quarta-feira, 25 de maio de 2011

As melhores coisas do mundo

Fazer aniversário, ganhar presentes – mesmo pequenos – o mês inteiro, ouvir Something com os Beatles, passear na Casa das Rosas, tomar café, comer chocolates, encontrar os amigos, ler um bom livro, lembrar-se de um filme assistido no cinema e vê-lo passar na TV, dormir, acordar com a cantoria dos pássaros, ouvir a trilha sonora de Across the universe, afagar um cão...

Estes são alguns dos itens que fazem parte da minha lista de “as melhores coisas do mundo”, comprovando que, para ser feliz não é preciso muito mais, basta apenas ter a “alma adolescente” e apreciar o que de bom a vida lhe oferece – e olha que ela oferece muito.

A lista começou a ser desenhada na minha cabeça enquanto lia As melhores coisas do mundo, roteiro do filme com o mesmo título lançado pela Coleção Aplauso, da Imprensa Oficial. O roteiro é assinado pelo escritor Luiz Bolognesi, em parceria com a cineasta Laís Bodanzky, diretora dos sucessos cinematográficos Chega de Saudade e Bicho de Sete Cabeças.

Assisti As melhores coisas do mundo no ano passado e me surpreendi com a história de Mano, interpretado pelo jovem ator Francisco Miguez. Trata-se de um adolescente que vive as descobertas e as dificuldades da adolescência, quando um acontecimento familiar passa a interferir na sua rotina da escola. Frente a isso, ele tenta se encontrar e descobrir seu caminho.

O filme, lançado em 2010, foi inspirado na série de livros Mano, do jornalista Gilberto Dimenstein e da escritora Heloísa Prieto. A película recebeu oito prêmios no Festival do Recife, incluindo melhor filme e melhor roteiro.

Em abril, por causa do meu aniversário, resolvi me presentear com um livro e lembrei que na livraria da Casa das Rosas, espaço cultural localizado na Avenida Paulista, em São Paulo, os aniversariantes do mês podem adquirir livros pela metade do preço. E foi lá que avistei As melhores coisas do mundo, o roteiro do filme transformado em livro. Não pensei duas vezes, era esse que eu queria.

Foi uma leitura prazerosa, ainda mais por se tratar de um roteiro, em que as cenas, as marcações, as falas – e os pensamentos -, os ângulos, enfim, tudo é demarcado e contado. Acho que foi a primeira vez que li um roteiro e gostei muito, sobretudo por já conhecer a história e, assim, poder rememorá-la a cada cena, a cada página virada.

Para escrever o roteiro, Bolognesi conta que utilizou o “método antropológico de fazer roteiros”, ou seja, construir personagens “que não são meras projeções de nosso imaginário e valores pessoais, mas representações de mundo dotadas de alteridade”. Em outras palavras, no lugar de criar adolescentes que expressem a visão que ele tem destes, conseguiu chegar a personagens que representam uma visão de mundo que eles próprios têm. E isso não é fácil, porque requer pesquisa, muita pesquisa, ouvir as pessoas e encorajá-las a expressar seus valores e visões de mundo. É valorizar o estranhamento, sem ignorá-lo.

Quando soube disso lembrei-me das aulas de Antropologia Cultural na Puccamp, quando fiz a graduação em Jornalismo. Era uma das matérias que mais gostava, pelo seu método de conhecer e estudar outras culturas, respeitar as etnias, saber dos seus valores, aceitar suas diferenças. E foi com um prazer a mais que li o roteiro.

E para fazê-lo, Bolognesi e Laís percorreram diferentes escolas de São Paulo, fazendo uma série de nove minuciosas entrevistas com grupos de cinco a oito adolescentes. Foi assim que chegaram ao universo dos jovens de hoje, marcado pela fase escolar em que o bullying faz parte da rotina e como os adolescentes reagem e tentam se livrar dessa pecha.

Quero destacar ainda um dos personagens do roteiro, a garota Carol, interpretada no filme pela jovem atriz Gabriela Rocha, e seu inseparável caderninho de anotações, uma espécie de diário, em que pontua sentimentos, frases e emoções. Em tempos de internet, blogs e afins, ter um objeto reservado, um companheiro só seu, para compartilhar suas sensações, como o ranking de “as melhores coisas do mundo” que ela lista no final do filme, não deixa de ser inusitado – e belo.

4 comentários:

  1. Pra mim as melhores coisas do mundo são justamente as mais simples :D

    Tinha quase me esquecido de ver esse filme, mas agora que voltei a lembrar da existência dele, verei :D

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  2. Puxa Cecilia, que texto lindo!!!
    Será que este filme é tão bom quanto seu texto?Bem, ainda não o assisti, mas seu relato é maravilhoso. Quanto as melhores coisas do mundo você fechou, só acrescentaria um outro item, que para mim são essenciais.
    Beijos

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  3. Cecilia Nery, parabéns. Tenho inveja de quem consegue escrever sobre coisas boas.
    Primeiro que inveja já é algo fora da lista de melhores coisas do mundo. rs rs

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  4. Eu gostei bastante do filme. Suas melhores coisas do mundo são muito parecidas com as minhas! rs
    E concordo: "para ser feliz não é preciso muito mais, basta apenas ter a “alma adolescente”! Pura verdade!
    beijos

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