sexta-feira, 30 de outubro de 2009

A companhia ideal


Ele é como um irmão, um companheiro,
que nunca me deixa só.
Está sempre comigo, onde quer que eu vá.
Mesmo quando não me acompanha fisicamente, ele se faz
presente em outros ao meu redor.
Se estou curiosa, me ajuda a desvendar o mundo.
Quando estou alegre, ele me faz rir ainda mais.
Mas se estou triste, ele ampara minhas lágrimas.
Nas horas intranquilas, quando não estou disposta,
ele se cala e espera.
Se estou desatenta, ele embaralha meus pensamentos
e me faz refletir novamente.
Quando preciso de um mestre, ele se propõe a me ensinar.
Se quero ação, ele estimula minha mente a trabalhar.
Já quando quero sonhar, ele faz minha imaginação voar.
Se estou cansada, ele se oferece para ir embora
a fim de que eu possa repousar.
Mas se quero brincar, ele me desafia e se esconde de mim.
Quando estou carente, ele se deixa envolver pelos meus braços.
E se estou de coração aberto, ele me cobre de alegrias
e me emociona com suas histórias.
A sua voz pode parecer com a minha,
mas na maioria das vezes tem sonoridades diferentes.
Seu nome pode vir disfarçado de diversas formas,
dependendo da história que ele quer contar,
mas a sua essência é uma só.
Ele é meu repouso, meu parceiro, meu cúmplice.
Ele é o meu grande amigo, o LIVRO.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Para lembrar do livro


Pensava em começar este post de outra forma, mas como a vida não é estática (graças a Deus!), fatos novos vão se sucedendo e acabam direcionando nossos passos por outros caminhos.

Quem assistiu na terça-feira passada a historinha de vida contada no final da novela da Globo, das 20 horas, que na verdade é das 21 horas, sabe do que vou falar. Só fazendo um pequeno parênteses: sim, vez por outra eu assisto novela, principalmente quando estou em casa e quero descansar a cabeça de assuntos mais sérios, se bem que essa última anda meio fraquinha.

Pois é, finda a novela eu já estava pronta pra sair da sala e fazer outras coisas quando minha mente foi despertada por uma simples palavrinha na história daquele homem. E esta palavrinha não podia ser outra que não fosse LIVRO. Parei e resolvi prestar atenção.

O pedreiro Evando (é isso mesmo, eu conferi) dos Santos, hoje com 49 anos, só aprendeu a ler depois dos 18 anos, quando frequentou a escola dominical de uma igreja. A cartilha não era outra senão a Bíblia, livro este que muito o encantou. Mas a grande virada aconteceu quando foi consertar um vazamento em uma casa e, no caminho, passou por uma loja de peças que tinha 50 livros em cima do balcão. Ele então perguntou ao dono da loja se queria vender os livros e esse lhe disse que iria doá-los. Evando ficou com os livros e com eles resolveu abrir uma biblioteca em sua própria casa. Com o passar do tempo, ele foi adquirindo novos livros e a casa ficou abarrotada de tantas obras literárias. Nasceu assim a Biblioteca Comunitária Tobias Barreto de Meneses, na Vila da Penha, no Rio de Janeiro, que conta atualmente com 45 mil exemplares.

O que me chamou a atenção nessa história, além dela girar em torno do livro, é claro, é que veio bem a calhar nesta semana. É que hoje, 29 de outubro, é o Dia Nacional do Livro. A data foi escolhida por ser a do aniversário da fundação da Biblioteca Nacional, que nasceu com a transferência da Real Biblioteca portuguesa para o Brasil. Possui um acervo de 60 mil peças, entre livros, manuscritos, mapas, moedas e medalhas.

Ao lado dessa história bonita, há outra. Infelizmente não tão bela assim. Ainda nesta semana, me deparei com uma matéria na internet que me deixou indignada (http://www1.folha.uol.com.br/folha/educacao/ult305u643759.shtml). Após uma denúncia anônima, a polícia encontrou, em uma caçamba de lixo, ao lado de uma escola na cidade de Ribeirão Preto (SP), cerca de 1.500 cadernos de exercício do aluno, distribuídos pela rede estadual neste ano. Muitos estavam soltos, mas havia exemplares em embalagens fechadas. Os funcionários da escola não souberam como o material foi parar no lixo e a assessoria de imprensa da Secretaria de Estado da Educação negou que estes tenham jogado os livros no lixo.

Foram abertas investigações para apurar as responsabilidades e até a diretora da escola já foi afastada. No entanto, algumas considerações devem ser feitas sobre esse caso:

1º) O Governo do Estado não tem controle sobre o material que manda às escolas?
2º) São impressos mais materiais do que o necessário? Por que? Alguém está ganhando com isso?
3º) Os livros jogados eram excedentes? Por que então a direção da escola não devolveu os livros que sobraram?
4º) As escolas não dispõem de espaço físico para abrigar os livros que recebem?
5º) O material é de péssima qualidade?
6º) Os estudantes recebem o material? São orientados a utilizá-los? (consta quem muitos ficam guardados em casa, sem uso).
Bom, e por aí vai...

Queria terminar de uma forma mais bonita, mais poética, mas acabei indignada. O livro não merece este tratamento, nem na semana em que comemora o seu dia, nem em período nenhum do ano. Só espero que o exemplo do sr. Evando fique e seja um incentivo para que o livro e a leitura estejam mais presentes na vida dos brasileiros – e com muito respeito.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Mais um selinho


Com pouco mais de dois meses de existência, este blog já ganhou dois selinhos. Ambos enviados pela Carla Martins, do Leitura (mais que) Obrigatória, que neste mês completou seis meses no ar e com mais de 170 seguidores, uma marca considerável.

A boa acolhida, o visual e a qualidade dos posts que ela coloca no ar são, sem dúvida, os principais atrativos do blog, que tem rendido boas resenhas e indicações de leituras aos aficcionados por livros e literatura.

Por tudo isso, receber mais este selinho é um grande incentivo para mim que estou começando agora. Puxa, e já conto com 12 seguidores, quem diria... alguns até nem conheço pessoalmente. Bacana!

Bom, agora tenho de indicar 10 blogs para ganharem o selo, como o fiz da outra vez... Então aí estão mais dez que vi, gostei e passei a acompanhar:




terça-feira, 27 de outubro de 2009

Biblioteca escolar


A primeira biblioteca da qual tenho memória é a Biblioteca Adelpha Figueiredo, espaço público, que fica na zona leste de São Paulo. Eu a frequentei na época da escola e ia sempre lá quando precisava consultar livros e fazer pesquisas para atender às disciplinas da segunda metade do Ensino Fundamental (no meu caso 1º grau). Ela era a que ficava mais próxima da casa onde morava, no bairro do Pari.

