sexta-feira, 29 de junho de 2012

Leitura mágica

Outro dia me deparei no Facebook com uma imagem que me deixou aturdida, na verdade quase pirei de tanto encantamento. Por isso, reproduzo aqui.

Nela, uma garota está sentada no banco do trem do metrô lendo um livro; ao lado, emparelhado, outro trem aparece, mostrando pela janela um garoto também lendo o mesmo livro. Os dois jovens se olham. Abaixo, os seguintes dizeres:

"A vida é como um romance. Você não tem ideia do que vai acontecer até que você vire a página." - Sidney Sheldon.

"E assim, do nada, tudo acontece e você encontra aquilo que procurava a vida inteira."

Lindo demais!


A imagem e o texto foram tirados da página "Eu amo ler", do Facebook.

terça-feira, 26 de junho de 2012

Bartleby, síndrome e companhia

Têm dias que a gente não quer fazer nada, preferindo ficar só de papo para o ar, no mais completo abandono, se alternando entre o ócio e a preguiça. Às vezes é bom – e reconfortante –, mas o que fazer quando esses dias custam a passar, prolongando por demais o estado de letargia de forma a afetar sua vida?
 
Não tenho uma resposta, pois – se bem que não chega a tanto – ultimamente ando meio preguiçosa para escrever. Às vezes a culpa é do trabalho de jornalista, que me absorve tanto ao ponto de não ter forças para pensar em mais nada, nem mesmo no blog; mas também ocorre de eu ter tempo livre e, mesmo assim, permaneço estática, diante da tela branca do computador, só me movimentando se for para navegar na internet, em perfeita vadiagem.

Cheguei à conclusão de que estou sofrendo de uma espécie de síndrome de Bartleby, aquele mal descrito pelo escritor espanhol, Enrique Vila-Matas, em Bartleby e companhia, livro consagrado na França com o prêmio Médicis e que foi publicado pela Cosac Naify. Guardadas as devidas proporções com o meu caso, pois nem escritora sou, a síndrome acomete alguns autores que, em alguns casos, após alcançarem o êxito literário, pararam de escrever.

O nome Bartleby – e suas características abúlicas – foi baseado no romance de Herman Melville, intitulado Bartleby, o escrivão, de 1853, e publicado como livro em 1856. Nele, o personagem, depois de ser contratado como escriturário em um escritório de advocacia e desempenhar com afinco sua função, começa a refutar suas tarefas com um firme “prefiro não fazer”. A situação vai piorando e Bartleby acaba não fazendo mais nada, nem ao menos sai do escritório, onde passa a morar e a comer. Por fim, nem se alimentar ele quer mais e termina sendo levado a uma prisão, onde perece.

Em Bartleby e companhia, Enrique Vila-Matas fala de vários escritores da literatura mundial, reais e até alguns fictícios, que são acometidos pela síndrome de Bartleby.  Para contar essa história, um narrador-escritor quebra um silêncio de 25 anos sem escrever para fazer uma espécie de diário, ou melhor, notas de rodapé para um livro a ser escrito – ou não –, sobre os casos de autores que deixaram a escrita.

Dentre os escritores citados encontra-se o poeta francês Rimbaud, que depois de um começo brilhante e promissor, abandonou a poesia aos 21 anos para se aventurar no tráfico de armas na África. Já o escritor mexicano Juan Rulfo, autor de apenas dois romances – El Ilano em Ilamas (1953) e o aclamado Pedro Páramo (1955) – encontrou na morte de seu tio Celerino o motivo para não voltar a escrever, uma vez que era ele quem lhe contava histórias inspiradoras.

Caso curioso é do escritor suíço de língua alemã, Robert Walser, que se fechou no silêncio por não concordar com a fama, que se apropriava dos textos produzidos. Na verdade, Walser considerava que a escrita deixa de ser do autor para ser recriada pelo leitor.

