quinta-feira, 28 de abril de 2011

Llosa para crianças

O escritor peruano, Mario Vargas Llosa, ganhador do Nobel de Literatura de 2010, é bastante conhecido no mundo literário por uma obra marcada pela crítica à hierarquia de grupos sociais e raciais em seu país de origem e na América Latina. A luta pela liberdade individual, a intelectualidade e as experiências pessoais também são uma constante em sua escrita.

Mas, há bem pouco tempo, descobri uma outra faceta da obra de Vargas Llosa que não conhecia – e arrisco até a dizer que nem ele, mesmo porque é bem recente. Trata-se de Fonchito e a Lua, o primeiro livro infantil do escritor, lançado em março deste ano no Brasil pela Editora Objetiva, com tradução de Ari Roitman e Paulina Wacht.

É um livro pequeno, com 32 páginas, que me chegou às mãos pelas mãos de uma amiga, a Gil. Ela me disse que o encontrou em uma livraria e, fascinada com as ilustrações – assinada por Marta Chicote Juiz –, leu, ali mesmo, o pequeno livro. Dias depois, ainda pensando nele, acabou encomendando-o pela internet e, naquele dia que nos encontramos, ela o recebeu. Sem apego ou ciúmes, pois o livro mal tinha chegado às suas mãos, ela fez questão de me emprestar para ler e, eu, encantada, agradeci.

A história gira em torno da paixão do menino Fonchito, o personagem que dá título ao livro, pela amiga de escola Nereida. Ele morre de vontade de dar um beijinho no rosto da menina, mas esta lhe diz que só aceitará se Fonchito lhe trouxer a lua. O garoto então não sossegará até encontrar um meio de realizar o desejo de Nereida e, assim, poder lhe dar o tão sonhado beijo. Nessa empreitada, ele descobre que nada é impossível para quem deseja realmente alcançar um sonho.

Com ilustrações de traços e cores delicadas, a história de Fonchito e a Lua me fez lembrar o enredo de Stardust - O Mistério da Estrela Cadente, o segundo livro escrito pelo escritor inglês Neil Gaiman, e ilustrado por Charles Vess. Neste, a história gira em torno da cidade fictícia chamada "Muralha", que é rodeada por um imenso muro, com uma fenda constantemente vigiada e que levaria a outro mundo. Na cidade, vive Tristan, um rapaz apaixonado por uma moça chamada Vitória, que morre de vontade de beijá-la e desposá-la. Ela, porém, não lhe dá atenção, mas diz que só o aceitará se ele lhe der uma estrela cadente. Assim, Tristan parte para o outro lado do muro em busca da estrela cadente.

O livro de Llosa, no entanto, difere por ser extremamente real e, ainda, pela simplicidade e pela temática do carinho, da afeição e do envolvimento amoroso entre meninos e meninas. Já Stardust é uma fantasia – uma bela fantasia por sinal –, e que vai além da nossa imaginação e do mundo real.

Fonchito e a Lua faz parte do projeto da Alfaguara espanhola de publicar os grandes nomes da literatura do país para crianças menores de dez anos. Ao fazer parte dele, Vargas Llosa viu assim um antigo sonho – de escrever para crianças – se concretizar. Com essa investida pela literatura infantil, o escritor, com certeza, ampliou ainda mais sua obra e seu alcance. Não é à toa que Mario Vargas Llosa é Nobel de Literatura.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

A capital mundial do livro

Quando se fala em livros e nos eventos relacionados ao mundo da literatura, eu fico logo alvoroçada. Minha vontade é participar de todos, aprofundar meus conhecimentos, me deleitar nas inúmeras possibilidades de leituras. Mas, infelizmente, isso não é possível, quer seja pela questão financeira, quer seja pela falta de tempo por causa do trabalho, ou ainda pela incapacidade de estar em todos os lugares ao mesmo tempo, ainda mais se esses lugares estão a milhas e milhas de distância.

É o caso de Buenos Aires, na Argentina, se bem que este não se trata de um lugar tão distante assim. Mas ainda pouco acessível para mim.

É que aquela cidade está ostentando, desde 23 de abril, data em que se comemora o Dia Mundial do Livro e do Direito do Autor, o título de Capital Mundial do Livro e, por consequência, uma série de eventos ligados ao universo literário estarão acontecendo no local, por um período de um ano.