Não me lembro se na minha escola havia uma biblioteca, talvez apenas uma sala para leitura, mas acho que não porque, com certeza, eu não iria esquecer. Assim, só vim a conhecer uma biblioteca escolar, propriamente dita, quando cheguei ao 2º grau (Ensino Médio) em um colégio de Indaiatuba, cidade para onde mudei junto com minha família no final dos anos de 1970.

Lembro que fiquei encantada com aquela biblioteca, nunca havia visto nada igual. O espaço era amplo e as quatro paredes estavam todas tomadas de estantes com livros e mais livros para serem descobertos e devorados, e ao redor algumas mesinhas espalhadas convidavam à leitura ou à tarefa de anotar as informações colhidas das enciclopédias.

O trabalho de descoberta dos livros era feito de duas maneiras: ou se aventurando pacientemente pelas prateleiras, olhando as lombadas, retirando as obras da estante e folheando suas páginas, ou então pedindo uma indicação à bibliotecária do local, uma senhora simpática, pequena, de cabelos curtos à lá Jaqueline Kennedy, e olhos um pouco estrábicos, uma profissional como poucas, consciente do seu papel e da sua responsabilidade como educadora. Suas sugestões eram sempre certeiras e ela parecia conhecer cada milímetro daquela biblioteca, cada livro que estava ali, porque era capaz de encontrá-los com uma rapidez incrível e de dar uma pequena explanação sobre a obra, o suficiente para aguçar a nossa curiosidade e fazer com que levássemos o livro.

Foi por causa, dela que aprendi a gostar ainda mais de ler, foi por causa dela que descobri o verdadeiro significado das bibliotecas, foi por causa dela que as leituras se tornaram mais prazerosas – porque sugeridas e comentadas – e foi por causa dela que passei a frequentar mais bibliotecas sejam públicas ou escolares, embora não tenha encontrado outras profissionais tão conhecedoras e apaixonadas pela profissão quanto ela.

Infelizmente nem toda escola dispõe de um espaço assim, às vezes apenas uma sala de leitura ou de um local onde simplesmente os livros são depositados, sem critérios, sem conhecimento. E o pior, conduzidos por pessoas que, apesar da boa vontade, não estão capacitadas para a tarefa. É lamentável.

Há pouco tempo soube que este é o mês consagrado à Biblioteca Escolar e que hoje, 27 de outubro, é o dia dela. Que os nossos educadores voltem mais o olhar para esse instrumento tão fundamental no estímulo da leitura no país, que conta com pouco mais de 52 mil bibliotecas escolares (segundo Censo de 2004), sendo que a maioria concentra-se nas áreas urbanas. Em contrapartida, o número de escolas sem bibliotecas quase que triplica aquele número.
Para reverter essa situação é necessário agir e inovar. Só assim poderemos chegar àquele ideal do filósofo Cícero, quando disse que “se temos uma biblioteca e um jardim temos tudo”.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Tributo a Wilson Simonal


Quando Wilson Simonal estava no auge da carreira eu era menina, então tenho vaga recordação da época, apesar de lembrar de muitas das músicas que ele cantava – e encantava. Simonal tinha um suingue contagiante e um estilo meio "pilantra" de cantar, no entanto, só vim conhecer melhor sua história ao ler Noites Tropicais, o livro de Nelson Motta, que fala sobre os bastidores da música brasileira, do final dos anos de 1950 até o início dos anos de 1990.

Adquiri esse livro, com direito a autógrafo e tudo o mais, na Bienal Internacional do Livro, em 2000, em São Paulo. O interessante é que li o livro depois de Chega de Saudade, de Ruy Castro, que conta a história e as histórias da Bossa Nova. Para mim são livros essenciais para quem deseja conhecer um pouco mais sobre a música brasileira, mesmo porque um complementa o outro.

Mas o legal da trajetória de Simonal é sua grande ascensão na MPB e depois sua saída de cena por causa de um grande mal-entendido durante os anos da ditadura militar. Uma das passagens do livro que mais me emocionaram – e que com certeza gostaria de ter estado lá para ver – foi quando Simonal, em pleno Maracanãzinho lotado, orquestrou o público fazendo-o cantar suas músicas com ele. É de arrepiar!

... E Simonal não decepcionou: muito pelo contrário, no Maracanãzinho, onde era esperado que somente fizesse as honras da casa e um showzinho de aquecimento da plateia para Sérgio Mendes, esquentou tanto o público que criou um imenso problema: não podia sair do palco. Depois de uma histórica performance, a maior de sua vida, Simonal tinha levado 20 mil pessoas ao delírio, cantando com ele, obedecendo alegremente a todos os seus comandos, se comportando como disciplinados coros de colégio, rindo de suas piadas, exigindo furiosamente que ele continuasse, continuasse sempre, mais-um! Mais-um! Mais-um, Simonal não conseguia (nem podia, nem queria) sair do palco...
... Sérgio Mendes entrava no palco com sua força máxima, seus músicos fabulosos, suas gatas com roupas ainda mais sexy, seu som internacional, seus hits planetários. Mas o público gritava furiosamente por Simonal! Simonal! Simonal!
Quando Sérgio tocava a sua versão de Sá Marina com Lani e Karen cantando em português, na segunda parte, de surpresa, Simonal voltou à cena, cantando com elas e provocando uma das maiores ovações da história do ginásio. Não havia dúvida: Simonal era o Sérgio Mendes brasileiro.

A lembrança dessa leitura foi reavivada em mim no sábado passado, no show Homenagem a Wilson Simonal, que seus filhos, Wilson Simoninha e Max de Castro, fizeram no Sesc Pinheiros. Simoninha tem uma bela voz, que muitas vezes lembra a do pai; Max também canta, mas é sua figura de músico que se destaca mais, além de ser uma graça, bem humorado e simpático (lembro de uma vez quando ele esteve se apresentando no Shopping Tatuapé e, ao final, ele saiu da corda de isolamento para atender a um pedido meu para uma foto).

No show do Sesc, os irmãos balançaram e emocionaram a plateia cantando músicas que foram sucesso na voz de Simonal: Ninguém sabe o duro que dei, Sá Marina, Zazueira, Meu limão, meu limoeiro, Mamãe passou açúcar em mim, Vesti azul, Tributo a Martin Luther King, entre outras.

Na saída, deparei-me com a recém-lançada biografia sobre o cantor, que chegou às livrarias um dia antes: Nem Vem que Não Tem - A Vida e o Veneno de Wilson Simonal, escrita pelo jornalista Ricardo Alexandre. O livro tem fotos raras e até documentos do DOPS, que esclarecem o fato que mudaria para sempre a vida e a carreira do artista (após mandar alguns funcionários do departamento baterem em seu contador, Simonal foi injustamente acusado de dedurar artistas que se envolviam na luta contra a ditadura). A biografia, ao que consta, foi lançada sem cortes ou interferência de familiares.

Não pude adquirir o livro na hora (buááá!), mas com certeza já está na minha lista de livros a comprar que, aliás, está crescendo a cada dia que passa.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Mulherzinha, sim!


