terça-feira, 29 de novembro de 2011

Pra que serve a Poesia?

Há momentos na vida em que paramos para pensar na razão de ser e de existir. É difícil encontrar uma resposta definitiva e satisfatória, mas ainda assim tentamos, buscando sempre encontrar um sentido nas pequenas coisas do cotidiano e, por meio delas, entender quem somos e o porquê de estarmos aqui.

Essa busca, por exemplo, pode ser empreendida por meio da palavra e do sentimento a ela atribuído. Nesse campo, entra a literatura e, em seu bojo, a Poesia, uma forma de expressão artística que exprime sensibilidade e beleza nas situações mais duras e ásperas da vida.

E é exatamente este o mote de Poesia, filme sul-coreano de Chang-dong Lee, que esteve por pouco tempo em cartaz em São Paulo, no primeiro semestre deste ano, mas que tive a oportunidade – e o prazer – de assistir no último dia 28, na Sessão Averroes, da Cinemateca Brasileira.

Fruto de uma parceria entre a Cinemateca, o Hospital Premier/Grupo MAIS e a OBORÉ, a Sessão Averroes é um projeto que debate a condição humana, a vida e sua terminalidade. E conta com o apoio da Faculdade de Medicina de Itajubá (MG), do Instituto Paliar e da Academia Nacional de Cuidados Paliativos. Acontece sempre na última segunda-feira de cada mês e destina-se, principalmente a profissionais e estudantes da área de medicina e saúde.

O projeto tem esse nome em homenagem ao filósofo espanhol Averroes, considerado um dos pais da medicina.

Para fechar a temporada de 2011, o filme escolhido foi Poesia, seguido de um debate que contou com a participação da médica geriatra Cláudia Burlá, da médica Maria Goretti Sales Maciel e da jornalista e escritora Eliane Brum, que em março deste ano escreveu um belo texto sobre a fita para a coluna da revista Época. Veja aqui: http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI217823-15230,00-COMO+EU+ENCONTRO+A+POESIA.html

O filme gira em torno de Mija, uma senhora de 66 anos, que mora com o problemático – e calado – neto adolescente e, apesar da idade, trabalha como cuidadora de um homem incapacitado. Sentindo dores no braço, Mija procura um médico e confessa ao doutor estar também com problemas para lembrar o nome das coisas. Preocupado mais com as falhas na memória do que com a dor no braço, o médico sugere a Mija consultar-se em um hospital especializado, onde acaba descobrindo que está com o Mal de Alzhemeir.

Paralelo a isso, Mija fica sabendo que seu neto e os cinco amigos deste estão sendo acusados de ter violentado sucessivamente Agnes, uma garota na escola. A menina, filha de uma camponesa pobre que tem mais um filho, acaba suicidando-se ao pular de uma ponte. Os pais dos garotos envolvidos, a direção da escola e a imprensa tentam abafar o caso e Mija é conduzida a se unir a eles.

E meio às tempestades que surgem à sua frente, a senhora lembra que, quando criança, um professor profetizou que ela seria uma poetisa. Mija então decide frequentar um curso de Literatura e estudar poesia para, por meio dessa expressão, não esquecer das palavras, descobrir a beleza na aridez da vida e, assim, conhecer-se a si própria.

No curso, os alunos são convidados a apresentar, ao final, um poema. Mjia se desespera por não conseguir formar um poema, mas vai anotando em um caderninho suas impressões a cerca do que vê, presencia e sente. E, aos poucos, começa a formar suas palavras.

Depois do filme, não pude ficar até o final dos debates, apenas assisti a apresentação inicial das convidadas. O suficiente, porém, para concluir que o filme começa um ciclo e termina nesse mesmo ciclo, que os caminhos de Agnes e Mija se entrelaçam, conduzindo as escolhas desta. E mais: que a Poesia está presente nas mínimas coisas, dando sentido à vida. Basta prestar atenção.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

O leitor no foco


Em 1971, o fotógrafo húngaro André Kertész (1894-1985), naturalizado norte-americano, publicou pela primeira vez o livro “On Reading”, com imagens de pessoas lendo em várias partes do mundo. As fotos, que mostram o poder de absorção e prazer da leitura, foram capturadas entre 1920 e 1970 em localidades como Argentina, França, Hungria e Estados Unidos, entre outras.


