segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Incentivadora da leitura

Olhar, ver, enxergar, contemplar. Dos cinco sentidos, a visão é, sem dúvida, um daqueles que nos oferece imenso prazer, se bem que sem a audição, o tato, a fala e o paladar a vida não teria a menor graça. Mas enxergar é bom, porque além de admirar, com os próprios olhos, as maravilhas do mundo, podemos também ler e mergulhar de cabeça nas asas da imaginação.

Por isso, às vezes, fico imaginando o que seria de mim se não enxergasse mais, se não pudesse ler, com os meus olhos, os incontáveis livros e textos que tenho pela minha frente. Acho que enlouqueceria – pelo menos é assim que eu costumava pensar. No entanto, certa vez li que o escritor argentino Jorge Luís Borges, já em idade avançada e com problemas de visão, convidou um rapazinho que trabalhava em uma livraria, para ler para ele. Esse rapazinho, chamado Alberto Manguel, tornaria-se, mais tarde, em um belo escritor.

Ter alguém para ler para si é uma das alternativas viáveis, ou então, com o advento dos audiobooks, o leque de opções aumentou ainda mais. Porém, não sei se seria a mesma coisa, apesar de utilizar a audição, mais um sentido humano. Haveria, talvez, uma outra alternativa, essa, acredito, uma substituta melhor: a leitura com um outro dos nossos sentidos, a leitura com o tato, a leitura em Braille, o sistema para cegos inventado pelo francês Louis Braille.

No Brasil, uma das maiores incentivadoras do sistema, a pedagoga Dorina de Gouvêa Nowill fez escola e, ao morrer ontem, dia 29 de agosto, deixou-nos um legado, a Fundação para o Livro do Cego no Brasil que criou, junto com outras normalistas, em 1946. Vítima de uma parada cardíaca – estava internada havia 15 dias –, Dorina partiu aos 91 anos. E eu não poderia deixar de comentar o fato aqui, neste blog, principalmente por ter sido ela uma das grandes valorizadoras do livro e da leitura.

Dorina Nowill ficou cega aos 17 anos, em decorrência de uma patologia. Mas nem por isso esmoreceu. Ela reaprendeu a andar, a comer, a mover-se no espaço. E com muita perseverança tornou-se a primeira aluna a frequentar um curso regular na Escola Normal Caetano de Campos, em São Paulo.

Em meados da década de 1940, diante da falta de livros em braille no país, criou a Fundação, que mais tarde receberia seu nome. A instituição produz livros em braille, livros e revistas falados, além de obras acadêmicas no formato digital acessível, distribuídas gratuitamente para pessoas com deficiência visual e para centenas de escolas, bibliotecas e organização de todo o Brasil.

Pela sua força de vontade, pela superação, pelo seu trabalho em favor do outro, Dorina Nowill merece nossos respeitos e admiração, É um exemplo a ser seguido, sobretudo para nós, que temos todos os sentidos a nosso dispor.

Para saber mais sobre Dorina e seu trabalho, acesse http://www.fundacaodorina.org.br/

Leia um livro

Os fofíssimos gêmeos quadrinistas, Gabriel Bá e Fábio Moon, publicaram, na Folha de S. Paulo de 29/08/2010, a tira acima, da série "Quase Nada".
Achei oportuno divulgar o belíssimo trabalho que eles fazem em quadrinhos, valorizando as coisas simples da vida, o cotidiano e agora a leitura.
Acompanhei mais trabalhos de Gabriel Bá e Fábio Moon no blog http://10paezinhos.blog.uol.com.br/

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

De volta ao caminho suave

Outro dia, ao navegar pelo site da Livraria da Folha, me vi retornando ao tempo de infância, quando ingressei na escola, na época, primeira série do Grupo Escolar.

É que ali, no site, em meio às várias manchetes e informações sobre livros e literatura, me deparei com uma velha e conhecida publicação que me abriu as portas para o mundo das letras: a cartilha Caminho Suave.

A matéria, pouco mais de 15 linhas, informava que o livro lidera a lista dos mais vendidos pelo site na área de Educação e Pedagogia. E foi com um misto de prazer e surpresa que li o texto, por saber ser esta a cartilha que ainda alfabetiza as crianças no país.

