quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Pelo ciclo da cana-de-açúcar

Quando comecei a organizar minhas leituras no blog “Leituras que não esqueço”, espaço criado para anotar passagens marcantes das obras lidas, me confrontei com livros convividos há um bom tempo, fazendo com que uma gostosa nostalgia se apoderasse de mim. Foi como reler – e reviver – tudo novamente, relembrando até mesmo o momento vivido na época. Deu até vontade de reencontrar aqueles livros, alisar suas capas, folhear suas páginas, passear os olhos pelo texto, saborear mais uma vez suas histórias. É como rever um velho amigo, mais que isso, é como estar diante de si mesmo, encarando um outro eu, o eu que ficou gravado em cada folha do livro.

Dentre as leituras passadas, uma em especial me trouxe lembranças muito agradáveis, por fazer parte de um universo que muito me fascinou – e ainda fascina –, constituindo-se, ou melhor, dando sequência ao pilar que despertou de vez a paixão pelos livros em mim: Fogo Morto, de José Lins do Rego.

O livro é uma obra-prima do regionalismo brasileiro e fala sobre a decadência dos engenhos de cana-de-açúcar na região nordeste, retratada pelo autor de forma bem realista. Na verdade, este livro seguiu-se o chamado "ciclo da cana-de-açúcar", que começou com "Menino de Engenho", passando por "Doidinho", ambos de 1933, "Banguê" (1934), “O Moleque Ricardo” (1935) até chegar em "Usina” (1936). Fogo Morto foi publicado em 1943 e traz personagens mencionados nos demais livros.

Considero, este, o meu livro preferido, porque remete à minha adolescência, quando tinha de 14 para 15 anos, época em que passei a me interessar mais pela literatura, impulsionada, sobretudo, por uma professora de Português que tive no final do 1º e começo do 2º grau: Dona Rosemeire. Suas aulas eram magníficas, com leituras, exercícios de criatividade, apresentações de textos.

Fogo Morto é um romance dividido em três partes, cada uma com um protagonista e sua história, mas que ao final se entrelaçam. São eles: mestre José Amaro, coronel Lula de Holanda e capitão Vitorino, um dos melhores personagens já criados, uma espécie de "Dom Quixote" dos sertões. Simplesmente lindo! Suas aventuras e desventuras – talvez mais desventuras do que aventuras – me fascinavam e me faziam solidária a ele.

Menino de Engenho conta a história do menino Carlinhos, enviado depois da morte da mãe para o engenho Santa Rosa, onde será criado pelo avô e pelos tios. Ali acompanha um novo tempo de transformações econômicas e sociais, com a chegada das modernas usinas de açúcar. Quando atinge a idade escolar, vai para o colégio não mais como um menino ingênuo, mas já sacudido pelas emoções do corpo.

A história de Carlinhos prossegue em Doidinho, livro no qual o personagem passa para o internato, alimentando o desejo de voltar ao engenho Santa Rosa. Na escola conhece os bons e os maus, a amizade, o amor, os horrores, os castigos e a tirania do diretor. Começa assim a sua transição para Carlos de Melo e uma nova consciência social.

Em Banguê, Carlos de Melo, após terminar os estudos e formar-se em advogado, volta a viver no Engenho Santa Rosa. Ali encontra o avô doente e o engenho em situação precária.

O Moleque Ricardo situa-se fora do ambiente rural e narra a experiência do personagem que dá título à obra. Ricardo é um garoto que vivia no Engenho Santa Rosa, mas que o abandona seduzido pela vida na capital pernambucana. É o romance mais político de Lins do Rego e que aponta as desigualdades sociais e econômicas dos habitantes.

Usina, por fim,retorna à história do moleque Ricardo, agora de volta ao engenho Santa Rosa, depois de oito anos de ausência. Neste livro aparece também Carlos de Melo que, fugindo dos problemas em torno do engenho, entrega o patrimônio a parentes, tornando-se assim a Usina Bom Jesus.

O autor, José Lins do Rego Cavalcanti, nasceu eum Pilar, na Paraíba, e, ao lado de Graciliano Ramos e Jorge Amado, figura como um dos romancistas regionalistas mais prestigiosos da literatura nacional. Otto Maria Carpeaux, conforme informações na Wikepédia, dizia que José Lins era "o último dos contadores de histórias".

Ele escreveu ainda outros romances e crônicas, mas foram os livros acima que li, pelo menos até hoje. E isso me faz lembrar que preciso acrescentar, na minha lista de livros a ler para o ano que vem, outras obras de José Lins do Rego e de seu mundo regionalista. Ainda bem que sempre é tempo de retomar nossas leituras.

2 comentários:

  1. Passadinha para dar um oi e pedir um post sobre Arthur Rimbaud, tem como? Estou apaixonado por ele Cica. E claro sempre por você!!!! Bjus!!!!

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  2. Nossa que post lindo!!!Adorei mesmo!José Lins do Rego é um dos meus escritores favoritos li todos os seus romances também.
    Lembro que uma vez fui fazer um concurso para a Casa de Cultura Portuguesa e os dois textos da prova de português era justamente fragmentos de Fogo Morto. Acertei todas as questões da prova, pois conhecia tudo do livro, foi muito bom.
    Sou fã de carteirinha do Regionalismo e entre estes que você citou encontra-se Rachel de Queiroz, escritora Cearense a qual devotei muito estudo. Li quase tudo dela.
    Foi muito bom rever JLR. Obrigada

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