segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Os livros que comprei

Apesar da nostalgia pelo Circulo do Livro, que comentei no último post, não posso deixar de comentar que, aproveitando as promoções dos sites, adquiri neste mês alguns livros que há tempos vinha namorando. E devo confessar que o prazer foi tão bom quanto aquele que sentia quando comprava do clube. Afinal, a expectativa é a mesma, é preciso esperar o livro chegar, mas quando o correio bate à sua porta, entregando aquele pacotinho tão esperado, nossa, a ansiedade mal deixa as mãos ficarem firmes para abrir o invólucro. É uma afobação só, mas, depois é só sentar e devorar, livro por livro. Com isso, a minha listinha de livros a ler vai ficando cada vez maior. Tudo bem, eu gosto.

Primeiro escolhi O Silmarillion, de J.R.R. Tolkien, completando assim, a minha coleção do autor britânico, que começou com O Hobbit, lido há sete anos com encantamento pela saga de Bilbo Bolseiro. Este, instigado pelo mago Gandalf e mais 13 anões (que são um show à parte na narrativa) vai recuperar o tesouro roubado dos anões por um dragão. No caminho, Bilbo encontra o anel, que será o centro da trilogia O Senhor dos Anéis. Não cheguei a ler os livros da saga, que já estão acomodados no meu guarda-roupa, à espera da minha leitura, mas assisti ao filme, então conheço a história.

O Silmarillion fala de acontecimentos de uma época muito anterior ao final da Terceira Era, quando ocorreu a saga de O Senhor dos Aneis. São lendas que Tolkien escreveu ao longo de toda a sua vida e traz muitas reflexões. Parece ser bem complexo, mas quem já leu disse ser fabuloso e incomparável.

Das aulas de JL, sobre Ensaio Pessoal, dentre as obras indicadas está Uma Mente Inquieta, de Kay Redfiel Jamison. Como no ano que vem pretendo fazer um ensaio pessoal para o trabalho de conclusão do curso, estou me municiando de livros que me auxiliem na tarefa.

Uma Mente Inquieta é o testemunho pessoal de uma psiquiatra que revela sua própria luta em vencer o transtorno bipolar que a acometeu desde sua adolescência. Li algumas partes na aula, e percebi que vou ter de mergulhar muito fundo nessa leitura, mas vou gostar.

A Vida Secreta dos Grandes Autores, de Robert Schnakenberg, e ilustrado por Alan Sieber, revela os defeitos, as fraquezas e as fragilidades humanas dos grandes nomes da literatura mundial. Shakespeare, Virginia Woolf, Charles Dickens são alguns dos autores retratados. Se vai acrescentar alguma coisa eu não sei, mas pelo menos é divertido, e mostra que essas pessoas, consideradas gênios, são tão humanas quanto a gente. É uma maneira de humanizar os ídolos.

Para o meu deleite, embora já tenha lido, O Pequeno Príncipe teve uma adaptação feita em quadrinhos, pelo artista francês Joann Sfar. As ilustrações são lindas e só valorizam ainda mais a bela história de Antoine de Saint-Exupéry. Uma jóia.

Em Retratos da Leitura no Brasil, Galeno Amorim faz um amplo diagnóstico do livro e da leitura em nosso país. Os textos reunidos falam de temas como o valor simbólico da leitura, o acesso ao livro, a escola e a formação de leitores, os jovens e a leitura, a leitura no Brasil e no mundo, políticas públicas do livro e da leitura, bibliotecas públicas, entre outros. Um verdadeiro estudo. Um belo estudo.

Por fim, comprei o Dicionário Amoroso da Língua Portuguesa, que vi com minha amiga Gil na Flip deste ano. Faltamos só babar pelo livro que, organizado por Marcelo Moutinho e Jorge Reis Sá, traz 35 palavras escolhidas por 35 autores de língua portuguesa em quatro continentes. Com uma diagramação bem criativa e linda, as palavras ganham uma dimensão que mostram o uso diferente de um mesmo idioma. Bacana!

Agora é só encaixar esses livros na minha listinha e desfrutar, assim, do prazer das histórias que só a leitura pode nos proporcionar.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

O Círculo

Sempre que passo em frente de uma livraria preciso parar para olhar ao menos a vitrine, e apreciar as novidades expostas, depois sigo o meu rumo normal. Mas, na maioria das vezes, não resisto e acabo entrando para dar uma rápida circulada pelas prateleiras e bancadas da loja. Aí é um delírio completo, esqueço da hora, para onde estava indo e permaneço no lugar mais tempo do que pretendia. Não tem jeito. E tudo por causa da variedade de títulos e de capas. Elas são chamativas demais e é praticamente impossível não se deixar levar pelas cores, pelas letras, pelas imagens, pelos formatos e se aventurar para saber um pouco mais desse ou daquele livro.

Apesar do prazer, diria até "sexual", que uma livraria me proporciona, confesso que ultimamente tenho comprado muito pela internet. É que os preços dos livros estão bem mais acessíveis pelos sites, de forma que aquelas sensações "libidinosas", de estar em contato, ao vivo e em cores, com os livros, acaba ficando um pouco de lado, e me pego acessando lojas virtuais, teclando os títulos, comparando os preços e, tentando, de alguma forma, sentir algum prazer. Deve ser assim com o sexo on-line, se é que isso é possível, mas enfim, hoje a tecnologia dá um jeito pra tudo, não é mesmo? Eu, por mim, prefiro a prática antiga e sempre que estou "rica" (no pagamento) – como diz minha amiga Gil –, vou a uma livraria comprar diretamente. O problema é que ultimamente ando "pobre" e, por uma questão de economia, tenho comprado virtualmente.

Mas, pensando bem, essa prática de comprar a distância não é algo novo assim, já existe há séculos, desde o advento dos correios ou de um sistema semelhante de entregas, acredito eu, apenas com a diferença de que hoje isso é feito de forma mais rápida.

Lembro que no final dos anos de 1970, por exemplo, e em boa parte dos anos de 1980, época em que estava na faculdade, havia uma forma bem gostosa de adquirir livros, e que reuniu uma quantidade grande de pessoas. Era pelo Círculo do Livro.

O Círculo do Livro foi uma editora que comercializava livros por um sistema de clube. Para ingressar nele, a pessoa deveria ser indicada por algum sócio, como ainda acontece em muitos clubes. Já no grupo, a pessoa recebia uma revista trimestralmente (imaginem, só de três em três meses, mas a expectativa pela chegada era ótima!), que trazia uma variedade de títulos com breves descrições e preços para serem escolhidos. A única obrigação do sócio era adquirir um livro naquele período, que depois era enviado pelo correio.

A revista era bem ampla, com títulos que iam de clássicos a best sellers, além daqueles voltados a negócios, serviços, infantis, enfim de todos os gêneros. Os textos eram primorosos e estimulavam a compra. Além do amplo catálogo, os livros tinham um bom encadernamento, com capa dura e preços competitivos.

