segunda-feira, 14 de junho de 2010

Inspiração


Nelson Mandela é um homem impressionante, extraordinário mesmo, que suscita admiração e respeito por onde quer que vá. Quando ele foi libertado, em 1990, depois de ficar 29 anos aprisionado em Robben Island, na África do Sul, lembro que estava em casa assistindo ao noticiário com o meu pai, quando a certa altura, entre contentamento e compaixão, ele comentou:

Finalmente Mandela foi libertado, mas é uma pena que isso só aconteceu agora, porque ele já está com mais de 70 anos. Isso significa que a maior parte da vida ele a passou encarcerado.
– Mas ele etá livre e isso é o que importa – retruquei.

Hoje, passados 20 anos daquele episódio, Mandela continua entre nós. Prosseguiu com seu sonho, foi presidente da África do Sul, lutou para acabar com a segregação racial, ganhou um Prêmio Nobel da Paz, entre outras distinções, e está vendo seu país sediar a Copa do Mundo de Futebol em 2010. O tempo e a idade, para ele, não foram obstáculos.

Sábado, nesse clima todo de campeonato mundial, assisti ao filme Invictus, dirigido por Clint Eastwood e estrelado por Morgan Freeman, no papel de Nelson Mandela. A trama se passa em 1994, pouco depois de Mandela assumir a presidência da República e constatar que a África do Sul continuava sendo um país racista e economicamente dividido. Com a proximidade da Copa do Mundo de Rúgbi, que pela primeira vez seria realizada no país, Mandela resolveu utilizar o esporte para unir a população. Para essa empreitada, ele incentivou François Pienaar (Matt Damon), capitão da equipe sul-africana, a trabalhar para que a seleção nacional fosse campeã.

O episódio, que originou o filme, foi inspirado no livro-reportagem do jornalista John Carlin, Conquistando o Inimigo, que mistura histórias do apartheid com o processo de democratização do país, liderado por Mandela.

Uma das cenas mais marcantes do filme é quando Mandela fala a Pienaar sobre um poema que o inspirava na prisão nos dias em que se sentia deprimido. Trata-se de Invictus, escrito em 1875 pelo poeta britânico William Ernest Henley, que Mandela lia e relia em Robben Island para manter a esperança e a sanidade.

Vaculhei pela internet – não foi difícil – até encontrar o poema, que reproduzo aqui traduzido. As palavras, carregadas de metáforas, não poderiam ser mais significativas e profundamente inspiradoras.
Invictus

Do fundo desta noite que persiste
A me envolver em breu – eterno e espesso,
A qualquer deus – se algum acaso existe,
Por mi´alma insubjugável agradeço.

Nas garras do destino e seus estragos,
Sob os golpes que o acaso atira e acerta,
Nunca me lamentei – e ainda trago
Minha cabeça – embora em sangue – ereta.

Além deste oceano de lamúria,
Somente o Horror das trevas se divisa;
Porém o tempo, a consumir-se em fúria,
Não me amedronta, nem me martiriza.

Por ser estreita a senda – eu não declino,
Nem por pesada a mão que o mundo espalma;
Eu sou dono e senhor de meu destino;
Eu sou o comandante de minha alma.

2 comentários:

  1. Que poema lindo, Cecilia
    Quero muito ver esse filme e ler o livro que o inspirou tb. Acho que o mais bonito de tudo isso é que Mandela passou tanto tempo preso e saiu da prisão sem ódio no coração...que caráter...bjs

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  2. Cicinha, adoro Mandela e seu exemplo! Vi o filme, lindo! se tivessemos mais pessoas como ele, o mundo estaria em paz.
    bjs, Cris

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