quarta-feira, 29 de outubro de 2014

"Me paga um livro?"

Nas ruas e avenidas das grandes cidades é comum encontrar “pedintes”, sobretudo crianças, abordando motoristas ou pedestres em busca de trocados ou algo para comer. Muitas vezes passamos por elas – quando não nos desviamos – repetindo mecanicamente não ter “nenhum trocado” ou, se muito, despejando algumas moedas sem muito valor em suas mãos para nos livrarmos logo, tanto dos centavos quanto dos pequenos.


Mas será que não nos surpreenderíamos se esse pedido, ao invés de ser dinheiro, comida, passagem ou coisas desse gênero, fosse um simples “Me paga um livro?”. Acho que seria algo inesperado. E foi exatamente isso o que aconteceu com José Rezende Jr., jornalista e escritor, quando ele se encontrava em um shopping de Brasília. O pedido, de tão inusitado, inspirou Rezende a escrever uma história, transformada no livro Fábula Urbana, com ilustrações de Rogério Coelho, e publicada pela editora Edição de Janeiro.

O livro, que apresenta um formato inusitado, alongado e estreito, remetendo a ideia de prédio, tem no seu traçado a geometria da cidade grande. E o texto, colocado em balões, dá início ao diálogo entre um menino de “camisetão” e shorts e um homem de terno todo alinhado, que se encontram dentro de um shopping da cidade:

“Ei tio! Me paga um livro?”

“Não tenho trocado.”


Depois dessa resposta mecânica, o homem digere a cena e cai em si, embasbacado com o pedido do menino, assim como o leitor se surpreende com o que virá depois. Os diálogos nos balões se sucedem, alternando-se entre um e outro, mas o homem cede e pede que o menino escolha um livro. A resposta deste é singela:

“Tio, como é que escolhe?”

O menino demonstra assim toda sua fragilidade e inocência, e mais ainda quando o homem escolhe um livro e lhe dá, sem saber que o pequeno não sabe ler.

A história prossegue com o homem lendo o livro para o menino, suscitando nele lembranças e emoções em um e fuga da realidade no outro. No entanto, finda a leitura, os dois se separam e o homem é arrebatado por um sentimento de culpa, por medo, pela solidão. Então, o caminho dos dois se cruza novamente...



É impossível não se comover com a “pequena” história. O texto, aliado às belas ilustrações, tocam fundo, faz a gente pensar neste estar no mundo e no poder da fantasia para atenuar as mazelas da vida.

Conheci a história em um quadro do Fantástico, programa exibido aos domingos pela TV Globo, onde Fábula Urbana foi encenada e me apaixonei de “cara”. Sua leitura se tornou urgente para mim. Hoje a considero necessária e uma bela maneira de comemorar o Dia Nacional do Livro.

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