Capital Mundial do Livro é um título concedido, desde 2001, pela Unesco e por grandes representantes da indústria editorial mundial, como Associação Internacional dos Editores (IPA), Federação Internacional de Vendedores de Livros (IBF) e Federação Internacional das Associações e Instituições Bibliotecárias (IFLA), a uma cidade, dos 191 países (segundo dados da ONU) espalhados pelos seis continentes terrestres, com programas de reconhecida qualidade para a promoção do livro e da leitura.

Assim, Buenos Aires foi nomeada para ostentar o título até 23 de abril do próximo ano. A seleção é bastante disputada e é feita por meio de uma comissão com a análise de projetos enviados pelos concorrentes, que incluem as atividades do setor livreiro e editorial, os eventos literários e as práticas de incentivo à leitura.

E Buenos Aires, na Argentina, não podia ter sido a escolha mais certa, já que o país vizinho é conhecido por incentivar a prática da leitura por meio de eventos e programações especiais, possuir 3.200 livrarias, segundo dados da Secretaria de Comunicação da Presidência da República, e sua população ler quatro vezes mais do que os brasileiros.

E como se tudo isso não bastasse, a Argentina ostenta também uma lista de admiráveis escritores, como Jorge Luís Borges, Julio Cortázar, Ernesto Sábato, Adolfo Bioy Casares, Ricardo Piglia e Pola Olaixarac, a jovem escritora que virá ao Brasil, este ano, para a Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), entre outros.

Buenos Aires terá uma programação literária intensa durante todo o ano em que exibirá o título de Capital Mundial do Livro. O homenageado da edição é o escritor peruano Mario Vargas Llosa, ganhador do Prêmio Nobel de Literatura em 2010.

Para começar, a cidade inaugurou, na semana passada, a 37ª Feira Internacional do Livro, cujo tema é “Uma cidade aberta ao mundo dos livros”, e que se estenderá até 9 de maio. Outras atividades, como passeios turísticos com temática literária, obras de teatro gratuitas pelas ruas da cidade, palestras e exposições estarão acontecendo. Para saber mais é só conferir o site oficial da 11ª Capital do Livro em http://www.capitaldellibro2011.gob.ar/

Abaixo estão listadas as cidades que já foram eleitas como Capital Mundial do Livro:
2011 – Buenos Aires, Argentina
2010 – Liubliana, Eslovênia
2009 – Beirute, Líbano
2008 – Amsterdã, Países Baixos
2007 – Bogotá, Colômbia
2006 – Turim, Itália
2005 – Montreal, Canadá
2004 – antuérpia, Bélgica
2003 – Nova Deli, Índia
2002 – Alexandria, Egito
2001 – Madrid, Espanha

Em 2012, será a vez de Erevan, na Armênia.

Vamos torcer e trabalhar para que o Brasil também possa, um ano, ostentar o título de Capital Mundial do Livro. Será como ver um grande sonho realizado.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Mrs Dalloway no 23 de abril

Hoje é Dia Mundial do Livro, data que teve sua origem na Catalunha, uma região semiautônoma da Espanha. No início era celebrada em 7 de outubro, em comemoração ao nascimento de Miguel de Cervantes, o famoso autor de Dom Quixote, um dos livros mais importantes da literatura mundial.

Porém, em 1930, a data passou a ser comemorada em 23 de abril, dia do falecimento de Cervantes. E, em 1996, a Unesco instituiu este dia como o Dia Mundial do Livro e também do Direito do Autor, por ser o dia também dos falecimentos de outros escritores, como Josep Pla e William Shakespeare.

Mas hoje é, ainda, o aniversário da Silvia, minha amiga de infância, com quem convivi boa parte da minha adolescência até chegar a idade adulta. Uma amizade de quase 40 anos e, embora hoje a gente já não se veja com tanta constância, os laços que nos unem nunca se afrouxaram.

E essas duas datas, a do livro e a do aniversário, me levaram a pensar em uma leitura que fiz recentemente e que me suscitou controversas sensações: Mrs. Dalloway, de Virginia Woolf.

Já faz um bom tempo que desejava ler Virginia, autora consagrada do modernismo, cuja vida tumultuada, marcada por traumas e problemas psicoemocionis marcaram, sem dúvida, sua escrita.

