quarta-feira, 2 de março de 2011

"Queimadores de livros"

Imagine um futuro incerto, não muito distante, cujo regime totalitário proíbe e persegue os livros e tudo o que se relacione a leitura. Imagine ainda que para acabar com toda e qualquer obra literária ainda existente, seja necessário acionar os bombeiros que, nesse mundo, têm a função de queimar livros, fazendo um verdadeiro espetáculo a céu aberto. Imagine também que nesse futuro as pessoas são controladas por meio de telões gigantes de televisores instalados nas residências, transmitindo, diariamente e aleatoriamente, programas que não levam a lugar algum. E que esse controle visa suprimir as opiniões próprias e aniquilar o pensamento crítico.

Terrível? Pois é exatamente este o cerne de Fahrenheit 451, o romance de Ray Bradbury, escritor de ascendência sueca e que escreve contos de ficção científica norte-americana. Publicado pela primeira vez em 1953, o romance foi adaptado para o cinema em 1966, sob a direção de François Truffaut.

Li o livro recentemente, numa dessas circunstâncias de leituras tardias, por isso o primeiro pensamento que me veio à cabeça foi “como pude ficar tanto tempo sem ler este livro ou por que não o li antes”. Afinal, já havia visto e escutado várias informações e referências a seu respeito e o tinha na minha lista há um bom tempo, isso sem falar na paixão que tenho por livros que falam de livros. Mas não sei por que adiei, são coisas que a gente não sabe explicar.

Pensando bem, talvez ainda não fosse a hora dessa leitura, pois acredito que sempre há um tempo certo para tudo e, foi assim com esse livro. Seja como for, ler Fahrenheit 451 foi uma dessas experiências que por si só já valem a pena a espera.

O livro, cujo título refere-se à temperatura (em Fahrenheit) a qual o papel ou o livro incendeia, foi escrito por Bradbury na primavera de 1950, numa primeira versão, exibindo o título de The Fire Man. Foi todo escrito em nove dias, na sala de datilografia no porão da biblioteca da Universidade da Califórnia em Los Angeles, provavelmente em uma máquina de escrever Remington, alugada a 10 centavos por meia hora. Era então a metade do romance que mais tarde se apresentaria e que ainda hoje intriga as pessoas.

A escolha do local da escrita não poderia ter sido mais certa. Apaixonado por bibliotecas, Bradbury queria escrever um romance que falasse sobre essa afeição e de como a televisão destrói essa relação. Assim, entre uma página ou outra que escrevia, o autor percorria a biblioteca, entrava pelos corredores, olhava os livros, tirava-os da prateleira, examinava suas páginas.

A história então foi ganhando forma e corpo, transformando-se num romance que discute temas importantes da época (logo após a Segunda Guerra Mundial), como a censura nos anos de 1950, os incêndios de livros na Alemanha de Hitler e o perigo das armas nucleares.

O personagem central da história é Guy Montag, bombeiro que desempenha satisfatoriamente sua função como ”queimador de livros”, até que um dia conhece uma garota, Clarisse McClellan, uma moça sonhadora, de pensamento livre e questionadora, que o faz repensar sobre sua função, o governo e os cidadãos. A partir daí ele resolve mudar sua vida e a sociedade à sua volta, encontrando apoio em um professor de nome Faber.

Achei interessante a escolha dos nomes dos personagens que, segundo o próprio autor, surgiram sem intenção consciente, como relata no final do romance:

“Uma última descoberta. Escrevo todos os meus romances e contos, como vocês já viram, num grande acesso de paixão prazerosa. Só recentemente, revendo o romance, percebi que Montag foi batizado com o nome de uma fábrica de papel. E Faber. Naturalmente, é um fabricante de lápis! Como meu inconsciente foi astuto ao dar esses nomes a eles.
E em não contar isso a mim!”

Só mesmo grandes escritores para contar histórias e dar vida a personagens tão extraordinários e tão próximos ao mundo da literatura.

2 comentários:

  1. Nossa, parece um livro muito interessante, estou curiosa! =)

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  2. Oi, Cecilia
    Sempre quis muito ler esse livro e sua resenha aticou ainda mais minha curiosidade..bjs

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