quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Retrospectiva Literária 2014

Esta é a terceira vez, consecutiva, que participo da Retrospectiva Literária, promovida pela Angélica Roz, do blog Pensamento Tangencial. A iniciativa trata-se de uma blogagem coletiva que reúne mais de 100 blogs todo o ano.

Assim como em 2012, 2014 foi um ano de leituras intensas, encantadoras, inesquecíveis. A média de livros lidos aumentou, embora tenha lido livros não tão volumosos, mas acho que me atropelei um pouco, fui com muita sede ao pote, se bem que mantive uma frequência nas leituras e só abandonei um livro.

Bom, vamos aos tópicos da retrospectiva:

A aventura que me tirou o fôlego:

A Volta ao Mundo em 80 dias, de Júlio Verne

Nunca tinha lido Júlio Verne, mas depois deste “a volta ao mundo” com certeza vou querer ler mais. Este livro, recheado de informações e aventuras, me levou verdadeiramente a fazer a volta ao mundo. Gostei.

O romance que me fez suspirar:

Morte em Veneza, de Thomas Mann

Não chega a ser um romance no sentido sentimental da palavra, mas fiquei enternecida pela paixão platônica do personagem principal – Aschenbach – pelo garoto – Tadzio), sobretudo nesta passagem: E reclinado, os braços pendentes, subjugado e sacudido por sucessivos calafrios, sussurrou a eterna fórmula do desejo – impossível, neste caso, absurda, abjeta, ridícula, mas ainda assim sagrada, mesmo neste caso, digna: “Eu te amo!”

O clássico que me marcou:

O Estrangeiro, de Albert Camus

Foi uma releitura e, desta vez, o livro me pegou ainda mais fundo. Mersault é um dos personagens mais fortes da literatura e sua história bastante instigante, perturbadora e ainda assim magnífica.

O livro que me fez refletir:

A Máquina de Joseph Walser, de Gonçalo M. Tavares

A história do pacato funcionário, que opera uma máquina industrial com movimentos repetitivos e que mantém uma coleção secreta mexeu comigo. Gonçalo traz sempre em seus livros questões como poder, cotidiano e morte de forma a nos fazer refletir sobre a vida.

O livro que me fez rir:

Pantaleão e as Visitadoras, de Mario Vargas Llosa

Os livros de Llosa, pelo menos os que li até agora, trazem sempre um humor implícito. Este, no entanto, é bem explícito e não tem como não se deliciar com as peripécias de Pantaleão. Muito divertido.

O livro que me fez chorar:

Meus Desacontecimentos, de Eliane Brum

Pra chorar com um livro não é preciso muito. Neste então me debulhei em lágrimas. A sinceridade e a beleza da escrita de Eliane Brum, devastando sua alma e sua vida neste livro, são de arrepiar, encantar e chorar.

O livro de fantasia que me encantou:

O Oceano no Fim do Caminho, de Neil Gaiman

Mais um belo livro de Gaiman com uma história um tanto autobiográfica, mas permeada de encanto e fantasia que já são características de sua obra. A infância aqui é vista em toda sua crueza, com medos, incertezas e dor.

O livro que me decepcionou:

O Livro dos Prazeres Proibidos, de Federico Andahazi

Tinha muita expectativa com esse livro e só entrou na minha lista de leituras porque queria ler uma história que se passava na Idade Média. O romance, que remetia a história de Gutenberg e o mundo dos livros, me empolgou, mas a escrita de Andahazi me pareceu pobre, sem sal, dispensável. Podia ter passado sem essa.

O livro que me surpreendeu:

Enquanto Agonizo, de William Faulkner

Achei que ia patinar neste livro, por causa da sucessão de vozes e digressões, mas, ao contrário. A história me envolveu de tal forma que me surpreendeu e me deixou fascinada pela escrita de Faulkner.

O livro mais criativo:

Verão, de J. M. Coetzee

Cada vez que leio Coetzee mais eu gosto dele. Adoro seu estilo, suas histórias, sua fluidez. Neste livro achei bem interessante, com refinados artifícios literários, que traz uma ficção autobiográfica, narrada de forma indireta. O relato é feito por um pesquisador que busca construir a história de John Coetzee, autor que já morreu, por meio de depoimentos de pessoas que o conheceram. Muuuuuuuito bom.

A melhor HQ:

Gorazde, de Joe Sacco

Desde que li Palestina, Joe Sacco tornou-se um dos cartunistas preferidos. Em Gorazde ele utiliza, mais uma vez os quadrinhos para narrar uma reportagem, contando a rotina dos muçulmanos durante a Guerra da Bósnia. Realístico.

