segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

De volta à selva

Janeiro está terminando e agora que me dei conta que ainda não escrevi sobre a minha primeira leitura deste ano. Na verdade, eu já deveria ter falado dela, mas outros posts se fizeram mais urgentes e acabei deixando para escrever depois.

Escolhi para iniciar o ano uma leitura mais leve, depois de ter terminado 2010 com A Trégua, de Mario Benedetti, um livro mais denso, embora muito prazeroso. Então optei por Um leão chamado Christian, de Anthony Bourke & John Rendall, que eu deseja ler há um bom tempo. Como o ganhei no Natal, a oportunidade finalmente surgiu.

Confesso que tive um impacto grande no início da leitura, porque A Trégua, o livro anterior que li, é um romance mais apurado, em termos de linguagem, então senti a diferença. Mas com o decorrer da leitura e o relato emocionante dos autores, essa primeira impressão foi passando, dando lugar a uma sensação gostosa e interessada que só uma boa leitura pode proporcionar.

Conhecia um pouco da história quando vi, há três anos, aproximadamente, um vídeo na internet sobre o reencontro do leão adotado por dois rapazes ainda filhote, em seu habitat natural quando já era adulto. Foi lindo ver que o leão, depois de um ano longe dos seus antigos donos, ainda os reconhecia. Por isso, a leitura do livro, assim que soube da existência, tornou-se urgente para mim.

Louca por animais, eu precisava ler o livro e conhecer um pouco mais da história por trás daquele vídeo que tanto me emocionara. E o livro não decepcionou, claro, chorei várias vezes, mas isso sempre acontece quando uma história me toca.

Além de conhecer a história do leão e seus dois amigos, nos anos de 1970, pude saber um pouco mais sobre esse animal, como se comporta, o que gosta e sua capacidade de conviver com humanos, além do trabalho desenvolvido por George Adamson, um conservacionista britânico que fez a adaptação de Christian na África.

Ricamente ilustrado com imagens de Christian desde que era um filhote até sua reintegração à natureza, o livro conta como os rapazes encontraram o leão na Harrods, uma famosa loja de departamentos localizada em Londres, na Inglaterra, e resolveram comprá-lo e criá-lo como um animal doméstico. O que a princípio parecia um desatino, mostrou-se um processo bastante natural.

"... Talvez fôssemos como substitutos: e, sem a indiferença comum à maioria dos felinos, ele queria ficar perto de nós. Os leões não são desdenhosos como os gatos e são mais parecidos com os cachorros no quesito sociabilidade. Os leões simplesmente sabem que são os maiores e assumem sua superioridade."

O que facilitou muito foi o respeito aos limites e o amor dedicado pelos rapazes ao leão, como na passagem:

"Os leões dão avisos muito claros e diretos de seu descontentamento. Seria burrice desconsiderar sua força, seus dentes e suas garras. Apenas uma vez, durante os meses em que Christian viveu na Sophistocat, ficamos com muito medo dele. Ele encontrou um cinto de pele que caíra de um casaco e o levou correndo para o porão. Fomos atrás dele para recuperar o cinto. Ele o mastigava e chupava com deleite. Sabíamos que aquilo seria algo que ele não largaria com facilidade. Tentamos arrancá-lo, mas ele baixou as orelhas e rugiu um aviso feroz. Estava irreconhecível, um animal selvagem. Sem dúvida teria nos atacado se tivéssemos tentado tirar o cinto dele novamente. Queríamos deixá-lo, mas em vez disso nos distanciamos alguns metros vagaorsamente, conversando um com o outro, como se nada tivesse acontecido e tivéssemos nos esquecido do cinto. Sabíamos que não devíamos transmitir-lhe nosso pavor. Isso poderia tê-lo encorajado a repetir o comportamento se tivesse sentido o efeito que causara."

Com esses cuidados e cientes de que quando ficasse maior Christian não poderia mais conviver com eles, os rapazes se preocupavam com seu futuro. Não queriam que ele acabasse num zoológico ou num circo qualquer. Desejavam vê-lo livre, em seu lugar de origem. A persistência e a sorte os acompanharam, conheceram as pessoas certas, e Christian pode ser reintegrado ao seu habitat. Um belo exemplo de amor e respeito para com os animais.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

A literatura transformadora

A Flip - Festa Literária Internacional de Paraty ainda está longe (ela acontece este ano de 6 a 10 de julho), mas sem que eu perceba ela está sempre no meu caminho – e justo neste ano que não sei se poderei participar integralmente.

Outro dia foi no blog do Le-Heitor ( http://blogdoleheitor.sintaxe.com.br/ ), no post que ele fez sobre uma brincadeira chamada Flip, em que um grupo de pessoas lê um trecho do livro que estão lendo e depois discutem o assunto.

Depois recebi alguns e-mails da assessoria de comunicação da Flip informando os nomes dos primeiros escritores confirmados. E, hoje, quando estava no Sesc Vila Mariana, onde pratico yoga, vi uma interessante matéria na revista Bravo! de janeiro, sobre Liz Calder, a idealizadora da Festa Literária.

