quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

O "irreverente" de Um Só Coração

São Paulo é uma cidade fascinante. Caótica, com certeza, mas não deixa de ser fascinante. Da sua estranha e complexa geografia à multiplicidade de etnias, passando pelos serviços incontáveis até uma programação cultural rica e intensa, São Paulo é um território magnífico e envolvente. E, depois, foi na capital que nasci, foi na capital que cresci, foi na capital onde vivi até agora e onde pretendo continuar permanecendo.

Quando eu era adolescente, sonhava com o campo e o sertão, com aquelas expedições missionárias, com a vida longe das cidades grandes. Até que, no fim da adolescência, mudei da capital paulista para o interior e aí o "bicho pegou". Descobri-me inteiramente urbana, ligada às grandes metrópoles e a sua vida louca e inquietante. Voltar para São Paulo era uma questão de honra – e de vontade imensa – somente concretizada depois de graduada e atuando na área de Jornalismo. Afinal, São Paulo é o meu lar, a minha paixão, a minha vida.

Por isso, não é à toa que quando assisti a minissérie global, Um Só Coração, que prestava homenagem à cidade de São Paulo nos seus 450 anos e exibida em 2004, eu me identificasse plenamente. Tanto que, tempo depois, adquiri o livro São Paulo através da minissérie Um Só Coração, publicado naquele mesmo ano pela Editora Globo, que traz a história e os bastidores da minissérie. escrita por Maria Adelaide Amaral e Alcides Nogueira.

O livro enfoca desde os anos de fundação da cidade às décadas de 1920 a 1950, lembrando a celebração da primeira missa, as expedições dos bandeirantes e a formação das oligarquias cafeeiras, mas sem deixar de trazer um breve olhar sobre o presente. Além disso, é ricamente ilustrado com material fotográfico, informando, também, a cerca de cada personagem – reais ou fictícios – apresentados na minissérie.

A trama central gira em torno do Yolanda Penteado, uma mulher dinâmica e inovadora, e Ciccillo Matarazzo, italiano e rico industrial do setor metalúrgico. Amantes das artes, o casal patrocinou grandes empreendimentos culturais e impulsionaram a arte nacional. Em torno deles gravitam outras histórias de personagens fictícios e reais. Destes, nenhum me chamou mais atenção do que Oswald de Andrade, escritor, poeta e ensaísta e dramaturgo brasileiro, e seus companheiros da Semana de Arte Moderna de 1922, como Mario de Andrade, Menotti Del Picchia, Tarsila do Amaral e Anita Malfatti, entre outros. Oswald de Andrade, inclusive, foi brilhantemente representado na minissérie pelo ator José Rubens Chacá.

José Oswaldo de Sousa Andrade Nogueira nasceu em São Paulo em 11 de janeiro de 1890, portanto há 121 anos, foi um dos grandes nomes do modernismo literário brasileiro. Irreverente, inovador e alegre, era considerado o mais “rebelde” do grupo, e protagonizou dois dos romances mais comentados da época: primeiro com Tarsila do Amaral; depois com Patrícia Galvão, a Pagu, então uma menina, com a qual teve um filho – Rudá, que se tornou escritor e cineasta, tendo falecido em 2009.

Autor do "Manifesto da Poesia Pau-Brasil" e do "Manifesto Antropófago", Oswald de Andrade publicou ainda "Memórias Sentimentais de João Miramar", introduzindo a prosa experimental no Brasil, e assinou um dos primeiros livros da poesia modernista, "Pau-Brasil".

E agora, esse personagem que me encantou na minissérie e no livro, será o grande homenageado da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) de 2011, que acontecerá de 6 a 10 de julho próximos. Segundo os organizadores, a trajetória e o alcance da obra de Oswald de Andrade na formação da literatura brasileira devem servir de base para os eventos dedicados ao escritor na festa literária. E, é claro, que vou querer estar lá para conferir toda essa homenagem bem de pertinho.

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