Quando eu era criança costumava passar as férias em Piracicaba, cidade do interior de São Paulo, onde meu tio morava. Lá me divertia muito e fiz amigos queridos, companheiros de brincadeiras e farras próprias da idade.
Mas como tudo na vida passa, a gente cresce e pouco a pouco vai se afastando das pessoas que antes eram frequentes na nossa vida. Assim foi com os amigos de Piracicaba até que, há duas ou três semanas, reencontrei um deles no Orkut. Foi muito bom, conversamos, trocamos telefones e agora nos falamos quase toda a semana, combinando ainda de nos visitarmos brevemente.
Ao reencontrar meu amigo muitas lembranças boas vieram à minha cabeça. Das férias maravilhosas que passávamos em sua casa, das farras, algazarras e até mesmo de um livro infantil que li, numa dessas visitas de lazer: O menino do dedo verde, do escritor francês Maurice Druon.
Não sei nem como, nem por que. Só sei que o livro estava lá, na sala, em cima de algum móvel e, meio que por encanto, chamou minha atenção e comecei a ler. Uma história simples e poética, mas com uma mensagem bela e verdadeira sobre questões humanas e ambientais. Jamais me esqueci.
À semelhança de O pequeno príncipe, a obra clássica do igualmente escritor francês Antoine de Saint-Exupèry, O menino do dedo verde é uma fábula que fascina e enternece, uma história que, escrita para crianças, fala também aos corações adultos. Não se trata de uma cópia, mas um livro que busca resgatar o que de melhor há no ser humano, a exemplo do principezinho.
Uma curiosidade: tanto O menino do dedo verde quanto O pequeno príncipe foram traduzidos para o português pelo monge beneditino e padre católico Dom Marcos Barbosa, que também era escritor, poeta e membro da Academia Brasileira de Letras.
A história de Maurice Druon trata de Tistu, um menino feliz que nasceu de uma família rica e bondosa, que mora numa cidadezinha chamada Mirapólvora. Seu pai era dono da maior fábrica de canhões do mundo e sonhava com o dia em que seu filho viesse a lhe suceder no comando da empresa, assim como ele sucedera ao pai.
Quando completou oito anos, Tistu foi levado à escola, mas não conseguiu se adaptar a ela, pois acabava dormindo durante as aulas. Assim, seus pais decidem que ele irá aprender de uma maneira diferente, por meio de experiências e observações práticas da vida. E ja na primeira aula, com o jardineiro Bigode, Tistu descobre ter um grande dom: o polegar verde, ou seja, tudo o que ele toca transforma-se em flores e plantas de diversas espécies. E que até mesmo pode criá-las.
E cabe Bigode explicar a Tistu a importância dessa sua natureza:
– Ah é uma qualidade maravilhosa – respondeu o jardineiro. – Um verdadeiro dom do céu! Você sabe: há sementes por toda parte. Não só no chão, mas nos telhados das casas, no parapeito das janelas, nas calçadas das ruas, nas cercas e nos muros. Milhares e milhares de sementes que não servem para nada. Estão ali esperando que um vento as carregue para um jardim ou para um campo. Muitas vezes elas morrem entre duas pedras, sem ter podido transformar-se em flor. Mas, se um polegar verde encosta numa, esteja onde estiver, a flor brota no mesmo instante. Aliás, a prova está aí, diante de você. Seu polegar encontrou na terra sementes de begônia, e olhe o resultado!...
Depois do jardineiro Tistu vai ter lições de cidadania com o responsável pela ordem na fábrica de seu pai, o sr. Trovões. Começa então a conhecer outras realidades, como a cadeia e o horror que ela encerra e o bairro pobre, repleto de favelas, lama e sujeira. Decide então colocar mãos à obra, ou melhor, o polegar verde em ação e transforma aqueles lugares. E ainda o hospital que, embora limpo e asseado, carregava um ar de tristeza em que pacientes não sentem ânimo para se curarem.
A história vai avançando até a iminência de uma guerra entre dois países distantes de Mirapólvora que, a essa altura, com todas as transformações paisagísticas empreendidas por Tistu, passa a se chamar Miraflores. É quando o menino descobre, de fato, o trabalho do pai como fabricante de canhões de guerra, e aponta para esse lado o seu dedo. Isso me faz lembra da música de Geraldo Vandré, Pra não dizer que não falei das flores e o trecho que diz:
Pelos campos há fome
Em grandes plantações
Pelas ruas marchando
Indecisos cordões
Ainda fazem da flor
Seu mais forte refrão
E acreditam nas flores
Vencendo o canhão
Com a proximidade do Dia das Crianças, fica aqui a dica de uma leitura rica em imaginação, carregada de poesia que enternece o coração, com humor na medida que atenua as mazelas da vida e com bela mensagem que engrandece a alma.
Que delícia essas lembranças e esse reencontro. O Menino do Dedo Verde é um dos livros que marcaram a minha infância e, de fato, ele tem uma mensagem lindíssima que vale a pena ser lida e relida.
ResponderExcluirAmo seu blog, Ciça!
Saudades...