Pelo sistema comprei vários livros, que esperei ansiosamente chegarem pelo correio. Demoravam muito, sim, mas era gostoso chegar em casa e ver o aviso do correio para a retirada do livro. Foi pelo Círculo que adquiri, por exemplo, Fogo Morto, de José Lins do Rego, o livro que marcou minha adolescência, também Os Irmãos Karamazóv, de Dostoiévski, e ainda Feliz Ano Velho, de Marcelo Rubens Paiva.

Senti muito quando o clube acabou. De certa forma, a internet veio resgatar esse sistema de compras a distância e com muito mais agilidade, é claro, mas admito que não gosto de ler no computador, não tenho paciência, daí a nostalgia que senti hoje das revistas do Círculo do Livro. Elas, infelizmente, viraram peça de museu; quanto os livros, para quem chegou a adquiri-los, estes servem de testemunho daquela época áurea do clube. Os meus estão em casa, dentro do meu guarda-roupa, esperando pacientememte que eu os acomodem na futura estante que um dia terei. Só para lembrá-los, aqui estão:

200 Crônicas Escolhidas – Rubem Braga
A Coluna Prestes – Nelson Werneck Sodré
A Menina do Fim da Rua – Laird Koenig
Feliz Ano Velho – Marcelo Rubens Paiva
Fernão Capelo Gaivota – Richard Bach
Fogo Morto - José Lins do Rego
Mutações – Liv Ullmann
O Casamento do Sol com a Lua – Raíssa Cavalcanti
O Caso dos Dez Negrinhos – Agatha Christie
O Estrangeiro – Albert Camus
O Ramo de Hortênsias – João Carlos Pecci
O Sol é Para Todos – Harper Lee
O Velho e o Mar – Ernest Hemingway
Os Crimes ABC – Agatha Crhistie
Os Elefantes não Esquecem – Agatha Christie
Os Irmãos Karamazov - Dostoiévski
Os Sete Minutos – Irving Wallace
Papillon - Henri Charriere
Pássaros Feridos - Colleen Mccullough
Se um Viajante numa Noite de Inverno – Ítalo Calvino
Um Estranho no Espelho – Sidney Sheldon
Vlado – Retrato de um homem e de uma época – Paulo Markun

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

As tais referências

Sabe aquela relação de livros consultados, que vem no final de uma obra ou de um trabalho que você está lendo? Pois é, as tais das referências bibliográficas? Então..., percebi há algum tempo que eu adoro espioná-las. É que a partir delas sempre consigo encontrar outros livros tão interessantes e talvez mais abrangentes quanto aquele que os citou. E olha que eu já descobri muita coisa boa assim, só consultando as referências bibliográficas.

Quando fazia minha monografia da pós em Jornalismo Internacional sobre a Questão Palestina e a reportagem em quadrinhos de Joe Sacco, por exemplo, encontrei diversos livros de estudo da linguagem e da influência das HQs para a compreensão e o aprendizado de vários assuntos.

Essa paixão, digamos assim, pelas referências bibliográficas, chegou até mesmo a se tornar uma obsessão para mim. Mal pegava um livro e eu corria a folhear as páginas até chegar no final só para ver a relação de obras consultadas. Pensava eu, quem sabe, pudesse descobrir outros livros para ler e me aprofundar ainda mais sobre aquela história.

Hoje, acho que estou mais comedida. A paixão esfriou um pouco, mas continuo a dar minhas “espiadinhas”, no melhor estilo Big Brother, só que com outros propósitos, é claro. E não me limito apenas às obras, não. Quando ingresso em um curso, então, fico ansiosa para ter em mãos a bibliografia das disciplinas e poder descobrir os livros recomendados e que poderei ler mais para a frente, aumentando ainda mais a minha lista de livros a comprar. É quase um prazer, ou melhor dizendo, um prazer inenarrável

O único senão é quando eu mesma tenho de fazer a minha lista de referências bibliográficas quando preciso entregar um trabalho. Confesso que esta é uma tarefa ingrata, porque existe todo um padrão estabelecido de normas que devem ser seguidas para fazer a citação bibliográfica. Acho tudo muito chato e complicado, de forma que até hoje não aprendi. Nunca sei se depois do nome do autor e do livro vem a edição ou a data ou o local. E ainda têm a numeração de páginas, sem falar na tipografia, se normal, em bold, em italic ou ainda sublinhado (é não deu para sublinhar, mas subentendam). É detalhe demais! Acho que poderia ser tudo muito mais simples, mas aí se instalaria o caos, o que não condiz com um trabalho sério, científico e acadêmico.

Bom, para mim, "enquanto leitora", isso pouco importa. Basta que as referências estejam lá, ao final do livro, para que eu possa sempre consultá-las e achar outras obras que interessem e me façam conhecer mais sobre o assunto que quero. Agora, como escritora, vou precisar me policiar mais, porque ler é uma coisa, e escrever é outra. Graças a Deus, e viva as diferenças!

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Fã e ídolo


Os cabelos ficaram grisalhos, o rosto traz as marcas do tempo, a voz parece um pouco embriagada e o andar está mais lento. Mas para uma pessoa que já passou da casa dos 60 anos, o olhar manso e penetrante mostra que o brilho da juventude ainda está muito vivo no mineiro que se tornou escritor, dramaturgo e jornalista. Falo de Mário Prata, o grande cronista brasileiro, pai de Antonio Prata, também escritor.

Sentado em meio a estantes de livros infantis, na companhia dos escritores e jornalistas Xico Sá e Matthew Shirts, e do escritor Reinaldo Moraes, estes dois últimos seus amigos de longa data, com os quais viveu coisas “confessáveis e inconfessáveis”, Mário Prata foi a estrela maior da mesa sobre boemia e literatura da Balada Literária que aconteceu na Livraria da Vila. E não poderia ser diferente, já que a maioria estava ali para vê-lo, por isso, as histórias contadas, mesmo pelos seus companheiros, giravam em torno de Prata.

Acomodada em uma cadeira na segunda fileira do espaço improvisado para o bate-papo, uma vez que a Livraria estava às escuras, em razão das chuvas que caiam no dia, eu alternava a atenção entre a fala dos convidados e as expressões das minhas amigas Gil e Daiana, que se encontravam cada qual ao meu lado. Gil ria e se divertia com as tiradas de Prata, mas Dai, que literalmente acabara de chegar de Curitiba para prestar um concurso no dia seguinte, tinha os olhos vidrados em seu grande ídolo cronista. Sua emoção era visível, mas ela soube dominá-la o suficiente para ser a primeira a fazer uma pergunta a Mário Prata, notar seu interesse e ouvir sua resposta com atenção.