Inspirada nesse trabalho, a fotógrafa brasileira Isabel Santana Terron fez um projeto similar e fotografou leitores em estado de êxtase lendo em diferentes lugares, não importa onde, como a imagem acima, de um rapaz lendo ao lado do ônibus. Doze dessas imagens estão expostas na mostra Tempo Suspenso – fotografias de Isabel Santana Terron, que pode ser conferida até domingo, 27 de novembro, na Livraria da Vila (Rua Fradique Coutinho, 915), em São Paulo.

A exposição faz parte da programação da Balada Literária, evento que chegou este ano à sua sexta edição homenageando o poeta concretista Augusto de Campos, irmão de Haroldo de Campos. A Balada Literária, organizada pelo escritor pernambucano Marcelino Freire, terminou no dia 20 de novembro, mas prossegue ainda este final de semana com a Ressaca Literária (veja programação em http://baladaliteraria.zip.net/).

O final de semana promete boas atividades e ainda dá tempo de participar. Na exposição Tempo Suspenso, além de apreciar as belas imagens, é possível passear por entre as prateleiras recheadas da Livraria da Vila e conferir as novidades literárias.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Nos intervalos da morte

José Saramago sempre me inspirou, embora tenha me aventurado pouco pelos seus livros e, isso, há bem pouco tempo. Sua paixão pela literatura, seu universo literário e sua vida pautada na escrita me deixam fascinada, mas é preciso conhecer mais de perto sua extensa obra. Demorou, mas aconteceu. E, depois da hipnótica e encantadora A Viagem do Elefante, que li – e devorei – no início do ano, foi a vez de mergulhar em As Intermitências da Morte.

Não foi uma escolha própria, uma vez que o livro foi sugerido nas reuniões do Clube da Leitura que frequento, o Bookworms (falei dele aqui http://leituraseobservacoes.blogspot.com/2011/05/no-clube-de-leitura.html), mas foi muito bem-vindo, sem falar na oportunidade de prosseguir na leitura dos livros de Saramago.

As Intermitências da Morte foi publicado em 2005 e já “pega” o leitor no início da narrativa, com a frase: “No dia seguinte ninguém morreu”. É um livro divertido, embora trate de um assunto delicado – e espinhoso – como a morte, tratado ali com o sarcasmo e a ironia, dois traços tão característicos na obra de Saramago.

A narrativa é mais uma reflexão sobre a vida, a morte, o amor, e uma crítica contumaz aos sistemas políticos, à religião, à imprensa e à sociedade moderna. Tudo começa porque a morte, aquela divindidade mitológica, representada por um esqueleto (aqui no caso uma mulher), com uma foice na mão (que Saramago chama de gadanha), desencantada com a humanidade, resolve entrar em greve a partir do primeiro dia do ano, em um determinado país fictício.

O que à primeira vista parece ser um feito extraordinário para os humanos, acaba se transformando em um emaranhado de problemas. Sem a morte os conflitos aparecem, com os doentes em fase terminal sem poderem expirar e vivendo em martírio eterno, os hospitais abarrotados de pessoas à beira da morte, os familiares com o encargo dos parentes doentes, as funerárias sem o seu “ganha-pão”, assim como as seguradoras, e a Igreja sem o seu dogma maior da vida após a morte, como na passagem de uma conversa entre o primeiro-ministro do país e o cardeal:

... Boas noites, eminência, Telefono-lhe para lhe dizer que me sinto profundamente chocado. Também eu, eminência, a situação é muito grave, a mais grave de quantas o país teve de viver até hoje, Não se trata disso, De que se trata então, eminência, É a todos os respeitos deplorável que, ao redigir a declaração que acabei de escutar, o senhor primeiro-ministro não se tenha lembrado daquilo que constitui o alicerce, a viga mestra, a pedra angular, a chave de abóbada da nossa santa religião, Eminência, perdoe-me, temo não compreender aonde quer chegar, Sem morte, ouça-me bem, senhor primeiro-ministro, sem morte não há ressurreição, e sem ressurreição não há igreja...

