segunda-feira, 31 de março de 2014

TAG - Livros não lidos x compras

Fazia tempo que não participava dessas TAGs, até que a semana passada tive a grata surpresa de ser indicada pela Eva Malta, do Falando de Livros, que me propôs discutir sobre “livros não lidos x compras”.



Então vamos aos tópicos:

1 - Quantos livros não lidos você possui?

Bom... difícil. Tenho vários. Vou comprando e deixando pra ler depois e, com isso, confesso ter acumulado muitos livros que hoje estão à espera de serem por mim devorados. Não sei precisar quantos, mas acredito que perto de uns 20. Como ainda não tenho estante, os meus livros estão acomodados em uma grande caixa em um canto no meu quarto, por isso fica difícil saber quantos livros comprei e não li, tanto que outro dia pensei em comprar um que já tinha (rs).

2 - Quantos livros já lidos você possui?

Também não sei ao certo, mas segundo o meu Skoob, tenho 110 livros, isso se citei todos lá.
 
3 - Você compra mais livros do que lê?

Sim, sempre. Compro muito mais do que leio. A proporção é bastante desigual. E ela aumentou depois da internet e das compras on-line. As promoções são tentadoras.

4 - Você pretende banir as suas compras de livros?
 
Não totalmente. Mas pretendo diminuir um pouco, justamente para não acumular livros sem ler.

5 - Por que você acha que não lê os livros não lidos da sua estante?

Não é que eu não queira lê-los, quero sim, mas o que acontece é que gosto demais de ir à biblioteca e pegar livros emprestados, de forma que os comprados acabam ficando para depois. Na verdade compro os que quero ter, pela oportunidade de conseguir o autógrafo do escritor, ou por causa de alguma promoção. Mas costumo dizer que os livros que realmente quero ler estão na biblioteca.

É isso. E vocês o que dizem?
 

Indico para esta TAG Monica Carneiro, do  Ler é o melhor lazer, e Márcia Lins Zotarelli, do Corujice Literária.

quinta-feira, 27 de março de 2014

Ler não é isolar-se

Nunca pensei na leitura como um isolamento, como uma forma de ficar comigo mesma, de evitar as pessoas e viver em um mundo à parte. Ao contrário, ler para mim sempre foi algo tão fascinante que busco constantemente dividir isso com outras pessoas. Por isso, não me incomodo de emprestar livros, mesmo que eles não voltem mais – a não ser que no meio esteja algum dos preferidos. Da mesma forma, sempre sonhei em ter uma biblioteca na sala da minha casa, para que o visitante pudesse contemplá-la e sentir-se tentado a pegar, manusear e querer ler um livro. Acho que para mim, uma tímida por natureza, os livros seriam uma porta pela qual eu pudesse chegar ao outro.
 

Não é à toa que escolhi ser jornalista e justamente em uma época na qual a profissão exigia saída a campo, ou melhor, não se concebia outra forma de fazer reportagem, a não ser indo às ruas, falando pessoalmente com as pessoas, verificar in loco os fatos. Hoje a realidade é outra. Muitos jornalistas estão fechados nas redações – às vezes até na própria casa –, fazem entrevistas via telefone e e-mail, consultam a internet. O “corpo a corpo” ficou restrito a poucos profissionais, infelizmente.
Mas se na profissão não busquei o isolamento, na leitura também não procuro a reclusão. Assim, na minha trajetória como leitora, iniciada na adolescência, a prática intensificou-se ainda mais há cerca de sete anos, na procura por Clubes de Leitura, espaços onde pudesse partilhar sensações dos livros lidos com outros leitores. Tive algumas experiências pelo caminho que acabaram não vingando, mas finalmente acabei me engajando em um clube assim, e em mais outro, e ainda em outros possíveis, dependendo do interesse. Vejo com bons olhos essas possibilidades e espaços, que se multiplicam em uma cidade como São Paulo.
E, nesse tempo todo, longe de me isolar, de me tornar uma pessoa reclusa, a leitura me fez conhecer mais pessoas, propiciou novas amizades, trouxe amigos queridos, ampliou os meus contatos e abriu um mundo novo – e, com ele, as portas da minha casa para uma vida social e cultural satisfatória.
Se ainda sobra tempo pra ler? Sim, claro, sempre. Não poderia ser diferente, e posso dizer que hoje leio muito mais do que antes, mas sem pressa, com atenção e um livro de cada vez. Sem esquecer as releituras, sempre necessárias e duplamente prazerosas.

quinta-feira, 20 de março de 2014

Dia do Blogueiro


Os blogueiros também têm seu dia. E o 20 de março foi a data escolhida para comemorar e homenagear essas pessoas que, por meio da publicação em blog (site como se fosse um diário on-line, onde são registrados textos opinativos ou informativos, com imagens ou vídeos), destacam temas com os quais tenham afinidade.