Já fui em Paraty três vezes para participar da Flip, mas nunca tinha me dado conta de quem eram seus idealizadores. Na verdade, devo ter lido em algum lugar, mas na certa não registrei a informação. E somente li a matéria porque havia acabado a leitura de um livro e ainda não tinha me decidido por outro. Entre as opções de revistas que havia no local, fiqueii acertadamente com a Bravo!

Ali pude conhecer um pouco mais sobre essa empreendedora mulher que, por causa de uma leitura decidiu mudar a sua vida, transformando-se numa grande editora inglesa. Formada em Literatura, Liz casou cedo, teve dois filhos e era uma típica dona de casa que via o tempo passar, sentindo sua vida estacionar. Foi quando caiu-lhe às mãos o livro Mística Feminina, de Betty Friedan, que a fez refletir e agir para mudar.

O livro, publicado em 1963, tornou-se numa das principais publicações do século XX. Trata-se do resultado de anos de pesquisa da autora, que entrevistou mulheres que seguiam os preceitos dos anos de 1940 e 1950 – época em que estas se restringiam às atividades domésticas, sem espaço para si mesmas e seus sonhos –, além de empresários, médicos e publicitários.

Segundo Liz, o livro não trouxe fórmulas ou soluções para suas inquietações, mas a fez ver que outras mulheres também sentiam o mesmo que ela, por isso decidiu ir à luta e batalhar por um lugar ao sol. Com formação literária e depois de um início meio hesitante, ela acabou se especializando no mercado editorial, ao lançar o grande sucesso de Isabel Allende, A Casa dos Espíritos.

No meio literário, conheceu Salman Rushdie, quando este ainda era um jovem aspirante a escritor, auxiliando-o com seus primeiros livros. Mais tarde, fundou a editora Bloomsbury, a mesma que descobriu J.K. Rowling, criadora de Harry Potter, que ajudou a lançar.

Antes de se tornar uma grande editora, Liz morou no Brasil com o marido e as filhas, vivendo por um bom tempo no país, onde aprendeu o português atuando como modelo. De volta à Inglaterra, ela ainda manteve relações com o Brasil nas suas férias e foi numa dessas ocasiões, já casada pela segunda vez, que ela descobriu Paraty por intermédio do navegador Amyr Klink e se apaixonou pela cidade. A partir daí surgiu a ideia de um festival literário, nos moldes do Hay-on-Wye, do País de Gales, e que acabou se tornando na grande Festa Literária Internacional de Paraty, conhecida como Flip.

A guinada na vida de Liz Calder, atrelada ao livro Mística Feminina, me fez lembrar de um texto da jornalista e escritora Eliane Brum, publicado na sua coluna da revista Época no final do ano passado em que indaga se “a literatura é capaz de transformar o seu mundo?” (http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI198223-15230,00-A+LITERATURA+E+CAPAZ+DE+TRANSFORMAR+O+SEU+MUNDO.html).

Para responder essa questão, Eliane utiliza depoimentos de vários escritores, entre eles Luís Henrique Pellanda, que deu uma reposta bastante simples: “a literatura nos dá muito. Mas não promete nada.” Ou seja, já nas palavras de Eliane, “a literatura não nos dá nenhuma resposta. Nos dá algo muito melhor, nos dá novas perguntas".

E eles estão certos. No caso de Liz Calder, o livro não lhe deu uma receita pronta, mas a fez pensar – e se mobilizar. E é só disso que precisamos.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Ode a São Paulo

Reaberta ontem ao público, a Biblioteca Mário de Andrade, segunda maior do país – a primeira é a Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro –, foi o ponto alto das comemorações do 457º aniversário da cidade de São Paulo.

Tinha planejado ir à reinauguração, mas acabei optando, primeiro, ao passeio de trólebus pelo centro da cidade, outra atração do aniversário. Só que a procura era tanta que uma longa fila se formou no Pátio do Colégio, ponto inicial do passeio.

De tanto esperar, acabou ficando tarde, mas durante o trajeto pude vislumbrar a entrada da biblioteca e toda a movimentação à frente e no interior do prédio. Depois caiu uma tremenda chuva, a cidade ficou intransitável e acabei voltando para casa com gosto de quero mais.

Nada que uma visita à Biblioteca nos dias que se seguem não possa resolver. Afinal, ela está lá, no mesmo lugar, de portas abertas esperando e acolhendo os visitantes e leitores que a ela acorrem para conferir o acervo de mais de 327 mil livros, dentre os quais 51 mil considerados raros ou especiais.

Inaugurada em 1926, a Biblioteca Mário de Andrade ocupou outro edifício no início, sendo transferida em 1943 para o atual prédio, na rua da Consolação, ao lado da Praça Dom José Gaspar, no centro da cidade. Ela conta com 12.032 metros quadrados e foi projetada, em estilo art déco, pelo arquiteto francês Jacques Pilon na década de 1930.

O nome da biblioteca – Mário de Andrade – é uma homenagem ao poeta, romancista, musicólogo, historiador, crítico de arte e fotógrafo brasileiro. Personagem central da Semana de Arte Moderna, realizada em 1922, em São Paulo, Mário publicou na época o livro Paulicéia Desvairada, inaugurando assim a poesia moderna brasileira.

