry no final da saga e o “mata”, Narcisa, a mãe de Draco Malfoy, o rival de Harry, vai verificar se ele está morto mesmo e, vendo-o ainda com vida, declara que ele está morto, por saber de Harry que Draco está vivo. Claro, a preocupação de Narcisa era com o filho, mas não deixa de ressaltar, neste caso, o amor salvador de mãe.

Assim, com Harry Potter, fica aqui a minha homenagem às mães, seres especiais, corajosos e abnegados;

Feliz Dia das Mães!


(Adaptado da publicação no Cubo 3)

sexta-feira, 27 de março de 2015

A visita cruel do tempo. Lembranças

Há livros que permanecem com a gente por um bom tempo, se não para toda a vida. Desde que li A visita cruel do tempo, de Jennifer Egan, trechos da história sempre aparecem como lampejos em minha mente. Eles chegam assim, sem mais nem menos, em pequenos flashes, sem que eu me lembre de imediato de que lembranças surgiram. Às vezes penso que foi de um filme que assisti, de tão nítidas essas imagens chegam, aí vou puxando pela memória e acabo no livro de Jennifer. Sim, as cenas são do livro, e acho que elas vão me acompanhar para sempre.

Neste mês de março, em que me propus a ler somente mulheres escritoras, a lembrança de Jennifer e seu livro foram constantes, e percebi que não cheguei apostar no blog minhas impressões sobre a obra. Na verdade, fiz isso em outro canal, no Cubo 3, onde escrevi “resenhas” por um tempo. Assim, transcrevo abaixo o texto que foi publicado naquele site, com pequenos ajustes, para registrar aqui também o que a leitura significou para mim.

“Tempo. Esse implacável

Inspirada na genial obra de Marcel Proust, Em busca do tempo perdido, a escritora americana Jennifer Egan escreveu um dos mais ecléticos livros que li: A visita cruel do tempo, título que arrebatou críticas e distinções, como o Tournament of Books, competição mata-mata, criada em 2005 pela revista eletrônica americana The Morning News em parceria com a livraria independente Powell´s, de Portland, Oregon, e que originou a Copa de Literatura Brasileira.

Logo nas primeiras páginas do livro, publicado no Brasil pela Intrínseca, no início do ano, com tradução de Fernanda Abreu, a inspiração na monumental obra de Proust aparece em todo o seu esplendor, na seguinte citação:

Alegam os poetas que, ao adentrar alguma casa ou algum jardim onde moramos quando jovens, reencontramos por um instante aquilo que já fomos. São peregrinações muito arriscadas, que produzem em igual medida sucessos e desilusões. Esses lugares fixos, contemporâneos de outros anos, é dentro de nós mesmos que mais convém encontrá-los.”

E o que se segue, no livro de Jennifer, é uma sucessão de contos contemporâneos, que cobre o período de 1979 a 2020, tendo o universo da música como ponto central e a implacável passagem do tempo e seus efeitos, quase sempre nefastos, em nós. Mas o que chama mais a atenção na obra é o estilo narrativo da autora e sua habilidade técnica em escrever ora na primeira, na terceira e ainda na segunda pessoa, o que é mais difícil, além de uma experiência ousada: uma apresentação de PowerPoint que, a princípio, parece sem nexo, mas que se torna pouco a pouco um recurso ágil, divertido e próprio para narrar parte da história do ponto de vista de uma menina de 12 anos.

Utilizando das várias técnicas narrativas, Jennifer constrói os capítulos, num total de 13, sendo um deles em forma de artigo jornalístico com notas de rodapé. Confesso que achei um pouco enfadonho, pois nunca fui muito adepta dessas notas que, embora sirvam para explicar e ampliar alguma informação, desviam a atenção e dificultam a retomada do texto.

Não é fácil tentar resumir a obra, constituída de histórias que se intercalam, nem sempre em ordem cronológica dos fatos, para mostrar o efeito do tempo, por vezes devastador, na vida das pessoas. Assim, o livro começa num determinado período da vida de Sascha, uma mulher de 36 anos, às voltas com a sua cleptomania e chateada por ter sido demitida do emprego, por seu chefe Bennie, depois de anos de trabalho. Num encontro com Alex, um homem mais jovem, ela rouba uma carteira, e tenta se livrar de seus problemas no divã do analista. Mais para frente sua trajetória será retomada, seja antes ou depois desse período.

No capítulo seguinte a história se abre com Bennie, o então patrão de Sascha, mas em um fase anterior ao desemprego da cleptomaníaca. À frente o tempo retrocede ainda mais para encontrarmos Bennie jovem, na época do colégio, com seus inseparáveis amigos Scotty, Rhea, Alice e Jocelyn, com os quais forma uma banda musical. Esses personagens serão também retomados mais para frente e assim sucessivamente.

Bennie, inspirado no seu mentor Lou, um produtor musical viciado em cocaína, se lança nesse universo, sendo responsável por lançar um grupo musical de sucesso, os Conduits, do qual o baterista Bosco, eletrizava a plateia. Mais para frente encontraremos um Bosco decaído, velho, gordo, tentando se reerguer. É dele uma das frases mais contundentes do livro, que trata exatamente dos estragos que o tempo faz:

É essa a realidade, não é? Vinte anos depois, a sua beleza já foi para o lixo, especialmente quando arrancaram fora metade das suas entranhas. O tempo é cruel, não é? Não é assim que se diz?