Depois disso, pegar o autógrafo no livro Minhas Tudo e tirar uma foto ao lado dele foram consquências naturais, mas não menos prazerosas. Na verdade, eu diria inesquecíveis, porque saímos de lá com Daiana flutuando debaixo da chuva que persistia em cair impiedosamente. Ela se importava? Acredito que não, acho que até mesmo nem sentia os fortes pingos molharem sua cabeça e seu corpo. Fã é assim mesmo, não se incomoda com nada, desde que o desejo de ver e estar com seu ídolo sejam plenamente satisfeitos.

Essa emoção que se sente perto de alguém que se admira muito é bem interessante e difícil de explicar, em palavras escritas ou não. Sei bem o que é isso e entendo a reação de Daiana depois que viu Mário Prata. Eu mesma passei por uma emoção semelhante quando estive em Paraty, o ano passado, e fiquei frente a frente com Neil Gaiman, o rei dos sonhos. A emoção é mesmo indescritível, é como se você se visse fora de si mesma, planando levemente, mas com firmeza pelo espaço, indefinidamente, sem se preocupar ou pensar em nada, apenas sentindo aquela sensação boa, de plenitude, de prazer intenso e sem fim. Nada existe fora dali, nada mais tem importância, a alegria é real, completa, total e absoluta.

A felicidade que experimentei em Paraty com Neil Gaiman e que Daiana também sentiu na presença de Mário Prata são, com certeza, uma daquelas emoções que fazem realmente a vida valer a pena.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Literatura no feriado

Eu não poderia deixar de registrar isso.
Para quem está em São Paulo e vai ficar por aqui, nada melhor do que curtir uma Balada Literária. É isso mesmo, um encontro pra lá de especialíssimo, que começa hoje e vai até domingo, dia 22.
Em sua quarta edição, a Balada é uma recriação da Flip, a Festa Literária de Paraty. A criação é do escritor pernambucano Marcelino Freire, que no início limitou-se apenas aos bares da Vila Madalena.
Hoje ela tem um alcance maior, estendendo-se por espaços como a Biblioteca Alceu Amoroso Lima e o Sesc Pinheiros, sem falar na própria Vila Madalena. Nestes locais haverá shows e debates com aproximadamente 80 escritores, entre eles Lygia Fagundes Telles e João Gilberto Noll.
O homenageado deste ano é João Silvério Trevisan.
Para os amantes da Literatura, é um prato cheio.
Mais informações no site http://baladaliteraria.zip.net/
Entre comemorações de aniversários, visita de uma amiga, afazeres domésticos e entrevista para o meu trabalho da Pós vou ver se consigo participar de algum encontro. Depois eu conto.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Quadrinhos não é só para crianças


Assim como a maioria das crianças, leituras em quadrinhos fizeram parte da minha infância. Pela minha casa circulavam Tio Patinhas, Pato Donald, Mickey, Pateta, Zé Carioca e tantos outros. Eu adorava ler as histórias dessas revistinhas, sobretudo aquelas que traziam os Irmãos Metralha, a Maga Patalógica, a Madame Mim, o Peninha e o Professor Pardal. E tinha ainda os super-heróis da Marvel, como o Homem-Aranha, O Incrível Hulk, o Capitão América e o Homem de Ferro, e os da DC Comics, como o Superman e o Batman. Além destes, apreciava também a Turma do Charlie Brown, com o sapeca do Snoopy, que aprontava todas. Depois entrei no universo da Turma da Mônica, e gostava, particularmente, da Tina, uma riponga engraçada, às voltas com seu amigo Rolo.

Mas aí cresci e os quadrinhos deixaram de fazer parte das minhas leituras, como tantas outras aventuras tidas como “infantis”. Se bem que Fernando, meu sobrinho, é um aficcionado por essas revistas e por desenhos e animações, e eu sempre procurei estimulá-lo nisso, comprando-lhe cada vez mais gibis.

No entanto, os quadrinhos só voltaram a me “pegar” novamente, e desta vez com força total, há oito anos, quando cursei a pós em Jornalismo Internacional, na PUCSP. Na época, em uma das disciplinas do curso, tive uma palestra com a professora Sonia Luyten, pioneira em levar as HQs para a sala de aula e especialista em mangás, que falou sobre a figura feminina nos quadrinhos.

A palestra foi tão interessante que sai dali louca para conhecer mais sobre o fascinante mundo das histórias em quadrinhos. Mas ainda assim não sabia por qual caminho seguir, porque aquelas revistas da minha infância já não me atraíam do mesmo modo. Foi quando, pesquisando pela Internet, descobri revistas que são verdadeiros livros, voltados para o público adulto, dentre estas, Palestina, do jornalista e cartunista Joe Sacco. E qual não foi minha surpresa quando vi ali uma verdadeira reportagem em quadrinhos. Gostei tanto do livro que acabei fazendo minha monografia do curso em torno dele.

E a partir desse pequeno grande achado, vislumbrei muitos outros quadrinhos voltados para o público adulto, a maioria verdadeiras jóias no melhor estilo jornalístico e de ficção. Conheci os trabalhos de Neil Gaiman e seu universo sobre Sandman e Coraline; Will Eisner, o grande mestre das graphic novels e criador do Spirit; Art Spielgman e seu mundo perturbador de Maus; Frank Miller, com a realidade crua de Sin City; Alan Moore com seu anti-herói V de Vingança; e mais recentemente os gêmeos Fábio Moon e Gabriel Bá, com suas contagiantes histórias sobre o cotidiano na Fanzine 10 Pãezinhos.

Hoje tenho uma pequena biblioteca de quadrinhos em casa e tantos outros livros mais para comprar. E pelo crescente interesse que área vem despertando e os novos talentos que surgem a cada dia, acho que vou ter de reservar um espaço ainda maior para poder abrigar toda essa cultura de massa, que está ficando cada vez mais refinada.

Na verdade, me lembrei de toda essa história por causa de uma outra, que começou com a nova edição da revista Tina, de Maurício de Souza, já em circulação nas bancas de jornais. No gibi, aparece um novo personagem da turma, o Caio, criado pela equipe do cartunista para ser o melhor amigo de Tina. Na história, ele é apresentado como sendo "supostamente" gay, por assumir que é "comprometido", no momento em que pede para um outro rapaz confirmar.

Cheguei até a ler um post bem legal sobre os gibis da Turma da Mônica e da Tina no Universo Para Lego , o blog da minha amiga Daiana. Bom, tudo poderia ter ficado por aí, se hoje eu não tivesse visto na internet que o assunto "a nova edição da Tina" começou a gerar polêmica, e de uma tal forma que Maurício de Sousa precisou emitir uma nota à imprensa “para esclarecer alguns pontos”. Segundo a nota, a revista Tina é uma publicação destinada a um público adulto jovem e que “não há qualquer afirmação sobre a sexualidade deste ou daquele personagem”. A nota diz ainda que “publicações dirigidas a faixas de público com idades diferenciadas podem – e devem – tratar de quaisquer assuntos de maneira adequada ao seu leitor. Mas uma posição vai se manter em TODAS as nossas produções: o respeito pelo ser humano, pela pessoa, e a elegância no trato de qualquer tema”.