Não sabia bem com qual livro começar até que Mrs Dalloway apareceu tentadoramente na minha frente, assim decidi por ele. Confesso, porém, que não foi uma leitura fácil, uma vez que a autora mescla os acontecimentos com os pensamentos e as reflexões dos seus personagens. A história vai e volta na mente destes, sem pausa, sem respiro.

Por vezes pensei em parar. Enquanto lia, gostava muito, mas devo admitir que quando parava tinha dificuldade em voltar ao livro. Mas como é difícil para mim deixar um livro de lado, insisti – ainda bem.

A história conta um dia na vida de Clarissa Dalloway – a senhora que dá o título à obra –, enquanto ela prepara uma festa em sua casa para logo mais à noite. Entre suas relfexões e lembranças a cerca da sua vida e das escolhs que fez, misturam-se outros personagens, também com suas lembranças e reflexões, que podem retroceder no tempo, mas voltando sempre ao presente.

Clarrisa Dalloway – e aqui entra Silvia – lembrou-me muitas vezes a minha amiga aniversariante, em diversas situações, como sua vida atual, cercada de festas e compromissos sociais, e seus questionamentos sobre o que poderia ter sido sua existência se as coisas tomassem outro rumo. A ligação com os amigos mais queridos, o dia da festa em que quase não deu atenção a estes, mas pedindo para que ficassem até o final para poder lhes falar, tudo isso me lembrou a atual vida da Silvia. Era como se Clarrisa fosse ela e ela fosse Clarissa, como na passagem:

"O vestíbulo da casa estava fresco como uma cripta. A Sra. Dalloway levou as mãos aos olhos, e, enquanto a criada fechava a porta e ela lhe ouvia o rugir das saias, sentiu-se como uma monja que volta ao mundo e sente que tombam sobre a sua fronte os familiares véus e a resposta às velhas devoções. A cozinheira assobiava na cozinha. Ouviu o taque-taque da máquina de escrever. Aquilo era a sua vida, e, inclinando a cabeça para a mesinha do vestíbulo, curvava-se ante a sua influência, sentia-se abençoada e purificada, e, enquanto tomava o anotador de recados telefônicos, dizia consigo que momentos como aqueles eram botões da árvore da vida, eram flores da escuridão, pensava (como se alguma linda rosa acabasse de florescer unicamente para seus olhos); nem um só momento acreditara em Deus; mas uma razão, pensou com o anotador suspenso, para agradecer, na vida diária, às criadas, sim, aos cachorros e canários, e principalmente a Richard, seu marido, no qual tudo repousava – pelos alegres rumores, pelas luzes verdes, pelo assobio da cozinheira, pois a Sra. Walker era irlandesa e assobiava todo o dia – para agradecer-lhes por aquele secreto espírito de deliciosos momentos, pensou, erguendo o anotador...”

A leitura, ao final, caiu muito bem, já que não tive como ficar indiferente. Me identifiquei bastante com a história e com os personagens, com os quais conviverei ainda por um bom tempo, como se eles fossem meus íntimos e eu íntimas deles.

Mrs. Dalloway é, sem dúvida, um bom livro para se lembrar o Dia Mundial do Livro.


* Leia também o post de Mônica Carreiro sobre o livro em no blog Ler é o melhor prazer - http://lereomelhorlazer.blogspot.com/2011/04/mrs-dalloway.html?

quarta-feira, 20 de abril de 2011

O que leva você a comprar um livro?

Esta é uma pergunta interessante e prazerosa de responder, principalmente para nós, leitores assíduos, constantes, compulsivos.

Por isso, quando ela chegou até a mim, por intermédio do blog Livros e Afins ( http://livroseafins.com/ ), do Alessandro Martins, com a proposta de uma blogagem coletiva, fiquei tentada a escrever e participar, mais uma vez, do desafio.

Mas aí lembrei que, recentemente, eu havia postado no blog um texto falando exatamente de como escolho um livro para ler, não importa se comprando ou emprestando. O que vale mesmo é o motivo que me levou ao livro.

Assim, deixo o link aqui, da postagem em que falei do assunto para também fazer parte da blogagem coletiva.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

O Sítio de Monteiro Lobato



Hoje é o Dia Nacional do Livro Infantil, data escolhida para lembrar o aniversário de nascimento de Monteiro Lobato, um dos mais importantes escritores brasileiros, que dedicou boa parte da sua literatura às crianças e jovens.

