segunda-feira, 21 de março de 2011

Parceiros de quatro patas

Gosto muito de animais e quase sempre, sem que seja proposital, incluo na minha lista de leituras histórias de animais ou com eles como personagens. Do início do ano até agora, li quatro livros sobre o assunto e já tenho outros tantos para serem lidos ainda este ano. Os dois mais recentes foram De Bagdá com muito amor e Lições de um cão chamado Lava, ambos de autoria de Jay Kopelman, ex- tenente-coronel do Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos.

Durante a leitura, lembrei-me muito do meu cãozinho Roger, que perdi há um ano, exatamente no mês de março. E, à semelhança do cão Lava, o personagem dos livros que citei, Roger apareceu em casa num momento delicado para minha família e foi importante para “curar” nossas mágoas e feridas.

Tempo atrás eu já tinha tido a oportunidade de escrever uma matéria sobre o papel dos animais para promover uma melhor saúde e qualidade de vida das pessoas. É a chamada Terapia Mediada por Animais e, na época, acompanhei a visita do cão Joe Spencer à ala infantil e psiquiátrica do Hospital São Paulo. O resultado foi surpreendente. Pacientes, acompanhantes, funcionários, visitantes... não havia quem não parasse ao menos para olhar o cão. A maioria, contudo, buscava interagir com ele, o que, sem dúvida, deixava o ambiente hospitalar mais humano.

Dessa “função” terapêutica do animal em hospitais, instituições e mesmo em lares eu já sabia, mas me surpreendi ainda mais quando conheci, em De Bagdá com muito amor, a importância dos bichos, em especial de cães, na guerra, embora o regimento militar não permita que se tenha animal de estimação ou mesmo que os alimente nos acampamentos.

Foi contrariando essa regra, contudo, que Jay Kolpeman, então tenente coronel do grupo de fuzileiros navais, no início da ocupação norte-americana, na cidade de Faluja, Iraque, se defrontou com um filhote de cão, iniciando ali uma amizade que iria enfrentar toda e qualquer dificuldade para continuar compartilhada além da guerra.

Lava, o pequenino cão foi encontrado pelos fuzileiros navais em 2004, em meio a um tiroteio nas ruas de Faluja. Eles o resgataram e o levaram para o acampamento. Ali, Lava fica conhecendo Jay Kopelman que, a princípio, resiste às investidas do cão, mas acaba sendo conquistado. A partir daí, Jay e seu grupo fazem de tudo para esconder Lava e mantê-lo vivo até conseguir levá-lo, com segurança, para os Estados Unidos, para onde o tenente-coronel é mandado de volta alguns meses depois.

Jay conta que a presença de Lava entre o batalhão contribuiu para resguardar a sanidade mental. E também de todos com que ele conviveram em Faluja, como a da repórter Anne, que ficou com o cão por um tempo em Bagdá, enquanto Jay fazia contatos com autoridades e entidades voltadas para animais para transportá-lo aos Estados Unidos.

No fim de semana, Anne me envia outro e-mail.
Ele hoje salvou minha sanidade. Estava cheia de tudo isso aqui e de todo o meu trabalho, mas fui para casa e fiquei brincando com ele.
Imagino que a presença de Lava nas instalações da rádio proporciona a todos os humanos uma fuga temporária da realidade e os leva através de vários pontos de controle até a terra do faz-de-conta, onde os cachorrinhos saltitam em gramados verdes e macios e está um lindo dia na vizinhança.”

O relato de Jay se estende ainda o dia a dia dos soldados, a guerra travada em Bagdá, os ataques dos homens-bomba, as dificuldades em treinar e manter soldados iraquianos, os conflitos armados, as mortes de companheiros, os cães famintos e abandonados pelas ruas da cidade, um cenário devastador.

O final desta história é feliz e aponta para uma outra. Foi então que descobri a continuação da história de Lava, em Lições de vida de um cão chamado Lava, também de autoria de Jay Kopelman. Mas confesso que esperava mais deste livro. A densidade emocional do primeiro, que foi escrito com acoautoria da jornalista Melinda Roth, não se encontra no segundo livro. Neste, o ex-tenente coronel fala de Lava e de sua adaptação ao Estados Unidos, mas concentra-se mais nas suas dificuldades de readaptação à vida com os amigos e familiares depois da guerra. Fala sobre regulamentos e a vida dos fuzileiros navais durante o exercício da profissão e depois de ter enfrentado uma guerra.

O importante, porém, é o que fica: sua relação e seu amor por Lava e o quanto a companhia do cão foi e é fundamental na sua vida.

Esse sentimento eu conheço bem. É muito bom.

Por isso, sempre quando me perguntam se eu não quero outro cão, eu respondo sem pestanejar que sim,que quero, mas é preciso mudar de casa primeiro.

O problema é que ainda não sei quando vou mudar.

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