Clemente Cadou, por outro lado, possivelmente um escritor fictício, foi preparado durante a infância, a adolescência e até o início da idade adulta para ser um grande escritor, mas ao conhecer Witold Grombrowicz, um de seus autores preferidos, ficou mudo, se sentindo como uma peça de mobília. A partir daí abandonou a carreira literária, passando a dedicar-se a pintura de autorretratos e móveis!

Outro autor fictício seria Paranoico Pérez. Ele planejava escrever um romance sobre o convento de Sintra, mas viu em uma livraria Memorial do convento, de José Saramago; depois quis falar sobre Ricardo Reis, mas de novo Saramago se antecipou, com o romance O ano da morte de Ricardo Reis. As coincidências fizeram com que Paranoico nunca escrevesse um livro, culpando dessa forma o grande autor português pelo seu infortúnio, como nesta passagem:

Paranoico Pérez nunca conseguiu escrever um livro, porque sempre que tinha alguma ideia para um e se dispunha a fazê-lo, Saramago o escrevia antes dele. Paranoico Pérez acabou transtornado. Seu caso é uma variante interessante da síndrome de Bartleby.
– Escute, Pérez, e o livro que estava preparando?
– Não o farei mais. Outra vez Saramago roubou-me a ideia.
 
E por essa trilha o livro prossegue, com exemplos dos mais variados casos de síndrome de Bartleby. E é curioso até lembrar de alguns que não foram citados. Tenho para mim que o lendário jornalista Joseph Mitchell, um dos nomes mais respeitados da prosa de não ficção americana, também tenha sido acometido pelo mal, embora, no caso dele, talvez a crise de consciência o tenha aniquilado para a escrita.

Mitchell sabia escrever como ninguém perfis de anônimos, ou seja, de pessoas comuns. Foi assim que publicou uma estupenda reportagem que resultou no livro O segredo de Joe Gould, um boêmio-mendigo que perambulava pelas ruas de Greencwich Village, na Nova York de 1920 a 1940, e que tencionava escrever a obra monumental “História oral de nosso tempo".
 
Interessado, Mitchell fez um belo retrato de Gould, que na verdade não vinha escrevendo o livro. Ao descobrir, o jornalista publicou, nos anos de 1960, quando Gould já havia falecido, um segundo texto desfazendo o mito que ajudara a criar. O resultado dessa investida foi um silêncio no qual o jornalista se impôs por mais de três décadas, período em que se dirigia diariamente à redação da revista, sentava em frente à máquina de escrever, cumpria seu expediente, mas não produzia nada.

Teria sido a revelação do segredo forte demais ou seria o fato de admitir que se deixara enganar por Gould que emudecera o grande jornalista? Seja qual for o motivo, não pude deixar de pensar nele quando li Bartleby e Companhia.

Nascido em Barcelona, Enrique Vila-Matas, publicou 33 livros em mais de 30 países, e estará na Flip 2012 – Festa Literária Internacional de Paraty.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

De volta à rainha do crime

Foi como retroceder no tempo – não na infância ou na adolescência, pois só comecei a ler os livros de Agatha Christie aos 20 anos, quando estava na faculdade –, mas ainda assim em uma época de descobertas literárias. Esta foi a sensação que tive ao ler Assassinato no Expresso do Oriente, uma trama bem armada da escritora britânica e rainha do crime, que prende a atenção do início ao fim.