De autoria de Branca Alves de Lima, o livro foi escrito em 1948 e já alfabetizou mais de 30 milhões de brasileiros, entre estes eu, chegando autalmente à 129ª edição, revisada e atualizada conforme as novas regras gramaticais. O método visual utilizado pela autora e também educadora traz cada letra ou sílaba associada a um desenho para melhor memorização.

E a capa, então? Não é que é a mesma há mais de 40 anos?!? Nela, duas crianças sorriem de mãos dadas, enquanto caminham suavemente rumo à escola, por isso o título Caminho Suave. Até as cores se mantiveram, com o azul forte do céu ao fundo, e o chão de terra batida no plano inferior. É uma imagem forte, que não sai das minhas lembranças e da memória de todos aqueles que foram, são e serão ainda alfabetizados pela Cartilha.

Pena não ter mais o meu exemplar comigo. Acho que o adquiri (herdei) da minha irmã, um ano e meio mais velha. Depois devo tê-lo doado a alguém, pelo menos era assim que costumávamos fazer na época. Bons tempos aqueles; bons tempos estes.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Primeiro ano


365 dias
8760 horas
525.600 minutos
31.536.000 segundos





Hoje é dia de festa, dia de comemorar, dia de festejar.

Este blog comemora o seu primeiro ano de existência, um período em que buscou, mais do que fazer resenhas de livros, trazer um pouco da experiência que as muitas leituras trazem à minha vida e, junto com elas, um pouco do que sou, do que acredito, do que espero.

Ao completar um ano de vida, este blog se orgulha de reunir 29 seguidores. Um número que pode parecer pouco para muitos, mas que para mim é expressivo, sobretudo porque muitos deles não fazem parte do meu dia a dia real. São leitores virtuais, que conheci por meio do blog e que me fazem muito feliz por acompanharem minhas digressões e comentários nesses 365 dias como blogueira.

Quando dei início a esse projeto, não esperava ir tão longe, não imanginava que alguém me seguiria, por isso, para mim é uma vitória estar aqui e dar continuidade a essa caminhada. Uma caminhada que espero seja muito longa e, se depender dos livros e da literatura, tenho certeza de que terá muito o que percorrer ainda.

E, para completar, tomei tanto gosto pela coisa que até me animei a fazer um outro blog, também ligado às minhas leituras. Esse, porém, se destinará a ser um registro, um diário de leituras, onde transcreverei passagens e trechos dos livros que leio e que me tocam profundamente.

Seu nome? Leituras que não esqueço.

Seu endereço? http://www.leiturasquenaoesqueco.blogspot.com/

Espero que vocês o acolham com o mesmo carinho que dispensaram ao Sobre Leituras e Observações.

Obrigada pela parceria, pelo acolhimento, pela amizade.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Só quadrinho

Sábado, penúltimo dia. Era de ser esperar que a Bienal do Livro estivesse lotada, com filas para entrar, corredores instransitáveis e estandes abarratodos de gente. Sim, tudo isso já era esperado. Mas por mais que eu imaginasse, não podia nem sonhar com a multidão que tive de enfrentar logo no início do passeio.

Desci na estação Tietê do metrô e na saída já pude vislumbrar o que me aguardava pela frente. Uma interminável fila para pegar o ônibus gratuito que nos levaria até o local da feira. A fila era tão grande que dava voltas e atravessava o metrô de ponta a ponta. Ainda assim não me deixei abater, esperaria o tempo que fosse. Pouco mais de uma hora depois, para ser exata, consegui entrar no ônibus e, apesar do trajeto curto, o trânsito prolongou ainda mais um pouco minha ânsia de chegar logo à Bienal. Depois ainda tive de me misturar ao bolo de gente que se espremia para alcançar às bilheterias. Bom, impaciência à parte, não foi nada muito diferente daquilo que um bom paulistano já está acostumado a enfrentar para ter acesso a grandes eventos culturais.

Dentro do pavilhão, aí sim pude extravasar minha felicidade por finalmente estar na Bienal do Livro. Programa de índio? Pode ser. Mas vale a pena, sobretudo para quem é apaixonada por livro, o objeto, principalmente. Ali mais vivo do que nunca, graças a Deus!

