segunda-feira, 7 de junho de 2010

Homens literários

Quinta-feira. Feriado Corpus Christi. Estava no metrô, rumo à Vila Mariana, para checar as provas da revista que faço e que chegariam da gráfica até o meu trabalho. Pois é, vida de jornalista é assim mesmo. Não tem feriado, final de semana, horário. Quando se trata de fechamento ou cobertura a gente tem de estar disponível. Esta é a nossa sina.

Enfim... estava sentada naqueles bancos laterais do trem e totalmente distraída, quando minha atenção se voltou para uma figura elegante, esbelta, esguia à minha frente. Em pé, meio de perfil, meio de costas, um rapaz segurava com uma das mãos aquele gancho de metal prateado que fica no teto do vagão (não sei como se chama), enquanto na outra mão encontrava-se um livro aberto sendo devorado pelos seus olhos.

Olhei de relance, depois mais demoradamente. Não consegui ver direito o rosto do rapaz, que usava um óculos de aro preto, mas sinceramente, estava prestando mais atenção ao conjunto todo. Alto, muito alto, ele não era gordo nem magro, estava no ponto, como se costuma dizer. Vestia um suéter e uma calça jeans cinza, completados por um par de tênis preto. Os cabelos eram curtos, castanhos e sua atenção estava toda voltada para o livro, de forma que ele não percebeu que eu o examinava detalhadamente.

E, quanto mais via, mais eu queria olhar, pensando dentro de mim: "Meu Deus, que homem é este? De onde surgiu?". Ele era extremamente comum, devia ter provavelmente uns 27 anos, um pouco mais talvez, mas o todo era harmonioso, até que me surpreendi com a lembrança: "Já sei, ele se parece com o Brendan Fraser, um pouco mais novo, é verdade. Mas é o Brendan Fraser".

Essa lembrança talvez tenha a ver com uma leitura recente que fiz de Coração de Tinta, o livro de Cornelia Funke que foi adaptado para o cinema com o mesmo título e estrelado por Brendan Fraser. Acho que a figura do ator ainda deve estar povoando a minha mente, por isso a analogia. Pode ser isso, mas sei que quanto mais olhava para ele, mais achava que se parecia com o ator.

Enquanto matutava tudo isso na cabeça, o rapaz se moveu lentamente até a porta, contrária ao lado onde eu estava, de forma que ainda não conseguia ver seu rosto totalmente, apenas parte dele. Foi quando resolvi olhar para o livro que ele lia atentamente e saber qual título era. Mas quando chegou à estação Ana Rosa, ele fechou o exemplar, a capa ficou virada para o interior da sua mão e eu não pude ler, apenas percebi que era um livro grosso, de capa vermelha e pensei naqueles que conhecia com essas características: Anjos e Demônios, O Código da Vinci, Marley & Eu... bom, não parecia nenhum deles.

Ao parar na estação, enfim a porta se abriu e ele se foi, deixando uma desolação no ar, privando-me da sua bela presença e, ainda por cima, deixando-me curiosa para saber que tipo de leitura seduz um homem com ele.

4 comentários:

  1. esses homens literarios no metro sao um perigo hehehe

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  2. nossa,que suspense !
    me lembrou o conto do cortázar! depois te conto !

    adorei !

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  3. Ai, Ai! Esses homens que gostam de literatura realmente nos fascinam! Belo texto.

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  4. Ai, Ciça, nem fala nessa sina de jornalista. Também adorei Coração de Tinta, com certeza as lembranças do astro na tela marcaram.

    Bjs.

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