Algumas histórias são mais interessantes do que as outras, como a da assessora de imprensa, La Doll, que cai em desgraça. Primeiro a vislumbramos, brevemente em todo o seu esplendor, para depois encontrá-la simplesmente como Dolly, num capítulo todo seu, no qual conhecemos sua filha Lulu, de nove anos, e sua tentativa de retornar ao mercado numa arriscada empreitada para melhorar a imagem de um general implicado em genocídio.

Mas é, de fato, o capítulo feito com o recurso do PowerPoint que mais encanta. Nele, a menina Alison Blake, filha de Sascha, fala das pausas da música, uma fixação de seu irmão, e revela partes da história dos pais já retratados em outras épocas, em capítulos anteriores. Em dado momento, ela também parece ser atingida pela questão do tempo, quando revela seus medos:

Do que eu sinto medo
De que as placas de energia solar sejam uma máquina do tempo.
De que eu seja um adulta voltando a este mesmo lugar depois de muitos anos.
De que os meus pais estejam mortos e a nossa casa não seja mais nossa.
De que ela seja uma ruína caindo aos pedaços sem ninguém dentro.
Morarmos todos juntos nessa casa era uma delícia.
Mesmo quando a gente brigava. Parecia que nunca ia terminar. Vou sentir saudades para sempre.

A visita cruel do tempo, de Jennifer Egan, que participou da Flip – Festa Literária Internacional de Paraty em 2012, é um livro gostoso de se ler, no qual o leitor se identifica facilmente, sobretudo com relação à passagem do tempo, esse implacável tempo que chega irremediavelmente para todos nós."

(Publicado originalmente em Cubo 3) 

quarta-feira, 4 de março de 2015

Personagens femininas marcantes

Se é fato que a figura masculina do herói pode ser encontrada em boa parte da literatura mundial, com belos personagens, não é menos verdade que a feminina também gerou grandes e fascinantes heroínas. São muitas delas que dão o tom e o charme, constituindo-se no cerne da história de forma a torná-la ainda mais interessante.

Não é à toa que Tolstói afirmou ser a mulher “uma substância tal, que, por mais que a estudes, sempre encontrarás nela alguma coisa totalmente nova.” Afinal, elas são surpreendentes

Nesta semana que antecede ao Dia Internacional da Mulher, pensei qual personagem feminina da literatura é minha preferida. Tentei escolher uma, pensei em cinco, e não poderia ser diferente, porque para mim elas são inesquecíveis.


Clara, de A Casa dos Espíritos (Isabel Allende)

Claríssima, claravidente, Clara tinha dons que se apresentaram ainda em criança. Dona de uma sensibilidade grande, era muito doce, mas ao mesmo tempo exalava uma força que cativava a todos ao seu redor, inclusive a mim, leitora. Fascinante.


Blimunda Sete-Luas, de Memorial do Convento (José Saramago)

Nascida Blimunda de Jesus, ela foi batizada pelo padre Bartolomeu Lourenço de Blimunda Sete-Luas. É uma mulher do povo, forte e leal, que vive um amor intenso – e lindo - com Baltasar, chamado de Sete-Sóis. Tinha o dom de, em jejum, ver o interior das pessoas e das coisas, possibilitando que recolhesse “vontades”.



A mulher do médico, de Ensaio sobre a Cegueira (José Saramago)

Protagonista do romance, ela não tem seu nome revelado, assim como os demais personagens, sendo identificada como a mulher do médico oftalmologista, durante a epidemia de uma cegueira branca que acometeu a cidade onde vive. Dos moradores é a única que enxerga, que vê realmente, em todos os sentidos, a realidade e o que acontece à sua frente, tornando-se assim a condutora e a líder em uma terra de cegos.


Úrsula Iguaran, de Cem Anos de Solidão (Gabriel García Marquez)

A matriarca da família Buendia-Iguaran, Úrsula é uma mulher de muita fibra e coragem, que fincava os pés no chão e garantia a sobrevivência de todos. Viveu perto dos 122 anos, completamente cega, mas sem que a família soubesse, pois conseguia deslocar-se na casa com muita facilidade.


Capitu, de Dom Casmurro (Machado de Assis)

Forte e envolvente, Capitu é uma das personagens literárias mais discutidas e famosas, pela dubiedade de seus atos e olhar. Seus olhos, aliás, profundos e diferentes, de acordo com a conveniência, foram descritos como “olhos de cigana oblíqua e dissimulada” ou “olhos de ressaca”.  Uma personagem bem construída.

Fiquei pensando o porquê de essas personagem terem me marcado tanto. Não sei, talvez a força, o fato de serem diferentes..., contudo, percebi um fato em comum entre elas, algo que tem a ver com a visão, com os olhos, com o enxergar. Acho que elas têm uma maneira diversa de perceber o mundo, que foge do tradicional, conferindo um quê de liberdade. Talvez seja isso.