Foi uma aula da professora Sonia Luyten, especialista em estudos de mangás, que me levou a prestar atenção aos quadrinhos e a decidir fazer uma monografia sobre eles. Foi uma extensa pesquisa na internet, sobretudo na arte voltada para adultos, que me levou a Joe Sacco e, por tabela, a nomes como Art Spiegelman, Alan Moore, Frank Miller, Milo Manara e, é claro, Neil Gaiman, o escritor inglês, criador de Sandman, um dos mais importantes livros de fantasia, em quadrinhos, que se tem notícia.
Me apaixonei de “cara” pela sua obra e, pouco a pouco, fui me inteirando dela. O que eu não poderia supor é que em 2008 eu tivesse a oportunidade de estar, frente a frente, com o “Rei dos Sonhos”, em mais uma edição da Flip, a Festa Literária Internacional de Paraty. Depois de assistir a sua mesa no evento – e de me encantar ainda mais com ele –, permaneci quatro horas na fila para o autógrafo, em um dos melhores e mais emocionantes momentos da minha vida.
Neil Gaiman é um escritor e tanto, que nasceu em Portchester, Inglaterra, há exatos 51 anos. Suas histórias encantam, emocionam, hipnotizam. Seu estilo elegante e inteligente de escrever, marcado por referências clássicas e contemporâneas, um tanto sombrias, mas divertidas, prende a atenção do leitor do início ao fim.
Sandman, sua obra mais reverenciada, é uma revista de HQ, cujas histórias descrevem a vida de Sonho, o governante do sonhar (o mundo dos sonhos e sua interação com o universo, os homens e outras criaturas) e foi publicada no Brasil por várias editoras. A mais célebre – e praticamente esgotada, a menos que se recorra a colecionadores – é o encadernado da Conrad, em dez volumes, e que venho tentando formar. Dela faltam-me dois volumes; 1 e 2, exatamente os mais difíceis de encontrar, a não ser por um preço exorbitante. Mas eu chego lá.
Entre seus livros publicados já li a graphic novel Orquídea Negra, que narra a história de Susan uma moça que foi cruelmente assassinada, mas que renasce como Orquídea Negra, um híbrido de planta e humana; Os Livros da Magia, série em quadrinhos sobre Timothy Hunter, um adolescente que descobre estar destinado a ser o maior mago de todos os tempos. A propósito, existem algumas semelhanças entre este personagem e Harry Potter, da saga de J. K. Rowling; 1602, outra série que conta a história de uma realidade alternativa no anos de reinado da Rainha Elizabeth e, depois, do Rei James, tendo como personagens os heróis da Marvel; e Coraline, o primeiro livro voltado ao público infantil que conta a história de uma menina que descobre uma porta que a levará a um mundo parecido com o seu, mas que traz surpresas assustadoras. Coraline, inclusive, foi adaptado para o cinema em animação 3D em 2009.
E, agora, mais recentemente, estou lendo Belas Maldições – as belas e precisas previsões de Agnes Nutter, ficção fantasiosa de Neil Gaiman em parceria com Terry Pratchett, publicada em 1990, e que fala sobre o Apocalipse de uma forma divertida e genial. Segundo as previsões do livro da bruxa Agnes Nutter, o mundo vai acabar num sábado, antes do jantar. Dois seres sobrenaturais, o anjo Aziraphale e a serpente Crowley, tentam impedir que isso aconteça, pois gostam de viver na Terra usufruindo tudo o que ela proporciona.
Tomando como base as teorias sobre o fim dos tempos, mas distorcendo a seu modo, a história começa com a chegada do AntiCristo, a criatura responsável pelo Apocalipse que, ao completar 11 anos, deverá cumprir sua missão. Crowley é então encarregado de levar o AntiCristo na maternidade para ser trocado por outra criança que está para nascer no hospital dirigido por freiras satanistas. Uma destas, a irmã Maria Loquaz, faz a troca, mas com a mãe errada e a criança, que recebeu o nome de Adam, acaba sendo criada por outra família que não aquela vigiada pelas Trevas.
A confusão está armada, com Aziraphale e Crowley tentando saber o paradeiro do AntiCristo, a poucos dias de acontecer o Armagedon. Em meio a esse conflito, céu e inferno se preparam para o fim dos tempos, e entram em cena personagens como os quatro cavaleiros do Apocalipse (Morte, Guerra, Fome e Poluição, caracterizados de uma forma bastante interessante), o cão satânico, os amigos de Adam (Pimentinha, Brian e Wensleydale, que formam juntos o quarteto Eles), Anathema Device (bruxa descendente de Agnes Nutter), Newton Pulsifer (descendente do caçador de bruxas que capturou Agnes Nutter), alienígenas, americanos, habitantes de Atlântida, tibetanos e outras criaturas e seres sobrenaturais.