A data não é oficial, mas difundida de coração pelos blogueiros. No Distrito Federal, por exemplo, a data oficial do Dia do Blogueiro no Brasil é comemorada em 7 de junho, de acordo com a Lei 5.040 de 25 de fevereiro de 2013. A escolha da data coincide com o Dia Nacional da Liberdade de Imprensa no Brasil.

A título de curiosidade, o Dia do Blog é comemorado em 31/08, em razão dos números se assemelharem com a palavra Blog. O interessante é que nessa data, os blogueiros costumam colocar mensagens indicando outros blogs que sejam interessantes para seus leitores.

Seja como for hoje é o nosso dia, então vamos comemorar \o/

E aproveito para mandar um beijo a todos os meus amigos blogueiros. Nesses quase cinco anos como blogueira tenho a satisfação de ter feito boas e divertidas amizades. Algumas destas com as quais converso apenas virtualmente, mas que já fazem parte da minha vida de uma forma muito prazerosa, pois dividem comigo essa paixão pela leitura, pelos livros, pela literatura.

Obrigada por compartilharem comigo essa paixão.

sexta-feira, 14 de março de 2014

No Quarto de Despejo

“15 de julho de 1955. Aniversario de minha filha Vera Eunice. Eu pretendia comprar um par de sapatos para ela. Mas o custo dos generos alimenticios nos impede a realização dos nossos desejos. Atualmente somos escravos do custo de vida. Eu achei um par de sapatos no lixo, lavei e remendei para ela calçar.

(...)

Ablui as crianças, aleitei-as e ablui-me e aleitei-me... Esperei até as 11 horas, um certo alguem. Ele não veio. Tomei um melhoral e deitei-me novamente. Quando despertei o astro rei deslisava no espaço. A minha filha Vera Eunice dizia: – Vai busca água mamãe!”

 

Já nas primeiras linhas de Quarto de Despejo – Diário de uma Favelada, livro publicado em 1960 pela Editora Francisco Alves, o impacto e a força da escrita de Carolina Maria de Jesus se fazem presentes. Da simplicidade da narração à utilização de palavras consideradas “pouco usuais” para uma favelada, a leitura cativa e prende a atenção do início ao fim. É impossível ficar indiferente e não se emocionar com a história, que há mais de 50 anos surpreendeu a sociedade não só no Brasil, mas no mundo afora.
 
Nascida em Sacramento (MG) há exatos 100 anos, Carolina Maria de Jesus deixou a cidade ainda moça, depois que seus pais foram trabalhar na roça. Chegou a São Paulo para ser empregada doméstica e, tendo cursado apenas o segundo ano do antigo curso primário, sem opções de sobrevivência, acabou virando catadora de papel e outros tipos de lixo reaproveitáveis que vendia em depósitos da cidade e de onde tirava a susbsistência para si e seus três filhos – João, José Carlos e Vera Eunice –, na favela do Canindé, próxima ao rio Tietê.

 

Seria uma história igual a tantas outras, de privações e pobreza, que faz parte de uma parcela considerável da população que vive à margem da sociedade, se não fosse por um porém: além da vida dura em levantar cedo, ficar na fila para conseguir água, lavar roupa e sair para conseguir o que comer para o dia, Carolina se permitia sonhar por meio da escrita e da leitura. Pela escrita, com narrações detalhadas, em um diário (um caderno encardido), do dia a dia da vida na favela; e pela leitura, com histórias dos livros que encontrava em sua lida de catadora de papel e que reservava para ler à noite, antes de dormir, como confirma nas passagens:
 
Não sei dormir sem ler. Gosto de manusear um livro. O livro é a melhor invenção do homem.

 (...) Deixei o leito para escrever. Enquanto escrevo vou pensando que resido num castelo cor de ouro que reluz na luz do sol. Que as janelas são de prata e as luzes de brilhantes. Que a minha vista circula no jardim e eu contemplo as flores de todas as qualidades (...). É preciso criar este ambiente de fantasia, para esquecer que estou na favela. Fiz o cafe e fui carregar agua. Olhei o ceu, a estrela Dalva ja estava no ceu. Como é horrível pisar na lama. As horas em que sou feliz é quando estou residindo nos castelos imaginários.