Uma de suas obras mais importantes, sem dúvida, é o Sítio do Picapau Amarelo, lançado originalmente em 1920, ainda hoje povoam o imaginário das crianças brasileiras.

O vídeo acima, que encontrei no Youtube, é uma pequena homenagem a esse grande escritor e à data. São três aberturas da adaptação para a televisão do Sítio, veiculadas pela Globo, de 1977 a 1986 e de 2001 a 2007.

As aberturas do vídeo são de 1977, 2001 e 2005.

sábado, 16 de abril de 2011

Eu leio, eu sou...

Uma das coisas boas de se fazer um blog é conhecer pessoas que compartilham de suas preferências, no caso, a literatura. Desde que ingressei para o mundo da blogosfera descobri vários outros blogueiros que também escrevem sobre livros e leituras. É muito bom! Sem falar naqueles que simplesmente gostam dos meus textos, independente daquilo que escrevo. É uma experiência única, que não tem preço.

Foi assim, de blog em blog, que conheci A menina do fim da rua, da Adriana Ornellas, uma bibliotecária jovem, leitora compulsiva, que adora filmes e escreve sobre essas suas paixões, sempre com dicas ótimas para ler e assistir.

Confesso que o nome do blog foi bastante sugestivo para mim, já que é o título de um livro do escritor estaduniense Laird Koenig, que li há um bom tempo e gostei muito. A trama é envolvente e centra-se na história de Rynn, uma menina inglesa de 13 anos que mora sozinha nos Estados Unidos. Um tanto estranho, mas ela guarda essa suposta independência em segredo, fugindo de pessoas como a inquilina que a vigia, do seu filho pervertido e de um policial. Para protegê-la Rynn conta com a ajuda de Mário, um mágico que se torna seu amigo.

Com esse nome, o blog da Dri chamou logo minha atenção e seus textos e excelentes colunas logo me cativaram. Entre elas, a Eu Leio, Eu Sou... , um canal criado para conhecer pessoas e suas opiniões sobre o mundo literário, sobre o que leem, a relação com os livros e como isso influencia suas vidas.

É um trabalho muito interessante, do qual tive a oportunidade de participar e que a Dri publicou no blog na sexta-feira passada. Adorei a experiência e espero ter contribuído de alguma forma para a promoção do livro e da leitura.

Quem quiser conferir a entrevista, é só acessar - http://a-menina-do-fim-da-rua.blogspot.com/2011/04/eu-leio-eu-sou-cecilia.html - e aproveite também para navegar pelo blog. Garanto que vale a pena!

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Livros no metrô

Toda vez que entro no metrô paulistano, e isso faço com frequência já que é o meio de transporte que me leva de casa para ao trabalho e vice-versa, sempre me vem à mente as histórias e os personagens dos livros que leio nos vagões do trens ou nas plataformas das estações. Esses flashes são constantes, não tem jeito. Isso quando não leio e passo o trajeto todo viajando pelas páginas de algum romance.

Mas, vez por outra, essa rotina é quebrada quando decido ficar observando as pessoas que se acomodam sentadas ou ficam em pé nos corredores dos trens, quase sempre acompanhadas de algum livro que as entretém. Aí a imaginação corre solta, e fico a tentando decifrar qual é a leitura que estão fazendo.

Foi mais ou menos isso que aconteceu hoje, pela manhã, quando quase em frente ao banco onde eu me encontrava, vi uma moça sentada com um livro aberto em suas mãos. Mas, mais do que o interesse pelo livro que ela estava lendo eu voltei minha atenção para a capa que envolvia o exemplar. Era um porta-livros, daqueles feitos de tecido, todo florido em tom azul, com uma pequena alça para carregar como se fosse uma bolsa. É, esse mesmo, que eu venho procurando há tempos para também acomodar os livros que leio no transporte coletivo.

Era magnífico! E passei a apreciá-lo, até que minha atenção voltou-se para o toque do celular da mesma moça que estava observando. E aí eu pirei: era o tema dos filmes de Harry Potter! Sou maluca por toques de celular, vivo em busca deles e, esse então, me encantou, com a mesma magia que as histórias do bruxinho me enfeitiçaram há cinco anos. Logo me vieram à cabeça três perguntas que gostaria de fazer àquela moça:

1) Onde você comprou esse porta-livros?

