quarta-feira, 11 de julho de 2012

O meu pós-Flip


Ainda sob os efeitos da Flip 2012 custo a escrever sobre a festa. Acho que o ato seria como encerrar o evento, virar a página e encarar novas perspectivas..., mas é preciso fazê-lo, para seguir em frente, afinal, o mundo literário gira, não para, e logo uma nova Flip surgirá no horizonte.

Esta foi a festa em que mais mesas participei, e nas quais presenciei encontros fantásticos, ouvi belas dissertações sobre o universo da literatura, vi autores como astros, outros descendo do pedestal; muitos como seres iguais a nós mesmos, tornando-se próximos, amigos, autografando livros, posando para fotos...

As homenagens a Carlos Drummond de Andrade foram lindas, com mesas discutindo e comentando sua obra. E o legal é que antes de cada apresentação era feita uma leitura de um poema de Drummond, tornando assim a comemoração mais completa. A Companhia das Letras levou até uma réplica da famosa estátua do poeta sentado no banco, onde os participantes podiam tirar uma foto ao lado de Drummond.


Revi João Ubaldo Ribeiro, José Luis Peixoto, Luís Fernando Veríssimo e Ruy Castro, e vi e ouvi pela primeira vez Walcyr Carrasco, Alejandro Zambra, Enrique Vila-Matas, Angela Lago, Teju Cole, Paloma Vidal, Jonathan Franzen, Ian McEwan, Jennifer Egan, Laerte, Angeli, Rubens Figueiredo e Francisco Dantas. Foram mesas divertidas e muito proveitosas, como a do bate-papo na Casa Folha com Ruy Castro, que deu uma verdadeira aula de jornalismo aos presentes. Mas gostaria de destacar dois bons momentos, entre tantos, dessa festa que vou levar para sempre na memória:
Em 2010, quando estive na festa pela terceira vez, tive a boa surpresa de ouvir a escritora iraniana, Azar Nafisi, autora de Lendo Lolita em Teerã, cantar um trecho da canção “Cecilia”, de Simon and Garfunkel, quando leu o meu nome para fazer a dedicatória e autografar o meu exemplar.

Em 2012 foi a vez do chileno Alejandro Zambra, autor do belíssimo Bonsai, lembrar a canção, fazendo uma dedicatória no livro, destacando uma frase da música para mim. São momentos como esses que fazem toda a diferença na Flip, uma festa que chega a sua 10ª edição mais ampla e dinâmica, sem contudo perder o charme característico daquela primeira versão.

O destaque, porém, aconteceu no domingo, no último dia da Flip, na mesa A imaginação engajada, entre os escritores Rubens Figueiredo e Francisco Dantas. A minha intenção era ver Rubens Figueiredo, que conhecia das traduções de Leon Tolstói, sendo a mais recente Guerra e Paz, publicada pela Cosac Naify, e premiada pela APCA como a melhor tradução de 2011, e que tinha despertado meu interesse pelo seu romance de ficção O passageiro do fim do dia. Ele não me decepcionou, mas foi Francisco Dantas quem chamou mais a minha atenção.

Sergipano, Dantas (à dir. na foto), que se iniciou na literatura aos 50 anos com a publicação de Coivara da memória, esbanjou simplicidade, bom humor e carisma ao apresentar um calhamaço de anotações que se iniciava com agradecimentos à organização e a boa acolhida em Paraty. Arrancou risos e aplausos da plateia com seus causos e se declarou fã de Faulkner e Onetti.
Ao ouvir Dantas, lembrei-me de que já tinha lido a seu respeito no livro de perfis do jornalista e escritor Sérgio Vilas-Boas e que, na época, fiquei interessada pelo autor, mas não havia ligado o seu nome ao convidado que participaria daquela mesa. Foi uma feliz coincidência e, com certeza, uma das melhores surpresas que tive na Flip 2012.
No meio da mesa já pensava em sair rápido dali e ir correndo à Livraria da Vila para adquirir um de seus livros e pegar o autógrafo, só não sabia qual. Mas a indecisão não demorou muito, pois Os desvalidos, romance nos moldes da literatura de Graciliano Ramos e de João Guimarães Rosa e que tem o foco na cultura popular nordestina, conquistou meu coração.
A história fala dos pobres-diabos, dos rejeitados que sobrevivem na periferia entre o início do capitalismo da década de 1930 e o ancestral mundo dos latifúndios. A vida sob o cangaço, a miséria e o esquecimento dão a tônica do romance por meio de personagens como Coriolano, Tio Filipe e Lampião. O livro foi lançado originalmente em 1993 e agora relançado pela Alfaguara.
Agora estou ansiosa para ler e tenho de achar um meio de encaixar mais esta leitura entre tantas que tenho e quero fazer. Afinal, Francisco Dantas foi, sem dúvida, um dos destaques da 10ª edição da Festa Literária Internacional de Paraty.

2 comentários:

  1. Oi, Cecília. Eu nem me perdoo por ter perdido mais essa edição da Flip. Planejei tudo para esatar presente mas não deu certo. Literatura é a minha cachaça mais curtida. Abraços e obrigado pelo panorama resenhado aqui de forma tão bela. Paz e bem.

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  2. Que pena, José Claudio. Mas acho que não faltarão oportunidades. 2013 logo está aí e a Flip continua, para nossa alegria. Obrigada por visitar e escrever no meu blog. Abs.

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