Acho que não precisava de nada disso em pleno século XXI, mas os preconceitos estão tão arraigados na sociedade que muitas vezes são difíceis de se desprenderem. Isso me faz lembrar de uma outra polêmica que foi pauta do noticiário este ano: a proibição e a retirada do livro Um Contrato com Deus, de Will Eisner, das escolas públicas, por conter cena que sugere sexo e violência. Será que estamos voltando aos tempos da Inquisição? Era só o que faltava.

De certa forma, ainda há aquela ideia errônea de que quadrinhos é coisa de criança, quando na verdade existem hoje um infinidade de HQs que não apenas divertem, mas também emocionam com histórias enaltecem os traços dos artistas. Elas contam e recontam histórias de ficção e do real com um fidelidade digna que nos faz mergulhar por inteiros naquelas imagens. Não têm como não serem atrativas, não têm porque restringi-las a uma determinada faixa etária.

O que falta, a meu ver, no caso da Tina, é as pessoas conhecerem primeiro a obra, verem sua proposta, não deduzirem em torno de suposições e se inteirarem do público a que se destina. Já no caso das escolas, é ter mais critério para poder selecionar o que a garotada precisa ler, sem se esquecer de que há muito tempo os quadrinhos não são mais lidos somente por crianças, mas por adultos também, de forma que seu conteúdo é direcionado. Mas nunca podar, nem censurar e muito menos querer jogar este ou aquele livro na fogueira, ainda que fictícia.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Os livros

Vi o poema abaixo no blog Quero morar em uma Livraria, da Lia, e achei uma graça. Então resolvi publicar aqui também para compartilhar com todos vocês.
É de autoria da Paula Akkari, do Blog da Paulinha.

Os Livros

Depois de pular e brincar
Leio os livros
Livros tristes, que me dão vontade de chorar
Os livros carregam o mundo
E em vão
Conquistam o coração
Romances bonitos
São infinitos
Biografias, então
Têm de montão
Histórias de suspenses
São as melhores,
Pense...Antes de dormir
Os livros me fazem sorrir
Sonho em morar em uma livraria
Que bom seria!

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Quero ler o que me dá prazer


Quando terminei a faculdade e demais cursos que fiz de aprimoramento e especialização, fiquei tão aliviada de não ter mais as “tais” leituras obrigatórias pela frente que logo comecei a fazer uma lista dos livros que gostaria de ler, por puro prazer, sem a menor pretensão.

A alegria que experimentei foi tamanha que a lista só foi crescendo desde então e, consequentemente, acabei não dando conta dela, porque sabe como é
– Um livro sempre remete a outro, que remete a outro, que remete a tantos outros.

E ainda há as indicações dos amigos, da crítica e aqueles que você deixou para ler em uma outra ocasião, sem falar nas novidades do mercado e que, graças a Deus, não cessam nunca, para o nosso bem ou para o nosso mal, eu já não sei mais. É que quando me vejo envolvida por tantos títulos, todos ansiosos para serem devorados, acabo ficando perdida, ou pior, estática, sem saber para qual lado pender. Fora aquela ansiedade pela informação, que vem me consumindo há anos, sem nunca ser saciada por completo.

Isso me faz lembrar de uma passagem curiosa em Se um viajante numa noite de inverno, de Ítalo Calvino, sobre a busca de um leitor por um livro que ele quer muito:

"Já logo na vitrine da livraria, identificou a capa com o título que procurava. Seguindo essa pista visual, você abriu caminho na loja, através da densa barreira dos Livros Que Você Não Leu que, das mesas e prateleiras, olham-no de esguelha tentando intimidá-lo. Mas você sabe que não deve deixar-se impressionar, pois estão distribuídos por hectares e mais hectares os Livros Cuja Leitura É Dispensável, os Livros Para Outros Usos Que Não a Leitura, os Livros Já Lidos Sem Que Seja Necessário Abri-los, pertencentes que são à categoria dos Livros Já Lidos Antes Mesmo De Terem Sidos Escritos. Assim, após você ter superado a primeira linha de defesas, eis que cai sobre sua pessoa a infantaria dos Livros Que, Se Você Tivesse Mais Vidas Para Viver, Certamente Leria De Boa Vontade, mas infelizmente os dias que lhe restam para viver não são tantos assim. Com movimentos rápidos, você os deixa para trás e atravessa as falanges dos Livros Que Tem A Intenção De Ler Mas Antes Deve Ler Outros, dos Livros Demasiado Caros Que Podem Esperar Para Ser Comprados Quando Forem Revendidos Pela Metade Do Preço, dos Livros Idem Quando Forem Reeditados Em Colecções De Bolso, dos Livros Que Poderia Pedir Emprestados A Alguém, dos Livros Que Todo Mundo Leu E É Como Se Você Também Os Tivesse Lido. Esquivando-se de tais assaltos, você alcança as torres do fortim, onde ainda resistemos Livros Que Há Tempos Você Pretende Ler,
os
Livros Que Procurou Durante Vários Anos Sem Ter Encontrado,
os Livros Que Dizem Respeito A Algo Que O Ocupa Neste Momento,
os Livros Que Deseja Adquirir Para Ter Por Perto Em Qualquer Circunstância,
os Livros Que Gostaria De Separar Para Ler Neste Verão,
os Livros Que Lhe Faltam Para Colocar Ao Lado De Outros Em Sua Estante,
os Livros Que De Repente Lhe Inspiram Uma Curiosidade Frenética E Não Claramente Justificada."

Bom, tudo isso para chegar naquele livro que você buscava. E se realmente o alcançar, dê-se por satisfeito, por vitorioso, porque nenhum daqueles outros o fez desviar do caminho, embora a tentação e a campanha fossem poderosas.

Agora, no meu caso, para agravar ainda mais a minha situação, comecei um novo curso este ano e, é claro, as leituras obrigatórias voltaram a fazer parte do meu dia a dia. E olha que eu resisti ao máximo que pude, porque queria seguir o meu roteiro de leitura, a minha pequena grande lista de leituras que quero e gosto. Só que nessa ânsia toda, não estou conseguindo fazer nem uma coisa nem outra. Já comecei e interrompi umas quatro leituras, porque sempre penso que deveria me concentrar nas leituras obrigatórias.