Para encerrar essa pequena homenagem a São Paulo, minha cidade querida, apesar de todo o caos que ela comporta, reproduzo aqui um dos poemas de Mário de Andrade, dedicado à capital do estado.

Quando eu morrer quero ficar

Quando eu morrer quero ficar,
Não contem aos meus inimigos,
Sepultado em minha cidade,
Saudade.

Meus pés enterram na rua Aurora,
No Paissandu deixem meu sexo,
Na Lopes Chaves a cabeça
Esqueçam.

No Pátio do Colégio afundem
O meu coração paulistano:
Um coração vivo e um defunto
Bem juntos.

Escondam no Correio o ouvido
Direito, o esquerdo nos Telégrafos,
Quero saber da vida alheia,
Sereia.

O nariz guardem nos rosais,
A língua no alto do Ipiranga
Para cantar a liberdade.
Saudade...

Os olhos lá no Jaraguá
Assistirão ao que há-de vir,
O joelho na Universidade,
Saudade.

As mãos atirem por aí,
Que desvivam como viveram,
As tripas atirem pro Diabo,
Que o espírito será de Deus.
Adeus.

* Ao reler este poema lembrei-me de meu pai. Quando morávamos em Indaiatuba (SP), para onde nos mudamos em 1976, meu pai sempre dizia que quando morresse queria ser enterrado em São Paulo. Em 1992 voltamos à capital paulista e foi nesse mesmo ano que ele morreu, podendo, assim, permanecer para todo o sempre na cidade que o acolheu ainda menino. São Paulo é assim, ela te engolhe, mas também te encanta.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

4 séculos, 5 décadas e 7 anos



Das muitas leituras possíveis sobre São Paulo, uma bem interessante é São Paulo, São Paulo, de autoria de Oswaldo, Biafra, Claus, Marcelo e Wa, e interpretada pelo grupo Premeditando o Breque (Premê).
Com ela faço minha homenagem à capital paulista nos seus 457 anos, comemorados em 25 de janeiro.
Veja. Ouça. Leia.


São Paulo, São Paulo

É sempre lindo andar na cidade de São Paulo,de São Paulo
O clima engana, a vida é grana em São Paulo
A japonesa loura, a nordestina moura de São Paulo
Gatinhas punks, um jeito yankee de São Paulo, de São Paulo
Ah!
Na grande cidade me realizar
Morando num BNH.
Na periferia a fábrica escurece o dia.
Não vá se incomodar com a fauna urbana de São Paulo, de São Paulo
Pardais, baratas, ratos na Rota de São Paulo
E pra você criança muita diversão em São Paulo
São Paulo lição
Tomar um banho no Tietê ou ver TV.
Ah!
Na grande cidade me realizar
Morando num BNH
Na periferia a fábrica escurece o dia.
Chora Menino, Freguesia do Ó, Carandiru, Mandaqui, ali
Vila Sônia, Vila Ema, Vila Alpina, Vila Carrão, Morumbi
Pari,
Butantã, Utinga, M'BOI MIRIM, Brás, Brás, Belém
Bom Retiro, Barra Funda, Ermelino Matarazzo
Mooca, Penha, Lapa, Sé, Jabaquara, Pirituba, Tucuruvi, Tatuapé
Pra quebrar a rotina num fim de semana em São Paulo
Lavar um carro comendo um churro é bom pra burro
Um ponto de partida pra subir na vida em São Paulo, em São Paulo
Terraço Itália, Jaraguá, Viaduto do Chá.
Ah!
Na grande cidade me realizar morando num BNH
Na periferia a fábrica escurece o dia
Na periferia a fábrica escurece o dia

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

A alegria em meio ao caos

No alto dos seus 74 anos, Edinar Corradini é uma recreadora em plena atividade. Vestida como a boneca Emília, personagem das histórias de Monteiro Lobato, ela leva um pouco de alegria às crianças que se encontram no principal abrigo do bairro Meudon, em Teresópolis – um galpão improvisado onde dormem 330 pessoas, desabrigadas pelas chuvas.

No repertório, a história de João Gerá, ali interpretado por Jonathan Marques, de 35 anos, ator e produtor de eventos. O personagem gostava de matar passarinhos, mas um dia caiu numa terrível cilada preparada pelo rei dos pássaros. O final do episódio é surpresa, reservada para os pequenos ouvintes.

Edinar teve a ideia da encenação para aliviar um pouco a tristeza dos desabrigados e a sua própria ao ver tanta tragédia. Uma atitude louvável, que me faz pensar naquela frase da canção “Comida”, dos Titãs, que diz: “a gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte”.

É certo que os centenas de desabrigados precisam – e muito – de comida, água, abrigo para sobreviverem, mas é certo também que é preciso um pouco de poesia para alegrar seus corações, sobretudo os das crianças, certamente traumatizadas com tanto caos.

