Ela me foi apresentada na escola, nas aulas de Português e de tanto ler e analisar, os versos aderiram-se ao meu ser e, ainda hoje, me pego declamando. Aliás, quando a estudava, lembro-me que passava horas no quarto lendo e recitando em voz alta, de tanto que gostava da sonoridade das rimas.
O poema trata do amor do caboclo do mato Juca Mulato pela filha da patroa. Atormentado com o sentimento, tenta de todas as formas aplacá-lo. Recorre então a um curandeiro e chega a buscar a morte, da qual é resgatado por seres da natureza.
O poema é comprido, mas acho que vale a pena transcrever aqui pelo menos um trecho dele:
...
Mas de onde vem o mal que tanto de abateu?
- Ele vem de um olhar que nunca será meu...
Como está para o sol a luz morta da estrela
a luz do próprio sol está para o olhar dela...
Parece o seu fulgor quando o fito direito,
uma faca que alguém enterra no meu peito,
veneno que se bebe em rútilos cristais
e, sabendo que mata, eu quero beber mais...
- Eu já compreendo o mal que teu peito povoa.
Dize Juca Mulato, de quem é esse olhar?
- Da filha da patroa.
- Juca Mulato! Esquece o olhar inatingível!
Não há cura, ai de ti, para o amor impossível.
Arranco a lepra do corpo, estirpo da alma o tédio,
só para o mal de amor nunca encontrei remédio...
Como queres possuir o límpido olhar dela ?
Tu és qual um sapo a querer uma estrela...
A peçonha da cobra eu curo... Quem souber
cure o veneno que há no olhar de uma mulher!
Vencendo o teu amor, tu vences teu tormento.
Isso conseguirás só pelo esquecimento.
Esquecer um amor dói tanto que parece
que a gente vai matando um filho que estremece
ouvindo, com terror, no peito, este estribilho:
"Tu não sabes, cruel, que matas o teu filho?"
E, quando se estrangula, aos seus gemidos loucos,
a gente quer que viva e vai matando aos poucos!
Foge! Arrasta contigo essa tortura imensa
que o remédio é pior do que a própria doença,
pois, para se curar um amor tal qual esse...
- Que me resta fazer ?
- Juca Mulato: esquece!
Blogs sobre livros e literatura existem vários. Todos muito bons e, como boa leitora, sou fã incondicional da maioria deles. Mesmo assim, arrisquei-me em criar um. Neste blog quero falar não só de livros, mas também da leitura que faço deles e do ato de ler. Não só. Quero ainda abrir um espaço para minhas observações, da vida, do cotidiano, das pessoas. É uma forma de registrar as minhas impressões e compartilhá-las. A quem se dispuser a ler, espero que aprecie, comente e divulgue.
sexta-feira, 28 de agosto de 2009
Poema inesquecível
Não costumo ler poesias, só de vez em quando. Gosto mais de prosa. Mas toda vez que me aventuro a ler uma poesia gosto tanto que sinto um lamento por não ter me aprofundado mais nesse gênero literário. Há uma, porém, que me acompanha desde a época da adolescência e não me sai da cabeça desde então. Trata-se de Juca Mulato de Menotti Del Picchia.
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lindo!
ResponderExcluirda minha época escolar,o que me raptou foi o de Casimiro de Abreu,aquele famoso na qual chora a "saudade da infância querida que os anos não trazem mais",lia repetidamente pra mim mesma,talvez encontrando ali uma saudade também minha.
Eu gosto muito de Menotti Del Picchia, apesar de não conhecer muito a sua poesia... Essa, aliás, era uma que eu não conhecia ainda...
ResponderExcluirSeu blog é ótimo!
Vai pros meus favoritos...
Beijos, Ciça!
Conversarmos sobre literatura, prima, dá nisso, vai-se descobrindo mundos fantásticos, inteligências impressionantes e tudo com muita criatividade. E quando alguém nos mostra este mundo, merece nossa admiração.
ResponderExcluirQue belos trechos, quanto amor pela sonoridade, quanta vontade em revelar formas diferentes para descrever um instante. Belo texto. Valeu!