Percorrendo os estandes fiquei atenta a tudo o que se passava, mas, confesso, por mais que eu tentasse e procurasse encontrar livros de ficção ou da vida real, tudo o que eu conseguia ver – e me interessar – eram quadrinhos. Livros em quadrinhos, mas ainda assim quadrinhos. Encantei-me, sobretudo, por duas adaptações do clássico de Mary Shelley, Frankenstein: um publicado pela Larousse (simplesmente magnífico) e outro pela Saraiva, com roteiro adaptado por Sergio Serra e desenhos (preto e branco) de Meritxell Ribas.

Destaque ainda para Magneto - Testamento, de Greg Pak (roteiro), Carmine Di Giandomenico (arte) e Matt Hollingsworth (cores), publicado pela Panini, e os livros da série Onde está Wally?, encantadores e nostálgicos, que reuniram saudosistas em torno deles no estande da Martins Fontes, editora que publica os livros.


Mas acabei comprando mesmo (a grana estava curta) um livrinho infantil, Rimas Animais, todo em rimas de cordel, de Cesar Obeid, com desenhos de Andreia Vieira, que o ilustrou com muito carinho, tendo seu cãozinho aos seus pés. Além de Verdão - O campeão do século em quadrinhos, do cartunista Ziraldo, e o terceiro volume da série de reportagem O Fotógrafo - Uma história no Afeganistão, que reúne quadrinhos e fotografias, com fotos do francês Didier Lefèvre, desenhos de Emmanuel Guibert e diagramação e cores de Frédéric Lemercier.


Eu já tinha os dois primeiros álbuns, publicados pela Conrad Editora. O primeiro com fotografias que contextualizam o Afeganistão e a árdua viagem clandestina dos Médicos Sem Fronteiras (e de Lefèvre) do Paquistão ao Afeganistão; o segundo traz registro das atrocidades da guerra. E o terceiro volume termina por mostrar, com bastante realismo, a prática da medicina em condições precárias em plena guerra fria.

Didier Léfévre morreu de ataque cardíaco no início de 2007, aos 49 anos. Ele acabara de receber um dos prêmios do Festival Internacional de Quadrinhos de Angouleme pele terceiro volume de O Fotógrafo.

Foi uma tarde agradável que nem mesmo o cansaço de andar por horas e horas pela Bienal atrapalharam meu deleite de me ver cercada por livros e mais livros. Agora, só daqui a dois anos. O bom é que passa rápido.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

De avô para netas

Ultimamente tenho me interessado muito pela literatura infantil ou infanto-juvenil. Também não é para menos, afinal o mercado editorial está repleto de bons e belos livros no gênero que é praticamente impossível resistir a muitos deles. Além do mais, esses livros estão bem ao nosso alcance, não é preciso fazer muito esforço para desfrutar de suas companhias, seja adquirindo um exemplar em livrarias, sebos ou internet, seja usufruindo das inúmeras contações de histórias que povoam os espaços literários da cidade.

Mas, na contramação dessa acessibilidade, vislumbrei, recentemente, um belo livro cuja edição está esgotada: Ooó do Vovôregistro de correspondência do escritor João Guimarães Rosa, vovô Joãozinho, Vera e Beatriz Helena Tessa, suas netas. Co-editado pela Edusp (Editora da USP), Editora da PUC-Minas e Imprensa Oficial, o livro fez parte da exposição Um Convite à Leitura, mostra que reuniu 350 livros do catálogo da Imprensa Oficial, divididos por temas, na Estação Pinacoteca, em São Paulo.

Ali, em meio a livros de arte, de fotografia, da Coleção Aplauso, entre outros títulos, dispostos em prateleiras e vitrines, havia um espaço para que o leitor manuseasse algumas das publicações expostas e, ainda, frases diversas escritas nas paredes alusivas ao livro e a literautura, como a de Alberto da Costa e Silva: "Uma das grandes alegrias da leitura é perseguir um texto no outro, confrontar o que se tem diante dos olhos com o que persiste na memória, verificar, por exemplo, como duas sensibilidades diferentes (...) tratam um mesmo assunto".