Ela parece uma boneca, vestida com uma jaqueta de courvin mostarda e ampla saia de fundo azul marinho, com barrado na cor azul esverdeada, entremeada de flores em tons branco e rosê. Nos pés, que sustentam seus poucos mais de 1,50 m de altura e aproximadamente 50 quilos, sapatos bicolor azul marinho (ou será preto?) e branco, baixos. Completando o figurino, os cabelos castanhos escuros, cortados acima dos ombros, são penteados de lado. A voz é pausada e doce, quase uma melodia para os ouvidos, e as palavras que profere revelam a emoção, o amadurecimento e o bom humor dessa grande “mulherzinha” que é Fernanda Takai.

Ontem eu a vi, no auditório do Sesc Vila Mariana, no “Sempre um Papo”, onde encantou e emocionou a todos ao falar sobre literatura, música e criação. Na bagagem, além dos nove discos com o Pato Fu, do CD solo Onde Brilhem os Olhos Seus, com músicas que fizeram parte do repertório da cantora Nara Leão, e do DVD Luz Negra – Fernanda Takai ao vivo, o seu primeiro livro, Nunca Subestime uma Mulherzinha, publicado pela Panda Books.

– Escrever é algo que venho realizando há quatro anos e meio, desde que comecei a assinar, semanalmente, uma coluna nos jornais Correio Braziliense e O Estado de Minas – explica.

Ela contou que no princípio sentiu medo de não dar certo, mas com disciplina e exercício de regularidade a escrita passou a acontecer de forma natural. Teve início assim uma sucessão de contos e crônicas que tiveram boa acolhida na comunidade daqueles dois estados, até que veio a oportunidade de publicar o livro com uma seleção de textos escritos entre 2005/2007 e que retratam momentos de sua infância, da família, dos amigos, além de histórias cotidianas.

O título foi inspirado em uma fase pouco conhecida da vida de Clarice Lispector. Nas décadas de 1950 e 1960, ela escrevia para colunas femininas de periódicos famosos, utilizando pseudônimos, uma “sugestão” dos seus editores para que a grande escritora não tivesse seu nome vinculado a uma literatura de “mulherzinha”, já vista com preconceito.
– Eu me subestimava, como sempre nos fazem acreditar, mas as coisas foram acontecendo... os shows, os CDs do grupo e o solo e por fim o livro. Foi um período bom, em que disse SIM a várias coisas que diria NÃO quando era mais jovem – confessou Fernanda.

Mas o momento de maior emoção – na hora pensei para mim, mas depois da abertura das perguntas do público constatei que a maioria também sentira o mesmo –, foi quando ela falou sobre a maternidade: a fase mãe, a descoberta e o aprendizado com a filha, a sua disposição em promover qualidade de vida às pessoas ao seu redor.
– Percebi o quanto minha mãe era importante, não que eu não soubesse, mas vi isso com mais clareza.

Fernanda falou ainda das suas influências literárias na infância, como as histórias do Sítio do Picapau Amarelo, de Monteiro Lobato, e dos quadrinhos da Turma da Mônica, de Maurício de Souza, com os quais aprendeu a gostar de ler.

Já na fase adulta, depois dos livros obrigatórios da escola e da faculdade, quando então perdeu um pouco o prazer da leitura, voltou a se apaixonar por ela com Saramago, Cecília Meirelles, Stephen King e Stella Florence, esta escritora por sinal estava com a filha, sentadas ao meu lado, prestigiando o Sempre um Papo da amiga Fernanda.
– Hoje, se não estou com um livro na mão acho que estou perdendo tempo, deixando de alimentar o meu cérebro.

Quando o bate papo terminou, apressei o passo para me juntar à fila que já estava se formando para o autógrafo. Na mão, eu levava o CD solo com as músicas de Nara, que trouxe de casa e que por sinal é muito bom, e o livro, adquirido ali mesmo, mas que ainda não li, é claro. Pelo pouco que folheei e vi no metrô, na volta para casa, acho que vou apreciar muito essa leitura.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Os livros que não li


Ler um livro é sempre um prazer, uma viagem pelos recantos mais escondidos da nossa imaginação, uma grande descoberta de novas emoções... Mas também pode ser um tremendo desafio, uma "baita" dor de cabeça e uma enorme frustração, sobretudo se a leitura não flui como gostaríamos.

Não costumo abandonar os livros que começo a ler, ainda mais se eles me foram sugeridos por alguém, se sei da sua importância ou se o meu interesse por eles foi aguçado por alguma crítica literária. No entanto, lembro de alguns que não consegui passar das 30 páginas iniciais.

O mais recente deles foi Radical Chique e o Novo Jornalismo, de Tom Wolfe, livro que reúne alguns dos seus principais artigos e reportagens publicados nas décadas de 1960 e de 1970. E uma das leituras indicadas no curso de Jornalismo Literário.

A bem da verdade, eu deveria ter insistido mais na leitura, porque me limitei apenas na primeira parte do livro, na qual Wolfe narra as origens e o impacto da chegada da sua geração nas redações americanas, que passou a empregar técnicas da literatura para fazer reportagens mais completas, da vida real.
Era interessante, mas a leitura não avançava. E digo que deveria ter sido mais perseverante porque a segunda parte do livro apresenta três textos clássicos do gênero, escritos por Wolfe, jornalista e escritor conhecido por utilizar onomatopéias e mudanças quanto ao narrador durante o texto. Mas não houve jeito e então pensei:
– Puxa, estou aqui, empatada com este livro, quando na verdade poderia ocupar este tempo lendo o que realmente gosto e quero.

Abandonei a leitura, não sem culpa, mas só fiquei mais tranquila quando soube que mais três colegas do curso de JL também não conseguiram ir adiante. Todas falaram a mesma coisa: a leitura não fluía e acabaram deixando, como eu, o livro sem terminar.

Este episódio me fez lembrar de outros livros que comecei e parei de ler, como O Nome da Rosa, de Umberto Eco, que não passei das dez páginas iniciais. E olha que também nem vi o filme, apesar de muitas pessoas terem me dito ser bem interessante. Acho que não me fisgou.

Outro livro foi Os Cus de Judas, de Antonio Lobo Antunes. Este avancei um pouco mais, mas talvez pela linguagem ser o português de Portugal, achei-o cansativo e difícil, embora quando me debruçava pra valer sentia o texto como uma verdadeira obra de arte. É uma pena. Conheci Lobo Antunes na Flip deste ano e fiquei fascinada com sua figura, sua maneira de se expressar, sua visão do mundo da literatura. Sempre é tempo, existem outros livros dele que tentarei ler mais para frente.

Ah, e por fim, lembro de O Castelo, de Franz Kafka, que li mais da metade, mas acabei abandonando-o, dada a complexidade da narrativa, pelo menos para mim. Talvez aquele não tenha sido o momento certo para lê-lo, o que significa que posso tentar novamente, quem sabe...

