quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Ode a São Paulo

Reaberta ontem ao público, a Biblioteca Mário de Andrade, segunda maior do país – a primeira é a Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro –, foi o ponto alto das comemorações do 457º aniversário da cidade de São Paulo.

Tinha planejado ir à reinauguração, mas acabei optando, primeiro, ao passeio de trólebus pelo centro da cidade, outra atração do aniversário. Só que a procura era tanta que uma longa fila se formou no Pátio do Colégio, ponto inicial do passeio.

De tanto esperar, acabou ficando tarde, mas durante o trajeto pude vislumbrar a entrada da biblioteca e toda a movimentação à frente e no interior do prédio. Depois caiu uma tremenda chuva, a cidade ficou intransitável e acabei voltando para casa com gosto de quero mais.

Nada que uma visita à Biblioteca nos dias que se seguem não possa resolver. Afinal, ela está lá, no mesmo lugar, de portas abertas esperando e acolhendo os visitantes e leitores que a ela acorrem para conferir o acervo de mais de 327 mil livros, dentre os quais 51 mil considerados raros ou especiais.

Inaugurada em 1926, a Biblioteca Mário de Andrade ocupou outro edifício no início, sendo transferida em 1943 para o atual prédio, na rua da Consolação, ao lado da Praça Dom José Gaspar, no centro da cidade. Ela conta com 12.032 metros quadrados e foi projetada, em estilo art déco, pelo arquiteto francês Jacques Pilon na década de 1930.

O nome da biblioteca – Mário de Andrade – é uma homenagem ao poeta, romancista, musicólogo, historiador, crítico de arte e fotógrafo brasileiro. Personagem central da Semana de Arte Moderna, realizada em 1922, em São Paulo, Mário publicou na época o livro Paulicéia Desvairada, inaugurando assim a poesia moderna brasileira.

Para encerrar essa pequena homenagem a São Paulo, minha cidade querida, apesar de todo o caos que ela comporta, reproduzo aqui um dos poemas de Mário de Andrade, dedicado à capital do estado.

Quando eu morrer quero ficar

Quando eu morrer quero ficar,
Não contem aos meus inimigos,
Sepultado em minha cidade,
Saudade.

Meus pés enterram na rua Aurora,
No Paissandu deixem meu sexo,
Na Lopes Chaves a cabeça
Esqueçam.

No Pátio do Colégio afundem
O meu coração paulistano:
Um coração vivo e um defunto
Bem juntos.

Escondam no Correio o ouvido
Direito, o esquerdo nos Telégrafos,
Quero saber da vida alheia,
Sereia.

O nariz guardem nos rosais,
A língua no alto do Ipiranga
Para cantar a liberdade.
Saudade...

Os olhos lá no Jaraguá
Assistirão ao que há-de vir,
O joelho na Universidade,
Saudade.

As mãos atirem por aí,
Que desvivam como viveram,
As tripas atirem pro Diabo,
Que o espírito será de Deus.
Adeus.

* Ao reler este poema lembrei-me de meu pai. Quando morávamos em Indaiatuba (SP), para onde nos mudamos em 1976, meu pai sempre dizia que quando morresse queria ser enterrado em São Paulo. Em 1992 voltamos à capital paulista e foi nesse mesmo ano que ele morreu, podendo, assim, permanecer para todo o sempre na cidade que o acolheu ainda menino. São Paulo é assim, ela te engolhe, mas também te encanta.

2 comentários:

  1. É por essas e outras que, às vezes, gostaria de morar em São Paulo. Bela homenagem!

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  2. Ah, esta São Paulo sempre me encanta... E é de pessoas como você que eu lembro sempre.
    Mário de Andrade consegue sempre representar vários tipos de emoção de forma brilhante. Acho isso incrível.
    Um grande beijo, Ciça.
    Saudades!

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