Não li muitos livros de Agatha Christie, apenas quatro, mas um deles, O caso dos dez negrinhos, é um dos meus favoritos, assim me aventurar pelas histórias da escritora é mesmo uma volta no tempo. Isso porque, embora possamos ler seus livros – e outros até – em qualquer fase da vida, acredito que muitos se iniciam com Agatha na adolescência, quando temos o tempo todo do mundo para ler, com intensidade, boa parte da sua extensa obra.
Sou um tanto inconstante, porém, gosto de variar os gêneros, talvez por isso não fique muito tempo com um autor ou um estilo. Quando era mais jovem até o fazia, mas agora essa diversidade se faz mais urgente para mim, assim vou intercalando minhas leituras, mas sempre de olho em um ou outro autor que gosto mais para poder retomar mais à frente.
Com Agatha, no entanto, essa retomada demorou a chegar, despertando em mim a vontade de ler mais livros seus, aqueles que ainda não li e só ouvir falar. Um livro sempre puxa outro, dessa forma, já acrescentei mais cinco à minha lista, todos da escritora.
Culpa de Assassinato no Expresso do Oriente, história que traz, mais uma vez, o personagem mais famoso da rainha do crime: Hercule Poirot, o detetive belga, protagonista da maioria dos livros de Agatha Christie, cuja fama rivaliza com a de Sherlock Holmes, o detetive criado pelo escritor britânico sir Arthur Conan Doyle.
Na trama, depois de ter solucionado mais um caso, Poirot embarca no Expresso do Oriente que, ao contrário do que acontece naquela época do ano, está repleto de passageiros. A certa altura da viagem, um dos passageiros é assassinado, quase no mesmo instante em que trem fica parado na ferrovia por causa da tempestade de neve.
A pedido do diretor da companhia Wagons Lit, que também é seu amigo, Poirot assume o caso e passa a interrogar todos os passageiros. Em meio às investigações, ele descobre que a vítima era um criminoso que participara do famoso caso Armstrong, que envolvia o sequestro e a morte de uma menina, levando à morte da mãe e ao suicídio do pai.
Aos poucos ficamos sabendo que todos os passageiros, de certa forma, estavam ligados à família Armstrong e, portanto, poderiam ter cometido o crime. O circo está armado e, por vezes, tendemos a suspeitar de um ou de outro personagem, mas logo mudamos de opinião, apontando um novo suspeito.
É interessante ressaltar que entre os passageiros há uma mescla de nacionalidades e tipos diferentes entre si, fazendo aflorar preconceitos e impingindo estigmas a uma ou outra etnia. Entre estas, a de que os italianos são esquentados e capazes de manejar facas; a de que os ingleses são frios, mas refinados; e a de que os americanos são permissivos.
Até o final da trama foi difícil saber, ao certo, quem cometeu o crime, pelo menos para mim, que não sou “expert” em desvendar mistérios. Dessa forma, embarquei facilmente na história e cheguei até a suspeitar do próprio diretor da companhia e de um médico que também ajudava Poirot nas investigações, pois todos os passageiros tinham um álibi convincente. O desfecho, contudo, é impressionante e vale cada linha do livro. E o melhor, faz o leitor desejar mais do mesmo, ou seja, ser aventurar pelos mais de 80 livros da escritora. Tarefa nada difícil.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Para Ray Bradbury

“– Todos devem deixar algo para trás quando morrem, dizia meu avô. Um filho, um livro, um quadro, uma casa ou parede construída, um par de sapatos. Ou um jardim. Algo que sua mão tenha tocado de algum modo, para que sua alma tenha para onde ir quando você morrer. E quando as pessoas olharem para aquela árvore ou aquela flor que você plantou, você estará ali. Não importa o que você faça, dizia ele, desde que você transforme alguma coisa, do jeito que era antes de você tocá-la, em algo que é como você depois que suas mãos passaram por ela. A diferença entre o homem que apenas apara gramados e um verdadeiro jardineiro está no toque, dizia ele. O aparador de grama podia muito bem não ter estado ali; o jardineiro estará lá durante uma vida inteira.”
(Trecho de Fahrenheit 451).
* Falo sobre o livro aqui

Ray Bradbury, com certeza, deixou um belo legado em obras literárias, além do imensurável amor aos livros. Descanse em paz.

(Waukegan, 22 de agosto de 1920 – Los Angeles, 6 de junho de 2012).
* Foto tirada daqui