2) Que livro você está lendo?

3) Esse toque do celular é do Harry Potter?

Mas o vagão estava cheio e seria estranho fazer uma abordagem dessa. Enfim, cheguei na Sé e pensei que se ela descesse ali, quem sabe..., mas ela ficou e eu já estava atrasada para o trabalho, tive de ir para a pegar a outra linha, e a história acabou ali.

Ao chegar na plataforma, vislumbrei, como sempre, uma daquelas máquinas de vendas automáticas de livros, da 24X7 Cultural, que já conheço de cor e salteado os títulos que contém, embora sejam trocados de tempos em tempos. Ali havia três pessoas em frente, falando e comentando sobre os livros e resolvi me juntar a elas, ignorando a hora já adiantada.

Uma delas falava sobre o livro Iracema, de José de Alencar, e explicava à outra o teor da história. Ao lado delas, havia uma senhora, que prestava bastante atenção, tentando assim decidir qual livro levar. Por fim as outras duas foram embora e a senhorinha ficou ali, ainda indecisa, foi quando resolvi ajudá-la tanto na escolha quanto na aquisição do livro.

Foi tão prazeroso esse momento que até parecia ser eu quem estava comprando os livros. Pois é, ela adquiriu logo dois: Helena, de Machado de Assis, para ela mesma, conforme me falou, e Iracema, para a neta de 16 anos. Depois me agradeceu e ambas seguimos cada qual para o seu caminho.

Já no trem, decidi ler um pouco, mas antes fiquei alguns minutos pensando no que passou e na facilidade dessas máquinas, que vendem livros a preços acessíveis, de forma prática e atraente para os passageiros em trânsito.

As máquinas de vendas automáticas de livros da 24X7 Cultural foram uma ideia do empresário Fábio Bueno Netto, que em 2001 decidiu comercializar livros a preço baixo em equipamentos semelhantes às de refrigerantes e salgadinhos. Entre materialização da ideia e negociação com o metrô foram dois anos, e a primeira máquina foi instalada na estação São Joaquim.

O contrato era para ser por apenas seis meses, mas acabou sendo prorrogado consecutivamente, até que as máquinas foram ganhando novos espaços em outras estações do metrô. Hoje são dez máquinas na Estação Sé, duas na Barra Funda e uma no Anhangabaú, Brás, Consolação, Trianon e Brigadeiro. Há ainda duas em outros estados: no Shopping Avenida, em Maringá (PR) e outra na Estação Carioca do metrô no Rio de Janeiro.

Os preços dos livros? Entre R$ 2,00 e 19,90. Uma forma simples, barata e acessível de incentivar o hábito da leitura.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Sincronicidade, coincidência, interação

A terra gira, a vida é um círculo, fatos geram outros fatos e por fim acaba sempre por onde se começou.

Parece complicado? Mas pode ser mais simples do que supomos.

Na verdade, tudo começou com uma leitura, passou por um vídeo, fez pausa em uma música, reacendeu um filme e terminou com a mesma leitura.

Já explico.

A leitura a que me refiro é a de um texto publicado na revista Seleções, de abril, intitulado: “Quem Elvis amava de verdade?”, ilustrado por uma bela foto de Elvis Presley ao lado de Ann-Margaret, numa cena do filme “Amor a toda velocidade (Viva Las Vegas)”, de 1963.

O texto fala sobre a relação de Elvis com as dezenas de namoradas que teve, mas duas em especial: Priscilla, com quem viria a se casar, e Ann-Margaret, seu par perfeito no cinema e com a qual teve uma paixão avassaladora. Muitos diriam que ela era a versão feminina de Elvis e que a sintonia entre os dois era extraordinária.

Pois bem. Esse texto foi lido pela minha irmã, numa noite em que estávamos as duas em casa, cada qual em um sofá. Enquanto ela lia, eu via a TV, e nem imaginava que matéria a entretinha tanto na leitura. Pouco depois, ela foi até o computador e ficou olhando alguns vídeos na Internet, claro, sobre Elvis, Ann-Margaret e Priscilla.

