sexta-feira, 22 de julho de 2011

Debaixo dos espinhos

A primeira vez que ouvi falar de A elegância do ouriço, da escritora francesa Muriel Barbery, foi há dois anos. Estava em uma livraria de shopping com duas amigas e uma delas contou que esse era um dos melhores livros que lera. Foi o bastante para me interessar, mas ainda não inteiramente para ler. Apenas o incluí na minha lista.

Há poucos meses, entretanto, outra amiga comentou em seu blog sobre a adaptação para o cinema do mesmo livro e, então, pensei: tenho de ler agora, pois sempre que me acenam mais de uma vez sobre uma publicação é porque chegou a hora de lê-la. Não podia mais adiá-la.

Sugeri, então, o livro em um dos encontros do Clube de Leitura Bookworms (http://migre.me/5kaAB) que frequento, mas havia outras indicações tão boas que a escolha recaiu em outro livro. No penúltimo encontro levei outras sugestões, assim como minhas companheiras de leitura, e uma delas se lembrou de A elegância do ouriço, mas como não havia consenso resolvemos fazer um sorteio e o livro ganhou. Que bom!

A autora, Muriel Barbery, estreou na literatura em 2000, com o romance Une gourmandise. A elegância do ouriço, seu segundo livro publicado em 2006, causou sensação literária na França. Professora de filosofia na Normandia, mas fascinada pela cultura japonesa, em 2008 ela foi viver com seu marido no Japão.

Seu livro, A elegância do ouriço, cativou-me desde o início. Já sentia a profundidade de sua narrativa, centrada em temas filosóficos, mas, talvez por isso mesmo, demorei a emplacar, apesar de já me sentir fisgada pela história. Só quase pelo meio do livro é que a leitura deslanchou, chorei muito e descobri um imenso prazer com a obra, tanto que me senti completamente seduzida pela literatura, ou seja, por essa arte que usa a linguagem escrita como meio de expressão. Acho que consegui compreendê-la melhor a partir do livro.

A história gira em torno de duas personagens principais, que vivem em um prédio elegante no número 7 da Rue de Grenelle, na França: Renée, a zeladora baixinha, gorda, feia, ensimesmada, e Paloma, a caçula da família Josse, uma menina de 12 anos, quieta, sensível e inteligente, mas que por não ver sentido na vida decide colocar um fim nela ao completar 13 anos.

A narrativa segue alternada e depois entrelaçada, com as vozes de Renée e de Paloma no texto assinaladas com tipografia diferente para cada uma. Por meia delas ficamos conhecendo um pouco mais de Renée, uma mulher simples por fora, mas refinada, culta e sagaz interiormente. Ela, apesar da infância pobre e de quase não ter frequentado escola, conseguiu deter o conhecimento por meio dos livros e da leitura autodidata. Dada sua condição social, no entanto, sempre acobertou esse lado, que é totalmente ignorado e desconhecido pelos moradores ricos do edifício. Ela vive, assim, uma vida clandestina no seu espaço, compartilhado pelo gato com nome de um escritor russo, Leon.

Já Paloma se mostra na história por meio dos registros feitos em dois diários: “Pensamentos profundos” e “Diário do movimento do mundo”, onde pontua, antes de executar o plano de suicídio, suas impressões a cerca da vida e das coisas que a cercam para, de alguma forma, tentar ver algum sentido no mundo e, talvez, desistir da ideia, embora a tenha bem clara – e decidida – na mente.

Outros personagens povoam a história, como os familiares de Paloma – o pai, um político socialista, a mãe, uma dondoca, a irmã, doutorada em letras –, os demais moradores do edifício, como o crítico de gastronomia Pierre Arthens, que está morrendo, e Manuela, uma empregada doméstica com ares aristocráticos, única amiga de Renée.

A rotina do edifício, no entanto, se vê alterada pela chegada de um novo morador, um japonês misterioso, sábio e bondoso, Kakuro Ozu, que vai por em xeque a clandestinidade de Renée e reverter a vida de Paloma, salvando ambas da mediocridade em que vivem. Ele tem dois gatos, cada um com nome de personagens do romance Ana Karenina, do escritor russo Leon Tolstói - Kitty e Levin.

As vozes de Paloma e Renée a princípio separadas acabam pouco a pouco entrelaçadas na trama, até que se casam. Temas como vida e morte, chá, filosofia, estética, diferenças de classes, adolescência, poemas e jogos orientais, filmes e livros e simbologias como aquário e camélias ocupam as páginas do livro, dando um sentido mais abrangente à trama.

Nesse entremeado de vozes, hora me identifiquei com Renée, hora com Paloma, talvez um pouco mais com Paloma que faz uma das reflexões mais profundas e belas, mas ao mesmo tempo terríveis, que li:

“... Porque o que é bonito é o que captamos enquanto passa. É a configuração efêmera das coisas no momento em que vemos ao mesmo tempo a beleza e a morte.

Ai, ai, ai, pensei, será que isso quer dizer que é assim que temos de ver a vida? Sempre em equilíbrio entre a beleza e a morte, o momento e seu desaparecimento?

Estar vivo talvez seja isto: espreitar os instantes que morrem.

Ou ainda:

Perseguir os sempre no nunca.”

E , de fato, é isto mesmo: perseguir os sempre no nunca.

3 comentários:

  1. Oi, Cecilia
    Adoro esse livro, é um dos meus favoritos! Graavei o filme mas até hoje nao arrumei tempo para assistir..rs..bjs

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  2. Nossa, mas me pareceu reflexões um tanto quanto complexas pra uma menina da idade da Paloma eim? Nem sempre estou no clima pra um livro tão pesado, mas acho que todos devemos ler livros assim algum dia, para tirarmos lições.
    Adorei aqui e estou seguindo
    Beijos
    Bruna
    http://desbravandohistorias.com.br/

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  3. Já tinha escutado uma amiga elogiar este livro, mas como ando lendo cada vez menos ficção, dei pouco importância. Lendo tua resenha hoje, me decidi e vou comprar. Beijos, Ciça!

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