quinta-feira, 1 de abril de 2010

Impresso ou digital - a discussão apenas começou



As novidades são sempre boas, mas assustam, no início. Por vezes encontram resistência, são vistas pelo canto do olho e muitas demoram a emplacar. Com a exposição contínua, no entanto, aquilo que no princípio parecia estranho, torna-se corriqueiro e plenamente aceitável com o passar do tempo. Será que com o livro digital será assim, também? É o que tudo indica, e o vídeo acima, veiculado pelo Youtube, é uma pequena mostra disso por espelhar bem essa situação, fazendo um paralelo entre o mundo medieval e o pós-moderno.

Tomei conhecimento do vídeo, da TV norueguesa, veiculado pelo Youtube (veja endereço acima) na apresentação de Fredric Michael Litto, coordeanador científico da Escola do Futuro (USP) e presidente da Abed – Associação Brasileira de Educação a Distância, durante o 1º Congresso Internacional do Livro Digital, realizado de 29 a 31 de março, em São Paulo, uma promoção da Câmara Brasileira do Livro em parceria com a Frankfurter Buchmesse e a Imprensa Oficial.

Embora não tenha tido contato, ainda, com o livro digital, já comentei no blog a minha preferência pelo livro impresso, mas não posso negar que as tecnologias são bem-vindas e devem ser difundidas, mesmo porque há espaço para todos. Por isso, fiz questão de acompanhar, na medida do possível, alguns debates desse congresso, que, sem dúvida, é um marco na trajetória editorial do Brasil.

Na abertura do evento, Juergen Boos, presidente da Feira do Livro de Frankfurt, destacou a importância da seleção do conteúdo, sobretudo agora com o livro digital. Disse ainda ser necessário “tentar e ousar no mundo digital, mesmo que enfrente dificuldades no início”, e enfatizou que “livros são experiências que transcendem o papel e que hoje a distribuição não é mais uma barreira, pois você pode vender um livro diretamente para uma pessoa do outro lado do mundo". Mas fez questão de ressaltar que “a leitura amplia horizontes, alimenta o raciocínio, muda a vida, forma cidadãos”.

Dividindo a mesa “O Livro do Futuro” com Anibal Bragança (coordenador do Núcelo de Pesquisas sobre Livro e História Editorial no Brasil/UFF), Cláudio de Moura e Castro (economista e colunista da Revista Veja) e Sérgio Valente (presidente da DM9DDB), Frederic Litto, que trouxe o vídeo “Helpdesk Medieval”, falou na sua apresentação que não há, ainda, um padrão dominante para livros digitais e que textos digitais gratuitos ou baratos crescerão, mas não os textos que precisam de intervenções, como as traduções. Todos, na mesa, foram unânimes em apontar a necessidade do livro se reinventar.

Na plateia, eu assistia a tudo impassivelmente, como se a realidade do livro digital ainda fosse algo bem distante da minha. Quando Cláudio de Moura e Castro começou a falar, no entanto, meus temores sobre a era digital se acenturam. Pela primeira vez ouvi alguém discutir não apenas filosofias, como gostar ou não do livro digital, preferir ou não o livro tradicional, mas apontar a questão econômica como um fator que impulsionará a difusão dessa tecnologia. E, embora mostrasse dados referentes ao mercado norte-americano, sobretudo com relação ao livro didático, Moura disse que o governo de estados como Califórnia, Flórida, Texas e Maine estão seriamente dispostos a adotar o livro digital nas escolas. A crise de 2008/2009 ainda não foi totalmente superada por lá.
Pesquisa
Outro dado interessante trazido ao evento foi a Pesquisa sobre o Hábito do Consumidor de Conteúdo Digital no Brasil, realizada pelo Observatório da Leitura, em parceria com a Câmara Brasileira do Livro e a Imprensa Oficial. Apresentada por Galeno Amorim (diretor do Observatório do Livro e da Leitura) e Maurício Garcia (diretor do Centro de Estudos e Pesquisas do Observatório do Livro e da Leitura), a pesquisa apontou que "o Brasil tem 95 milhões de leitores, sendo que cada brasileiro lê em média 4,7 livros por ano. Um total de 77 milhões não têm hábito de ler livro algum. Em relação a livros digitais, 3% disseram já ter tido acesso.

