segunda-feira, 11 de julho de 2011

Frente a frente com Joe Sacco

Definitivamente quadrinho não é só leitura de criança, faz parte do mundo adulto também, e pode ser usado como ferramenta paradidática, além de contar uma história real, contemporânea, narradas em estilo jornalístico, mas sem perder, contudo, o encanto e o humor característicos dos chamados “gibis”.

Se alguém ainda tinha alguma dúvida quanto a isso, o jornalista e quadrinista Joe Sacco dissipou qualquer possibilidade ao afirmar, na Flip 2011 – Festa Literária Internacional de Paraty, que sua arte, conhecida como Jornalismo em Quadrinhos, é mais adequada ao público adulto, embora as “HQs despertam a criança que existe nos adultos”.

Talvez seja o lado criança que me levou a conhecer e ler o trabalho de Sacco, mas sem dúvida, foi a parte adulta que por ele se interessou ao ponto de fazer, em 2003, um trabalho de pesquisa em pós-graduação do seu livro Palestina, ou melhor, do seu trabalho jornalístico em quadrinhos sobre o conflito israelense-palestino.

E, agora, oito anos depois, tive a oportunidade de estar em Paraty para conhecer de perto – e ouvir - o principal nome do Jornalismo em Quadrinhos, um acontecimento que vou levar para sempre em minha mente e, principalmente, no meu coração.

Encontrei Joe Sacco antes da mesa literária que ele participaria na Flip. Foi um encontro casual, no espaço da Companhia das Letras, onde ele conversava longamente com uma moça, talvez uma jornalista, e em seguida autografava seus livros. Sem dominar o inglês, atrevi-me a aproximar dele e pedi para tirar uma foto, no que se ele se dispôs prontamente. Falei rapidamente qualquer coisa, nem mesmo sei o quê e, de certa forma, nos entendemos. Fiquei admirada com sua simplicidade e simpatia e sai exultante dali.

No dia seguinte, quando da realização da sua mesa, fiquei ainda mais maravilhada com seu trabalho e sua forma tranquila de falar. No início da sua apresentação, mostrou alguns de seus trabalhos, apontando detalhes e o processo de criação. Falou sobre o tema recorrente da guerra em suas reportagens e no desejo de fazer algo mais leve e divertido no futuro.

O que mais me chamou a atenção, no entanto, foi a abordagem dos seus trabalhos: mostrar o lado humano das pessoas, ou seja, a vida dos civis sob a influência das guerras, e não retratar bombas ou tiroteios. É dar voz a essas pessoas, mostrar como vivem, o que sentem, o que esperam, como são afetados pelos conflitos. É um tipo de Jornalismo Literário, sem dúvida, adaptado para os quadrinhos.

E é este o cerne dos seus livros publicados no Brasil: Palestina e Palestina – na Faixa de Gaza, Área de Segurança: Gorazde, Uma História de Sarajevo e o recém-lançado Notas sobre Gaza.

Ao final da sua apresentação, corri para a fila de autógrafos com Palestina e Palestina – na Faixa de Gaza, já antevendo a fila enorme que teria de enfrentar. De fato, fiquei quase no final dela, mas para minha sorte – e a sorte estava ao meu lado em se tratando de Joe Sacco – uma amiga veio me resgatar e levou-me mais para frente, onde estava outra colega aguardando sua vez.

Quando estive, novamente, diante de Sacco, ele me olhou e disse algo como “você é familiar”, foi então que lembrei a ele da foto, tirada no espaço da Companhia das Letras. Ele sorriu e, gentilmente, autografou meus dois livros, deixando em um deles o desenho de seu perfil.

Sacco, que nasceu na Ilha de Malta, contou durante sua apresentação que o local foi bombardeado na Segunda Guerra e falou que as histórias da sua família sobre os conflitos ficaram nas suas lembranças, sobretudo como as pessoas foram afetadas por eles. Talvez por isso tenha se voltado para o assunto em seus trabalhos, além, é claro, das influências literárias, como a de George Orwell, em seu livro O caminho para Wigan Pier, que fala sobre as condições de vida da classe trabalhadora inglesa – como os mineradores - nas primeiras décadas do século passado. O trabalho de imersão do escritor e jornalista inglês nas minas foi decisivo para que Sacco direcionasse seu próprio trabalho.

Além de Orwell, Sacco citou o quadrinista Robert Crumb e o jornalista Hunter S. Thompson, este sobretudo pela “ideia de que você pode escrever de uma maneira interessante sobre assuntos sérios, como ele fez sobre a política americana”.

Poderia ainda ficar horas e horas falando sobre Joe Sacco e seu trabalho, mas temo ser repetitiva. Sobre o livro Palestina e o Jornalismo em Quadrinhos fiz um post no ano passado que pode ser acessado neste link: http://virou.gr/pH6xPC

Sobre os dias em que estive na Flip, vou falar um pouco mais, só que em outro post. Este, é exclusivo de Joe Sacco.

2 comentários:

  1. Nossa, deve ter sido muito bom este encontro. Jornalismo em quadrinho, isso mostra que se pode tirar uma boa reportagem de temas pesados com a leveza do desenho.

    ResponderExcluir
  2. Nossa, Cecília, que fantástico. Fico feliz por você, e triste por mim, kkk. Bjs, Marília

    ResponderExcluir