Carolina foi descoberta pelo jornalista Audálio Dantas, em 1958, quando foi à favela Canindé, que se expandia na beira do rio Tietê, para fazer uma reportagem sobre a vida dos favelados. Ao conhecer Carolina e ver seus escritos, que ela guardava com a intenção de publicá-los nos Estados Unidos, na Editora Seleções (do Reader´s Digest), Dantas se surpreendeu com a solidez do seu texto que, além do diário, contava ainda com histórias e poesias.
 
Diante daquele “tesouro” encontrado, o repórter desistiu de escrever a matéria, pois Carolina já a tinha escrito: “Repórter nenhum, escritor nenhum poderia escrever melhor aquela história”, diria. Era a visão de dentro da favela. Assim, a reportagem, reprodução de trechos do diário, foi publicada em página inteira na Folha da Noite, em 9 de maio de 1958, com o título “O drama da favela escrito por uma favelada” -, com os escritos de Carolina entre 1955-1958. Um ano mais tarde, Dantas publicou outra matéria, mais elaborada, na revista O Cruzeiro, e, em 1960 o livro contendo o diário de Carolina foi publicado com o título de Quarto de Despejo.

 

Audálio foi responsável pela edição do texto, depois de ler os 20 cadernos com as histórias de Carolina. Fez cortes, selecionou trechos mais significativos, mexeu na pontuação e em uma ou outra grafia para melhor entendimento, mas só. Muitos erros foram mantidos, preservando assim o original escrito. O resultado foi excepcional e correu mundo: o livro foi publicado em 15 idiomas, como francês, inglês, alemão, húngaro, italiano, holandês, tcheco, russo e japonês, entre outros, e chegou a marca dos 100 mil exemplares.
 
O relato de Carolina é tocante, a rotina se repete no dia a dia, e a temática da fome é uma constante. A luta pela sobrevivência é vista em todas as suas nuances, e ter comida para alimentar-se e alimentar os filhos é questão de honra, nem que seja vinda do lixo. Mas Carolina ainda encontra tempo para refletir, para disparar os seus desencantos com os políticos da época, como nestes trechos:

(...) O tenente interessou-se pela educação dos meus filhos. Disse-me que a favela é um ambiente propenso, que as pessoas tem mais possibilidade de delinquir do que tornar-se util a patria e a paiz. Pensei: Se ele sabe disto, porque não faz um relatorio e envia para os politicos? O senhor Janio Quadros, o Kubstchek e o Dr. Adhemar de Barros? Agora falar para mim, que sou pobre lixeira. Não posso resolver nem minhas dificuldades. O Brasil precisa ser dirigido por uma pessoa que já passou fome. A fome tambem é professora. Quem passa fome aprende a pensar no proximo, e nas crianças.

(...) Eu classifico São Paulo assim: O Palacio é a sala de visita. A Prefeitura é a sala de jantar e a cidade é o jardim. E a favela é o quintal onde jogam os lixos.
 
(...) O que o senhor Juscelino tem de aproveitavel é a voz. Parece um sabiá e a sua voz é agradavel aos ouvidos. E agora o sabiá está residindo na gaiola de ouro que é o Catete. Cuidado sabiá, para não perder esta gaiola, porque os gatos quando estão com fome contempla as aves nas gaiolas. E os favelados são os gatos. Tem fome.
 
Houve quem duvidasse da autenticidade do texto, considerando tratar-se de uma mulher semianalfabeta. No entanto, muitos saíram em sua defesa, como o poeta Manuel Bandeira: para ele, “ninguém poderia inventar aquela linguagem, aquele dizer as coisas com extraordinária força criativa, mais típico de quem ficou a meio caminho da instrução primária”.

 


Alçada a celebridade internacional, Carolina foi entrevistada para jornais e revistas como Time, Life, Paris Match e Le Monde, encontrou-se com Clarice Lispector e viajou para a Argentina e Chile. Sua vida mudou, saiu da favela com seus filhos, teve seu momento de prestígio, mas não teve estrutura para lidar com a fama.