Soube dessa história no noticiário de hoje, na internet ( http://noticias.uol.com.br/cotidiano/2011/01/20/voluntarios-se-fantasiam-e-levam-alegria-para-criancas-desabrigadas-em-teresopolis-rj.jhtm ), e rapidamente lembrei-me do Doutores da AlegriaO Lado Invisível da Vida, livro narrado por Wellington Nogueira, fundador do Doutores da Alegria, que li em 2007, recomendado pela minha então editora para que eu absorvesse o estilo da linguagem e escrevesse com mais emoção.

Logo nas primeiras páginas já deu para sentir que a carga emotiva seria imensa, tanto no estilo quanto nas histórias. O livro relata a história do Doutores da Alegria e de como Wellington se viu envolvido nesse trabalho, trazendo, ainda, algumas histórias dos pacientes que receberam a visita dos palhaços nos hospitais, Simplesmente emocionante, como esta passagem:

Nunca me esqueço de uma cena com um adolescente negro, se tratando de câncer. Fiz meu truque que todo o mundo adorava. Uma coisa para quebrar o gelo, mas voou como um balão de chumbo. Tentei outra coisa e ele falou: “Sabe qual é o teu problema”? Você não é nem engraçado”. Falei: "Vou chorar.” E comecei a chorar, mas como palhaço, comecei a falar (em tom de choro): “Não dou certo para nada, essa era minha última tentativa de fazer um trabalho.” E ele começou a rir. Quanto mais eu me rebaixava, mais se divertia. Chegou um ponto que disse: “Chega, cara, senão você vai se matar aqui na minha frente. Faz a sua coisa, vou achar engraçado.” Aí fiquei todo alegre e fiz um truque bem idiota. Ele falou: “Tá ótimo.” Falei: “Que bom que você gostou, posso voltar amanhã?” Ele falou: “Tá bom, vai, volta”.
Minha treinadora perguntou: “O que você aprendeu? Como você acha que é para um adolescente estar no hospital, com seus hormônios a toda, passando por tratamento de câncer e tendo a adolescência roubada, enquanto os colegas estão vivendo a vida?”
Quando chega uma pessoa que fala “a criança não entendeu; também, coitada, na situação que está”, esse cara não está pensando na criança, está pensando nele mesmo.

A trajetória de Wellington como palhaço começou em 1988, quando estava em Nova York estudando, Nesse ano, uma amiga o convidou para o teste de trabalho de palhaços num hospital, organizado pelo Big Apple Circus. E ficou fascinado com a interação entre esses e as crianças. Poucos meses depois começou a trabalhar como palhaço nos hospitais.

No final de 1990 o pai de Wellington sofreu um derrame e foi internado no Incor. Já no Brasil, Wellington usou tudo o que sabia e aprendera na reabilitação do pai, que se recuperou, vivendo ainda nove meses. A partir daí surgiu a ideia do Doutores da Alegria e em 1991 fez sua estreia no Hospital Nossa Senhora de Lourdes, no Jabaquara, em São Paulo.

São pessoas como Wellington, do Doutores da Alegria, Edinar Corradini, a “boneca Emília”, e Jonathan Marques, ator, que fazem o mundo ficar mais humano e, com certeza, muito mais bonito e leve.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

O calculista na Fliporto

Nunca fui muito boa com números, por isso costumo dizer que o meu “negócio” é texto. Mas houve uma época, antes de me decidir firmemente pelo Jornalismo, que tive vontade de estudar Matemática. Pode? Pois é, pode. É que tive dois professores de Matemática no 2º grau que sabiam como ensinar a matéria, fazendo-a interessante e “fácil” de aprender. Além do mais, tinham domínio da classe sem precisarem fazer muito esforço para manter a atenção da classe.

Com todos essas condições favoráveis era natural que eu me apaixonasse pela matéria. Tirava notas boas e me sentia fascinada com os números, fórmulas e cálculos. Mas foi só por um tempo, porque a veia jornalística falou mais alto e aí não tive como fugir ao futuro que tinha traçado ainda na adolescência.

Porém, quando mais tarde li O Homem que Calculava, de Malba Tahan, pensei com meus botões:

– Por que desisti da Matemática?

Bom, essa foi uma recaída rápida (ainda bem), afinal, número não é a minha praia, e eu estava – como estou – bem no mundo das palavras. Mas que me encantei com o livro, me encantei. E, da mesma forma que a Matemática nas aulas eram fáceis, a lógica do calculista no livro também era. Mais do que isso, era simplesmente extraordinária.

A trama, desenvolvida pelo escritor – e professor –, que era brasileiro (o nome verdadeiro dele era Júlio César de Mello e Souza), narra as aventuras e proezas matemáticas do calculista persa Beremiz Samir, na Bagdá do século XIII. De forma simples e didática, o autor, por meio de seu personagem, resolve e explica diversos problemas, quebra-cabeças e curiosidades da Matemática, tornando o livro um instrumento valioso – e auxiliar – para o ensino da matéria nas escolas.

Não é à toa, portanto, que a Fliporto – Festa Literária Internacional de Pernambuco, que acontece em novembro deste ano, no Recife, tenha escolhido Malba Tahan como homenageado da Fliporto Criança. Na ocasião será realizada uma olimpíada de leitura, em que, certamente, O Homem que Calculava será o grande protagonista.