Em dado momento, em um desses vídeos, escutei Something, dos Beatles, e a música me fez recordar que a tinha ouvido recentemente em um filme, só que não conseguia me lembrar em qual. Fui puxando pela memória, tentando remontar algumas cenas, que me chegavam em flash, até lembrar que foi em “As melhores coisas do mundo”, filme de Laís Bodanzky, com Francisco Miguez, Fiuk, Denise Fraga e Zé Carlos Machado.

Mais tarde, depois que minha irmã saiu do computador e trouxe a revista para o sofá, eu resolvi dar uma olhada no seu conteúdo, enquanto isso, ela pegou o controle remoto e passou a ver a programação dos canais, até que parou em um que passava um filme brasileiro. Imagine qual? “As melhores coisas do mundo”, este mesmo.

Achei engraçado, coincidência, sincronicidade, sei lá. Mas ainda não tinha me dado por vencida e continuei a folhear a revista, até que me deparei com a matéria sobre Elvis e aí compreendi tudo. Foi por causa daquele texto que minha irmã foi à internet, viu os vídeos, eu ouvi a música, lembrei do filme, vi que estava passando na TV e acabei na leitura que desencadeou tudo. Um ciclo que se fechou, como tudo na vida.

Engraçado, não? Mais do que isso, incrível. É a vida que dá voltas, que dá voltas, e que acaba sempre voltando ao ponto de partida. E no meio de tudo isso, experiências e olhares diferentes sobre as mesmas coisas.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Ler com outros olhos

“Braille são pontos mágicos que se transformam em letras.

Letras que se transformam em palavras.

Palavras que completam o mundo das pessoas cegas com informações, histórias e formas.

8 de abril. Dia Nacional do Braille.

Homenagem da Fundação Dorina Nowill para Cegos”

A bela mensagem, acrescida da imagem acima, recebi hoje, via e-mail, da Fundação Dorina Nowill para Cegos, instituição que há mais de seis décadas faz um belo trabalho de inclusão social das pessoas com deficiência visual. A data do envio, por si só, já diz tudo, uma deferência ao Dia Nacional do Braille, comemorado hoje, 8 de abril.

O dia foi instituído por meio da lei nº 12.266, aprovada em 21 de junho de 2010. E o dia 8 de abril foi escolhido em homenagem à data de nascimento de José Álvares de Azevedo, o primeiro professor cego brasileiro que estudou o método em Paris e o trouxe para o Brasil. Recebeu, por isso, o título de honra como “Patrono da Educação dos Cegos no Brasil”.

Braille e o sistema

A visão é, sem dúvida, o principal instrumento para uma boa leitura, além disso possibilita ao homem aprimorar sua percepção de mundo. No entanto, o ato de ler não se limita apenas àquele sentido humano e, pode-se afirmar, com toda a certeza, que vai muito além dele. Se não fosse assim, os deficientes visuais estariam, definitivamente, impossibilitados de apreciar uma leitura.

Foi graças ao francês Louis Braille que as pessoas desprovidas de visão também foram inseridas no universo da leitura. Ele perdeu a visão aos três anos e, mais tarde, desenvolveu um sistema de leitura e escrita para pessoas cegas, utilizando como base o sistema de Barbier – que fazia a comunicação noturna entre os soldados do exército francês A versão final do sistema foi apresentada em 1837, mas levou algumas décadas para ser aceita na França, sendo difundida no mundo no final do século XIX.

O sistema é baseado na combinação de seis pontos dispostos em duas colunas de três pontos, permitindo a formação de 63 caracteres diferentes, que representam as letras do alfabeto, números, simbologia aritmética, musicografia e, recentemente, da informática. É feito por meio da leitura tátil, pois os pontos em relevos devem obedecer à medida padrão, e a dimensão da cela braille deve corresponder à unidade de percepção da ponta dos dedos.

Se quem lê, vê o mundo com outros olhos, com outros olhos também é possível ler.

Descrição da Imagem: Fotografia da ponta de um dedo. As linhas que formam a impressão digital estão em destaque e são formadas por frases da obra Dom Casmurro, de Machado de Assis, escritas em preto. Embaixo, a possível ler com outros olhos.