Confesso que estou num período meio improdutivo de leituras, e elas vão se acumulando na minha frente, me afogando ainda mais de culpa e remorso. Mas agora resolvi dar um basta em tudo isso, parar de sofrer à toa, porque afinal de contas tudo gira em torno de leituras, e que obrigatórias ou não elas sempre acabam me dão prazer. Acabei por me render e dar início às leituras que preciso fazer para o curso, ainda mais porque nos primeiros meses do próximo ano terei de terminar o meu TCC e há textos que são indispensáveis para eu fazer o meu trabalho.
Mas não serei tão severa assim, gosto de trapacear também, e, vez por outra, vou intercalar com algumas leituras descomprometidas, porque, afinal, ninguém é de ferro. Além do mais, sei que elas acabarão se revelando produtivas e ávidas para enriquecer o meu projeto com outras perspectivas que não aquelas previstas.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Roger & Eu


Eu não sei porque resolvi ler Marley & Eu, de John Grogan. Não é que eu não gosto de animais, ainda mais em se tratando de cães, muito pelo contrário. Gosto demais, mas é que sempre sofro quando leio essas histórias, então procuro evitar. Seja como for algo me fez ler, ainda bem.
Claro, sofri, chorei, me descabelei, mas também vibrei, sorri, me diverti. Somando os prós e contras, acho que ganhei mais do que perdi, se é que a gente perde alguma coisa quando lê um livro.

Para quem tem um animalzinho de estimação, principalmente cães, a identificação com a leitura deve ter sido fácil, e comigo não foi diferente. As peripécias de Marley contadas com humor no livro lembraram muito o meu cãozinho Roger, sobretudo sua indisciplina para ser treinado (se bem que nunca tentamos pra valer), seu temor com tempestades e sua gana e prazer em destruir sofás (só em casa foram dois).

O livro é um deleite, leve, descontraído, emocionante, mas é óbvio que no final quase não consegui terminar a leitura. É que as lágrimas insistiam em embaraçar minha vista e eu não podia continuar lendo. Tinha de parar, dar um tempo e tentar recomeçar. Acho que fiz isso umas três ou quatro vezes, sem sucesso, até que por fim consegui. E foi inevitável não pensar no meu cão e na sua partida, um dia.

Roger chegou em casa numa manhã de novembro. Mas para falar dele é preciso primeiro contar a história do Rodin, um outro cão que eu tive, dado a mim, ainda filhote, pela minha amiga Silvia. Era um poodle todo branquinho, lindo, esperto, carinhoso, meigo. Uma graça.

Quando ele veio, já fazia um bom tempo que não tínhamos a companhia de um cão na família e a empatia foi imediata. Era muito gostoso voltar para casa e encontrar ele todo serelepe esperando, fazendo aquela festa. Mas quase um ano após sua chegada, todo esse encanto acabou, de repente. Foi no feriado de 7 de setembro, quando voltávamos do nosso passeio matinal, e por um descuido meu deixei a coleira que prendia ele escapar das minhas mãos no momento em que passava um caminhão pela rua. Metido a valentão, ele correu latindo para ir atrás do veículo e acabou morrendo atropelado. Foi um baque enorme. Me senti mal, culpada, arrasada, uma dor insuportável. A casa ficou silenciosa, evitávamos falar no assunto uns com os outros. Estávamos todos tristes e chocados, dia após dia.

Certa noite, lembro, sonhei com Rodin entrando em meu quarto e se postando ao lado da minha cama, onde eu estava deitada. Esperava o meu afago e o consentimento para subir ali, como fizera tantas vezes. Eu então olhei para ele, sorri e falei:
– Rodin, você voltou!
Mas logo acordei.

Quase dois meses depois, no dia 13 de novembro, uma manhã de sábado, destes que a gente quer ficar mais tempo na cama, só de preguiça, fomos acordados com a campanhia tocando. Como morava em um sobrado e meu quarto ficava de frente para a rua, fui até a sacada para ver quem era. Para minha surpresa, era o meu vizinho.
– Olha, vocês perderam um cachorro faz pouco tempo. Tem outro aqui na sua porta.
Quando eu olho para a entrada vi um cão parecido com um poodle, só que maior, com os pêlos grandes, todo grudento e sujo, deitado confortavelmente no degrauzinho da porta. Logo descemos para vê-lo de perto e assim que a porta se abriu ele entrou, sem cerimônia.

A dúvida era o que fazer com ele. Eu, minha mãe e meu sobrinho ficamos reticentes; minha irmã e minha sobrinha, no entanto, logo quiseram ficar com ele. Apesar do seu mau aspecto, não parecia um cão de rua, talvez estivesse perdido ou então, quem sabe, fora abandonado. A primeira providência que tomamos foi levá-lo ao Pet Shop para uma boa tosa, banho e consulta com o veterinário, enquanto decidíamos se ficaríamos ou não com ele. Na verdade, eu não me sentia ainda à vontade para ter outro cachorro, mas por outro lado pensava que Deus o colocara no nosso caminho para amenizar o nosso sofrimento.

No Pet Shop, o veterinário confirmou que aparentemente ele não tinha nenhum problema e que poderia ter uns dois anos. Então, o trouxemos de volta para casa e acabamos ficando com ele, dando-lhe o nome de Roger, como o do vocalista do Ultraje a Rigor.

A adaptação foi sendo feita aos poucos. A princípio ele era arisco, mas com o passar do tempo, muita paciência e amor conseguimos vencer os bloqueios.
Passados alguns dias, estava com Roger no Pet Shop quando uma senhora se aproximou e disse que ele se parecia com um cachorro que ela tinha visto umas semanas atrás, mais ou menos pela época em que Roger apareceu em casa.
– Foi na Celso Garcia, ele estava zanzando pela avenida. Vi quando alguém parou com o carro e o colocou fora.
A tal avenida ficava perto da casa onde eu morava e Roger, depois de conseguir atravessá-la, caminhou até parar na minha porta.
– Puxa, ele teve muita sorte de ter encontrado vocês – ela me disse.

Pois é, hoje, dez anos depois, Roger ainda está em casa, por isso considero esta data como a do seu nascimento. E em todo esse tempo de convivência, ele já acompanhou boa parte da nossa vida, participando dos momentos alegres e tristes, da mudança de casa e de bairro, das festas natalinas e de final de ano, dos infortúnios e perdas que sofremos, das nossas conquistas e vitórias. É, é claro, também nos ensinando muita coisa. Com ele aprendi que a felicidade está nas pequenas coisas e que não é preciso muito para ter paz de espírito, basta uma volta pelo quarteirão, uma brincadeira no sofá de casa, um gostoso afago atrás das orelhas.

Pensando bem, nós é que tivemos sorte dele ter parado na nossa porta. Roger, na verdade, é um presente que Deus enviou para alegrar minha família.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Fora dos padrões


Devo ser uma pessoa esquisita mesmo, cheia de manias, gostos estranhos e com opinião diferente daquilo que muitos consideram como o “normal”. Pelo menos é o que meu amigo Adílson fala..., bom minha sobrinha Luciana diz a mesma coisa.

