Minha irmã é uma pessoa difícil de presentear. Ela tem um gosto bastante peculiar e apurado, por isso, mesmo tomando todos os cuidados e presenteando-a com algo que queira, ainda assim corre-se o risco de errar. Livros, então, nem se fala. Para quem não gosta de ler, é impensável dar-lhe um exemplar de uma obra, seja ficcional ou não. Mas, então, porque é que eu insisto nessa armadilha? Quem sabe se pela insistência ela não acaba gostando, afinal “água mole em pedra dura tanto bate até fura”, já dizia o velho ditado.
Se fosse me pautar pelos últimos livros que lhe dei, e ela “tentou” ler, certamente desistiria. No final do passado arrisquei-me com Comer, Rezar e Amar, de Elizabeth Gilbert, que minha irmã demonstrou interesse em adquirir. Foi um alívio para mim quando ela se prontificou a ler, mas acredito que não tenha passado das 30 páginas iniciais. Desistiu no início do caminho. Por fim, recentemente assistiu ao filme baseado no livro, que tem Julia Roberts no papel principal, e não fez mais menção em continuar.
Outra desventura foi com Moça com Brinco de Pérola, de Tracy Chevalier, que narra uma possível história do famoso quadro do pintor holandês Johannes Vermeer, em que reproduz uma moça de turbante e brinco de pérola. Também por este minha irmã demonstrou interesse e até chegou a ler bem mais da metade do livro, mas acabou também deixando a leitura de lado, e isso já há um bom tempo.
Depois dessas e de outras tentativas, eu não deveria mesmo insistir, mas outra vez cai na tentação e, por ocasião do aniversário dela, na semana passada, dei-lhe o livro Viva Pagu – Fotobiografia de Patrícia Galvão, de Lúcia Maria Teixeira Furlani e Geraldo Galvão Ferraz. O livro retraça a rica trajetória da musa dos modernistas a partir de amplo material iconográfico e muitos documentos inéditos. Uma verdadeira joia.
Foi um investida arriscada, já que o livro tem 348 páginas e formato 26 x 29,5, nada prático para se carregar e manusear. Mas é uma obra que ela sempre estava comentando, desde o lançamento, em maio deste ano, e, depois, minha irmã tem uma predileção por histórias da vida real, em especial por Pagu e, acreditem, já leu um livro sobre ela (Pagu, da escritora Lia Zatz, lançado pela Coleção A Luta de Cada Um). Está certo que é um livro pequeno, fino, com letras fora do padrão, cheio de cores e diagramação diferenciada, mas pelo menos terminou. Levando tudo isso em consideração decidi a dar-lhe o livro. E acho que não me enganei.
Ontem a vi folheando o exemplar em casa, aliás, ela está de férias, então é uma ocasião perfeita para degustar um livro um tanto complicado de se carregar por aí, pelas ruas da cidade. E, depois, é uma obra para ser vista com calma, página por página, sentada confortavelmente no sofá de casa, sem falar no efeito estético que um livro dessa natureza comporta. E, convenhamos, pressa, pelo menos, é uma coisa que minha irmã não tem.
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