Para conhecer mais o trabalho da Fundação Dorina Nowill acesse http://www.fundacaodorina.org.br

terça-feira, 5 de abril de 2011

Jogo entre livros

Num país em que a média de livros lidos ao ano é de pouco mais de quatro, como é o caso do Brasil, é de se admirar a quantidade de publicações lançadas anualmente. Escolher o melhor, entre tantos títulos à disposição, não é uma tarefa fácil. Longe disso, é como encontrar uma agulha no palheiro, mesmo porque isso dependerá do gosto de cada leitor, uma vez que um livro que pode ser muito bom para mim, pode não ser para outro.

No entanto, é possível encontrar uma média, e essa tarefa nos é facilitada pelos críticos, que nos dão o seu aval a cerca desta ou daquela obra. E esse trabalho ficou, há quatro, ainda mais divertido e acessível ao leitor com a criação da Copa de Literatura Brasileira, cuja proposta central é promover o debate, mais do que premiar o melhor livro lançado no ano.

A ideia foi inspirada no Tournament of Books, criado em 2005 pela revista eletrônica americana The Morning News em parceria com a livraria independente Powell´s, de Portland, Oregon.

Na edição nacional, segundo Lucas Murtinho, um dos organizadores da Copa, 16 livros são escolhidos de forma pouco científica entre os romances brasileiros lançados no período definido (no caso de agora 2010/2011) para disputar o prêmio em quatro rodadas. A cada partida, dois livros se enfrentam, com mediação de um jurado, que justifica a sua decisão por meio de uma resenha comparativa e detalhada das obras. O vencedor passa para outra rodada e o perdedor é desclassificado. Assim até a final, quando todos os jurados votam e elegem o campeão.

O Campeonato teve início em 28 de fevereiro e deverá encerrar em 6 de junho. Até o momento já aconteceram seis jogos, num total de 15. Os livros que já se enfrentaram foram Como desaparecer completamente, de Andre de Leones; Olhos secos, de Bernardo Ajzenberg; O filho da mãe, de Bernardo Carvalho; Se eu fechar os olhos agora, de Edney Silvestre; Azul-corvo, de Adriana Lisboa; Hotel novo mundo, de Ivana Arruda Leite; Do fundo do poço se vê a lua, de Joca Reiners Terron; Os malaquias, de Andrea Del Fuego; Uma leve simetria, de Rafael Bán Jacobsen; Algum lugar, de Paloma Vidal; Outra vida, de Rodrigo Lacerda; e O gato diz adeus, de Michel Laub.

A próxima partida acontecerá no dia 11 de abril, entre Sinuca embaixo d´água, de Carol Bensimon, e Elza, a garota, de Sérgio Rodrigues, um dos livros citados que gostaria de ler, desde que chegou às livrarias, no ano passado.

A comissão organizadora da Copa de Literatura Brasileira deste ano é formada por Fernando Torres, Lucas Murtinho e Lu Thomé.

Para saber mais sobre a Copa, ler as resenhas, conferir os classificados e saber sobre as próximas partidas acesse http://copadeliteratura.com.br/

O bom é que o leitor também pode participar, debatendo e expondo sua opinião sobre as obras. É, ainda, uma boa oportunidade de conhecer e ler a literatura brasileira atual.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

De volta aos contos de fadas

O primeiro contato com a literatura geralmente se dá por meio dos contos e das historinhas infantis que ouvimos e lemos quando crianças. Trazidos da tradição oral e das fábulas, os chamados de “contos de fadas” embalaram e continuam embalando gerações e gerações, apesar da televisão, do avanço tecnológico e do poder da internet. São histórias simples, fantásticas, inacreditáveis e, por isso mesmo, encantadoras pois permanecem na nossa lembrança por muito tempo ainda. Seus autores foram – e os mais recentes são – engenhosos em extrair acontecimentos e emoções encerrados no nosso subconsciente.

E um dos mais famosos narradores desses contos, o escritor dinamarquês Hans Christian Andersen, cuja infância pobre influenciou decisivamente para a criação de suas histórias infantis e adultas, completaria nesse 2 de abril, 206 anos. Pela sua importância e contribuição à literatura da infância e da adolescência, o dia do seu nascimento é lembrado como o Dia Internacional do Livro Infanto-Juvenil, e seu nome estampa um dos mais influentes prêmios internacionais do gênero – o Prêmio Hans Christian Andersen.