Nesse interim surge a criatividade do ser humano para burlar – ou até mesmo lucrar com – a morte. Isso se dá quando em uma família, o avô e o neto estão prestes a morrer, mas sem que isso seja concretizado. O ancião, então, pede às filhas que os levem até a fronteira com outro país para que assim possam morrer em paz, em um dos relatos mais impressionantes, belos e tristes que já li.

Com essa brecha, entra em cena a máphia, que por meios escusos – em uma atividade ilícita e ilegal – se oferece, mediante pagamento, a fazer a travessia daqueles que desejam morrer ou deixar morrer os familiares,

A situação persiste por meses, até que a morte decide retornar, mas sob novas condições, explicitadas em uma carta endereçada a uma emissora de televisão: “a partir da meia-noite de hoje se voltará a morrer tal como sucedia, sem protestos notórios (...) ofereci uma pequena amostra do que para eles seria viver para sempre (...) a partir de agora toda a gente passará a ser prevenida por igual e terá um prazo de uma semana para por em dia o que ainda lhe resta na vida”.

O aviso chegaria pelo correio, por meio de uma carta na cor violeta, endereçada a quem estaria prestes a morrer. Cria-se então um novo impasse no país, com as pessoas temendo receber a tal carta e aliviadas por ainda não receberem.

Em dado momento, a morte é surpreendida por uma carta, enviada a certo violoncelista, que é devolvida à ela. Intrigada, a morte faz ainda várias tentativas de entregar a carta, sem contudo obter sucesso. É quando resolve entrar em cena, materializa-se para se aproximar do músico e, assim, conseguir realizar seu intento.

A narrativa, pautada por uma escrita corrente, com o mínimo de pontuação e ausência de maiúsculas, chega então ao seu desenlace.

Curiosamente, os frequentadores do Clube de Leitura não gostaram do final e consideraram o livro uma leitura difícil. De fato, o é, mas é também delicioso, repleto de humor e crítica, por isso vale a pena prosseguir, e seu final, da mesma forma como achei em A Viagem do Elefante, terminou como tinha de ser. Na minha opinião, fechando com chave de ouro o ciclo iniciado pela obra.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Amor entre livros

Spike Jonze é um diretor de vídeos musicais e produtor e diretor de filmes estadunidense, bastante conhecido por trabalhos cults como Quero Ser John Malkovitch e Onde Vivem os Monstros. Em parceria com o cineasta francês, Cahn Simon, ele dirigiu um curta de animação pra lá de bacana, que trata da paixão entre dois personagens de livros: Mina Harker, a mocinha da fábula Drácula e o esqueleto da capa da peça teatral Macbeth. E para viver essa “inusitada” paixão, o cenário escolhido foi a charmosa livraria Shakespeare and Company, em Paris.

A animação, intitulada Mourir Aupres de Toi (ou seja, Morrer ao seu Lado), contou com a participação de Olympia Le-Tan, designer de bolsas e bijuterias, que fez os personagens à mão, num total de 3.000 peças em feltro.

A história começa à noite, quando a livraria está deserta. Em uma das prateleiras, o esqueleto de Macbeth sai da capa para encontrar-se com Mina Harker, mas encontra alguns obstáculos pelo caminho. Tem sua cabeça decepada pelo livro O Relógio Verde e acaba sendo engolido pelo clássico Moby Dick. Mina então sai em seu encalço e tenta resgatá-lo.

Vi o vídeo no Blog A, o Blog do Grupo A ( http://www.grupoa.com.br/blogA/ ) e achei-o uma delícia. Por isso, resolvi compartilhá-lo aqui . Confiram a animação e o making of do curta.


Spike Jonze: Mourir Auprès de Toi on Nowness.com.


quinta-feira, 10 de novembro de 2011

O rei dos SONHOS

Foi uma aula da professora Sonia Luyten, especialista em estudos de mangás, que me levou a prestar atenção aos quadrinhos e a decidir fazer uma monografia sobre eles. Foi uma extensa pesquisa na internet, sobretudo na arte voltada para adultos, que me levou a Joe Sacco e, por tabela, a nomes como Art Spiegelman, Alan Moore, Frank Miller, Milo Manara e, é claro, Neil Gaiman, o escritor inglês, criador de Sandman, um dos mais importantes livros de fantasia, em quadrinhos, que se tem notícia.