Seja como for, não somos obrigados a ler tudo o que existe e que nos sugerem, nem daria, a vida é muito curta para isso. E, sendo assim, quero ler realmente aquilo que me interessa, não importa o que digam os críticos. Mas, pensando bem, talvez um dia, depois que eu ler boa parte do que quero, eu volte meus olhos para aqueles livros que não terminei. Não sei... sempre haverá o que ler e, pelo visto, aqueles livros permanecerão fechados, encerrados nas prateleiras das estantes das bibliotecas, esquecidos e terminantemente não lidos por mim.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Na aula de yoga

Ao encerrar a prática de yoga, que semanalmente faço, sentei-me com as pernas cruzadas, uni as mãos em prece, fechei os olhos e me preparei para ouvir a professora dizer:
– Que todos tenham paz, que todos tenham saúde. Que todos tenham paz e que todos sejam muito felizes. Namastê!
– Namastê!
– devemos responder.

Hoje, no entanto, antes de terminar a aula com a frase, ela leu um pequeno trecho do livro
365 dias – Frases para Mulheres, de Daisaku Ikeda, filósofo, escritor, fotógrafo, poeta e líder budista japonês (ufa!). O texto trazia uma reflexão sobre a busca da felicidade e a paz de espírito.

Não sou muito chegada em livros de autoajuda, mas ali, em meio ao ambiente calmo e meditativo, estabelecido após a prática de posturas que ainda tenho certa dificuldade em fazer, a mensagem foi bastante propícia e um deleite para os meus ouvidos.

Depois, pelo pouco que folheei do livro, pude ver que se tratava de uma coletânea de frases sobre questões universais como felicidade, amor, namoro, casamento, família, trabalho e relacionamento humano.

Para quem gosta do gênero, fica aqui a dica.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Cercada de livros


Sexta à noite e sábado passei o tempo fazendo aquilo que mais gosto de fazer: olhando, lendo, pensando (em), sonhando (com) e falando de livros. Também pudera, a aula do curso de JL era sobre Livro-reportagem e, claro, o assunto não poderia ter sido outro.

Pra começar, o professor fez uma rodada com os alunos para saber quais livros-reportagem cada um tinha lido e sugeriu que falássemos um pouco a respeito deles. Foi bem interessante, porque ao invés daqueles livros clássicos, mais conhecidos do gênero, como Rota 66, de Caco Barcellos, ou Chatô – O Rei do Brasil, de Fernando Morais (se bem que também foram lembrados), o pessoal mencionou uma bibliografia bastante diversificada, incomum e interessante.

Dentre os livros citados, os títulos que mais me chamaram a atenção foram Viúvas da terra: morte e impunidade nos rincões do Brasil e O nome da morte, ambos do jornalista Klester Cavalcanti. O primeiro, que lhe rendeu o prêmio Jabuti de 2005 na categoria livro-reportagem e biografia, narra as dificuldades das viúvas que tiveram seus maridos mortos pela violência do campo. Klester entrevistou mais de 70 pessoas durante cinco anos de pesquisa sobre o tema.
Já o segundo, é uma biografia do matador de aluguel Júlio Santana. Entre pesquisas e entrevistas, o jornalista passou sete anos trabalhando no livro.

As duas obras foram mencionadas pela Carol, jornalista curitibana recém-formada que, embora jovem, tem um respeitável currículo de livros lidos. Fico imaginando como ela conseguiu – e consegue – com tão pouca idade, acumular um repertório em literatura e de conhecimentos na área. Junto com Lilo, seu namorado, e também nosso colega na pós, ela fez um livro-reportagem para o TCC da graduação. O material foi recolhido na viagem de um mês que fizeram pelo interior do Estado do Paraná, onde descobriram cidades e personagens extraordinários. Fico na expectativa pela publicação do livro.

Mas teve uma outra obra que também me interessou, embora talvez nem seja um livro-reportagem, mas bem que poderia ser. A lembrança partiu da Rita, que admitiu nunca ter lido um livro-reportagem, por ser da área de Letras, mas daqueles que lera o que mais se aproximava disso era Machado de Assis: um gênio brasileiro, do jornalista Daniel Piza.

O livro, na verdade, é um biografia que traz uma nova abordagem da vida, da morte, da obra e, sobretudo, do cotidiano de Machado de Assis. O autor se insere na narrativa e a faz conforme no estilo machadiano.

Em outra parte da aula, o professor distribuiu livros-reportagens (TCCs de alunos, alguns já como obras publicados) para avaliarmos como os autores fizeram a abertura do livro. A mim coube o texto da jornalista Sueli de Souza, Histórias do Mercado, no qual ela fala sobre o Mercado Municipal de São Paulo, sua construção, arquitetura, ruas que o circundam, personagens e a vida que pulsa no seu interior. Achei-o tão interessante que até o pedi emprestado ao professor para lê-lo por completo.

Terminada a aula, corri para o Centro de Eventos São Luís, próximo da Paulista, onde estava acontecendo a 16ª Festa Comix, já que no domingo não poderia ir. Entre estandes das editoras, box com miniaturas de personagens de filmes, animações e HQs, aficcionados por quadrinhos e cosplayers de super-heróis, fiquei extasiada com a quantidade de títulos ofertados com descontos tentadores.
Para não sair em branco, comprei Os Leões de Bagdá, de Brian K. Vaughan (roteiro) e Niko Henrichon (arte), publicado pela Panini. A obra trata-se de uma grande metáfora. Quatro leões anseiam por liberdade, mas não têm capacidade de escapar do zoológico e só conseguem fazê-lo quando um bombardeio norte-americano ataca a cidade, no caso Bagdá, no Iraque. E em meio à devastação causada pela guerra, os animais descobrem que existe um alto preço a pagar pela liberdade. Foi inspirado em uma história real.

Agora me encontro rodeada de livros... É tão bom! Só preciso deixar a mente aberta e o coração puro para então me entregar de vez à leitura desses fascinantes livros.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

A falta que ela me faz

Não, eu não vou falar do livro de crônicas de Fernando Sabino, A falta que ela me faz, e que por sinal eu não li. O texto é outro, mas o título peguei emprestado por se encaixar perfeitamente na história que quero contar. Então, vamos a ela:

Para uma pessoa nascida na década de 1930 e que estudou até o quarto ano primário (ops!), quer dizer, até a quarta série do Ensino Fundamental, ela tinha uma caligrafia bonita, em comparação com os muitos garranchos que se vê por aí. Também, pudera, naquela época, e em muitas décadas seguintes, ter uma boa caligrafia era requisito indispensável para se conseguir um bom emprego. Hoje, com o crescente uso da Internet, isso já não tem muita importância e acredito que até as escolas, com exceção de algumas, já nem tenham mais no currículo a matéria Caligrafia. É uma pena.