Dos títulos exibidos, fiquei particularmente encantada com Noivas do Sertão, Hiroshima - 1945-2007, Fotobiografia de Clarice e, é claro, Ooó do Vovô.

Autor de clássicos como Grande Sertão: Veredas e Sagarana, João Guimarães Rosa era apaixonado pelas suas netas e, por conta disso, era capaz de mergulhar de cabeça no mundo infantil e lúdico, produzindo cartões ilustrados, cartas, colagens e pequenos textos que enviava às meninas. E é exatamente parte desse acervo que é reproduzido em fac-símile no livro, além de desenhos e fotografias.

O material foi produzido entre setembro de 1966 e novembro de 1967, quando Guimarães Rosa morreu. As netas Vera e Beatriz tinham então, respectivamente, três e quatro anos de idade. Vera é quem assina o prefácio do livro, publicado em 2003.

Tentei achar o livro pela internet para comprar, mas está mesmo esgotado. Para não dizer que não encontrei, no site da Estante Virtual ele aparece, mas com um preço exorbitante. Mas não me dei por vencida. Consultando o catálogo das Bibliotecas Públicas de São Paulo, vi que na Mário de Andrade e na Sérgio Milliet, no Centro Cultural, o livro está disponível, o que significa que vou correndo em uma delas para emprestar. Depois é só sentar, abrir o livro e me deliciar com a leitura.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Nostalgia

Domingo passei por emoções diversas e momentos de grande descontração e volta ao tempo. Retornei ao bairro do Pari, onde passei boa parte da infância e adolescência, morando, estudando, participando do Movimento Mariano e construindo belas amizades.

Na Congregação Mariana do Pari tive uma das melhores fases da minha vida, por isso, não foi à toa que me emocionei quando, na Missa das Filhas de Maria, algumas mulheres receberam a fita azul pela primeira vez e outras completaram 50 anos do Movimento. E pensar que não estou muito longe disso: faz, pelo menos, 35 anos que recebi a minha fita e, com ela, muitas histórias de devoção, amizade e camaradagem.

Na missa revi amigas queridas, como Fátima – ela disse ler e gostar muito deste blog –, que acompanharam minhas crises e deleites próprios da adolescência, que compartilharam comigo de momentos incríveis, inesquecíveis eu diria. Foi tudo muito bom.

Depois da celebração, fomos para o salão onde nos reunimos em torno de uma mesa para lancharmos, conversarmos e participarmos de um animado sorteio de brindes, coroado com um bolo saborosíssimo.

Acho que fiquei meio nostálgica, mas sem perder o foco no presente e nos meus interesses literários. Lembrei-me, então, de um livrinho chamado Nossa Senhora!, que vi no site da Livraria da Folha. De autoria de Carolina Chagas, jornalista freelancer e mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, a publicação reúne 40 estórias sobre Maria, trazendo os fatos que resultaram nos vários nomes atribuídos à Virgem, como o de Nossa Senhora Imaculada Conceição, a santa padroeira da Congregação Mariana.

O volume apresenta, ainda, orações, milagres e curiosidades. Para quem é devoto, aprecia o gênero ou tem curiosidade vale a pena uma incursão.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Cabeça em Paraty

Hoje poderia falar sobre o centenário de nascimento de Adoniran Barbosa, cantor, compositor, humorista e ator brasileiro, cujo sucesso Trem das Onze é um dos principais hinos da capital paulista. Poderia falar sobre sua autobiografia, de Celso de Campos Jr., que estou louca para comprar e ler.

Mas poderia falar também dos 65 anos do lançamento da bomba de Hiroshima, lembrando de duas leituras que fiz sobre o assunto: Gen Pés Descalços, a obra-prima em quadrinhos de Keiji Nakazawa, que retrata as terríveis consequências da guerra, ou então Hiroshima, de John Hersey, expoente do Jornalismo Literário, que faz o retrato de quatro sobreviventes da bomba atômica, 40 anos depois...

Só que estou em Paraty, no meio da oitava edição da Festa Literária e só tenho olhos e mente voltados para o evento. Então, deixarei para outra oportunidade o comentário sobre as três leituras citadas e gostaria apenas de centrar-me na Flip, nessa grande festa da literatura que me faz esquecer de todos e de tudo.

