quarta-feira, 2 de junho de 2010

Lembranças literárias

Sempre costumo dizer que a hora do almoço é a melhor hora do dia quando se está trabalhando. É que atuei muito tempo em uma empresa em que o ar-condicionado era colocado no mínimo no verão, fazendo com que as pessoas ficassem congeladas lá dentro. Então, eu ansiava pelo horário de almoço para poder sair e me aquecer ao sol do meio-dia.

Hoje, graças a Deus, na empresa onde trabalho o ar pode ser controlado e, depois, estamos em uma época mais fria, de forma que o esfriamento do ambiente não se faz necessário. Mas, mesmo assim, continuo ansiando pela hora do almoço, seja pela fome, seja para trocar ideias com colegas de trabalho.

Particularmente hoje, a conversa no restaurante me levou até à minha infância. É que, conversando com Cris sobre a filha dela, a pequena Carolina, de oito anos, indaguei se a menina gostava de ler.
– Nossa, e muito – Ela respondeu. Sempre antes de dormir Carolina pega um livro para ler. E olha que não é um livrinho, desses pequenos e ilustrados, é livro com histórias e conteúdos.
Puxa, que legal – respondi.
É, eu acho bom, por isso sempre compro livros para ela. Digo para não me pedir brinquedo, mas se for livro eu compro mesmo.
– E o que ela lê?
– Ela já leu Harry Potter e gosta de clássicos infantis, Calvin & Haroldo e de Diário de um Banana. Mas também lê Ruth Rocha na escola.

Fiquei pensando nisso depois. Se Carolina, ainda tão pequena, já desponta ser uma grande leitora, todo um universo se abrirá para ela em pouco tempo. E lembrei que eu comecei muito tarde, mas não por falta de incentivo. Meu pai sempre estava lendo, comprava livros e enchia nossa casa de informação. Tínhamos aquela coleção de Clássicos Disney e tudo o mais. Mas lembro que livro mesmo eu só comecei a ler aos 11 anos, quando estava na 5ª série. Foi uma leitura obrigátória – A Moreninha, de Joaquim Manuel de Macedo. Depois dessa, outras surgiram, geralmente por conta da escola, como O Principe Feliz e outros contos, de Oscar Wilde, e A Tulipa Negra, de Alexandre Dumas.

Por essa época, em uma das férias que passei em Piracicaba, onde morava um tio e amigos, li Tistu, o Menino do Dedo Verde, de Maurice Druon, um romance infanto-juvenil que conta a história de um menino que ao tocar com seus dedos em algum lugar, tudo ficava verde e alegre. Foi uma leitura prazerosa, que me prendeu do início ao fim, tal o encantamento que senti com a narrativa.

Mas foi somente aos 15 anos, quando Fogo Morto, de José Lins do Rego me foi recomendado, é que minha veia literária pulsou mais forte. O romance é a obra-prima do autor e conta, de forma lírica e com linguagem regionalista a decadência dos engenhos de cana-de-áçúcar. A obra traz a história de três personagens: Mestre José Amaro, Coronel Lula de Holanda e Capitão Vitorino, uma espécie de Dom Quixote, considerado como o personagem mais bem construído da literatura brasileira.

Na época, essas histórias regionalistas, que falava de recantos longínquos do país, me fascinavam muito – e ainda fascinam. Depois dele li Menino de Engenho, Doidinho, Banguê, Usina e O Moleque Ricardo, todos de José Lins do Rego, e ainda Vidas Secas e São Bernardo, de Graciliano Ramos, e Música ao Longe, de Rachel de Queiroz, todos na mesma linha. E não parei mais.

Aos poucos vou colocando a leitura em dia, lendo uma variedade de gêneros, tentando recuperar o tempo em que o objeto livro ainda não havia fincado suas garras na minha pele, se misturando ao meu sangue e alimentando a minha alma. Por isso, vez por outra me pego em uma leitura infanto-juvenil e dos clássicos, que me encantam sempre.

Só espero que as novas gerações comecem cedo, se aventurem o quanto antes pelas páginas dos livros, ampliem sua imaginação, aprendam com as múltiplas leituras, tornem-se críticas e, assim, possam transformar a vida e o mundo.

Um comentário:

  1. Oi, Cecilia
    Também comecei ler muito cedo, mas foi Reinações de Narizinho que me despertou para o mundo da leitura. Minha filha vai fazer 7 anos e tb já adora ler; adora Calvin e Haroldo e os livros de Ruth Rocha. Tenho tentado ler para ela Monteiro Lobato mas ela ainda não se interessou. Acho muito importante esse primeiro contato com os livros..bjs

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