quinta-feira, 6 de março de 2014

O castelo...

A leitura até que começou bem, se revelou atenta e curiosa, mas acabou derrapando no meio, não sem certa curiosidade sobre seu desfecho... se é que teria um, pois, conforme informações colhidas com antecedência, não haveria um fim. Foi essa a experiência que tive, há dez anos, com O castelo, de Franz Kafka, e, desde então, vinha pensando nesse livro, tentando retomá-lo de alguma forma, o que só consegui fazer no início deste ano, como parte do Desafio Literário do Grupo de Leitura - O Vendedor de Livros, do Facebook.
 
A proposta era começar o ano lendo “um livro que tentamos ler algumas vezes e não conseguimos terminar, ou seja, um livro que abandonamos”. Pensei logo em O castelo e na oportunidade de retomá-lo para colocar essa leitura em dia. Claro, teria de começar tudo de novo, embora ainda tivesse na lembrança o eixo da história e certas passagens marcantes. Mas não podia me furtar do seu início misterioso e envolvente:
 
Era tarde da noite quando K. chegou. A aldeia jazia na neve profunda. Da encosta não se via nada, névoa e escuridão a cercavam, nem mesmo o clarão mais fraco indicava o grande castelo. K. permaneceu longo tempo sobre a ponte de madeira que levava da estrada à aldeia e ergueu o olhar para o aparente vazio.
 
K. é o personagem central, o agrimensor que vai a uma aldeia não especificada, onde fora chamado por um conde local para prestar serviços ao castelo. Contudo, uma sequência de desencontros e mal-entendidos faz com que K. não consiga chegar ao castelo e nem ao menos encontrar o caminho. O personagem fica na vila e acaba se relacionando com pessoas estranhas e confusas, que se desmentem a todo o momento, provocando diversas interpretações para o mesmo fato.
 
O livro, escrito durante cerca de seis meses, em 1922, foi lançado depois da morte de Kafka, que não chegou a terminá-lo e tentou até destruí-lo. Os originais foram salvos por seu amigo Max Brod, seu testamenteiro, talvez por isso a obra esteja incompleta. Seja como for, não é uma leitura fácil, mas não deixa de ser instigante, uma vez que faz uma velada crítica à burocracia estatal e religiosa. E o castelo pode ser interpretado também como o paraíso, com o qual sonhamos, mas difícil de ser alcançado.

Quando chega à aldeia, K. é recebido com estranheza no albergue. Sua acolhida não é fácil e fica claro, logo no início, que ele não é bem-vindo. É um estranho em meio a uma comunidade fechada, cheia de regras e absurda. No entanto, K. insiste e tenta de todas as maneiras chegar ao castelo e assumir seu posto, mas esbarra na aridez da paisagem e na hostilidade do lugar.
 
Na Hospedaria dos Senhores, K. conhece Frieda, amante do poderoso Klamm, responsável por sua contratação. Logo vê nela a possibilidade de chegar até ele e, assim, a conquista. Passa então a manter com ela uma relação amorosa, tentando, ao mesmo tempo, inserir-se na comunidade e fazer parte dela, com família e um emprego digno.

Contudo, a estranheza do lugar e as dificuldades burocráticas vão enredando-o de tal maneira que K. não encontra saída, deixando-se levar pelas situações e pelo sonho do castelo.
 
... E agora o senhor: quem é o senhor, junto de quem tão humildemente lutamos por conseguir a anuência a um pedido de casamento? O senhor não é do Castelo, o senhor não é da aldeia, o senhor não é nada! Mas, infelizmente, o senhor é alguma coisa: um estrangeiro; alguém que está a mais; um empecilho a estorvar todos os caminhos: alguém que está sempre a causar-me maçadas e nos obriga a desalojar as crianças; alguém que veio seduzir a nossa pequena Frieda muito amada e a quem agora, infelizmente, nós a temos de dar em casamento.
 
Ainda que sem final, é sempre bom ler Kafka. E este O castelo é um primor. Que bom que terminei.

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