Publicou ainda outros livros – Casa de Alvenaria (1961); Provérbios (1963); Pedaços da Fome (1963) e Diário de Bitita (s.d), mas sem alcançar o mesmo sucesso do primeiro. Logo retornou a pobreza e morreu esquecida, em 14 de agosto de 1977, em um sítio na periferia de São Paulo
 
No entanto, seu nome sempre volta aos debates. Afinal, Carolina deu voz à coletividade miserável e sem nome que vivem à margem, nos barracos e embaixo das pontes das grandes cidades brasileiras. Críticos de prestígio consideram Quarto de Despejo um documento importante de uma realidade social e outros veem nele qualidade literária. E o livro e sua autora são temas de centenas de teses universitárias e livros.
 
Da minha parte, embora tivesse lido sobre a força de seu texto e de sua história, fiquei fascinada com o livro. Quarto de Despejo e Carolina impressionaram-me tão fortemente, que me levaram, por alguns momentos, para o ambiente da favela de tal forma que me vi naquele barraco, dividindo com ela o mesmo cômodo, levantando cedo para pegar água, presenciando as brigas dos moradores, compartilhando com eles suas angústias, perambulando pelas ruas da cidade à cata de papel e materiais e cuidando dos filhos. Mas escapando de tudo isso na escrita do seu diário, nas leituras antes de dormir e nos sonhos da noite, agradecendo sempre a Deus que “envia-me estes sonhos deslumbrantes para minh´alma dolorida”. Como ela, envio a Deus que me protege os meus agradecimentos, sobretudo pela oportunidade de conhecer Carolina e seu diário.

quarta-feira, 12 de março de 2014

Para os bibliotecários

Homenagem aos bibliotecários neste 12 de março. Esperando que num futuro próximo eu também esteja desse lado do universo.



“Cordel Parabéns Bibliotecário”
de César Obeid
 
Peço a Deus inspiração
Pra ditar neste papel
De alguém que faz dos livros 
O mais belo painel
Seu trabalho é diário
Falo do bibliotecário
Com as rimas de cordel.
 
A leitura é um universo
Que fascina multidões
Que dá asas para a vida
Nos liberta dos grilhões
Letras são seus santuários
Esses são bibliotecários
São dos livros, guardiões.
 
Através dessas leituras
Vão saber dos meus segredos
Os meus sonhos e vontades
Meus caminhos, meus enredos
Minhas dores e alegrias
Meus sorrisos, fantasias
As vontades e os medos.
 
Com os livros são zelosos
E com eles têm ternura
Facilitam o acesso
Para o mundo da cultura
Uns dos livros têm ciúmes
Amam sempre os perfumes
Que exalam da leitura.
 
Incentivam o leitor
Para o bom desconhecido
A um mundo de palavras
E de sonho colorido
Seja homem ou mulher
Sempre sabe o que quer
Seu leitor muito querido.
 
Preservando os seus livros
Todos eles maravilham
Ao caminho dos leitores
Os seus passos sempre trilham
A leitura é seu sabor
Quando ganham um leitor
Os seus olhos sempre brilham.
 
Também sempre organizam
Todos os bancos de dados
E se responsabilizam
Por tê-los classificados
Todos dados armazenam
E nenhum querer condenam
Todos são orientados.
 
Mas às vezes seu trabalho
Tem anônimo valor
Isso ao bibliotecário
Nunca, nunca causa dor
Vive pra ganhar leitores
Ajudar pesquisadores
Como multiplicador.
 
Seus caminhos são precisos
As ações tão necessárias
Das bibliotecas públicas
Infantis, comunitárias
Sejam aquelas populares
Ou então as escolares
Mesmo as universitárias.
 
Tem os das bibliotecas
Que são especializadas
Para uma área restrita
Suas áreas são voltadas
Novo mundo pode ver
Orientando o saber
Com pesquisas detalhadas.
 
Eles que nos facilitam
Pra ter a informação
Mais do que arrumar estantes
É a total transformação
De uma arte pra ciência
Todo dia uma experiência
Entra em seu coração.
 
Comum é os bibliotecários
Promoverem oficinas
Sessões e exposições
De leituras superfinas
Encantando com histórias
Retiradas das memórias
Os meninos e meninas.
 
E na era da Internet
Em que tudo é progresso
Nesse mundo tão high-tech
Será que eles têm ingresso?
Não importa muito o meio
Nos ofertam o bom passeio
Para todos o acesso.
 
Mas não são somente flores
No dia dos bibliotecários
O trabalho muito estressa
E também baixo salários
Fazer os investimentos
Para os reconhecimentos
Serão sempre necessários.
 
Vou parar o meu cordel
Com amor e alegria
Mas o verso bem rimado
Sempre, sempre prestigia
Quem adora os glossários
Salve os bibliotecários
Adeus, até outro dia.
 