Me apaixonei de “cara” pela sua obra e, pouco a pouco, fui me inteirando dela. O que eu não poderia supor é que em 2008 eu tivesse a oportunidade de estar, frente a frente, com o “Rei dos Sonhos”, em mais uma edição da Flip, a Festa Literária Internacional de Paraty. Depois de assistir a sua mesa no evento – e de me encantar ainda mais com ele –, permaneci quatro horas na fila para o autógrafo, em um dos melhores e mais emocionantes momentos da minha vida.

Neil Gaiman é um escritor e tanto, que nasceu em Portchester, Inglaterra, há exatos 51 anos. Suas histórias encantam, emocionam, hipnotizam. Seu estilo elegante e inteligente de escrever, marcado por referências clássicas e contemporâneas, um tanto sombrias, mas divertidas, prende a atenção do leitor do início ao fim.

Sandman, sua obra mais reverenciada, é uma revista de HQ, cujas histórias descrevem a vida de Sonho, o governante do sonhar (o mundo dos sonhos e sua interação com o universo, os homens e outras criaturas) e foi publicada no Brasil por várias editoras. A mais célebre – e praticamente esgotada, a menos que se recorra a colecionadores – é o encadernado da Conrad, em dez volumes, e que venho tentando formar. Dela faltam-me dois volumes; 1 e 2, exatamente os mais difíceis de encontrar, a não ser por um preço exorbitante. Mas eu chego lá.

Entre seus livros publicados já li a graphic novel Orquídea Negra, que narra a história de Susan uma moça que foi cruelmente assassinada, mas que renasce como Orquídea Negra, um híbrido de planta e humana; Os Livros da Magia, série em quadrinhos sobre Timothy Hunter, um adolescente que descobre estar destinado a ser o maior mago de todos os tempos. A propósito, existem algumas semelhanças entre este personagem e Harry Potter, da saga de J. K. Rowling; 1602, outra série que conta a história de uma realidade alternativa no anos de reinado da Rainha Elizabeth e, depois, do Rei James, tendo como personagens os heróis da Marvel; e Coraline, o primeiro livro voltado ao público infantil que conta a história de uma menina que descobre uma porta que a levará a um mundo parecido com o seu, mas que traz surpresas assustadoras. Coraline, inclusive, foi adaptado para o cinema em animação 3D em 2009.

E, agora, mais recentemente, estou lendo Belas Maldições – as belas e precisas previsões de Agnes Nutter, ficção fantasiosa de Neil Gaiman em parceria com Terry Pratchett, publicada em 1990, e que fala sobre o Apocalipse de uma forma divertida e genial. Segundo as previsões do livro da bruxa Agnes Nutter, o mundo vai acabar num sábado, antes do jantar. Dois seres sobrenaturais, o anjo Aziraphale e a serpente Crowley, tentam impedir que isso aconteça, pois gostam de viver na Terra usufruindo tudo o que ela proporciona.

Tomando como base as teorias sobre o fim dos tempos, mas distorcendo a seu modo, a história começa com a chegada do AntiCristo, a criatura responsável pelo Apocalipse que, ao completar 11 anos, deverá cumprir sua missão. Crowley é então encarregado de levar o AntiCristo na maternidade para ser trocado por outra criança que está para nascer no hospital dirigido por freiras satanistas. Uma destas, a irmã Maria Loquaz, faz a troca, mas com a mãe errada e a criança, que recebeu o nome de Adam, acaba sendo criada por outra família que não aquela vigiada pelas Trevas.

A confusão está armada, com Aziraphale e Crowley tentando saber o paradeiro do AntiCristo, a poucos dias de acontecer o Armagedon. Em meio a esse conflito, céu e inferno se preparam para o fim dos tempos, e entram em cena personagens como os quatro cavaleiros do Apocalipse (Morte, Guerra, Fome e Poluição, caracterizados de uma forma bastante interessante), o cão satânico, os amigos de Adam (Pimentinha, Brian e Wensleydale, que formam juntos o quarteto Eles), Anathema Device (bruxa descendente de Agnes Nutter), Newton Pulsifer (descendente do caçador de bruxas que capturou Agnes Nutter), alienígenas, americanos, habitantes de Atlântida, tibetanos e outras criaturas e seres sobrenaturais.