Nunca subi em árvores, não sou fã de Bis (o chocolate), não gosto de yogurte, não aprecio comida japonesa, não como camarão, não tenho paciência com programas humorísticos, não compro em brechós e..., apesar de ser louca por livros, não frequento sebos. Sei lá, já tentei, mas é um local onde não me acho direito, não me acerto. Isso não quer dizer que não me arrisco a ir, vez por outra, nesses espaços. É claro, vou, mas só que prefiro mais me aventurar por uma livraria.

Para começar a própria denominação sebo já me causa asco. E, embora o dicionário traga como uma das definições a livraria onde se vendem livros usados, a primeira idéia que me vem à mente é seu outro significado: gordura sólida presente nas vísceras abdominais dos ruminantes.

Desculpe-me os aficcionados, mas de fato os sebos me parecem lugares engordurados, nauseantes, de aspecto sujo. Além disso são, muitas vezes, apertados e empoeirados, repletos de livros dispostos em intermináveis pilhas e mais pilhas, que tornam difícil sua captura, o que dirá seu manuseio. A bagunça e a falta de critério na acomodação das obras é um desconvite ao desbravamento, e o predominante cheiro de mofo (porque têm sim), acabam por inibir minha escalada por prateleiras ou bancadas.

Claro, há exceções, como tudo na vida, mas ainda assim não me sinto atraída por esses estabelecimentos. Será que é por conter livros demais? Isso me faz lembrar de uma passagem do livro Ex-Libris – Confissões de uma leitura comum, de Anne Fadiman. Ela conta que George Orwell, autor de A Revolução dos Bichos, entre outras grandes obras, chegou a trabalhar em um sebo. Para ele, as horas eram longas, a loja era congelante. As estantes eram cobertas de insetos voadores mortos e uma grande porção dos fregueses era de lunáticos. Pior ainda, os próprios livros perdiam aos poucos seu lustre. “Houve um tempo quando eu realmente adorava livros”, escreveu ele, “adorava a aparência, o cheiro e a textura deles, quero dizer, se tivessem 50 ou mais anos pelo menos. Nada me agradava tanto como comprar um lote deles por um xelim num leilão no interior... Mas assim que fui trabalhar na livraria parei de comprar livros. Vistos aos montes, cinco ou dez mil de uma vez, os livros se tornavam enfadonhos até mesmo ligeiramente enjoativos.”

Já entrar em uma livraria, para mim, é outra coisa, é um lugar onde me sinto mais à vontade. Primeiro olho a vitrine, fico por um momento apreciando as capas dos livros expostos, a diversidade de títulos, as cores, as imagens, os formatos; depois, entro e olho tudo ao meu redor, passeio por entre as estantes dispostas nas paredes e nas laterais ou nas bancadas que se encontram no interior da loja. O aspecto, sem dúvida, é melhor, mais limpo, mais confortável, mais amplo, melhor distribuído e convidativo para procurar, ver, manusear, ler.

E não é porque só gosto de livros novos, limpinhos, sem rabiscos ou deteriorados, não. Sei lá, deve ser empatia, porque tenho um monte de livros “velhos” em casa, que conservo como um bem raro. E ainda costumo frequentar bibliotecas, onde há muitos livros antigos e alguns até em estado bastante lastimável. E, no entanto, adoro estar nesses espaços, consultar o catálogo, olhar as prateleiras, procurar determinados livros que não encontro nas livrarias por estarem fora de catálogo ou da lista dos mais vendidos, e descobrir outros só de circular pelas estantes. Chego a ficar horas em uma biblioteca só olhando, folheando, sonhando.

Por outro lado, sei da importância e do valor cultural que os sebos têm, sobretudo por contribuirem na promoção da leitura. Assim, se desejo adquirir algum livro ou obra rara, que não encontro nas livrarias, limito-me a consultar os sebos pela Internet e fazer meus pedidos on-line. Talvez a graça não seja a mesma, mas pelo menos não fico irritada e dou uma trégua para a minha rinite.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Coração desapontado


– Você viu quando ele chegou ao Anhembi? – Ana perguntou.
– Não –
respondi.
– Por que? Havia muitos seguranças por lá?
– Não é isso.
– O que foi então?
– Não sei, não tive vontade.
– Ah...
– E o engraçado, pensei comigo, é que tempos atrás eu moveria céus e terras só para vê-lo pessoalmente. No entanto, eu não arrisquei em mexer um milímetro sequer na direção dele.
– Por isso que eu falo: não tenha ninguém como mito. Essas personalidades são seres humanos, como nós, portanto têm falhas.
– Eu sei, mas às vezes a gente prefere não "ver" para continuar no sonho.


Este diálogo aconteceu ontem, na hora do almoço, quando contei para Ana, minha colega de trabalho, um fato que me ocorreu na sexta-feira passada. Eu tinha ido ao Anhembi para cobrir o evento do Jubileu de Ouro da SPO – Sociedade Paulista de Ortodontia, entidade para a qual faço uma revista. Em dado momento da conversa, falei sobre as reviravoltas que uma decepção pode provocar, no caso o desapontamento com um ídolo no qual você acreditava e sonhava em ver de perto um dia. É que essa possibilidade surgiu naquele dia, no Anhembi, porque também ali acontecia um outro evento – o Congresso do PCdoB – e o personagem em questão, o presidente Lula, estaria lá.

Fui uma admiradora incondicional do operário Luís Inácio Lula da Silva, e acompanhei toda sua escalada e tentativas de chegar à presidência da República. Votei nele em todas as eleições das quais ele participou, chorei muito quando ele perdeu para o Collor – porque tinha como garantida sua vitória –, vibrei demais quando, finalmente, ele chegou ao poder, e me entristeci quando vi pessoas torcendo para que tudo desse errado já na sua posse em Brasília. No entanto..., não é que deu errado, mas falhou em muitos pontos nos quais ele mesmo fazia questão de defender.

Assim, foram tantas e tantas denúncias de corrupção que, no auge da crise que culminou com o escândalo do mensalão em 2005/2006, fiquei completamente frustrada pelo silêncio e pela omissão do presidente. Esperava uma reação dele, alguma coisa enérgica, um rompimento, talvez, mas ao invés disso ele se manteve calado, cabisbaixo, alheio a tudo.

Não conseguia entender o que se passava até que comecei a ler Coração Enfurecido, de Ingrid Betancourt, uma pequena autobiografia que a então senadora colombiana lançou em 2001. O livro conta sua trajetória pessoal e política, revelando os esquemas de corrupção do Estado colombiano da época.

Mas o que isso tem a ver com o Brasil? Bom, guardadas as devidas proporções, quando li aquele livro a corrupção falava alto no governo Lula e vi paralelos da política de lá com a nossa, ainda que a motivação e os caminhos sejam outros: no caso da Colômbia, os cartéis da droga; no Brasil, os grandes grupos monopolistas.