Mas a letra bonita dela acabou sendo utilizada para outros fins, sobretudo para registrar as inúmeras receitas de bolos e tortas que habilmente fazia para satisfazer seus familiares. Isto porque a cozinha era o território que ela melhor dominava e não sem razão: quarta filha de uma família de sete irmãos, ela fora escalada para esse trabalho de casa desde menina, o qual desempenhava com perfeição.

Um de seus passatempos prediletos, quando moça, era dançar. Podia ser bolero, tango ou foxtrot, não importava, dançar lhe dava prazer, principalmente se a música era de um de seus cantores preferidos. Foi com ela que ouvi, pela primeira vez, Altemar Dutra, Orlando Silva, Gregório Barrios, Vicente Celestino, enfim, essa turma que ficou em um passado distante, mas que me soam tão familiares que me pego gostando.

Ela chegou a trabalhar fora, mas foi por pouco tempo. Com poucos recursos e família grande, ela não pôde continuar os estudos, mas isso não a impediu de se casar com um homem mais culto, com o qual teve três filhos. O primeiro, contudo, ela perdeu ao nascer, e só conseguiu ter sua primeira filha dois anos depois, batizada com o nome de Inês. Um ano e meio mais tarde veio a segunda: Cecilia.

Os nomes foram dados pelo marido, mas por uma dessas coincidências da vida, ela lembrou-se que, anos antes, ainda solteira, uma de suas amigas tinha uma filha de nome Cecília, que gostava muito dela.
– Quando tiver uma filha, ela se chamará Cecilia – prometeu à menina.
O tempo passou, ela esqueceu o assunto. Nem sequer havia comentado com o marido. Mas o destino acabou cumprindo a promessa, fazendo-a recordar daquele antigo trato.

Não me lembro dela lendo, a não ser orações ou as famosas receitas, mas um dia ela me surpreendeu ao perguntar, quando me viu com um livro na mão:
– Que livro é esse?
– Amor de Perdição – respondi. – De Camilo Castelo Branco.
– Eu conheço essa história. Eu a vi no cinema.
– No cinema?
– É, foi feito um filme deste livro. Faz tempo, mas ainda lembro da cena em que Teresa acena para Simão do convento.
Fiquei enternecida. Ela pode não ter lido o livro, mas sabia da história e, de certa forma, pudemos compartilhá-la juntas. Amor de Perdição gira em torno de Simão Botelho e Teresa de Albuquerque, membros de família rivais da cidade de Viseu, em Portugal. Eles se apaixonam e vivem um amor impossível, à lá Romeu e Julieta, de Shakespeare.

Uma vez ela se aventurou pelo artesanato e fez diversos trabalhos bonitos, como pintura em cerâmica e em telas, casarios, vitrais. Alguns ela vendeu, outros presenteou parentes e amigos, uns poucos encontram-se eternizados nas paredes da sala da minha casa.

Em outra ocasião ela me contou de um sonho que tivera na noite anterior. Havia sonhado que fora a Barretos, cidade do interior de São Paulo em que passou boa parte da sua infância. Disse que voltara lá, já adulta, e que passeara pelas ruas tão conhecidas e familiares.
– Vi a minha casa, o caminho que fazia para chegar à escola, à igreja e a praça central. Ali avistei a loja do fotógrafo da cidade.
Lembrei-me que certa vez, ela me contara que por ocasião da primeira comunhão, tinha ido ao fotógrafo fazer uma foto, mas como não tinha recursos, acabou não ficando com o retrato.
– Meu pai, toda vez que passava por lá, pedia para ver a foto, de tão bonita que ficara – disse ela interrompendo a narrativa.
– Mas e aí, no sonho, o que aconteceu? – indaguei. – Ah, fiquei ansiosa para entrar e perguntar se a foto ainda estava guardada nos arquivos. Mas quando coloquei os pés no local, acordei – falou desapontada.

Essa era uma dúvida que ela carregava, se ainda conseguiria encontrar sua fotografia da primeira comunhão. Eu nunca entendi porque ela não voltou a Barretos para saber, já que viajar e conhecer lugares era uma de suas grandes paixões. A última, por sinal, foi quando viajamos juntas e mais duas de suas irmãs mais novas para Porto Alegre (RS), onde mora a irmã mais velha que ela não via há cinco anos. Foi um reencontro marcante de quatro irmãs, acho que mais uma despedida. Três meses depois ela partiu, hoje há exatos dois anos.

A vida é surpreendente, mas às vezes acompanhadas de vicissitudes. O que vale mesmo são os momentos compartilhados com as pessoas queridas, como ela, a D. Nair, minha mãe.


* Na foto acima as quatro irmãs reunidas (minha mãe é a primeira à esquerda, seguida das tias Irene, Terezinha e Cida). As duas últimas da direita são minhas primas, Luci e Juli).

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Aos mestres com carinho


A data eu não me lembro ao certo, acho que deve ter sido em algum mês do ano passado, mas o fato é que navegando pela comunidade do GEP (Ginásio Estadual do Pari, escola em que cursei o 1º grau - hoje Ensino Fundamental), no Orkut, encontrei Edméa, a irmã da minha professora de Educação Física daquela época, a Ednéia. Com quase o mesmo nome da irmã, a Edméa, na verdade, chegou a dar aulas também de Educação Física à minha turma, como professora substituta.

Hoje, Dia do Professor, passei pela página do seu perfil e deixei um recadinho de felicitações. Afinal, em certo período das nossas vidas estivemos juntas e esse contato, ainda que breve, deixaram boas lembranças, assim como a convivência com outros professores, nos vários anos escolares, ficaram em mim.

Dona Nancy (sim, naquela época chamávamos as professoras de donas, não de tias) foi a primeira, aquela que me ensinou a ler e a escrever. Depois vieram a Dona Diná (com ela aprimorei a minha leitura de textos e lembro, com saudades, do quanto gostava quando ela me chamava para ler), a Dona Leda e a Dona Rosa, todas do antigo primário.

Já na quinta série, de escola nova (na verdade foi apenas uma transferência de prédio, que dividiu a escola em Orestes Guimarães e GEP), o professor de Português, “seo” Américo, nos fez entrar em contato com as leituras obrigatórias. Foi dele a indicação para ler A Moreninha, de Joaquim Manuel de Macedo, que por aquela época fora adaptado para o cinema, tendo como estrela Sonia Braga. E, é claro, que eu e minha amiga Celinha fizemos fila para assistir.

Também de Português (por que será que é esta a disciplina que tenho mais lembranças?), mas no 2º grau (ou Ensino Médio), lembro que Dona Rose era muito brava e rigorosa, mas sem dúvida foi com ela que aprendi a gostar ainda mais da nossa língua. Suas aulas eram magníficas e não se limitavam apenas às regras gramaticais e tempos verbais, mas eram entremeadas de atividades voltadas ao desenvolvimento da nossa criatividade. E foi com ela que conheci Fogo Morto, de José Lins do Rego, o livro que me transportou de vez para o mundo da literatura.

