Quando eu cursava o primeiro ano do segundo grau, a professora de Português, na época, apresentou uma aula sobre literatura na qual falava da vida e da obra de Monteiro Lobato. A certa altura, ela perguntou a um dos alunos que parecia distraído, o que ele achava do escritor brasileiro...
– Não gosto – Ele respondeu.
– Por quê?
– A literatura dele é para crianças. Já não me interesso mais por ela.
– Pois saiba que Monteiro Lobato escreveu muito para adultos, mas desiludido com estes, resolveu se voltar para o universo infantil – Explicou a professora, deixando o aluno de queixo caído.
– Não gosto – Ele respondeu.
– Por quê?
– A literatura dele é para crianças. Já não me interesso mais por ela.
– Pois saiba que Monteiro Lobato escreveu muito para adultos, mas desiludido com estes, resolveu se voltar para o universo infantil – Explicou a professora, deixando o aluno de queixo caído.
De fato, Monteiro Lobato, dono de uma obra composta por 34 livros, metade destes dedicados às crianças, pouco antes de morrer, em julho de 1948, teria desabafado:
– Perdi muito tempo escrevendo para gente grande, que é uma coisa que não vale a pena.
Foi uma sábia decisão, porque a partir dela surgiu o mundo do Sítio do Picapau Amarelo, uma das principais obras da literatura infantil brasileira. Pela importância de seus livros infanto-juvenis, o dia do seu nascimento, 18 de abril, foi escolhido para ser o Dia Nacional do Livro Infantil, comemorado ontem.
Monteiro Lobato teve sua primeira obra voltada para o público infantil lançada em 1920. Tratava-se de A Menina do Nariz Arrebitado. Foi com este livro que ele inaugurou o Sitio do Picapau Amarelo e seus personagens.
O poeta Vinicius de Moraes disse, certa vez, que “a vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida”. Pois é, talvez tenha sido por causa de um desses desencontros que eu ainda não tinha lido um livro de Monteiro Lobato, nem da fase adulta, nem da fase infantil. Não que eu me lembre.
Na minha infância não havia essa oferta de obras para crianças que hoje existe. Lembro das histórias de Hans Christian Andersen, das fábulas de Esopo e de La Fontaine, dos contos de Charles Perrault e dos clássicos da Disney. De Monteiro Lobato não. Mas pelo menos esse lapso pode ser reparado, em parte, quando o Sítio do Picapau Amarelo foi adaptado para a televisão. Aí então, eu pude conhecer melhor o universo infantil criado por ele.
Era preciso, no entanto, ler os seus livros. Então, recentemente, peguei na biblioteca Emília no País da Gramática, que li com um prazer redobrado, seja pela literatura em si, seja pela referência a língua portuguesa.
A edição é antiga, então algumas palavras já caíram no desuso, ou como o próprio Monteiro Lobato descreve no livro: foram morar na cidade/bairro do Arcaísmo. Mas no geral, o básico da Gramática está lá e foi muito bom poder rever os verbos, suas conjugações com tempos e modos, os pronomes, os advérbios e tantos outros itens de uma forma bem descontraída. O melhor, porém, é a dinâmica da história e as trapalhadas da Emília, ela sim, a grande personagem do autor.
Para ir ao País da Gramática, Pedrinho, Narizinho, Emília e o Visconde são conduzidos pelo rinoceronte, apelidado de Quindim pela boneca. No início, admirados com a erudição do animal e com seu conhecimento da língua portuguesa, Emília lança um palpite bastante humorado para justificar a façanha:
– Para mim – sugeriu Emília – Quindim comeu aquela gramaticorra que Dona Benta comprou. Lembre-se que a bichona desapareceu justamente no dia em que Quindim dormiu no pomar. O Visconde tinha estado às voltas com ela, estudando ditongos debaixo da jabuticabeira. Com certeza esqueceu-a lá e o rinoceronte papou-a.
– Que bobagem, Emília! Gramática nunca foi alimento.
– Bobagem, nada! – sustentou a boneca. – Dona Benta vive dizendo que os livros são o pão do espírito. Ora, gramática é livro; logo é pão; logo é alimento.
– Boba! – gritou a menina. – Pão do espírito está aí empregado no sentido figurado. No sentido material um livro não é pão de coisa nenhuma.
Emília deu uma gargalhada.
– Pensa que não sei que os livros são feitos de papel de madeira. Madeira é vegetal. Vegetal é alimento de rinoceronte. Logo, Quindim podia muito bem alimentar-se com os vegetais que se transformaram no papel que virou gramática.
São tiradas como essa da Emília que fazem a graça do livro.
Já dei o pontapé inicial na obra, agora é só seguir a trilha desse visionário, que enxergava oportunidades onde ninguém mais a via e apostava no livro como elemento de transformação. Contudo, ele acreditava que os livros, por si só, não mudam o mundo, mas sim as pessoas. A chave disso tudo é que “os livros podem mudar as pessoas”.
Oi, Cecília
ResponderExcluirEste livro é bem legal, mas para penetrar mesmo no mundo de Monteiro Lobato o melhor mesmo é "Reinações de Narizinho"; foi o primeiro que eu li da coleção e o que eu mais adoro até hoje. Pena que minha filha ainda não se interessou pelas histórias do sítio...
Oi, Cecília!!! Adorei seu post...nostalgia pura!
ResponderExcluir:)
Mesmo não gostando quase nada de Monteiro Lobato, li tudo e confesso que achei interessante...
ResponderExcluirEu comecei a implicar com ele quando estudei a Semana da Arte Moderna... rs
Mas você consegue até um anti-monteiro gostar dos seus textos... Sempre, né?
Saudade, Ciça!
Grande beijo!
Lia O Sítio para a Juba quando tinha uns 4 anos. Ela gostava dos personagens da mata, ficava doida para que chegasse a parte sobre o lobo, no livro havia uma imagem preta dele, realmenta apavorante. Durante a leitura, ela e eu ficávamos admirando os bons momentos de cada episódio.
ResponderExcluirQuanto aos livros adultos, se Lobato os escreveu sem ter esperança nos adultos, imagino se tivesse. Os contos dele são impagáveis.
Atualmente, para a Ana, estou aguardando o momento certo, enquanto isso leio Pinóquio para ela. E está adorando. Ela e eu!
ResponderExcluir