É uma trama deliciosa e apaixonante. E, com tantos personagens surgindo aqui e ali, é habitual voltar atrás para resgatar algum ponto que passou despercebido pela leitura afoita, por isso, ainda não cheguei ao fim do livro, mas falta pouco.

Dos personagens gosto do anjo Aziraphale, que é inteligente e colecionador de livros antigos, mas é Crowley quem proporciona as melhores ações, apesar destas serem voltadas para o mal. Se bem que é um mal menos mal, se é que isso é possível, pois ele gosta dos humanos e o que quer, na verdade, é se divertir. E depois, acredita que tudo o que faz não é nem um pouco daquilo que o próprio homem faz a si mesmo e a seu semelhante, como diz a passagem:

Ah, ele dera o melhor de si para infernizar as vidas deles, porque esse era seu trabalho, mas nada que ele pudesse pensar era metade do que eles pensavam por conta própria. Pareciam ter um talento para isso. Estava embutido no projeto de criação deles de algum modo. Nasceram num mundo que era contra eles em um milhão de coisinhas, e então dedicavam a maior parte de suas energias a torná-lo pior. Ao longo dos anos, Crowley achara cada vez mais difícil encontrar algo de demoníaco a fazer que se destacasse contra o pano de fundo natural da maldade generalizada. No decorrer do último milênio, houve momentos em que sentiu vontade de enviar uma mensagem lá para Baixo dizendo: escutem, que tal a gente desistir de tudo agora, e fechar Dis e o Pandemônio e todo o resto e nos mudarmos para cá? Não há nada que possamos fazer a eles que eles já não façam por conta própria, e eles fazem coisas que nós sequer pensamos, frequentemente envolvendo eletrodos. Eles têm o que não temos. Eles têm imaginação. E eletricidade, é claro.
Um deles havia escrito isso, não havia? “O Inferno é vazio, e todos os demônios estão aqui.”

Por tudo isso, Belas Maldições é um livro que se lê com prazer a mais, já pensando em retomá-lo quando acabar. Precisa dizer mais?

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Homenagem à Cecília Meireles

Em algumas datas especiais e marcantes, o Google presta homenagem a escritores, artistas, músicos e personalidades em geral, por meio de um Doodle, cujo significado real é um tipo de esboço de algum desenho. Hoje, 7 de novembro, o Doodle foi dedicado à Marie Curie, cientista e vencedora do Prêmio Nobel de Física por duas vezes, que completaria hoje 144 anos.

Nada mais justo. Marie Curie foi uma grande mulher e tenho admiração especial por ela. Mas, ao homenageá-la, o Google, pelo menos para mim, esqueceu dos 110 anos do nascimento de outra grande mulher: a jornalista e poetisa brasileira Cecília Meireles, que ainda foi pintora e professora.

Considerada como uma das mais importantes vozes líricas da literatura de língua portuguesa, Cecília Meireles foi também um dos grandes nomes da poesia brasileira no século passado. Além de ser uma belíssima mulher, deixou um vasto legado de textos e poemas para o nosso deleite.

Um exemplo é o poema “Retrato”, um dos meus preferidos, e que reproduzo abaixo, para, assim, homenagear Cecília.

Retrato

Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.

Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
- Em que espelho ficou perdida a minha face?

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Vem aí o II s@rau literário via twitter


Que boa notícia!

Depois do sucesso alcançado com o I s@rau literário via twitter, realizado em junho deste ano, e que contou com a participação de mais de 300 twitteiros de todo o Brasil, além de duas pessoas do exterior, está prestes a acontecer a segunda edição do evento virtual.

O II s@rau literário via twitter acontecerá em 15 de novembro, dia da Proclamação da República e feriado nacional, no horário das 19h às 21h. Nesse dia, basta postarem-se na frente do computador e tuitar, no microblog, suas criações literárias com até 140 caracteres. Ou ainda dar apenas RT que a participação já é garantida.

À frente do projeto estão Renan O. Pacheco ( @renanop ) e Daniele Freitas ( @Daniele_SF ), estudantes de Letras que têm se empenhado na difusão da Twitteratura, um novo meio de publicação literária na internet. A Twitteratura, inclusive, foi o tema escolhido pelos estudantes para a monografia do curso.