Recentemente reli algumas de suas mais importantes histórias, como O patinho feio, A roupa nova do imperador, A pequena sereia e A pequena vendedora de fósforos, entre outras. Estas e mais histórias estão reunidas no livro Contos de Fadas – de Perrault, Grimm, Andersen e outros, publicado pela Zahar Editora, com apresentação de Ana Maria Machado.

Em seu prefácio, Ana Maria lembra que “há certas qualidades que cercam os contos de fadas e, com muita clareza, os distinguem de outros gêneros literários. Algumas se impõem à primeira vista e não têm a ver com traços indentificáveis no texto em si. Por exemplo, sua universalidade e sua vizinhança com a infância. Desta última, decorre outra, ainda mais sutil: sua carga afetiva. Falar em conto de fadas é evocar histórias para crianças, lembranças domésticas, ambiente familiar. Equivale também a uma filiação ao maravilhoso, em que tudo é possível acontecer.”

E foi buscando essa identificação que principiei a ler Contos de Fadas, mas me surpreendi, porque algumas histórias tinham finais surpreendentes e diferentes daqueles que li na infância. Por exemplo Chapeuzinho Vermelho, que na versão de Charles Perrault, tem um final nada alentador quanto aquele da adaptação da Disney. Outra impressão, agora com o olhar da “adulta”, é a improbabilidade das histórias, por isso me vi matutando, algumas vezes, em como podemos “acreditar” naqueles contos quando criança.

E é aí que reside a mágica e o encantamento dessas histórias. De tão inacreditáveis, as histórias se tornam fantásticas e permanecem fortes nas nossas lembranças, apesar do tempo, apesar da tecnologia. Assim foi com o conto Pele de Asno, também de Charles Perrault. Uma história incrível, absurda, eu diria até “sem pé nem cabeça”, mas que se impingiu de tal forma na minha “pele” para fazer um trocadilho, além do meu coração e da minha mente, que eu fiquei dias pensando nela. Era uma história da qual eu pouco recordava e sua releitura foi um despertar de lembranças incríveis, de um tempo e de um lugar onde tudo pode acontecer: a imaginação da criança.

O psicanalista Mario Corso, que ao lado de sua mulher, a também psicanalista Diana Lichtenstein Corso, publicou o livro Fadas no Divã, em uma entrevista para a revista Época, disse que “os contos de fadas se prestam para retratar dramas íntimos de forma metafórica: ser expulsa de casa pela madrasta, enfrentar um ogro, encontrar no amor a solução de todos os males, correr o risco de virar iguaria de uma bruxa canibal. Tudo isso são absurdos que, por incrível que pareça, podem ilustrar nossos conflitos inconscientes”. Talvez isso explique o encantamento e a força dessas histórias nas nossas vidas.

Da mesma forma, a escritora iraniana, Azar Nafisi, em Lendo Lolita em Teerã, comenta a magia dos romances de ficção e dos contos de fadas e o porquê desses gêneros nos seduzir tanto. Segundo ela, Nabokov chama todo romance de conto de fadas. E acrescenta: “os contos de fadas são repletos de bruxas ameaçadoras que comem crianças, de madrastas malévolas que envenenam suas lindas enteadas, de pais fracos que deixam seus filhos abandonados nas florestas. Mas a mágica vem do poder do bem, aquela força que nos diz que não devemos nos submeter às limitações e às restrições que nos são impostas pelo Senhor Destino, como Nabokov o chamava. Todo conto de fadas oferece o potencial para superar os limites e, assim, eles oferecem liberdades que a realidade nos nega. Em todas as grandes obras de ficção, independente da impiedosa, sinistra ou implacável afirmação da vida contra a transitoriedade daquela vida, há um desafio essencial. Essa afirmação está na maneira que o autor controla a realidade, recontando-a do seu próprio modo, criando, assim, um mundo novo. Declararia com pompa: toda grande obra de arte é um celebração, um ato de insubordinação contra as traições, os horrores e as infidelidades da vida. A perfeição e a beleza da forma se rebelam contra a feiura e a miséria do tema”.

A vida, é certo, compõe-se da realidade nua e crua. Mas também está repleta de sonhos, de fantasia, do faz de conta. Sem isso acho que não conseguiríamos viver. Ainda bem.

E salve o livro infantil!