sexta-feira, 12 de julho de 2013

Pós-Flip - relato pessoal

 
Dizem que o melhor da festa é esperar por ela. Pode ser..., afinal, a ansiedade, os preparativos, a expectativa, enfim, acabam dando um colorido todo especial ao acontecimento que, muitas vezes, não percebemos quando este se realiza de fato. No entanto, em se tratando da Flip - Festa Literária Internacional de Paraty essa máxima não se aplica, pelo menos não totalmente, já que a espera é boa, mas os festejos em si são bons, muito bons, imensamente bons. Isso porque cada atividade ou acontecimento em si é sempre muito intenso, muito vívido, muito presente.

A edição que se encerrou, em 7 de julho, e que homenageou Graciliano Ramos, vai deixar muitas saudades e um saldo bastante positivo na minha vida literária e pessoal, apesar das três desistências de escritores que gostaria de ter conhecido: o francês Michel Houellebecq, o norueguês Karl Ove Knausgaed, e o egípcio Tamim Al-Barghouti.
 
Seja como for, na Flip 2013 fiz novas e boas amizades, vi escritores que não conhecia, assisti belos bate-papos da programação paralela e participei de mesas bacanas, com destaque para "O prazer do texto", com a franco-iraniana Lila Azam Zanganeh e o brasileiro Francisco Bosco (ela me encantou com sua simpatia, seu português recém-aprendido e a obra de Vladimir Nabokov, e ele pelas belas colocações e o conhecimento sobre Roland Barthes).

Mas o que ficou para mim dessa Flip - e este é um relato bastante pessoal, não um resumo do que aconteceu na festa - foi a boa safra de escritores brasileiros, da qual já ouvira falar, mas que, por um desses desencontros da vida que a gente não sabe explicar, não tinha lido nenhuma obra e nem conhecia pessoalmente. Paulo Scott é um exemplo, embora seu livro Habitante irreal figure na minha lista de livros a ler desde o ano passado.
 
Outro destaque foi o pernambucano radicado nos Estados Unidos, José Luiz Passos, cujo sotaque nordestino nos debates da mesa que participou ao lado de Scott, Formas da derrota, foi um bálsamo para os meus ouvidos. Seu livro Sonâmbulo amador mistura memória, relações sociais e razão.
 
Além de Passos vale ainda citar Daniel Galera, paulista de nascimento, portoalegrense de coração. Festejado autor da nova geração, Galera começou divulgando seu trabalho nos primeiros lampejos da internet e foi, pouco a pouco, ganhando espaço e tornando-se conhecido. É difícil saber por qual de seus livros começar (foram publicados seis - quatro romances, um de contos e uma HQ), já que todos despertam de uma forma ou de outra um interesse especial. Mas estou particularmente inclinada para Cordilheira, quem sabe...
 
E, por fim, ressalto mais uma vez Francisco Bosco, filho do cantor e compositor João Bosco, carioca da gema, e como ele mesmo se define "que não gosta de praia, mas gosta de futebol". Escritor, letrista, poeta e filósofo, Bosco foi, para mim, uma das melhores surpresas da Flip dessa nova geração de escritores, Seu "Alta ajuda", que reúne 35 ensaios publicados nos últimos anos no jornal O Globo e nas revistas Trip e Cult, chegou até mim inesperadamente, mas muito bem-vindo.

Vale citar ainda que a Flip trouxe à baila os debates sobre as manifestações pelo Brasil,  e que ela própria teve sua manifestação popular pelas ruas da cidade, cujo ponto alto foi a tomada e o bloqueio, por alguns minutos, da ponte que liga o centro histórico das tendas da programação principal.