A obra tem sido lida por várias gerações e já foi traduzida para o espanhol, o inglês, o italiano, o alemão e o francês. E, além dos cálculos e da solução de problemas, traz também lendas e histórias pitorescas, como a da origem do jogo de xadrez e a história da filósofa e matemática Hipátia de Alexandria.

Malba Tahan escreveu cerca de 120 livros de Matemática recreativa, didática da Matemática, história da Matemática e ficção infanto-juvenil, como Amor de Beduíno (contos), Lendas do Céu e da Terra (contos), Salim, o Mágico (romance), A Sombra do Arco-Íris (romance) e Matemática Divertida e Delirante (recreação matemática), entre outros.

O Homem que Calculava, no entanto, é seu livro mais conhecido e popular. Com ele, aprendemos mais do que fórmulas matemáticas, aprendemos o valor da amizade e o respeito ao ser humano. Por tudo isso, acho que vale a pena fazer uma releitura.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Enchentes: uma leitura recorrente

As manchetes do noticiário esta semana giraram em torno de um só assunto: as incessantes chuvas que despencam por quase todo o país e o número, cada vez mais crescente, de vítimas e desabrigados em virtude dos fortes temporais. Uma leitura que se tornou recorrente.

O quadro é desolador, ainda mais depois de ler hoje nos jornais que os mortos, só na região serrana do Rio de Janeiro, já ultrapassa a 500! E isso sem falar nas outras regiões do Brasil, onde as chuvas não têm dado trégua. Porém, o pior é constatar que essa é uma situação repetitiva que, ano após ano, assola o nosso país.

Dizer que a culpa é toda da natureza é ser, no mínimo, hipócrita. É fato que está chovendo demais, mas é certo, também, que nossos governantes nada têm feito, de efetivo, para que as tragédias não se repitam. Parece que não aprenderam a lição depois de 37 enchentes em apenas 10 anos.

Para a Debarati Guha-Sapir, consultora externa da ONU e diretora do Centro para Pesquisa da Epidemiologia de Desastres, “o Brasil não é Bangladesh e não tem nenhuma desculpa para permitir, no século 21, que pessoas morram em deslizamentos de terras causados por chuva”. O alerta de uma das maiores especialistas no mundo em desastres naturais e estratégias para dar respostas a crises, foi dado em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, no dia de hoje.

Acontece, na verdade, falta de interesse político em resolver o problema das enchentes. As chuvas são, sim, um fenômeno natural, mas podemos nos preparar, mesmo porque elas causam sempre maiores desastres em lugares previsíveis. Ao invés de ficarem aumentando absurdamente os salários dos deputados, os governantes deveriam discutir o problema das enchentes, destinar verbas, retirar as pessoas das moradias de locais de riscos, incentivar a construção de habitações populares em lugares seguros, enfim há muitas soluções, muita tecnologia, muita gente capacitada para sugerir e trabalhar nisso. Basta ter “vergonha na cara”, “arregaçar as mangas” e, mais importante, agir.

Quanto a nós, que ainda estamos a salvo dessas intempéries, cabe cobrar, fazer valer nosso voto e ajudar com aquilo que podemos, doando tempo e auxílio em favor dos desabrigados.

Relaciono, abaixo, algumas opções para quem deseja fazer alguma doação aos desabrigados:

Serviço de doações em São Paulo

• Cruz Vermelha: Avenida Moreira Guimarães, 699, em Indianópolis, em São Paulo.
• Defesa Civil de São Paulo: Rua Afonso Pena, 130, no Bom Retiro, em São Paulo.
• Fundo Social de Solidariedade: Rua Adolfo André, 1.055, no Centro de Atibaia.

Serviços de doações no Rio de Janeiro

A Prefeitura do Rio de Janeiro pede colchonetes, alimentos não perecíveis, água e roupas para os necessitados. Dez unidades da Guarda Municipal receberão os donativos:

• Centro: no Centro Administrativo São Sebastião, sede da Prefeitura. Rua Afonso Cavalcanti, 455, Cidade Nova.
• São Cristóvão: na sede da Guarda. Avenida Pedro 2º, nº 111.
• Botafogo: na base operacional da GM-Rio. Rua Bambina, nº 37.
• Barra da Tijuca: na 4ª Inspetoria. Avenida Ayrton Senna, nº 2001.
• Madureira: na 6a Inspetoria. Rua Armando Cruz, s/nº.
• Praça Seca: na 7ª Inspetoria. Praça Barão da Taquara, nº 9.
• Lagoa: 2ª Inspetoria. Rua Professor Abelardo Lobo s/nº – embaixo do viaduto Saint Hilaire, na saída do Túnel Rebouças.
• Bangu: 5ª Inspetoria. Rua Biarritz, s/n.
• Tijuca: 8ª Inspetoria. Rua Conde de Bonfim, nº 267.
• Campo Grande: 13ª Inspetoria. Rua Minas de Prata, nº 200.

Escrevo este post com o coração nas mãos, ouvindo do lado de fora uma forte e pesada chuva cair e penso que o problema ainda está longe de terminar. Que Deus proteja todos nós, sobretudo os que estão mais suscetíveis.

