quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Os cem anos de Camus

O primeiro contato que tive com Albert Camus foi ao final da década de 1970, quando me deparei com O Estrangeiro, sua obra mais famosa. A edição (na foto) que li foi uma publicada pelo Círculo do Livro, editora que vendia livros pelo sistema de clube, do qual o sócio participante tinha a obrigação de comprar um livro por mês, escolhido por meio de uma revista recebida quinzenalmente com diversos títulos a serem escolhidos.

Lembro-me que, na época, meu sobrinho tinha dois anos, mais ou menos, e adorava olhar para aquele livro por causa da capa, e vivia me pedindo para pegá-lo, sempre que vinha à minha casa. Essa edição tem me acompanhado durante muitos anos e ainda hoje a tenho comigo, um pouco danificada nas lombadas, talvez porque por aquele tempo, mais jovem, não tinha tanto cuidado com meus livros. Mas não me importo, gosto do livro desse jeito mesmo e sempre que o vejo sinto nele as marcas dos frequentes manuseios, das constantes mudanças, das várias transformações pelas quais passei. Ele faz parte de tudo isso e é normal que, como eu, tenha suas cicatrizes também.

Curiosidades à parte, Albert Camus, escritor francês que se estivesse vivo completaria 100 anos, foi uma revelação para mim. O estrangeiro me seduziu de tal forma que o reli diversas vezes. Em linhas gerais, o romance, que foi lançado em 1942, conta a história de Meursault, um narrador personagem, que não expressa emoção nem quando a mãe morre. Em dado momento, em uma praia, ele acaba matando um árabe por causa de um delírio provocado pelo sol, e é julgado por esse ato. Talvez nem tanto pelo assassinato em si, mas pela sua insensibilidade. A ação desenrola-se na Argélia, na época em que o país ainda era uma colônia francesa.

Com cerca de oito milhões de exemplares vendidos, O Estrangeiro foi traduzido em mais de 40 línguas, e tem um dos mais belos começos que existem na história da literatura, conquistando o leitor logo de “cara”:

Hoje mamãe morreu. Ou talvez ontem, não sei. Recebi um telegrama do asilo: “Mãe morta. Enterro amanhã. Sinceros sentimentos.” Isso não quer dizer nada. Talvez tenha sido ontem.

Romance inserido na teoria do absurdo de Camus, O estrangeiro apresenta um mundo sem sentido, cujo significado deve ser criado pelo próprio indivíduo. O tema absurdo voltado à filosofia de Camus apresenta-se em sua totalidade no livro O mito de Sísifo, publicado pelo escritor também em 1942. Junto com O estrangeiro forma o “Ciclo do Absurdo”, completado ainda com a obra teatral Calígula.

Ganhador do Nobel de Literatura em 1957, Albert Camus continua atual e bastante lido. Só na França, é um dos campões de vendas de livros e assunto constante nos programas escolares do país. Em outros países é considerado como um pensador “contemporâneo” e “universal”.

Nascido na Argélia, em 7 de novembro de 1913, Camus é de uma família pobre, sua mãe, por exemplo não sabia ler nem escrever. Foi um professor que o descobriu e o incentivou a estudar. Morreu precocemente, aos 46 anos, em decorrência de um acidente de carro no centro da França, deixando uma obra expressiva e reverenciada. 

É dele também o romance A peste, publicado em 1947, que estou lendo... ainda no comecinho, mas já gostando da história. A trama fala de uma cidade argelina, Oran, tomada pela peste bubônica e questiona vários assuntos relacionados à natureza do destino e da condição humana. Trata-se de uma alegoria dos horrores da Segunda Guerra Mundial. 

(...) e chega talvez o dia em que, para desgraça e ensinamento dos homens, a peste acorda os ratos e os manda morrer numa cidade feliz.

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