 
A festa terminou mas ela irá me acompanhar por um bom tempo ainda, por meio das muitas leituras que farei dos autores presentes. O que percebo é que, depois de participar de seis edições, longe de me cansar, sinto que o fôlego para as próximas Flips ainda é imenso e ansioso. Ainda bem e que venha a próxima.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Flip 2013 - minha 6ª Festa



É difícil visitar Paraty e não querer voltar à cidade outra vez. Afinal, os encantos do lugar, com seu centro histórico mágico e suas praias paradisíacas são motivos mais do que suficientes para que o visitante/turista sonhe com outra estadia na cidade. E se for no período da Flip – Festa Literária Internacional de Paraty, então, a pessoa se torna cativa do local. Pois é, estou indo mais uma vez para a cidade. E para participar da festa, que já se tornou roteiro tradicional das minhas férias, embora não esteja sozinha nesta empreitada.
 
Ángel Gurría-Quintana, jornalista de literatura em Cambridge, colaborador assíduo do jornal The Financial Times, por exemplo, esteve presente em todas as edições da Flip, desde 2004, e a partir de 2005 tem participado como mediador das mesas principais. Ele contou, no blog da Flip, em abril de 2012 (veja aqui), que a festa mudou seu calendário. Primeiro chegou para fazer a cobertura do evento e entrevistar os organizadores, mas acabou entrando no clima literário do lugar e, quando deu por si, já estava envolvido o suficiente para voltar – várias vezes.
 
“Não é fácil explicar para qualquer um que nunca tenha ido para a Festa porque este evento nāo tem comparaçāo com qualquer outro existente até entāo. O efeito intoxicante da FLIP nāo é fácil de descrever – só a localizaçāo já é de tirar o fôlego, estar em um cenário paradisíaco – a bahia, a Mata Atlântica e a vibrante cidade colonial”, justifica o jornalista no post.
 
De fato, é tudo isso e muito mais. Só quem foi sabe o que estou falando. Claro, nem todas as pessoas retornam, por um motivo ou outro, mas com certeza sentem esse fascínio que a festa proporciona. Da minha parte, todos os sacrifícios são válidos para estar lá, seja somente um fim de semana, como foi em 2011, só para ver Joe Sacco, seja em parte da festa, como foi em 2012 quando eu e minha companheira de Flip, a Gilmara Santos, tivemos de viajar durante a noite, chegando a Paraty de madrugada e tendo de esperar na rodoviária o dia amanhecer para ir à pousada.
 
Este ano consegui tirar as férias do trabalho no início de julho, o que já garante participar da festa inteira, que acontece de 3 a 7 de julho, e tem por homenageado Graciliano Ramos, um dos meus escritores preferidos.
 
Há muitas expectativas, sobretudo para ver autores que até então não conhecia, mas que já sinto certa proximidade, como o escritor irlandês John Banville, vencedor em 2005 do Man Booker Prizer, com o romance O mar, que estou lendo – e amando.

 
Além de Banville, a expectativa é também para a americana Lydia Davis, cujo livro Tipos de perturbação, também está na minha lista. Vale ainda destacar o norueguês Karl Ove Knausgård, o bósnio Aleksandar Hemon, o egípcio Tamim Al-Barghouti, o francês Laurent Binet e a francesa Lila Azam Zanganeh, filha de pais iranianos e estudiosa da obra de Nabokov. E, claro, os brasileiros Paulo Scott, Daniel Galera, Ruy Castro e Milton Hatoum, que fará a conferência de abertura sob o tema : Graciliano Ramos: aspereza do mundo e concisão da linguagem.
 
O show de abertura será com Luis Perequê e Gilberto Gil, que também participará de mesa literária, assim como a cantora Maria Bethânia, que estará na mesa sobre Fernando Pessoa. Vale lembrar também a mesa com o cineasta Nelson Pereira dos Santos que, ao lado da cantora Miúcha, falará sobre sua obra e as adaptações para o cinema dos livros de Graciliano Ramos: Vidas Secas e Memórias do Cárcere.
 
Paralela à programação principal, outras atividades, como a Flipinha, com atrações voltadas para as crianças, a Flipzona, para os adolescentes, a FlipMais, a Off Flip e eventos dos parceiros Flip, completam a festa. No mais é andar pelas ruas do centro histórico e esbarrar, vez por outra, com um dos escritores. Não tem coisa melhor.
 
É Paraty respirando cultura e literatura. Por todos os poros. Sem dúvida, imperdível!