* César Obeid é escritor, educador e contador de histórias. Autor de mais de 20 livros para jovens e crianças. Realiza apresentações de contações de histórias, encontros com leitores, oficinas (criação literária, culinária natural, contação de histórias etc) e palestras para todos os públicos (crianças, jovens, adultos, família e educadores). Suas  apresentações são pontuadas com humor e muita interação com o público, por meio de histórias, poemas, figuras de barbante e improvisos.

quinta-feira, 6 de março de 2014

O castelo...

A leitura até que começou bem, se revelou atenta e curiosa, mas acabou derrapando no meio, não sem certa curiosidade sobre seu desfecho... se é que teria um, pois, conforme informações colhidas com antecedência, não haveria um fim. Foi essa a experiência que tive, há dez anos, com O castelo, de Franz Kafka, e, desde então, vinha pensando nesse livro, tentando retomá-lo de alguma forma, o que só consegui fazer no início deste ano, como parte do Desafio Literário do Grupo de Leitura - O Vendedor de Livros, do Facebook.
 
A proposta era começar o ano lendo “um livro que tentamos ler algumas vezes e não conseguimos terminar, ou seja, um livro que abandonamos”. Pensei logo em O castelo e na oportunidade de retomá-lo para colocar essa leitura em dia. Claro, teria de começar tudo de novo, embora ainda tivesse na lembrança o eixo da história e certas passagens marcantes. Mas não podia me furtar do seu início misterioso e envolvente:
 
Era tarde da noite quando K. chegou. A aldeia jazia na neve profunda. Da encosta não se via nada, névoa e escuridão a cercavam, nem mesmo o clarão mais fraco indicava o grande castelo. K. permaneceu longo tempo sobre a ponte de madeira que levava da estrada à aldeia e ergueu o olhar para o aparente vazio.
 
K. é o personagem central, o agrimensor que vai a uma aldeia não especificada, onde fora chamado por um conde local para prestar serviços ao castelo. Contudo, uma sequência de desencontros e mal-entendidos faz com que K. não consiga chegar ao castelo e nem ao menos encontrar o caminho. O personagem fica na vila e acaba se relacionando com pessoas estranhas e confusas, que se desmentem a todo o momento, provocando diversas interpretações para o mesmo fato.
 
O livro, escrito durante cerca de seis meses, em 1922, foi lançado depois da morte de Kafka, que não chegou a terminá-lo e tentou até destruí-lo. Os originais foram salvos por seu amigo Max Brod, seu testamenteiro, talvez por isso a obra esteja incompleta. Seja como for, não é uma leitura fácil, mas não deixa de ser instigante, uma vez que faz uma velada crítica à burocracia estatal e religiosa. E o castelo pode ser interpretado também como o paraíso, com o qual sonhamos, mas difícil de ser alcançado.

Quando chega à aldeia, K. é recebido com estranheza no albergue. Sua acolhida não é fácil e fica claro, logo no início, que ele não é bem-vindo. É um estranho em meio a uma comunidade fechada, cheia de regras e absurda. No entanto, K. insiste e tenta de todas as maneiras chegar ao castelo e assumir seu posto, mas esbarra na aridez da paisagem e na hostilidade do lugar.
 
Na Hospedaria dos Senhores, K. conhece Frieda, amante do poderoso Klamm, responsável por sua contratação. Logo vê nela a possibilidade de chegar até ele e, assim, a conquista. Passa então a manter com ela uma relação amorosa, tentando, ao mesmo tempo, inserir-se na comunidade e fazer parte dela, com família e um emprego digno.

Contudo, a estranheza do lugar e as dificuldades burocráticas vão enredando-o de tal maneira que K. não encontra saída, deixando-se levar pelas situações e pelo sonho do castelo.
 
... E agora o senhor: quem é o senhor, junto de quem tão humildemente lutamos por conseguir a anuência a um pedido de casamento? O senhor não é do Castelo, o senhor não é da aldeia, o senhor não é nada! Mas, infelizmente, o senhor é alguma coisa: um estrangeiro; alguém que está a mais; um empecilho a estorvar todos os caminhos: alguém que está sempre a causar-me maçadas e nos obriga a desalojar as crianças; alguém que veio seduzir a nossa pequena Frieda muito amada e a quem agora, infelizmente, nós a temos de dar em casamento.
 
Ainda que sem final, é sempre bom ler Kafka. E este O castelo é um primor. Que bom que terminei.