Da faculdade de Jornalismo, da Puccamp, tenho lembrança da Regina Márcia, professora de Antropologia Cultural, aula que me fascinava por conhecer os costumes, a cultura e a vida de outros povos: – Etnias! Não raças – fazia ela questão de ressaltar.

Boccato, professor de Fotografia, era o tipo de mestre que fazia você se sentir à vontade de imediato, de tanta descontração que suas aulas nos proporcionavam. Outra disciplina bastante concorrida era a de Rádio, e isto sem dúvida se devia ao professor Lamanna, um entusiástico e grande especialista desse meio de comunicação.
Me recordo ainda do professor João Batista, de Filosofia da Comunicação, cujas aulas de teatro me fizeram representar o papel de um cadáver (sim, cadáver!), mas não um qualquer. Era um personagem de Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto. Meu grupo tinha de encenar uma peça sobre o Teatro Pobre, aquele em que os próprios atores se fazem de cenário, utilizando seus corpos e braços. Magérrima, na época (ainda sou um pouco), era a mais fácil de ser carregada, daí o papel de cadáver (ridículo, não?).

Na Pós em Jornalismo Internacional, na Pucsp, professores como Lúcio Flávio, de Ideologias e Movimentos Sociais, abriram meus olhos a um novo mundo. Bairrista, como era, percebi a importância das relações com as outras nações e o quão fascinante suas histórias podem ser. O livro México em Transe, de Igor Fuser, uma das leituras recomendadas da disciplina, foi decisivo para isso, por me deixar estarrecida, fazendo aflorar mais uma vez aquela sonhadora revolucionária dos tempos da Faculdade.

E, mais recentemente, com os professores Edvaldo, Sergio e Celso (este que foi meu colega de classe na Puccamp e se formou em Jornalismo comigo, hoje é meu mestre no curso da Pós em Jornalismo Literário), estou descobrindo novas possibilidades na profissão que escolhi e abracei com paixão.

A todos eles o meu respeito e o meu carinho. Obrigada por alargarem meus horizontes, por me orientarem e por serem meus companheiros de ontem, de hoje e de sempre.
Feliz Dia dos Professores!
* A foto acima foi tirada em 1971. São os professores do GEP. Nem todos lembro o nome, só de alguns: Rose, Vivina, Tomires, Liura, Américo, Nazima.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Ganhei um selinho


Ganhei este selinho da Carla Martins, do blog leituramaisqueobrigatoria.blogspot.com/ .
Eu conheci o blog dela “xeretando” outros blogs sobre livros e literatura na Internet.
Gostei muito do que vi e decidi enviar um comentário, descobrimos depois que somos parcerias de profissão e acabamos adicionando uma a outra, cada qual nos blogs favoritos.
Nas visitas diárias que faço ao seu blog, sempre vejo lindos selinhos nas postagens, e ficava imaginando como é que se conseguia um deles, até que a semana passada ela postou este que está acima e indicou meu blog nele.
Minha tarefa agora? Só preciso indicá-lo para 10 blogs.
Então aí vai:

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Em defesa dos animais


Quando eu era criança, um de meus passeios prediletos era ir a circos e me entreter com os espetáculos que eles promoviam. Ficava fascinada, por exemplo, com as acrobacias dos equilibristas, malabaristas e contorcionistas; morria de rir com as estripulias dos palhaços; e quase parava de respirar na apresentação do motociclista, que dava inúmeras piruetas no globo da morte.

O show dos mágicos era um acontecimento à parte, que me envolvia do início ao fim, fazendo meus olhos ficarem bem abertos para não perder nenhum detalhe. Esperava, assim, descobrir qual era o truque utilizado, mas é claro que nunca acertei.

O grande momento, no entanto, era a entrada dos animais no picadeiro, e a demonstração de obediência desses ao simples comando do domador. Além disso, era uma oportunidade rara de ver e conhecer mais de perto esses bichos.

Com o passar do tempo, porém, todo esse encantamento começou a ruir. Descobri os maus tratos a que eram submetidos os animais e fiquei bastante indignada. Sofri muito, pois pensava que ao prestigiar aqueles espetáculos eu, de certa forma, fora conivente com a situação, mesmo sem saber o que acontecia por detrás da lona.

O fascínio então acabou e só voltei a respirar mais aliviada com a criação de uma lei que impede a exibição de animais no circo.

Esta minha pequena história voltou à cena neste final de semana, ao vê-la repetida em um pequeno livro infanto-juvenil, intitulado O Valente Domador, lançado este ano pela Editora Scipione. E, é claro, não pude conter a emoção.

Com belíssimas ilustrações de Simone Matias, que por sinal é minha amiga, a obra é de autoria do educador César Obeid, que trabalha com literatura de cordel. Um pequeno currículo do autor, encontrado no final do livro, conta a experiência dele com circos, bastante semelhante com a minha. A identificação foi rápida e me apaixonei pelo livro.

A história gira em torno de um valente domador que, ao simples estalo do seu chicote, fazia macacos, leões, ursos e elefantes obedecerem suas ordens. Quando chegou a lei proibindo os maus tratos de animais no circo, ele ficou sem chão, e então teve de aprender uma nova forma de encarar a vida e os animais.

Nesta semana em que comemoramos o Dia das Crianças, o livro me pareceu bastante providencial. Uma leitura que vale a pena, seja você criança ou não.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

A vida que surpreende


– O objeto livro está em extinção?
– Não, e lhe digo por quê: a leitura é uma das raras experiências humanas em que dois estranhos se encontram numa situação de suposta intimidade. E é por isso que ainda descobrimos um pouco de humanidade nesse tipo de experiência. É insubstituível. Trata-se de um importante elemento para estar vivo; abrigo um para o outro, num nível profundo e aberto.

Este diálogo foi reproduzido do livro Perfis e como escrevê-los, de Sergio Vilas Boas, jornalista, escritor e também meu professor no curso de Jornalismo Literário. Eu o citei no post de ontem, mas achei que merecia um post exclusivo hoje.

O diálogo acima aconteceu entre Sergio e Paul Auster, escritor norteamericano, autor de Triologia de Nova York, e foi para mim um belo achado. Não é que eu não goste da modernidade, mas saber que um objeto tão antigo, tão amigo, tão íntimo possa subsistir em meio à avalanche tecnológica dos dias de hoje, é algo fabuloso.

Em Perfis, Sergio procurou retratar 12 personagens, cuja semelhança está no fato de serem todos escritores, alguns mais conhecidos, outros nem tanto, mas com histórias e características capazes de suplantar os famosos.