O infanto-juvenil que se superou:

Breve História de um Pequeno Amor, de Marina Colassanti

Um bom livro é aquele que fica mesmo depois da leitura ter terminado. E se você sonha com ele então, é porque já faz parte de você. A história da escritora que encontrou um ninho de pombos, com dois filhotes, em seu telhado, é de uma sensibilidade que mexe não só com as crianças, mas com os adultos também. Belo, belíssimo. Mereceu todos os prêmios que ganhou.

O livro que mudou a minha forma de ver o mundo:

Quarto de Despejo, de Carolina Maria de Jesus

Um dos melhores livros que li este ano, Quarto de Despejo mostra que mesmo uma mulher, analfabeta, pobre e sem recursos é capaz de escrever, com toda a sensibilidade e sinceridade uma história de vida, da vida na favela, e de luta pela sobrevivência frente aos contrastes existentes. Indispensável.

A capa mais bonita:

O Livro Selvagem, de Juan Villoro

Com uma história bem construída, tendo como foco livros, biblioteca e leitura, esse livro tem tudo para agradar os leitores mais fanáticos, e sua capa, ainda por cima é belíssima.

O livro que li em um dia:

Fábula Urbana, de José Rezende Jr.
É um livro curto, infanto-juvenil, que a gente lê em poucas horas, mas cuja história envolve e encanta. Trata de meninos de rua, pedido inusitado, a pressa e o medo nas cidades grandes.

O primeiro livro que li no ano:

Províncias – Crônicas de Alma Interiorana, de Marcelo Canellas

Quando adquiri o livro no final de 2013 disse a mim mesma que seria o primeiro que leria em 2014 e assim foi. No livro estão reunidas 70 crônicas curtas sobre diversos lugares onde Canellas esteve fazendo reportagens. Observador da vida, ele narra com poesia histórias afetivas de fatos do cotidiano.

O último livro que terminei:

Memórias do Subsolo, de Dostoiévski.

Escolhi este livro por fazer parte de um Desafio Literário que estava participando este ano. Em dezembro teríamos de ler um autor russo, e optei por Dostoievski e suas "Memórias do Subsolo". Um pouco depressivo, mas muito bom.


O livro que abandonei:

Histórias de Crime e Mistério, de Edgar Allan Poe

Embora instigante, não consegui prosseguir nas histórias do livro. Li apenas "Os crimes da rua Morgue", que aliás já tinha lido uma vez, e comecei "O mistério de Marie Rogêt", mas não deu pra continuar, acho que não me alinhei com o estilo do autor.


O livro que li por indicação:

Mulherzinhas, de Louisa May Alcott

Já tinha ouvido falar muito deste livro, com comentários bem favoráveis, mas ainda não tinha me decidido até que uma amiga me emprestou o livro e tive de ler. Ainda bem. A história é cativante, e deve ser entendida como de época, mas gostei muito da amizade entre as irmãs e Jo March, com a qual me identifiquei mais.

A frase que não saiu da minha cabeça:

Quando tudo falhar, desista e vá à biblioteca, de Novembro de 63, Stephen King.

Embora esta frase não tenha saído da minha cabeça ao longo do ano, não cheguei a ler o livro, apenas a encontrei na internet e amei. Então, para ficar mais dentro da retrospectiva, escolhi esta, estranha e surpreendente:

... Ablui as crianças, aleitei-as e ablui-me e aleitei-me..., de Quarto de Despejo, Carolina Maria de Jesus

O (a) personagem do ano:

K, de O Castelo, de Franz Kafka

O agrimensor que chega a uma aldeia para prestar seus serviços se vê em um mundo de burocracia alucinante, em que nada parece ser o que é. Ainda assim persiste na sua saga, buscando ser ouvido e aceito. Comovente, delirante, desesperador.

O (a) autor (a) revelação:

Patrick Modiano, com Filomena Firmeza

É até um “sacrilégio” colocar Modiano como revelação, já que o escritor francês tem cerca de 30 livros publicados e ganhou o Nobel de Literatura neste ano, mas aqui não é no sentido de “novato” e sim de novo para mim. Mesmo porque seus livros estavam esgotados no Brasil e só havia em catálogo Filomena Firmeza. Li e me apaixonei, por isso uma revelação. A boa notícia é que a Rocco acabou de relançar três títulos de Modiano e, claro, já adquiri para ler.

O melhor livro nacional:

Malagueta, Perus e Bacanaço, de João Antonio

Os contos reunidos neste livro falam de uma São Paulo nostálgica, com seus malandros e marginalizados. O conto que dá título ao livro é fascinante e vale a pena ser conhecido.