E não é para menos esse meu isolamento. Afinal, ver de perto Isabel Allende, participar de uma coletiva de imprensa com ela, ouvi-la falar e conseguir seu autógrafo no livro A Casa dos Espíritos não é pouca coisa não. E como se não bastasse tudo isso, a autora chilena ainda é uma simpatia e bastante acolhedora. Para ela, cada livro que escreve é um livro diferente, único naquele momento, com suas características e seu tom. Por isso, não considera que seus romances, ou novelas como costuma dizer, tenham a mesma linha um (a) da outro (a).

Ainda sob a forte impressão deixada por Isabel Allende, fui assistir à mesa dos historiadores Robert Darnton e Peter Burke. Mas logo me deixei levar pela prosa e pelos comentários deles, passeando pela história do livro com muito bom humor e conhecimento. Foi uma delícia. Depois, enquanto aguardava Darnton autografar A Questão dos Livros - Passado, Presente e Futuro, vi passar por mim Salman Rushdie, o autor de Os Versos Satânicos, uma figura simpática, bonita, com seu terno cor de creme e um chapéu panamá na cabeça. Sorridente, ele até pousou para a foto que uma amiga fez dele.

É por essas e outras que a minha cabeça não pode estar centrada em mais nada que não seja a Flip 2010. E também em toda a programação de hoje, com a expectativa da mesa de Rushdie e de Azar Nafisi, de Lendo Lolita em Teerã; tem ainda amanhã e domingo e outros autores queridos para ver e ouvir como Eliane Brum, Robert Crumb e Julio Villanueva, e também aqueles que quero prestar atenção, como Benjamin Moser, Carola Saavedra e Wendy Guerra.

Que bom que estou em Paraty. Que bom que possa participar de tudo isso. Que bom viver o clima da Flip. E que venham muitas outras ainda.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Quinta-feira na livraria


Adoro livrarias. Sempre que passo por uma não resisto, quero pelo menos dar uma passadinha e olhar os títulos à amostra. Quando tenho mais tempo, me dou ao luxo de circular, pegar livros, folhear, ler... É uma delícia.
Era uma quinta-feira, à noite. Estava na Livraria da Vila, aguardando um evento começar, então decidi percorrer as prateleiras e conferir as novidades das estantes. Parei na seção infanto-juvenil e um lindo livro me chamou a atenção: Sábado na Livraria, de autoria de Sylvie Neeman, ilustrado por Olivier Tallec, com 32 páginas. Não resisti. Sentei em uma cadeira e comecei a ler.
De leitura agradável, a história gira em torno de uma menina que encontra, sempre aos sábádos, um senhor já de idade avançada, em uma livraria. Ambos sentam para ler. Ela quadrinhos; ele um livro de guerra.
Ela então passa a observá-lo e fica intrigada com a lentidão com que ele lê e com seu passo vagoroso. É o novo em confronto com o velho, do imediatismo da juventude com a paciência da velhice. É também uma história de amizade, da amizade que brota dos livros, da paixão por livrarias, deste lugar peculiar que é um convite à leitura, uma leitura feita sem pressa, prolongada, estendida, constante.
Foi com grande prazer que li essa singela história e lembrei-me que recentemente assisti a um filme de animação que tratava também da amizade entre uma menina e um senhor, embora este não tão velho assim. O título? Mary e Max – Uma amizade diferente, do diretor australiano Adam Elliot. Trata-se de um filme feito com massinha de modelar, praticamente todo narrado, com pouquíssimas falas e que traz temas delicados, como desemprego, obesidade, suicídio, solidão. E, por isso mesmo, não indicado para crianças. É uma animação para adultos.
O filme conta a história de Mary e Max por meio de cartas, que os dois escrevem, correspondendo-se por duas décadas, depois de descobrirem afinidades como chocolates e um programa infantil. É lindo. É triste. É emocionante. Vale a pena.
Embora o livro descrito e o filme desenrolarem-se diferentemente, consegui ver um paralelo entre eles, na amizade entre duas gerações diferentes, no interesse que ela pode despertar, e na profunda humanidade que seus desfechos encerram.