Segundo Ingrid, em seu livro, o então presidente Ernesto Samper, cuja campanha presidencial foi patrocinada pelo dinheiro das drogas, ficou omisso quando as denúncias vieram à tona e dizia não saber de nada, exatamente como acontecia no cenário político brasileiro de 2006. Fiquei chocada com a semelhança e quanto mais eu lia mais achava que tudo aquilo que havia se passado por lá, estava sendo reprisado no Brasil. Então parece que meus olhos se abriram para uma outra realidade e o que vi foi um retrato cinzento, duro, inacreditável. Vi o sonho se apagar, morrer, desaparecer.

O relato de Ingrid é fascinante e vale a pena ser lido para se conhecer melhor os bastidores da histórica política da Colômbia e o poder das drogas. Por outro lado, é terrível, porque desmistifica muito essa “coisa” de ideologia, apesar de trazer um quê de esperança com uma nova opção de cidadania que ela lutava para instalar. Em 2002 ela foi sequestrada pelas Farcs, ficando em seu poder durante seis anos, sendo libertada em 2008.

Hoje, passados três anos do episódio do mensalão, sinto que aquela chama revolucionária que existia dentro de mim diminuiu, se é que não se apagou de vez, e passei a adotar uma posição mais apolítica. No entanto, percebo que a ferida não cicatrizou por inteiro, porque por coincidência, ainda ontem, vi o trailer do filme Lula, o filho do Brasil, que será lançado em janeiro, e me emocionei muito. Naquele curto tempo em que algumas cenas são apresentadas para termos uma ideia de como será o filme, meus olhos não conseguiram segurar as lágrimas que escorregaram pela minha face, demonstrando com isso que o assunto Lula ainda dói em mim.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Pensando em metáforas













Adoro metáforas, elas dão ritmo ao texto e fazem a imaginação voar. Por isso, fico fascinada quando leio algo que está repleto delas, mas confesso, encabulada, que tenho um pouco de dificuldade em utilizar esse recurso literário nos meus próprios textos. Fazer o quê?

É tudo uma questão de exercício – diz Rita, uma colega do curso de JL.
– Como assim?
– Você tem de praticar. Faça associações de palavras.
– Associações?
– Sim. Comece com nomes de animais. E coloque ao lado o que cada um sugere em termos de imagens e sentimentos.
– Explique melhor.
– Por exemplo, leão, você pode associar com raiva, força; macaco com graça; e assim por diante... Entendeu?
– Ah, acho que sim.
– Então, vá praticando e depois mude para outros tipos de palavras, assim você vai criando um repertório para construir suas metáforas.
– É, gostei. Vou tentar.

Falando assim até que ficou mais fácil, mas Rita tem razão, é tudo uma questão de prática, de exercício, e também de leituras, de muitas leituras de textos ricos nessa figura de linguagem.
Isso me faz lembrar de Pablo Neruda, o poeta chileno que soube utilizar como ninguém as metáforas. Este era um campo que ele dominava com propriedade. Quem assistiu ao O Carteiro e o Poeta, ou leu o livro de Antonio Skármeta, "Ardente Paciencia (el cartero de Neruda)”, que lançado em português ganhou o mesmo nome do filme, teve uma boa mostra dessa habilidade de Neruda.

Eu assisti ao filme e li o livro, mas posso dizer que está aí um dos poucos casos em que a película é melhor do que a obra literária. E não foi porque assisti ao filme primeiro e só depois li o livro, mas é porque a história no cinema ganhou uma outra dimensão, sem falar nas estupendas atuações dos atores Philippe Noiret (Pablo Neruda) e Massimo Troisi (Mário, o carteiro), que faleceu com pouco mais de 40 anos, de um ataque cardíaco, logo após as filmagens.

A história se passa em uma ilha na Itália, para onde Neruda se exilou por razões políticas. Lá ele conhece Mário, um jovem semianalfabeto, que trabalha como carteiro encarregado de cuidar da correspondência do poeta. Desse contato surge uma grande amizade, em que Neruda ajuda Mário a conquistar a bela Beatrice Russo, no filme interpretada pela atriz Maria Grazia Cucinotta, e, é claro, o descobrimento das metáforas e a compreensão delas por parte do carteiro, contribuem eficazmente para isso.

Uma das passagens mais belas é quando Mário lê para Beatrice o poema Nua, escrito por Neruda. Ali, as metáforas explodem em toda a sua graça.


Nua és tão simples como uma de tuas mãos,
lisa, terrestre, mínima, redonda, transparente,
tens linhas de lua, caminhos de maçã,
nua és magra como o trigo nu.
Nua és azul como a noite em Cuba,
tens trepadeiras e estrelas no pêlo,
nua és enorme e amarela
como o verão numa igreja de ouro.
Nua és pequena como uma de tuas unhas,
curva, sutil, rosada até que nasça o dia
e te metes no subterrâneo do mundo
como num longo túnel de trajes e trabalhos:
tua claridade se apaga, se veste, se desfolha
e outra vez volta a ser uma mão nua.

Bom, depois deste poema de Neruda, acho que não é preciso dizer mais nada sobre metáforas. É só colocar no papel e se exercitar.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Top de livros


Outro dia tentei fazer uma lista dos livros que mais tiveram influência sobre mim, que me marcaram fortemente, que gostei tanto que não me canso de reler, que tenho prazer de ver sempre perto de mim

Olha... não foi fácil, porque tive de estabelecer um número, senão a lista não teria fim, então pensei em 10, por exemplo. Foi muito difícil escolher e chegar a um consenso, porque acabava lembrando de outro. Aí resolvi pensar em um critério tomando por base Os livros e os dias, de Alberto Manguel, um misto de diário e crítica literária em que ele comenta 12 romances relidos, um a cada mês do ano.

Mas ainda assim não fiquei satisfeita e resolvi sacanear para levar um pouco mais de vantagem nessa conta. Como não gosto de números pares, inclui mais um e fiquei nos 13. Sabe como é, um livro remete a outro livro, que remete a outro, que remete a um terceiro e assim por diante.

Para começar, Juca Mulato, de Menotti Del Picchia, que abriu as portas da poesia para mim. E embora eu aprecie mais prosa, sempre me encanto com as rimas e as métricas dessa pequena grande obra.

Mas foi com Fogo Morto, de José Lins do Rego, que a paixão pela literatura foi despertada em mim, sobretudo para aquelas histórias em que o sertão nordestino é o cenário principal e por onde giram o destino dos personagens.

Assim, a esse livro se somou Vidas Secas, de Graciliano Ramos, uma obra indispensável para conhecer a problemática da seca e da opressão social, tratada aqui de forma intensa e emocionante.

E se o assunto for a alma humana, nada melhor do que ler Dostoiévski, e o seu conflituoso Os Irmãos Karamazov.

