quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Fora dos padrões


Devo ser uma pessoa esquisita mesmo, cheia de manias, gostos estranhos e com opinião diferente daquilo que muitos consideram como o “normal”. Pelo menos é o que meu amigo Adílson fala..., bom minha sobrinha Luciana diz a mesma coisa.

Nunca subi em árvores, não sou fã de Bis (o chocolate), não gosto de yogurte, não aprecio comida japonesa, não como camarão, não tenho paciência com programas humorísticos, não compro em brechós e..., apesar de ser louca por livros, não frequento sebos. Sei lá, já tentei, mas é um local onde não me acho direito, não me acerto. Isso não quer dizer que não me arrisco a ir, vez por outra, nesses espaços. É claro, vou, mas só que prefiro mais me aventurar por uma livraria.

Para começar a própria denominação sebo já me causa asco. E, embora o dicionário traga como uma das definições a livraria onde se vendem livros usados, a primeira idéia que me vem à mente é seu outro significado: gordura sólida presente nas vísceras abdominais dos ruminantes.

Desculpe-me os aficcionados, mas de fato os sebos me parecem lugares engordurados, nauseantes, de aspecto sujo. Além disso são, muitas vezes, apertados e empoeirados, repletos de livros dispostos em intermináveis pilhas e mais pilhas, que tornam difícil sua captura, o que dirá seu manuseio. A bagunça e a falta de critério na acomodação das obras é um desconvite ao desbravamento, e o predominante cheiro de mofo (porque têm sim), acabam por inibir minha escalada por prateleiras ou bancadas.

Claro, há exceções, como tudo na vida, mas ainda assim não me sinto atraída por esses estabelecimentos. Será que é por conter livros demais? Isso me faz lembrar de uma passagem do livro Ex-Libris – Confissões de uma leitura comum, de Anne Fadiman. Ela conta que George Orwell, autor de A Revolução dos Bichos, entre outras grandes obras, chegou a trabalhar em um sebo. Para ele, as horas eram longas, a loja era congelante. As estantes eram cobertas de insetos voadores mortos e uma grande porção dos fregueses era de lunáticos. Pior ainda, os próprios livros perdiam aos poucos seu lustre. “Houve um tempo quando eu realmente adorava livros”, escreveu ele, “adorava a aparência, o cheiro e a textura deles, quero dizer, se tivessem 50 ou mais anos pelo menos. Nada me agradava tanto como comprar um lote deles por um xelim num leilão no interior... Mas assim que fui trabalhar na livraria parei de comprar livros. Vistos aos montes, cinco ou dez mil de uma vez, os livros se tornavam enfadonhos até mesmo ligeiramente enjoativos.”

Já entrar em uma livraria, para mim, é outra coisa, é um lugar onde me sinto mais à vontade. Primeiro olho a vitrine, fico por um momento apreciando as capas dos livros expostos, a diversidade de títulos, as cores, as imagens, os formatos; depois, entro e olho tudo ao meu redor, passeio por entre as estantes dispostas nas paredes e nas laterais ou nas bancadas que se encontram no interior da loja. O aspecto, sem dúvida, é melhor, mais limpo, mais confortável, mais amplo, melhor distribuído e convidativo para procurar, ver, manusear, ler.

E não é porque só gosto de livros novos, limpinhos, sem rabiscos ou deteriorados, não. Sei lá, deve ser empatia, porque tenho um monte de livros “velhos” em casa, que conservo como um bem raro. E ainda costumo frequentar bibliotecas, onde há muitos livros antigos e alguns até em estado bastante lastimável. E, no entanto, adoro estar nesses espaços, consultar o catálogo, olhar as prateleiras, procurar determinados livros que não encontro nas livrarias por estarem fora de catálogo ou da lista dos mais vendidos, e descobrir outros só de circular pelas estantes. Chego a ficar horas em uma biblioteca só olhando, folheando, sonhando.

Por outro lado, sei da importância e do valor cultural que os sebos têm, sobretudo por contribuirem na promoção da leitura. Assim, se desejo adquirir algum livro ou obra rara, que não encontro nas livrarias, limito-me a consultar os sebos pela Internet e fazer meus pedidos on-line. Talvez a graça não seja a mesma, mas pelo menos não fico irritada e dou uma trégua para a minha rinite.

3 comentários:

  1. Eu, pleo contrário, adoro sebos!!! Também não encontro nada lá dentro, por isso levo uma listinha e peço logo ajuda a algum atendente!

    beijinhos!

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  2. aaah também adoro os sebos! minhas melhores e maiores descobertas foram em sebos...meu primeiro encontro com Gabriel Garcia Marquez, Anton Tcheckov, Junishiro Tanizaki,Ernst Hemingway,Ítalo Calvino...acho que eles estavam esperando por mim! nem tive trabalho em encontrá-los,estavam lá no cantinho de literatura estrangeira e eu sempre voltava feliz com eles abraçados ao peito...

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  3. Eu tb prefiro livrarias, mas agora com o site Estante Virtual, tenho me rendido aos sebos, mesmo que virtuais

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