Uma outra pesquisa sobre conteúdo digital foi realizada com um grupo de leitores de São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Recife. Esses leitores, de 16 a 40 anos costumam frequentar livrarias e pertencem as classes A e B. Eles consideram a livraria o principal canal de distribuição e gostam muito de Megastores. As mulheres costumam comprar por impulso enquanto os homens pesquisam o preço nas livrarias para depois decidirem pela compra no local ou pela internet. A princípio, o livro dentro de um computador ou notebooks foi rejeitado por problemas com luminosidade, bateria, dificuldades para anotações e impressão.

Quando foi apresentado um e-reader, a maioria dos entrevistados achou o aparelho leve, fácil de operar, com bom apelo ecológico e boa capacidade de armazenamento. Mas disseram que não comprariam por enquanto, porque outros irão surgir nos próximos meses, com muito mais aplicativos.
Com relação à pergunta: Você pretende comprar livros digitais? Quase a totalidade dos entrevistados respondeu que NÃO. A principal alegação foi a de que o que está na internet é gratuito. Assim como com as músicas, a opção será baixar de algum lugar. Os entrevistados disseram que só comprariam livros digitais, se as editoras apresentarem novos atrativos".

O congresso contou ainda com a participação de outros palestrantes nacionais, como Guy Gerlach, Silvio Meira, Marcílio Pousada, Hubert Alquéres e Jorge Carneiro, além dos internacionais, como Jeff Gomez, Calvin Baker, Patricia Arancibia, Arantxa Mellado, Michael Smith, Diane Spivey e Pablo Francisco Arrieta. Este último, lembrou que ninguém vai matar o livro e que lutará até o fim da vida por ele. “Mas, agora, o leitor é dono do universo e pode fazer coisas incríveis. Os impressos deverão ficar mais bonitos para concorrerem com os digitais”.

As plataformas podem ser diferentes, mas sobreviverão juntas por muito tempo ainda.

* A foto é de Cleo Velleda.

5 comentários:

  1. Boa Páscoa para você!!!!!!

    Que vc coma todo chocolate do mundo e não engorde 1 grama! :)

    Conforme prometido, publiquei a primeira parte da mega e polêmica entrevista....passa lá pra ver...a segunda parte fica pra segunda.

    beijos!

    ResponderExcluir
  2. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  3. Gosto de fazer anotações nos livros, também acho interessante poder guardar no bolso da jaqueta, da bermuda e ir às praças com o livro da linha pocket. Livro dá para dobrar, não quebra, não tem tela para ser riscada, tem jeiro, formatos diferentes, tem volume. Livro digital é uma boa pedida, mas livro mesmo, só o impresso.

    ResponderExcluir
  4. na revista BRAVO! desse mês também veio uma reportagem a respeito, acho que ainda vai longe essa discussão,acho que a tecnologia pode formar novos leitores e talvez esses novos leitores sintam curiosidade pelos velhos e bons livros,estes serão eternos! não sei porque a vinda de um pode ser a extinção de outro, quando se falava em cd,diziam que o vinil acabaria,mas agora está voltando,quando a internet veio,que não teria mais necessidade dos correios,enfim, um sempre estará junto com o outro,serão parceiros,tudo pelo bem e cada um ficará com aquele que mais se afeiçoar! a literatura,será sempre eterna e linda!

    ResponderExcluir
  5. Oieeee...publiquei a segunda parte da entrevistaaaaaa!!! Uhuuuuuu. passa lá e me fala o que você achou?

    Beijos!

    ResponderExcluir