Participar do I S@rau foi uma experiência singular para mim e, é claro, já confirmei minha presença na segunda edição. Se quiser saber mais como foi o primeiro Sarau, acesse meus posts sobre o evento nos links http://migre.me/63iZa  http://migre.me/63iZU  http://migre.me/63j0n

E atente para as sugestões dos organizadores da segunda edição:

♣ Cuidado para não ser bloqueado durante o evento, há um limite de tweets por dia.

♣ Não publique textos de terceiros: nós queremos ler a sua obra (não precisa ser inédita);

♣ Não divulgue blogs, sites, ou similares durante o evento. Entenda isso como uma conversa durante uma declamação: não é o momento adequado para isso;

♣ Não publique outra coisa que não seja textos literários, RTs e comentários;

♣ Quanto aos RTs, sugerimos que usem a ferramenta do twitter para isso, e não da forma manual: "RT @renanrop..."

♣ Divulgue e participe, o cartaz acima pode ser publicado em qualquer blog, site, ou twitter, é só copiar a imagem. O s@rau é de todos os twitteiros que vivem a Literatura no Twitter dia a dia, e para aqueles que querem entrar nesse mundo;

♣ O mais importante: Não se esqueça da hashtag: #SarauBrasil

Mais informação acesse http://www.saraubrasil.blogspot.com/

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Ainda sobre Drummond

Aproveitando o Dia D #Drummond eu encomendei um pequeno livrinho do poeta para embalar minhas leituras neste final de ano. Trata-se de Receita de Ano Novo, uma antologia organizada por Pedro e Luis Maurício Drummond, que reuniram os melhores textos de Drummond sobre festas de fim de ano, Natal e expectativas positivas para o Ano Novo.

O livro era para ter chegado ontem, no Dia D, mas só hoje o tenho em mãos. Tudo bem, todo dia é dia de celebrar Drummond. Além disso, hoje minha amiga Vânia, enviou-me uma linda mensagem que, na verdade, ela queria postar no meu blog, como comentário, mas não conseguiu. Trata-se de uma impressão bem particular sobre o poeta, que teve o privilégio de conhecer de perto.

Para fazer jus, resolvi compartilhar o texto que ela me enviou e que acabou publicando no Grupo Avareté, no Facebook, para que todos possam deleitarem-se com ele também.

Eis:

Acho que só contei isso pra pouquíssimas pessoas...

Nasci e fui criada numa rua pertinho de onde morava o Carlos Drummond de Andrade. Não era raro eu vê-lo na padaria, nas calçadas, enfim, eu (humilde e simples mortal) compartilhando um espaço público com o grande e "imortal" poeta.

Nunca cheguei a falar com ele, pois era uma pessoa muito reservada, até tímido talvez, e eu achava que seria muita ousadia me dirigir aquele "gigante".

Mas, por diversas vezes, mesmo depois de adulta, brinquei de segui-lo sem que ele me visse. Ele não ia a lugar nenhum especial, nunca fez nada demais, mas eu adorava fazer essa "espionagem". Hoje sei que, de perto, ele era a criatura mais comum do mundo em suas andanças públicas, pelo menos.

Não se parecia nada com a grandeza de suas obras. Mas assim é que é o verdadeiro "grande homem", o autêntico "sábio": simples e não se acha melhor do que ninguém, apenas um homem como qualquer um, sem sombra de ostentação, arrogância e exibição. Foi essa a minha "lição" durante as "espionagens": quanto maior a pessoa, mais humilde parece...

O que acabo de contar agora no Avareté, embora seja uma lembrança muito valiosa pra mim, praticamente guardei só pra mim. Pensei que iriam me achar maluca de "sair seguindo um poeta, como uma verdadeira "espiã"...

Hoje tenho saudades dessas minhas inocentes "perseguições". Eram muito interessantes e divertidas, pois nunca peguei-o fazendo nada demais. Acho que esperava, nos meus delírios literários, que ele entrasse numa espécie de "Portal Secreto", onde, com certeza, encontraria um "biblioteca também secreta", ao estilo de "A Sombra do Vento", do Zafón... rsrsrs. Acho até que foi por isso que gostei tanto deste livro logo no começo. Loucuras da nossa vida...!!!