O primeiro contato
que tive com Albert Camus foi ao final da década de 1970, quando me deparei com
O Estrangeiro, sua obra mais famosa. A
edição (na foto) que li foi uma
publicada pelo Círculo do Livro, editora que vendia livros pelo sistema de
clube, do qual o sócio participante tinha a obrigação de comprar um livro por
mês, escolhido por meio de uma revista recebida quinzenalmente com diversos
títulos a serem escolhidos.
Lembro-me que, na
época, meu sobrinho tinha dois anos, mais ou menos, e adorava olhar para aquele
livro por causa da capa, e vivia me pedindo para pegá-lo, sempre que vinha à minha
casa. Essa edição tem me acompanhado durante muitos anos e ainda hoje a tenho
comigo, um pouco danificada nas lombadas, talvez porque por aquele tempo, mais
jovem, não tinha tanto cuidado com meus livros. Mas não me importo, gosto do
livro desse jeito mesmo e sempre que o vejo sinto nele as marcas dos frequentes
manuseios, das constantes mudanças, das várias transformações pelas quais
passei. Ele faz parte de tudo isso e é normal que, como eu, tenha suas
cicatrizes também.
Curiosidades à
parte, Albert Camus, escritor francês que se estivesse vivo completaria 100
anos, foi uma revelação para mim. O
estrangeiro me seduziu de tal forma que o reli diversas vezes. Em linhas
gerais, o romance, que foi lançado em 1942, conta a história de Meursault, um
narrador personagem, que não expressa emoção nem quando a mãe morre. Em dado
momento, em uma praia, ele acaba matando um árabe por causa de um delírio
provocado pelo sol, e é julgado por esse ato. Talvez nem tanto pelo assassinato
em si, mas pela sua insensibilidade. A ação desenrola-se na Argélia, na época
em que o país ainda era uma colônia francesa.
Com cerca de oito
milhões de exemplares vendidos, O Estrangeiro
foi traduzido em mais de 40 línguas, e tem um dos mais belos começos que existem
na história da literatura, conquistando o leitor logo de “cara”:
Hoje mamãe morreu. Ou talvez ontem, não sei. Recebi um
telegrama do asilo: “Mãe morta. Enterro amanhã. Sinceros sentimentos.” Isso não
quer dizer nada. Talvez tenha sido ontem.
Romance inserido na
teoria do absurdo de Camus, O estrangeiro
apresenta um mundo sem sentido, cujo significado deve ser criado pelo
próprio indivíduo. O tema absurdo voltado à filosofia de Camus apresenta-se em
sua totalidade no livro O mito de Sísifo,
publicado pelo escritor também em 1942. Junto com O estrangeiro forma o “Ciclo do Absurdo”, completado ainda com a
obra teatral Calígula.
Ganhador do Nobel de
Literatura em 1957, Albert Camus continua atual e bastante lido. Só na França, é
um dos campões de vendas de livros e assunto constante nos programas escolares
do país. Em outros países é considerado como um pensador “contemporâneo” e “universal”.
Nascido na Argélia,
em 7 de novembro de 1913, Camus é de uma família pobre, sua mãe, por exemplo
não sabia ler nem escrever. Foi um professor que o descobriu e o incentivou a
estudar. Morreu precocemente, aos 46 anos, em decorrência de um acidente de
carro no centro da França, deixando uma obra expressiva e reverenciada.
É dele também o
romance A peste, publicado em 1947,
que estou lendo... ainda no comecinho, mas já gostando da história. A trama
fala de uma cidade argelina, Oran, tomada pela peste bubônica e questiona
vários assuntos relacionados à natureza do destino e da condição humana.
Trata-se de uma alegoria dos horrores da Segunda Guerra Mundial.
(...) e chega talvez o dia em que, para desgraça e
ensinamento dos homens, a peste acorda os ratos e os manda morrer numa cidade
feliz.
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