É o caso de Sérgio Sant´Anna, escritor carioca, que tem a obra e a vida centradas nas preocupações estéticas, filosóficas e linguísticas. Autor da novela A senhorita Simpson, que serviu de base para o filme Bossa Nova, de Bruno Barreto, e do livro de contos O concerto de João Gilberto no Rio de Janeiro, entre outros, Sérgio Sant´Anna passava por um momento delicado quando Vilas Boas fez seu perfil. O texto está repleto de dúvidas existenciais, questionamentos sobre a vida e crises literárias que me tocaram bastante, como nesta passagem:

Só quem sofreu ou sofre a tormenta da lacuna – o papel branco ou a tela apagada diante de si, situações imponderáveis –, pode compreender por que um artista, privado de inspiração se sente tão ameaçado. É quase um ameaça de morte. Sérgio atravessou várias crises criativas na vida, mas esta agora tem sido de lascar. Reconhecemos que nosso encontro não ocorreu no melhor momento, mas ocorreu.

Outro perfil que me fascinou, pela emoção, foi o da Lya Luft, escritora gaúcha, autora do livro Perdas e Ganhos, entre outros. Seu poema O lado fatal, escrito quando da morte do psicanalista mineiro Hélio Pellegrino, com o qual viveu um romance por três anos, depois da separação do seu primeiro marido, o professor Celso Luft, é uma dessas jóias que fazem a gente pensar como alguém consegue exprimir, em tão poucas linhas e de maneira tão bela, as vicissitudes e as armadilhas da vida. Eis um trecho:


Nesta minha peculiar viuvez
sem atestado nem documentos,
apenas com duas alianças de pesada prata
e no peito um coração de chumbo,
instalo ao meu redor objetos que foram dele:
a escova de dentes junto da minha na pia,
o creme de barbear entre os meus perfumes,
e com minhas roupas nos cabides
a camisa dele de que eu mais gostava.
Na gaveta, vidros com os remédios
que o preservaram para o nosso breve tempo.
(Finjo a minha vida como ele finge a sua morte)

Só mesmo um escritor que se deixa envolver e imergir na história do outro é capaz de traduzir, em palavras, as belezas e as mazelas do ser humano.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

A arte de escrever cartas


Quando eu era adolescente minha família mudou da capital paulista para Indaiatuba, cidade do interior de São Paulo, perto de Campinas. Na época, foi um grande choque para mim. Adorava Sampa, tinha vários amigos na escola que estudava e participava do movimento mariano na igreja de Santo Antonio do Pari. Chorei a viagem inteira e custei a me refazer na nova cidade e casa.

Para amenizar a saudade, comecei a escrever cartas, uma correspondência intensa imposta aos vários amigos que havia deixado em São Paulo e, que durou cerca de três anos. Mês a mês escrevia e recebia cartas. Era muito bom. E de certa forma elas continham um pouco da minha história, da história dos meus amigos, da história da nossa época.

Anos se passaram e eu me “acostumei” na nova cidade, fiz novos amigos, mas nunca deixei de lembrar dos “velhos” companheiros de São Paulo. Alguns eu mantenho contato até hoje, outros perdi pela passagem do tempo. São coisas da vida.

As cartas também se foram nos diversos caminhos das mudanças, com exceção de uma ou outra que guardei comigo. É uma pena. Como é uma pena que arte de escrever cartas tenha deixado de ter importância depois que o telefone se popularizou e, mais recentemente, com a chegada da Internet. Esta, sem dúvida, facilitou a comunicação interpessoal, mas deixou a desejar na profundidade em razão das mensagens e recados rápidos e sintéticos, repletos de abreviaturas, e da linguagem própria. O pior é que muitos são descartáveis e acabam “deletados” do nosso universo cibernético.

Às vezes as mensagens contidas em uma carta também podem ser colocadas num e-mail. Mas receber carta traz uma emoção completamente diferente daquela sentida ao receber um e-mail. O prazer de se chegar em casa e ver uma cartinha lhe esperando, a letra no envelope e as palavras escritas em cada folha, trazendo um pouco da pessoa que as enviou, ainda é algo difícil de ser reproduzido eletronicamente.

No livro Perfis e como escrevê-los, de Sérgio Vilas Boas, que acabo de ler, essa questão veio à baila quando o autor entrevistou Cristóvão Tezza, um dos escritores retratados por ele em sua obra:

– Como você difere uma carta tradicional de um e-mail?
– O e-mail tem a rapidez e a superficialidade de um telefonema, enquanto as cartas trazem um conteúdo peculiar. Elas podem desvendar a identidade tanto do remetente quanto do destinatário. O remetente exprime sua visão de mundo, sua autoimagem (pelo menos o que quer ser ou gostaria de ter sido), e o grau de intimidade entre ambos determina a linguagem utilizada.
– De fato, nos e-mails a noção de tratamento parece nos escapar.
– Ele permite uma superintimidade súbita entre pessoas essencialmente diferentes.

Pensando nessa coisa de escrever cartas, tenho uma amiga, a Gil, que está na contramão dessa história. Ela simplesmente adora escrever cartas e vira e mexe manda uma cartinha para os amigos que estão longe e mesmo os que estão perto. Com uma caligrafia bonita e caprichada, aprendida em um curso que fez sobre a arte, ela envia mensagens, historinhas e notícias recheadas de recortes e delicadezas em cartas de papel. Eu mesma já recebi várias, cada uma mais bonita do que a outra.

A tecnologia é indispensável, facilita nossas vidas e aproxima as pessoas – ainda que superficialmente –, mas não podemos deixar de lado práticas antigas que nos dão prazer e que alcançam os lugares mais profundos do nosso coração. E escrever cartas é, com certeza, uma delas.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Sobre um homem chamado Alfredo


Ele gostava de música clássica, seus livros favoritos eram sobre filosofia e religião, encarava o trabalho com seriedade, tinha por hobby o futebol – não como jogador (se bem que quando jovem chegou a jogar por lazer), mas como torcedor – e passava a maior parte do seu tempo livre com a família.

Sempre que lembro do meu pai essas imagens me vêem a cabeça, a de um homem culto, responsável, cumpridor dos seus deveres, brincalhão, às vezes bravo, mas extremamente amoroso. Ele se foi há exatamente 17 anos e ainda hoje sinto a sua falta, mas com a certeza de ter tido o privilégio de conviver ao seu lado por mais de 30 anos.

As recordações que mais tenho dele são da infância, das brincadeiras, dos passeios ao zoológico, ao circo, ao cinema, ao teatro, ao estádio de futebol... Sim, meu pai levava eu e minha irmã para assistir jogos, ainda mais se estes fossem do Palmeiras, seu time do coração. Com meu pai aprendi a ser palmeirense, a gostar de futebol, a acompanhar partidas, a assistir as transmissões de jogos pela televisão e a se divertir com os debates e as brigas dos comentaristas nos programas esportivos. Mais tarde, já adulta, lembro de nós dois acompanhando as corridas de Fórmula 1, nas manhãs de domingo, quando ainda estavam em evidência Emerson Fittipaldi e depois Nelson Piquet.

