segunda-feira, 14 de março de 2011

Das escolhas do livro

O livro, enquanto objeto, pode ser experimentado com todos os sentidos: visão (o ato de enxergá-lo entre tantos títulos), tato (manuseando sua borda, sua capa, suas páginas), olfato (cheirando seu conteúdo), audição (o leve ruído de virar as páginas ou a imaginação com a narração do autor ou ainda com a recomendação de alguém sobre a obra) e paladar (aqui também é preciso usar a imaginação). Assim, com o auxílio de cada um dos órgãos humanos, fazemos a opção por esta ou aquela leitura.

Embora concorde inteiramente com isso, devo admitir que não sou muito visual, na verdade presto mais atenção às letras do que à forma. É claro que uma capa atraente, plasticamente bonita, um formato diferenciado, o desenho nas letras, enfim, todos os recursos visuais disponíveis, são envolventes e contam muito, mas o que mais me atrai num livro é o poder das letras que, juntas, formam uma palavra, que por sua vez junto a outras, constroem uma frase que dá sentido ao todo. Mais do que as cores e formas, eu priorizo os dizeres.

Por isso, costumo dizer que o meu negócio é texto. Afinal, é a história que busco e, se o título me chamar a atenção, vou pegar o livro, vou folheá-lo, vou ler sua contracapa e sua orelha, vou me certificar se é mesmo a história que estou procurando.

Mas há um outro jeito de escolher um livro também. É ouvir falar dele. E esse ouvir pode ser ler, uma reportagem, matéria informativa, indicações de sites e blogs, nas redes sociais. Ou ainda nas referências que o próprio livro dá em relação a outro livro. E ouvir mesmo, nas recomendações dos amigos, de mestres, de bibliotecários e de vendedores nas livrarias e sebos. E não é preciso muito para contar um romance, às vezes, bastam três palavras, como diz Daniel Pennac em um trecho do seu livro Como um romance:

Lembrança de infância e de verão. Hora da sexta. O irmão mais velho deitado de bruços na cama, queixo entre as palmas das mãos, mergulhado num enorme livro de bolso. O pequeno, como quem não quer nada: ‘O que é que você está lendo?’
O GRANDE: As chuvas chegaram.
O PEQUENO: é BOM?
O GRANDE: Demais!
O PEQUENO: O que ele conta?
O GRANDE: É a história de um cara: no começo, ele bebe muito uísque, no fim ele bebe muita água!
Não precisei de grande coisa para passar o fim desse verão molhado até os ossos por
As chuvas chegaram, do senhor Louis Bromfield, furtado a meu mano, que não o terminou nunca.”

A indicação é, certamente, a opção da qual mais utilizo. E daqueles que citei e que fazem parte de um ciclo que alimenta e dissemina o livro, gostaria de ressaltar o vendedor de livros, cujo dia de hoje lhe é dedicado. Mas ao mesmo tempo destaco-o com certo pesar, por lembrar que, recentemente, li uma notícia sobre a dificuldade que duas das maiores livrarias dos Estados Unidos vem enfrentando para sobreviver: a Borders, que decretou concordata, fechou 200 lojas e demitiu um terço dos seus funcionários; e a Barnes&Noble, que ao que tudo indica irá o mesmo caminho.

Esse quadro acontece em razão da internet ser hoje o principal meio de consumo de livros nos Estados Unidos. Não vou negar que também faço minhas compras pela internet, mas não deixo de frequentar livrarias e, comprar, sempre que possível. E aí é que está o problema, comprar sempre que possível, porque o custo de um livro pela internet sai muito mais em conta do que nas livrarias. Infelizmente.

Esta é a realidade em que vivemos. Se até o livro impresso está ameaçado, o que não dizer das livrarias. Espero que haja espaço para todos, porque deixar de frequentar uma livraria é como deixar de se beneficiar de um ato prazeroso e relaxante. Diria até mais, terapêutico. Para quem gosta e aprecia livros, nada como entrar em uma livraria, circular entre as prateleiras, olhar os títulos à amostra, tocar os volumes, folhear as páginas, cheirar o exemplar, ler trechos e decidir por uma compra. Faz bem ao espírito, ativa a mente, relaxa o corpo e te dá prazer, muito prazer. Experimente!

4 comentários:

  1. Oi, Cecilia!

    Eu adoro frequentar livrarias, mas confesso que não compro mais nelas. Vou para ver o livro, pegar, folhear, ler as primeiras folhas... se gosto do livro e quero comprar, compro em casa pela internet, apenas pelo motivo que você citou: preço.
    Dificilmente saio da livraria com um livro.

    Beijos,
    Adriana Ornellas

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  2. Cecília, gostamos e precisamos tanto dos livros. Fico me perguntando por quanto tempo continuarão a ser tão caros. Um abraço e boa páscoa.

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  3. É verdade! Espero que os meus herdeiros, herdem de nós esse prazer! Parabéns,

    Luciana Barrichelo.

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  4. amei a abertura do texto... sempre tive um gosto especial por "sentir" os livros muito mais que em livrarias, nas bibliotecas. Especialmente aqueles livros antigos, amarelados e com cheiro de história velha rs
    Cada um tem um gosto.
    Comprar, compro poucos. Afinal, que R$ eles tem nas livrarias. Artigos raros!
    Mas sempre tenho um comigo, caso sobre um tempo no trabalho, o ônibus demore, a fila do banco esteja demorada, o dentista demore pra chamar...

    Parabéns pelo blog!
    Conteúdo bom d+

    bj
    fachini

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