Crédito da foto: 29REUTERS/Bruno Domingos

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

O "irreverente" de Um Só Coração

São Paulo é uma cidade fascinante. Caótica, com certeza, mas não deixa de ser fascinante. Da sua estranha e complexa geografia à multiplicidade de etnias, passando pelos serviços incontáveis até uma programação cultural rica e intensa, São Paulo é um território magnífico e envolvente. E, depois, foi na capital que nasci, foi na capital que cresci, foi na capital onde vivi até agora e onde pretendo continuar permanecendo.

Quando eu era adolescente, sonhava com o campo e o sertão, com aquelas expedições missionárias, com a vida longe das cidades grandes. Até que, no fim da adolescência, mudei da capital paulista para o interior e aí o "bicho pegou". Descobri-me inteiramente urbana, ligada às grandes metrópoles e a sua vida louca e inquietante. Voltar para São Paulo era uma questão de honra – e de vontade imensa – somente concretizada depois de graduada e atuando na área de Jornalismo. Afinal, São Paulo é o meu lar, a minha paixão, a minha vida.

Por isso, não é à toa que quando assisti a minissérie global, Um Só Coração, que prestava homenagem à cidade de São Paulo nos seus 450 anos e exibida em 2004, eu me identificasse plenamente. Tanto que, tempo depois, adquiri o livro São Paulo através da minissérie Um Só Coração, publicado naquele mesmo ano pela Editora Globo, que traz a história e os bastidores da minissérie. escrita por Maria Adelaide Amaral e Alcides Nogueira.

O livro enfoca desde os anos de fundação da cidade às décadas de 1920 a 1950, lembrando a celebração da primeira missa, as expedições dos bandeirantes e a formação das oligarquias cafeeiras, mas sem deixar de trazer um breve olhar sobre o presente. Além disso, é ricamente ilustrado com material fotográfico, informando, também, a cerca de cada personagem – reais ou fictícios – apresentados na minissérie.

A trama central gira em torno do Yolanda Penteado, uma mulher dinâmica e inovadora, e Ciccillo Matarazzo, italiano e rico industrial do setor metalúrgico. Amantes das artes, o casal patrocinou grandes empreendimentos culturais e impulsionaram a arte nacional. Em torno deles gravitam outras histórias de personagens fictícios e reais. Destes, nenhum me chamou mais atenção do que Oswald de Andrade, escritor, poeta e ensaísta e dramaturgo brasileiro, e seus companheiros da Semana de Arte Moderna de 1922, como Mario de Andrade, Menotti Del Picchia, Tarsila do Amaral e Anita Malfatti, entre outros. Oswald de Andrade, inclusive, foi brilhantemente representado na minissérie pelo ator José Rubens Chacá.

José Oswaldo de Sousa Andrade Nogueira nasceu em São Paulo em 11 de janeiro de 1890, portanto há 121 anos, foi um dos grandes nomes do modernismo literário brasileiro. Irreverente, inovador e alegre, era considerado o mais “rebelde” do grupo, e protagonizou dois dos romances mais comentados da época: primeiro com Tarsila do Amaral; depois com Patrícia Galvão, a Pagu, então uma menina, com a qual teve um filho – Rudá, que se tornou escritor e cineasta, tendo falecido em 2009.

Autor do "Manifesto da Poesia Pau-Brasil" e do "Manifesto Antropófago", Oswald de Andrade publicou ainda "Memórias Sentimentais de João Miramar", introduzindo a prosa experimental no Brasil, e assinou um dos primeiros livros da poesia modernista, "Pau-Brasil".

E agora, esse personagem que me encantou na minissérie e no livro, será o grande homenageado da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) de 2011, que acontecerá de 6 a 10 de julho próximos. Segundo os organizadores, a trajetória e o alcance da obra de Oswald de Andrade na formação da literatura brasileira devem servir de base para os eventos dedicados ao escritor na festa literária. E, é claro, que vou querer estar lá para conferir toda essa homenagem bem de pertinho.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Calendário literário

No post anterior falei sobre o Dia Nacional do Leitor, comemorado em 7 de janeiro. Achei tão oportuna a data que resolvi pesquisar na internet outras comemorações ligadas ao mundo do livro e da literatura. O resultado foi que encontrei, no blog ℓiвrυ ℓυмєท (http://www.jefferson.blog.br/, um interessante calendário com todas as datas que buscava. Então resolvi publicá-lo aqui também para não esquecer as comemorações, ainda mais porque estamos no comecinho do ano, portanto, no tempo certo.

