sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

A literatura transformadora

A Flip - Festa Literária Internacional de Paraty ainda está longe (ela acontece este ano de 6 a 10 de julho), mas sem que eu perceba ela está sempre no meu caminho – e justo neste ano que não sei se poderei participar integralmente.

Outro dia foi no blog do Le-Heitor ( http://blogdoleheitor.sintaxe.com.br/ ), no post que ele fez sobre uma brincadeira chamada Flip, em que um grupo de pessoas lê um trecho do livro que estão lendo e depois discutem o assunto.

Depois recebi alguns e-mails da assessoria de comunicação da Flip informando os nomes dos primeiros escritores confirmados. E, hoje, quando estava no Sesc Vila Mariana, onde pratico yoga, vi uma interessante matéria na revista Bravo! de janeiro, sobre Liz Calder, a idealizadora da Festa Literária.

Já fui em Paraty três vezes para participar da Flip, mas nunca tinha me dado conta de quem eram seus idealizadores. Na verdade, devo ter lido em algum lugar, mas na certa não registrei a informação. E somente li a matéria porque havia acabado a leitura de um livro e ainda não tinha me decidido por outro. Entre as opções de revistas que havia no local, fiqueii acertadamente com a Bravo!

Ali pude conhecer um pouco mais sobre essa empreendedora mulher que, por causa de uma leitura decidiu mudar a sua vida, transformando-se numa grande editora inglesa. Formada em Literatura, Liz casou cedo, teve dois filhos e era uma típica dona de casa que via o tempo passar, sentindo sua vida estacionar. Foi quando caiu-lhe às mãos o livro Mística Feminina, de Betty Friedan, que a fez refletir e agir para mudar.

O livro, publicado em 1963, tornou-se numa das principais publicações do século XX. Trata-se do resultado de anos de pesquisa da autora, que entrevistou mulheres que seguiam os preceitos dos anos de 1940 e 1950 – época em que estas se restringiam às atividades domésticas, sem espaço para si mesmas e seus sonhos –, além de empresários, médicos e publicitários.

Segundo Liz, o livro não trouxe fórmulas ou soluções para suas inquietações, mas a fez ver que outras mulheres também sentiam o mesmo que ela, por isso decidiu ir à luta e batalhar por um lugar ao sol. Com formação literária e depois de um início meio hesitante, ela acabou se especializando no mercado editorial, ao lançar o grande sucesso de Isabel Allende, A Casa dos Espíritos.

No meio literário, conheceu Salman Rushdie, quando este ainda era um jovem aspirante a escritor, auxiliando-o com seus primeiros livros. Mais tarde, fundou a editora Bloomsbury, a mesma que descobriu J.K. Rowling, criadora de Harry Potter, que ajudou a lançar.

Antes de se tornar uma grande editora, Liz morou no Brasil com o marido e as filhas, vivendo por um bom tempo no país, onde aprendeu o português atuando como modelo. De volta à Inglaterra, ela ainda manteve relações com o Brasil nas suas férias e foi numa dessas ocasiões, já casada pela segunda vez, que ela descobriu Paraty por intermédio do navegador Amyr Klink e se apaixonou pela cidade. A partir daí surgiu a ideia de um festival literário, nos moldes do Hay-on-Wye, do País de Gales, e que acabou se tornando na grande Festa Literária Internacional de Paraty, conhecida como Flip.

A guinada na vida de Liz Calder, atrelada ao livro Mística Feminina, me fez lembrar de um texto da jornalista e escritora Eliane Brum, publicado na sua coluna da revista Época no final do ano passado em que indaga se “a literatura é capaz de transformar o seu mundo?” (http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI198223-15230,00-A+LITERATURA+E+CAPAZ+DE+TRANSFORMAR+O+SEU+MUNDO.html).

Para responder essa questão, Eliane utiliza depoimentos de vários escritores, entre eles Luís Henrique Pellanda, que deu uma reposta bastante simples: “a literatura nos dá muito. Mas não promete nada.” Ou seja, já nas palavras de Eliane, “a literatura não nos dá nenhuma resposta. Nos dá algo muito melhor, nos dá novas perguntas".

E eles estão certos. No caso de Liz Calder, o livro não lhe deu uma receita pronta, mas a fez pensar – e se mobilizar. E é só disso que precisamos.

2 comentários:

  1. Adorei conhecer um pouco sobre essa história! Eu li essa coluna da Eliane, e,como sempre, maravilhoso o texto.

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  2. Oi Cecilia,
    Adorei saber sobre a origem da Flip e um pouquinho sobre a vida de uma das idealizadoras desse evento literário maravilhoso. Já estive em um evento Flip, mas nunca tive muita informação sobre o surgimento desse projeto. Ameiii saber!!!E literatura muda muito a vida da gente sim. Eu quando terminei de ler o livro "Mulheres no Brasil" percebi que algumas coisas mudaram muito na minha cabeça. Não dava para manter a mesma postura em relação a vários fatos que consideramos "tão normais". Lembro bem que uma das questões que mais me tocou foi sobre a questão salarial. Por que homens quase sempre ganham muito mais que as profissionais mulheres?Então...mudanças...mudanças...mudanças!!!
    Bjs e boa semana

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