É uma trama deliciosa e apaixonante. E, com tantos personagens surgindo aqui e ali, é habitual voltar atrás para resgatar algum ponto que passou despercebido pela leitura afoita, por isso, ainda não cheguei ao fim do livro, mas falta pouco.
Dos personagens gosto do anjo Aziraphale, que é inteligente e colecionador de livros antigos, mas é Crowley quem proporciona as melhores ações, apesar destas serem voltadas para o mal. Se bem que é um mal menos mal, se é que isso é possível, pois ele gosta dos humanos e o que quer, na verdade, é se divertir. E depois, acredita que tudo o que faz não é nem um pouco daquilo que o próprio homem faz a si mesmo e a seu semelhante, como diz a passagem:
Ah, ele dera o melhor de si para infernizar as vidas deles, porque esse era seu trabalho, mas nada que ele pudesse pensar era metade do que eles pensavam por conta própria. Pareciam ter um talento para isso. Estava embutido no projeto de criação deles de algum modo. Nasceram num mundo que era contra eles em um milhão de coisinhas, e então dedicavam a maior parte de suas energias a torná-lo pior. Ao longo dos anos, Crowley achara cada vez mais difícil encontrar algo de demoníaco a fazer que se destacasse contra o pano de fundo natural da maldade generalizada. No decorrer do último milênio, houve momentos em que sentiu vontade de enviar uma mensagem lá para Baixo dizendo: escutem, que tal a gente desistir de tudo agora, e fechar Dis e o Pandemônio e todo o resto e nos mudarmos para cá? Não há nada que possamos fazer a eles que eles já não façam por conta própria, e eles fazem coisas que nós sequer pensamos, frequentemente envolvendo eletrodos. Eles têm o que não temos. Eles têm imaginação. E eletricidade, é claro.
Um deles havia escrito isso, não havia? “O Inferno é vazio, e todos os demônios estão aqui.”
Por tudo isso, Belas Maldições é um livro que se lê com prazer a mais, já pensando em retomá-lo quando acabar. Precisa dizer mais?
Não conheço este autor. Mas depois de ler este artigo, vou procurar um dos seus livros e lê-lo.
ResponderExcluirAcho a temática do Gaiman, a habilidade dele em lidar com mitos e utilizá-los como melhor entende nas histórias, muito interessantes. Também me agrada a forma como ele ambienta as histórias. Contudo, acho ele um bom escritor de contos, mas que peca na hora de trabalhar em textos mais longos. As obras de fôlego que li dele poderiam ter boa parte cortada ou melhor editada.
ResponderExcluirwww.cantodoslivros.wordpress.com
Eu preciso muito ler Neil Gaiman um dia :D Acredito que está faltando isso na minha vida, haha! Também sou fã de quadrinhos, mas admito que sou mais fã dos quadrinhos orientais, apesar de também gostar dos ocidentais.
ResponderExcluirBem, você me pediu uma recomendação, e eu martelei aqui até que a resposta ÓBVIA veio em minha mente, haha! Eu tenho uma mangaká preferida, e ela mudou o seu público alvo ao longo dos anos. De um público feminino, ela passou para o masculino, inclusive aperfeiçoando o traço. Uma história MUITO bacana dela, voltada para o público adulto, chama-se Eternal Sabbath (a mangaká chama-se Fuyumi Souryou).
Infelizmente nenhum material dela foi publicado no Brasil, então você tem duas opções, ambas em inglês:
1) ler online mesmo, o que muita gente não gosta, mas que eu já acostumei. Aqui você encontra gratuitamente: http://manga.animea.net/eternal-sabbath.html
2) Encomendar lá de fora. Coisa que eu nunca recomendo antes que a pessoa tenha lido (caso seja possível) pela internet antes.
É uma história bem interessante e que eu recomendo porque sou muito fã dela e adoro a maneira como ela se reinventa, para nunca ser uma artista óbvia. Tanto é que depois desse mangá, ela começou outro contando a história de Cesare Bórgia...:)
Agora vamos para a segunda recomendação, agora em português:
Nana, de Yazawa Ai. Esse você encontra facilmente no Brasil, e é o melhor trabalho que já li dessa mangaká até hoje. Um plot simples: duas mulheres com o mesmo nome e vidas muito diferentes acabam convivendo e muita coisa legal acontece, especialmente porque tudo gira no mundo "rock n'roll". Infelizmente a autora está com problemas de saúde e deu uma parada na série no Japão, mas você pode encontrar os volumes aqui no Brasil.
http://mangasjbc.uol.com.br/nana-01/
Pronto, duas recomendações...haha! São alguns dos mangás que eu eu mais gosto, então...:)
Grande beijo!!!