Ei-lo:

7 de fevereiro – Dia do Gráfico

12 de março – Dia do Bibliotecário

14 de março – Dia Nacional da Poesia (em homenagem ao aniversário de nascimento do poeta Castro Alves - 1847)

14 de março – Dia do Vendedor de Livros

21 de março – Dia Mundial da Poesia (criado pela Unesco para o incentivo e desenvolvimento da poesia regional, nacional e internacional)

25 de março – Dia do Diagramador

26 de março – Dia do Revisor

2 de abril – Dia Mundial da Literatura Infanto-juvenil (em homenagem ao nascimento do escritor dinamarquês, Hans Christian Anderson – 1805-1875 –, considerado um dos maiores escritores infantis)

18 de abril – Dia Nacional do Livro Infantil (a data foi criada em homenagem ao aniversário de nascimento do escritor Monteiro Lobato – 1882 –, considerado o pai da literatura infantil no Brasil)

23 de abril – Dia Mundial do Livro e do Direito de Autor (instituído pela Unesco em 1996, a escolha do dia deve-se ao fato de que escritores consagrados, como Miguel de Cervantes, Willhiam Shakespeare e Josep Pla, nasceram ou morreram na data)

1 de maio – Dia da Literatura Brasileira (a data é lembrada em homenagem ao aniversário de nascimento do escritor José de Alencar)

10 de junho – Dia da Língua Portuguesa

21 de junho – Dia do Intelectual

25 de julho – Dia Nacional do Escritor

30 de setembro – Dia Mundial do Tradutor

12 de outubro – Dia Nacional da Leitura

13 de outubro – Dia Mundial do Escritor

20 de outubro – Dia Nacional do Poeta

29 de outubro – Dia Nacional do Livro (escolhido em homenagem à fundação da Biblioteca Nacional, em 1810).

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Viva o leitor

Ler é um dos melhores prazeres da vida. É o que faz a vida ter sentido. Por meio dessa prática podemos viajar, imaginar, sonhar, conhecer, aprender, comparar, receber, trocar, dialogar, viver.

Apesar dessa importância, não se nasce leitor. Torna-se, aprende-se. E este é um processo constante, que precisa ser exercitado desde a infância. Esta, porém, não é uma tarefa fácil, ainda mais num país onde milhões de pessoas ainda são analfabetas e outras tantas são alfabetizadas funcionais.

Por isso, neste 7 de janeiro, Dia Nacional do Leitor, cabe aqui um alerta para que esta atividade, inerente ao ser humano, torne-se uma prática cada vez mais permanente em nossas vidas. Vamos, assim, incentivar e estimular, sempre que possível, as leituras em nossas vidas, na dos nossos familiares e na dos nossos amigos reais e virtuais.

E essa leitura deve ser algo espontâneo, sem obrigação, sem pressa. Ler deve ser algo que nos inspira, que nos faz falta, que nos completa. Só assim, então, a leitura terá sentido e estará, para sempre, impregnada na nossa vida, tornando-os leitores ideais.

A propósito disso, vale relembrar as palavras da escritora Doris Lessing, que diz "há apenas uma forma de ler, que é olhar ao acaso em bibliotecas e livrarias, pegando livros que chamem a sua atenção, lendo apenas esses, pondo-os de lado quando o aborrecem, pulando as partes tediosas - e nunca, nunca ler nada por julgar que necessita, ou por pertencer a uma tendência ou um movimento. Lembre-se que o livro que o aborrece aos 20 ou 30 anos lhe abrirá portas quando tiver 40 ou 50 - e vice-versa. Não leia um livro quando não for o momento certo para lê-lo."

E também as de Mário Quintana em seu livro Porta Giratória, que reúne textos publicados pelo escritor no jornal Correio do Povo, de Porto Alegre, na década de 1980. Há um belo trecho que diz:

“O leitor ideal para o cronista seria aquele a quem bastasse uma frase.
Uma frase? Que digo? Uma palavra!
O cronista escolheria a palavra do dia: "Árvore", por exemplo, ou "Menina".
Escreveria essa palavra bem no meio da página, com espaço em branco para todos os lados, como um campo aberto aos devaneios do leitor.
Imaginem só uma meninazinha solta no meio da página.
Sem mais nada.
Até sem nome.
Sem cor de vestido nem de olhos.
Sem se saber para onde ia...
Que mundo de sugestões e de poesia para o leitor!
E que cúmulo de arte a crônica! Pois bem sabeis que arte é sugestão...
E se o leitor nada conseguisse tirar dessa obra-prima, poderia o autor alegar, cavilosamente, que a culpa não era do cronista.
Mas nem tudo estaria perdido para esse hipotético leitor fracassado, porque ele teria sempre à sua disposição, na página, um considerável espaço em branco para tomar os seus apontamentos, fazer os seus cálculos ou a sua fezinha...
Em todo caso, eu lhe dou de presente, hoje, a palavra "Ventania". Serve?”

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

365 dias.365 pessoas


Neste início de ano recebi um convite pra lá de bacana. Ivan, meu colega do curso de JL, que terminei o ano passado, enviou-me um e-mail falando do projeto 3Meia5 que ele criou e chamou-me para participar desta nova investida em blogs.

Ivan diz que a ideia desse projeto tem por base o blog The3six5, criado em Chicago (EUA), e adaptado para “os moldes brasileiros”. Seria uma cópia, mas eu não resumiria assim, porque, com diz o velho ditado “na natureza nada se cria, tudo se transforma”, acredito que no plano das ideias essa máxima também pode ser aplicada. Ele, assim, transformou um bom projeto norte-americano numa nova realidade para o Brasil.