Também das manhãs de domingo, mas as da minha infância, recordo quando íamos – ele, minha mãe, minha irmã e eu – à missa das crianças na Paróquia de Santo Antonio do Pari, com direito a participar da distribuição de doces ao final da cerimônia. Dali seguíamos para casa, não sem antes parar na banca de jornal para conferir as últimas novidades, comprar os matutinos e algumas revistas infantis, como a Recreio, minha favorita, na época.

Meu pai era um colecionador nato. Tudo o que aparecia de novo no jornaleiro ele comprava. Foi assim que eu e minha irmã ganhamos a coleção dos clássicos infantis, com uma revistinha, acompanhada de um disquinho (vinil) que narrava a história de Mogli o menino lobo, Os três porquinhos, Pedro e o lobo, Branca de neve e A bela adormecida, entre outros. E ainda uma coleção de Ciências, com fascículos sobre os principais cientistas e descobridores, acompanhados de uma caixa repleta de materiais, como microscópio e equipamentos para experiências científicas. Além destes, uma outra coleção sobre Os Pensadores, aqueles magníficos filósofos que se embrenharam na tarefa de compreender e explicar o mundo em que vivemos.

Para acomodar todos esses livros e coleções, acrescidos mais à frente com a enciclopédia Barsa (toda família que se prezasse na década de 1970 tinha de ter uma, hoje com a Internet isso é impensável), tínhamos uma bela estante em nossa sala. Ela nos acompanhou durante muitos anos, mas, por circunstâncias das várias mudanças de casa, inclusive de cidades, tivemos de nos desfazer de boa parte dela, mesmo porque alguns livros começaram a ficar defasados.

Hoje, pouca coisa restou daquela nossa biblioteca. Eu cresci, estudei, me formei, comecei a atuar como jornalista. Comprei meus livros e construi uma nova biblioteca no meu guarda-roupa. Do meu pai guardei apenas dois livros de Os Pensadores e mais dois bem pessoais e bastante antigos: Pais de Sacerdotes e um outro sobre o estudo da língua grega. Destes eu não quis abrir mão, acho que eles sintetizam um pouco parte daquilo que ele foi e gostava. E essas coisas são difíceis de se desfazer, mesmo porque, no íntimo, eu não quero.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Apesar de você


Por falar nas várias interpretações literárias, lembrei-me de uma outra, mas relativa à letra de música, principalmente por tê-la ouvido no final de semana.

Quando li, tempos atrás, Chico Buarque (Série Perfis do Rio, da Relume Dumará Editora), de autoria da jornalista Regina Zappa, uma passagem, em especial, me chamou bastante atenção: segundo a jornalista em seu livro, Chico Buarque disse algumas vezes que nunca havia feito música de protesto, com exceção de Apesar de você, composta nos anos de 1970 e, conforme ele, sua composição mais alegre. Os militares devem ter percebido esse tom de protesto, mas...

“A explicação que Chico deu aos censores sobre aquela música não devia ser muito convincente. Dizia que era simplesmente sobre um galo que acreditava piamente que o dia amanhecia por causa de seu canto. Uma noite, caiu na farra e perdeu a hora. O sol nasceu mesmo assim, apesar de você. Chico driblava a censura, mas não conseguia se livrar das interpretações que suas músicas ganhavam... Virou assunto dizer que Apesar de você tinha sido escrita para o general Médici... Saturado com as proibições, Chico tomou uma decisão e criou o nome de guerra Julinho da Adelaide”, relata Regina no livro.

Os três primeiros versos têm múltiplos significados e poderiam se referir a uma relação de autoridade entre pai-filho, patrão-empregado ou quem sabe até uma relação amorosa. Mas, à medida que avançamos a letra fica clara a posição de Chico. Eram os anos de 1970, da ditadura e repressão militar, período em que a censura vetava toda e qualquer manifestação artística que pudesse conter duplo sentido. E Chico sentiu tudo isso na pele, indo para o exílio e compondo músicas que refletiam aquele momento.

Para mim, Apesar de você é uma das músicas mais belas que Chico já fez. Acho que ele resumiu o que muitas pessoas queriam falar naquele momento. Quer lembrar?

Apesar de você

Hoje você é quem manda
falou, tá falado
não tem discussão, não.
A minha gente hoje anda
falando de lado e olhando pro chão
viu?
Você que inventou esse estado
inventou de inventar
toda escuridão.
Você que inventou o pecado
esqueceu-se de inventar o perdão.

Apesar de você
amanhã há de ser outro dia.
Eu pergunto a você onde vai se esconder
da enorme euforia?
Como vai proibir
quando o galo insistir em cantar?
Água nova brotando
e a gente se amando sem parar.
Quando chegar o momento
esse meu sofrimento
vou cobrar com juros. Juro!
Todo esse amor reprimido,
esse grito contido,
esse samba no escuro.
Você que inventou a tristeza
ora tenha a fineza
de "desinventar”.
Você vai pagar, e é dobrado,
cada lágrima rolada
nesse meu penar.

Apesar de você
amanhã há de ser outro dia.
Ainda pago pra ver
o jardim florescer
qual você não queria.
Você vai se amargar
vendo o dia raiar
sem lhe pedir licença.
E eu vou morrer de rir
e esse dia há de vir
antes do que você pensa.
Apesar de você

Apesar de você
amanhã há de ser outro dia.
Você vai ter que ver
a manhã renascer
e esbanjar poesia.
Como vai se explicar
vendo o céu clarear, de repente,
impunemente?
Como vai abafar
nosso coro a cantar,
na sua frente.
Apesar de você

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Homenagem ao amigo

Entrega

Não fiz por mal
antecipar a outra
o dia da entrega.
Nada fiz por mal
porque a outra
interpôs-se entre nós
e antecipou para ela
o dia da entrega.


O que estes singelos versos, do saudoso jornalista e amigo, Arthur Francisco Baptista, querem dizer?
À primeira vista pode parecer um mal entendido entre dois amantes, um triângulo amoroso talvez, ou alguma coisa semelhante. Mas, na verdade, eles não significam nada demais.
Arthur escreveu os versos para mim, quando trabalhávamos juntos em uma agência de comunicação na década de 1990. Tínhamos uma matéria, cada qual, a entregar para nossa editora e combinamos de entregá-las juntos. Só que ele terminou antes e acabou entregando o trabalho primeiro. Claro, fiquei bronqueada com ele e, para amenizar, dedicou os versos a mim.
Eles foram publicados em uma Antologia de Poesias da Editora Shogun Arte. Não me recordo ao certo, mas Arthur fazia parte da União Brasileira de Escritores – UBE, fundada em 1942 por Mário de Andrade, Sergio Milliet e Manuel Bandeira. Em 1958, fundiu-se com a Sociedade Paulista de Escritores, que originou a UBE, passando assim a ter âmbito nacional.
Lembrei dos versos esta semana, pois se estivesse entre nós, Arthur estaria aniversariando agora, dia 4 de outubro. Então fica aqui a minha homenagem a ele.