Com O Pequeno Príncipe, de Antoine Exupéry, a história da amizade de um menino por sua flor, escrita de maneira poética e filosófica, abriu meu olhos para as verdades que realmente importam na vida.

Já as obras do grande escritor Machado de Assis me foram reveladas com Memórias Póstumas de Brás Cubas, e seu extraordinário universo romântico ao avesso.

Em O Guarani, de José de Alencar, que narra a bela história de amor de Peri e Ceci, descobri como a literatura pode ser reconfortante, ajudando a suportar as intempéries da vida.

A sensibilidade e a precisão de Ruy Castro, em O Anjo Pornográfico, me proporcionaram uma outra visão do dramaturgo Nelson Rodrigues, mostrando como as histórias de vida podem ser interessantes.

Com A Revolução dos Bichos, de George Orwell, mergulhei nas fraquezas humanas e constatei, indignada, que o poder corrompe até os mais bem intencionados.

Fui fisgada de vez pelo mundo dos comics com Joe Sacco e sua brilhante reportagem em quadrinhos sobre Palestina. A partir dela, novas amizades surgiram ao meu redor.

Em A Sangue Frio, de Truman Capote, perdi o fôlego com a possibilidade de fazer jornalismo aliando as técnicas da literatura.

Agora em matéria de viajar, chorar, sorrir, encantar, Harry Potter e a Ordem da Fênix, de J. K. Rowling, foi a receita certa e extremamente prazerosa.

E a saga dos Buendia, contada com maestria e engenho por Gabriel Garcia Márquez, transportou-me para o mundo fantástico e ficcional de Cem Anos de Solidão.

Por fim, bem ou mal, conclui minha listinha, mas não sem culpa. O pior é perceber que tem mais, tem mais, muito mais... será que não posso chegar a 15, pelo menos?

Bom, isso já é assunto para futuros posts.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Leitores no metrô

Já comentei aqui que o meu local de leitura é o metrô, seja nos vagões do trem, seja nas escadarias das plataformas. Mas há dias em que não me sinto disposta a ler, por mais que eu tente. São dias em que quero apenas sentar (se estiver com sorte), relaxar e esperar pacientemente que a viagem não demore muito. E foi isso o que aconteceu comigo um tempo atrás.

Entrei na estação Santa Cruz do metrô, passei pelas catracas, desci as escadas e fiquei na plataforma esperando o trem chegar. Estava com um pouquinho de dor de cabeça, por isso não me senti tentada a ler, só queria relaxar e ir embora para casa. Para minha felicidade, logo encontrei um lugar para sentar, onde me acomodei e ensaiei fechar os olhos para melhor descansar. Só queria chegar na Sé, para então pegar a outra linha do metrô.

Só que, por um desses acasos que a gente não sabe bem porque acontecem, mas que são muito bem-vindos, algumas pessoas que estavam ao meu redor acabaram me chamando a atenção durante a viagem, e isto por uma única e exclusiva razão: todas estavam lendo. Então passei a observá-las, “camufladamente”, como aprendi nas aulas de Jornalismo Literário.

Ao meu lado, sentada no mesmo banco, havia uma moça que aparentava ter 24 anos. Os olhos eram da cor do mel, como pude notar pelo canto do meu quando ela erguia o rosto do livro; os cabelos curtos e lisos eram castanhos e ela usava uma blusa creme de manga comprida, calça jeans e tênis branco com pequenos detalhes rosas. Completando o visual, brincos que pendiam das orelhas e brilhavam, e uma mochila preta. Nas mãos, ela tinha o volume único de As Crônicas de Nárnia, que traz todos os capítulos da saga de C. S. Lewis. Por vezes ela parava a leitura, mas deu para perceber que chegava ao final do primeiro capítulo; o seguinte seria O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa.

Quando o metrô chegou na estação Vila Mariana, outras pessoas entraram, sendo que três delas se acomodaram perto de onde eu estava. Uma ficou em pé bem a minha frente, era uma moça com pouco mais de 28 anos, tinha os cabelos curtos ondulados, cuja cor lembrava um tijolo. Ela usava um óculos rosa fashion, blusa xadrez verde e branco, calça jeans e sapato de plástico verde. Os ombros sustentavam duas bolsas e um casaco verde. Logo ficou absorta na leitura de uma apostila, porque quase não ergueu a cabeça do texto, por isso fiquei curiosa para saber do que se tratava, mas de onde estava não era possível identificar.

Ao lado dessa moça, mas à minha direita, um rapaz de prováveis 36 anos, olhos e cabelos pretos, vestia camisa azul semelhante àquelas usadas por motoristas de ônibus, e calça jeans. Nos pés, um par de tênis preto; às costas, uma mochila preta; e na mão esquerda, uma aliança de ouro. Ele se entretinha com O Guia dos Curiosos, de Marcelo Duarte.

A quarta pessoa ficou em pé ao lado das outras por pouco tempo, conseguindo sentar-se no banco ao lado daquele em que eu estava. Aparentava 22 anos, tinha os cabelos curtos, loiros, e usava uma blusa listrada em tons lilás/branco, calça jeans desbotada e tênis lilás. Ela carregava uma mochila rosa, com detalhes em preto, e no pescoço tinha uma gargantilha em formato de coração, que lhe dava um ar ainda mais jovial. Ela estava com um fone de ouvido e com o livro Harry Potter e a Pedra Filosofal, de J. K. Rowling, aberto em suas mãos.

A viagem foi uma sucessão de olhares, que eu disfarçava, para observar a leitura e o jeito de cada um, tentando gravar na mente as impressões que obtinha deles.

Quando o trem chegou na Sé, tive de descer. Que pena! As minhas observações precisaram ser interrompidas, assim como as leituras para três daqueles leitores. "Sorte da moça loira, que pode ter o privilégio de prosseguir na viagem e na aventura de Harry Potter" – pensei comigo. Mas suspirei aliviada, pois notei que para mim a aventura também ainda não havia chegado ao fim: Logo à minha frente, esperando a vez na escada rolante, estava a moça ruiva, com aquela misteriosa apostila e de onde pude ler o que continha: Subdiagnóstico de delirium no Hospital Geral. Que decepção, nada atrativo, mas pelo menos matei minha curiosidade.

Finda aquela “viagem” e prestes a iniciar outra, resolvi antes fazer uma pausa para um breve registro. Sentei-me nas escadas, peguei papel e caneta e antes que a memória pudesse me trair, escrevi rapidamente o que eu tinha visto, para narrar com mais precisão uma outra hora.
É, os livros me perseguem mesmo, estão sempre comigo, à minha frente, ao meu redor. Se não os estou lendo, ao menos me divirto observando aqueles que o fazem.

Ah, quanto a dor de cabeça, bom... sabe que eu nem me lembrava mais dela.