Nesse blog os textos constituem-se no ponto de vista de uma pessoa em um dia. Assim, a cada dia dos 365 dias do ano, uma pessoa diferente relataria o que se passou com ela e suas sensações naquele dia. Legal, não?

Então, agora eu também faço parte do projeto e estou aguardando para saber o dia que deverei escrever. Só espero estar inspirada quando a hora chegar, mas, se isto não acontecer, acho que é só deixar a mente fluir e, escrever, com o coração, que tudo dará certo.

Se você se interessou e também quiser participar, acesse http://3meia5.posterous.com/ e saiba mais sobre o blog e o projeto.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Na companhia dos livros

As festas acabaram, o Natal passou e o Ano Novo chegou glorioso. Entre uma festa e outra curti umas rápidas e merecidas férias, uma parada necessária para repor as energias, recarregar as baterias, me reciclar. Foi tudo perfeito, ainda mais porque na semana que passou os livros estiveram na minha mira, seja nos passeios, seja nas comemorações, seja na reclusão do meu quarto.

Os presentes em casa, neste Natal, incluíram, para cada integrante da família, um livro. Minha irmã ganhou Parem de falar mal da rotina, da escritora e atriz Elisa Lucinda, uma adaptação da peça que esteve em cartaz desde 2002, e que levou ao teatro mais de um milhão de espectadores. O livro é a celebração do cotidiano e a valorização das coisas simples da vida.

Fernando, meu sobrinho, ganhou Onde está Wally - A incrível busca dos papéis, novo livro da série de Martin Handford, que traz as fantásticas aventuras e viagens do personagem por mundos fantásticos. Em cada um, ele deixa cair um pedacinho de papel, que o leitor deverá encontrar, entre outras diversões.

Já Luciana, minha sobrinha, foi presenteada com o novo livro de Danilo Gentili, Politicamente Incorreto, uma adaptação do show que o humorista fez em Brasília. Eu, por minha vez, ganhei Um leão chamado Christian, de Anthony Bourke e John Rendall, a história que começou com um vídeo exibido no Youtube mostrando o reencontro do leão com seus criadores, um ano depois de ser reintegrado à vida selvagem. O livro traz fotos e conta a história desse leão desde sua adoção, ainda filhote, pelos dois amigos.

Depois desse banho de livros no Natal, fui curtir meus dias de descanso passeando no shopping Patio Higienópolis, onde me assustei, mas me encantei também com a vitrine da Lilla Ka, loja especializada em roupas femininas. A decoração não poderia ser mais atraente. Em meio aos manequins com as peças da loja estavam diversos livros, abertos, transformados em decoração. A ideia, segundo a gerente, era desejar "que as pessoas tenham boas histórias para contar em 2011". A vitrine ficou com cara de livraria e os quase 300 livros, comprados de sebos, foram dobrados e colocados ao lado das manequins. Conforme a gerente, os livros já foram lidos e nenhum deles foi estragado. Depois, serão doados. Ufa! Ainda bem.

Com o tempo livre, fui fazer uma das coisas que mais gosto: ir ao cinema. E os filmes também me remeteram aos livros. O primeiro foi José e Pilar, o documentário sobre José Saramago e seu processo de criação de A Viagem do Elefante, uma metáfora da vida humana (falarei deste livro em post mais para frente). Fiquei ainda mais apaixonada pelo escritor, que teve em Pilar, sua esposa, um verdadeiro pilar para sua vida.

O outro filme que vi foi As Crônicas de Nárnia - A Viagem do Peregrino, uma aventura pra lá de bacana e, claro, emocionante. Isso me lembra que estou com o livro completo em casa e pretendo, ainda este ano, lê-lo.

Na passagem do ano, estive no apartamento de minha prima Stef, passando o reveillon com minha família. Era a primeira vez que ali me encontrava, então, nada mais natural do que olhar a decoração dos ambientes e, em especial, a estante em uma das paredes da sala. Ao lado de portas-retratos, objetos pessoais e decorativos, havia livros diversos, principalmente best sellers como O Caçador de Pipas, todos os Harry Potter, O Código da Vinci, Anjos e Demônios, entre outros. Mas foi um que me chamou especialmente a atenção: A Montanha e o Rio, de Da Chen, que narra a saga de dois irmãos que trilham caminhos distintos, mas cujas vidas se encontram durante os acontecimentos que marcam a história política e social da China no final do século XX. Minha prima disse que é ótimo e que todos que leram amaram. Vai para minha lista.

Por fim, em meio a toda essa literatura, tive a companhia de A Trégua, do poeta, ensaísta e escritor uruguaio Mario Benedetti, que morreu em maio de 2009. O livro é escrito em formato de diário e conta a história de Martín Santomé, um homem cinquentão, viúvo, com três filhos e prestes a se aposentar. Sua vida, monótona a princípio, se transforma quando conhece e se apaixona por Laura Avellaneda, uma moça jovem. É um livro que trata dos relacionamentos humanos e da busca pela felicidade. Lindo!

A considerar meu final de ano, em que as leituras e os livros se fizeram presentes, acredito que 2011 será ainda mais frutífero e repleto de boa literatura. Que venha, então!