O melhor livro que li em 2013:

"Quarto de Despejo", de Carolina Maria de Jesus impressionou-me tanto que permaneceu na minha memória este ano todo. Escrito por uma analfabeta, não deixa de ser curioso o fato deste ser o melhor livro, o que importa é a sensibilidade com que ela conta sua história.

Dos clubes:

Traçando Livros (o melhor) – Ficções, de Jorge Luis Borges

Clube do Livro (o melhor) – O Estrangeiro, de Albert Camus
  
Li em 2014... 60 livros (seis a mais do que em 2013)

A minha meta literária para 2015 é:

Prosseguir com minhas leituras, mas não mais com tanta ansiedade. Quero ler com mais vagar e tentar fazer algumas releituras.

Os dez (e aqui incluo todos os gêneros)

Ficções, Jorge Luis Borges
O Oceano no Fim do Caminho, Neil Gaiman
O Estrangeiro, Albert Camus
Quarto de Despejo, Carolina Maria de Jesus
Meus Desacontecimentos, Eliane Brum
Enquanto Agonizo, William Faulkner
Verão, J. M. Coetzee
Terra Sonâmbula, Mia Couto
Filomena Firmeza, Patrick Modiano
Breve História de um Pequeno Amor, Marina Colassanti

Bônus para

O Alienista (quadrinhos), Fábio Moon e Gabriel Bá
Nenhum Olhar, José Luis Peixoto

E que venham mais leituras em 2015. Feliz Ano Novo a todos! 

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Frases marcantes dos livros - 2014

"Quando tudo falhar, desista e vá à biblioteca" - Novembro de 63, de Stephen King.

Qualquer boteco é lugar para escrever quando se carrega a gana de transmitir. Gana é um fato sério que dá convicção” – João Antonio, em Malagueta, Perus e Bacanaço.

Dormir é distrair-se do mundo”. - Funes, o memorioso, em "Ficções", de Jorge Luis Borges.

“Adultos seguem caminhos. Crianças exploram…” - O oceano no fim do caminho, de Neil Gaiman.

"Enquanto a sombra repetir no chão o teu corpo inteiro eis que te encontras vivo e completo"- A máquina de Joseph Walser, de Gonçalo M. Tavares.

“... Ablui as crianças, aleitei-as e ablui-me e aleitei-me...” – Quarto de Despejo, de Carolina Maria de Jesus.

“As soluções estão sempre nas bibliotecas” – Borges e os Orangotangos Eternos, de Luís Fernando Veríssimo.

“Penso: talvez a dor exista para nos avisar de um sofrimento ainda maior” – Nenhum Olhar, de José Luís Peixoto.

“Falar é entregar-se, escrever é ocultar-se” – Beatriz (Beatriz e o escritor), de Cristovão Tezza.

“Não há mal que não traga um pouco de bem, e por isso é que o mal é útil. Muita vez indispensável, alguma vez delicioso”. – Esaú e Jacó, de Machado de Assis.

“Escrevo para não morrer, mas escrevo também para não matar”. – Meus Desacontecimentos, de Eliane Brum.

“Para mim, os livros sempre foram sagrados, mas apenas para que pudessem ser profanados”. – Meus Desacontecimentos, de Eliane Brum.

“Paris é do sexo feminino, creio que não existe cidade mais feminina do que Paris, mulher vaidosa e assim felina feito uma gata sensual que se oferece ao turista deslumbrado mas esconde a face verdadeira, a face profunda que fica oculta e que só obedece à voz do dono e esse dono é francês”. – Passaporte para a China, de Lygia Fagundes Telles.

“... A estrada me descaminhou. O destino o que é senão um embriagado conduzido por um cego?” – Terra Sonâmbula, de Mia Couto.

“... que mensagem me trazem dela não sabemos quem é só sabemos que é ela nada nihil nichts niente nothing nada é o que sou nada exprime aquilo que sou nada me exprime do que é nada me é como posso esperar se nada me diz o que espero com desesperada esperança mas espero com esperança ou sem ela espero pela esperança espero por ela anônimo...” – Rumor Branco, de Almeida Junior.

“Só para os raros!” “Só para os loucos!” – O Lobo da Estepe, de Herman Hesse.

Uma biblioteca não é para ser lida por completo, mas sim para ser consultada. – O Livro Selvagem, de Juan Villoro.

“... A tragédia da velhice não é a existência do velho, mas sim, a existência do jovem...” – O Retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde.