quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

Minhas leituras em 2020

Em 2020, em meio a uma pandemia e desempregada, tive mais tempo para ler. E realmente fiz isso, prosseguindo nas leituras de livros escritos por mulheres, não perdendo também de vista os livros escritos por homens. Apesar de ter mais tempo, e ler regulamente, não cheguei a ler todos os livros que tinha planejado - na verdade, a lista não acaba... que bom!. Neste final do ano perdi um pouco o ritmo, mas os livros que li foram extraordinários e valeram muito a pena.

Só não consegui participar dos Clubes de Leitura, que neste ano aconteceram virtualmente. Uma pena, pois não me adapto a discussões on-line. Mas acompanhei o calendário e li alguns livros escolhidos.

Para 2021 o que espero, de verdade, é a vacina para combater a Covid-19, arrumar um emprego e continuar lendo, sempre e com qualidade. Não importa quantos livros lerei, o importante é prosseguir nessas viagens prazerosas, inspiradoras e consoladoras.

Vamos então à minha Retrospectiva Literária 2020.

O primeiro livro que li no ano:

Marrom e Amarelo, de Paulo Scott

Livro que ganhei no amigo secreto do clube Traçando Livros, de 2019, tinha de ser o primeiro a ser lido neste ano. Obra impactante sobre a questão racial na história de dois irmãos.

A fantasia que me encantou:


O Alforje,
de Bahiyyih Nakhjavani

Não sei se pode ser considerado como uma fantasia, mas o deserto, as cidades de Meca e Medina, com seus múltiplos personagens me envolveram em um clima de magia e sedução fantásticos. Livro maravilhoso.

O suspense que me prendeu:

Distância de Resgate, de Samanta Schweblin

Livro curtinho que te prende do início ao fim em uma trama envolvente e sinistra. A história se passa em um campo atingido pelo uso de agrotóxicos, gerando transformações sombrias pela contaminação. Da autora gostaria de ler ainda Pássaros na Boca, quem sabe em 2021.

O clássico que me marcou:

Um Teto Todo Seu, de Virginia Woolf

Sim, é um clássico. E que clássico!

Trata-se de esplêndido ensaio/ficção que busca refletir sobre a presença das mulheres na literatura, do século XVI até o início do século XX. Essencial.

O livro que me decepcionou:

O Nome da Morte, de Klester Cavalcanti

Fiquei pensando se citava esse livro ou Todos Nós Adorávamos Caubóis, da Carol Bensimon, que não me “pegou” tanto assim. Mas o critério foi pela expectativa, e ela era alta em “O Nome da Morte”. Faz um bom tempo que queria ler esse livro, foi muito bem recomendado e o autor um jornalista incrível. O livro é muito bem escrito e narrado, com muitos detalhes, beirando à perfeição, só que esperava mais, e acho que algumas passagens foram muito destacadas em detrimento de outras que poderiam enriquecer ainda mais a história real de Júlio Santana, o homem que já matou 492 pessoas. Nota 7.

O livro que me fez refletir:


Pequeno Manual Antirracista, 
de Djamila Ribeiro

Faz tempo que queria ler Djamila, e acabei começando por esse “manual”, uma pequena joia que me fez pensar na questão do racismo e na mudança de atitudes com relação a isso. Extremamente necessário.

O livro que me surpreendeu:

Nada, de Carmen Laforet

Livro incrível que superou minhas expectativas. Narrado pela protagonista Andrea, uma jovem órfã que se muda para a casa da avó, em Barcelona, onde pretende cursar Letras. Na cidade, o cenário que encontra é desolador, depois da Guerra Civil Espanhola, refletindo na vida das pessoas e dos familiares. A “Rua Aribau”, endereço da família de Andrea, me deixou saudades.

O livro que me fez chorar:

As Alegrias da Maternidade, de Buchi Emecheta

Geralmente choro nas leituras que faço, mas nesse livro as emoções me tomaram de tal maneira que não conseguia parar de chorar. Lindo, dolorido, comovente. A história de Nnu Ego, jovem da etnia igbo, que precisa cumprir a tarefa imposta às mulheres de gerar filhos, e da vida no casamento, é enternecedora e envolvente. Muito bem escrito e em uma edição primorosa da Tag, não tem como não se emocionar.

O livro que devorei:

As Alegrias da Maternidade, de Buchi Emecheta

Chorei e devorei!

A capa mais bonita:


Todos os Nossos Ontens,
de Natalia Ginzburg

Capas bonitas ressaltam um livro, mas confesso que o que me faz comprar não é a “aparência”, mas o conteúdo, a história. No entanto, não pude deixar de me extasiar com a surpreendente edição da Tag para o livro de Natalia Ginzburg, cujo impacto começa pela belíssima capa. De tirar o fôlego! Para coroar essa beleza, um romance extraordinário, cuja história acompanha o quotidiano de duas famílias do norte da Itália desde o período que antecede a segunda guerra até o fim do conflito. Os personagens são marcantes e inesquecíveis.

O livro que li por indicação:

Papel Manteiga para Embrulhar Segredos, de Cristiane Lisbôa

A indicação foi da amiga, jornalista e contadora de histórias, Renata Rossi. O livro é um encanto, e a história é contada por meio de cartas que a protagonista envia para a bisavó, acrescidas de receitas culinárias que ela está aprendendo com uma “estranha” senhora.

A frase que não saiu da minha cabeça:

Liberdade é pouco. O que eu quero ainda não tem nome, de Perto do Coração Selvagem, de Clarisse Lispector.

No centenário da escritora, me aventurei pelo livro e me identifiquei com a frase. Já conhecia a frase, mas lida assim na obra ficou ainda mais clara e marcante.

O (a) personagem do ano:

Foram duas:

Anne Frank, de O Diário de Anne Frank

Personagem real, Anne Frank encanta e emociona com seu relato sobre a perseguição aos judeus durante o nazismo e o dia a dia no esconderijo junto a família e amigos. Admiro-a ainda mais.

Aleli de Maria Altamira, de Maria José Silveira

Mãe de Maria Altamira, que dá nome ao livro, Aleli é sobrevivente de uma tragédia em família no Peru, que parte para uma viagem sem rumo pela América do Sul até aportar no Brasil. Pelo caminho vai acumulando infortúnios que a tornam ainda mais forte e determinada. Inesquecível.

Livro mais longo:

As Veias Abertas da América Latina, de Eduardo Galeano

Não costumo ler livros longos, embora tenha alguns que eu gostaria muito de ler, quem sabe o ano que vem. Seja como for, com 394 páginas, o livro de Galeano foi o mais longo que li no ano e foi muito bom para poder conhecer um pouco mais da história da América Latina, das conquistas, conjuntura econômica e social, a dependência e aspectos culturais. Leitura indispensável para todos.

Livro mais curto:


Os Velhos Também Querem Viver,
de Gonçalo M. Tavares

Livro curtinho, com 85 páginas. Gonçalo tem o dom de dizer muito com tão poucas palavras. A partir do drama grego Alceste, de Euripedes, o autor discute amor, sacrifício e morte, com elegância e sensibilidade.

O último livro que li:

As Três Marias, de Rachel de Queiroz

Romance de formação de uma das mais importantes escritoras brasileiras, As Três Marias traz como protagonistas três mulheres, três amigas, com suas histórias da infância à vida adulta. Uma delicadeza!

A melhor HQ:

Fun Home: Uma Tragicomédia em Família, de Alison Bechdel

Graphic novel impressionante sobre conflitos familiares, literatura e sexualidade. A autora conta, com graça, força e emoção sua relação com a família, sobretudo com o pai, e fala sobre homossexualidade e livros. Amei!

O melhor livro-reportagem:

Brasil Construtor de Ruínas, de Eliane Brum

A autora, uma das jornalistas mais brilhantes e premiadas do Brasil, traz um “olhar sobre o país, de Lula a Bolsonaro”, ajudando-nos a compreender os acontecimentos ocorridos na última década para tentar encontrar uma luz em meio a todas as mudanças. Um livro forte, verdadeiro e documental.

O melhor livro nacional:


O Que Ela Sussurra
, de Noemi Jaffe

Nunca tinha lido a autora e me encantei com sua escrita nesse livro que narra, com suas próprias palavras e invenções, a vida de Nadejda, a jovem russa que guardou na memória os poemas de seu marido – o poeta Ossip Mandelstam -, morto pela censura soviética, evitando assim que fossem apagados para sempre da história. Lindo, poético, comovente.

O melhor livro que li em 2020:

As Alegrias da Maternidade, de Buchi Emecheta

O páreo foi duro, muitos bons livros estavam pelo caminho, mas desde o princípio, quando li o livro de Buchi já sabia que esse era o melhor. Forte e emocionante do início ao fim. Chorei, devorei, amei!

Li em 2020... 54 livros.

Destes, 2 foram releituras, 3 HQs e 38 foram escritos por mulheres.

A minha meta literária para 2021 é:

Ler, ler e ler.

 Os 10 livros mais amados deste ano:

 - As Alegrias da Maternidade, Buchi Emecheta

- Pequeno Manual Antirracista, Djamila Ribeiro

- Eu, Tituba Bruxa Negra de Salem, Maryse Condé

- O Que Ela Sussurra, Noemi Jaffe

- Maria Altamira, Maria José Silveira

- Todos os Nossos Ontens, Natalia Ginzburg

- Um Teto Todo Seu, Virgínia Woolf

- Nada, Carmen Laforet

- O Alforje, Bahiyyih Nakhjavani

 Menção Honrosa:

- Água Funda, de Ruth Guimarães

- Hibisco Roxo, de Chimamanda N. Adichie

- A Biblioteca à Noite, de Alberto Manguel

E que venham mais e belas leituras em 2021.

Feliz Ano Novo vacinado e literário a todos!

 

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