terça-feira, 3 de maio de 2011

Biografias estão em alta

Recentemente, ao circular por algumas livrarias da cidade, deparei-me com uma série de lançamentos, dispostos nas bancadas e em prateleiras, que versavam sobre o mesmo gênero literário: Biografias. Muitas delas sobre personalidades do mundo da música, como Elvis Presley, e algumas de artistas vivos, como Lobão, Justin Bieber, Amy Whinehouse. Sem falar na dos políticos, como José Sarney, Mandela e Barack Obama.

Gênero literário em que o autor narra a história da vida de uma pessoa ou de várias pessoas, as biografias geralmente contam a vida de alguém após sua morte. Atualmente, em razão do apelo popular e por contar com um público cativo, ansioso por histórias de vidas das celebridades da moda, as biografias passaram a retratar, com mais frequência, pessoas ainda vivas – e jovens.

Biografias, na verdade, sempre constituíram-se num gênero bastante atraente ao público-leitor, em diversas partes do mundo, mas no Brasil ganhou mais força há quase 20 anos, como lembrou Luiz Schwarcz, da Companhia das Letras, em entrevista ao caderno “Mais”, da Folha de S. Paulo, em dezembro de 2004: “O diferencial é que ele sempre foi sucesso no mundo e está crescendo no Brasil, especialmente desde os anos de 1990.”

Mas o fato de haver tantos biografados jovens e – teoricamente – com pouca bagagem para uma biografia, me intrigou, porque sempre associei o gênero a ampla pesquisa, convivência com o retratado (quando vivo) ou com seus familiares e amigos próximos e farta documentação para contextualizar o momento histórico em que o personagem vive.

Para entender melhor esse “boom” das biografias, sobretudo no Brasil, conversei rapidamente com o pesquisador, escritor, jornalista e professor, Sergio Vilas Boas, que tive o prazer de conhecer em 2009, quando cursei a pós-graduação em Jornalismo Literário, na Academia Brasileira de Jornalismo Literário.

Sergio, que foi meu professor no curso. é autor de vários livros, entre eles Biografias & Biógrafos (Summus, 2002), Biografismo: reflexões sobre as escritas da vida (Unesp, 2008), Perfis – e como escrevê-los (Summus, 2003) e Os estrangeiros do trem N (Rocco, 1997), com o qual ganhou o Prêmio Jabuti de reportagem em 1998.

Na breve entrevista que ele me concedeu, uma surpresa: o lançamento de uma biografia que está escrevendo, ainda este ano. Acompanhe:

Sobre Leituras e Observações: A que você atribui o aumento do número de publicações de (auto) biografias?
Sergio Vilas Boas
- Atribuo isso à necessidade de o público-leitor lidar com histórias que eles acreditam que aconteceram de fato, principalmente as que se referem a seus "ídolos". A ficção, infelizmente, não tem sabido criar personagens verdadeiramente empáticos.

Como estudioso em (auto) biografias, como você vê o crescente interesse por esse gênero literário?
Esse interesse não é de hoje. Vem de longa data (cresceu muito nos últimos 20 anos). Considero positivo pelo aspecto do despertar da leitura; e negativo do ponto de vista da relevância. Nem todo mundo sabe escrever ou contrata o ghost-writer certo. Para quem aprecia a arte da palavra, muitas dessas autobiografias ou memórias podem soar ingênuas e toscas.

No passado, as (auto) biografias eram escritas de forma cronológicas e bastante cansativas de ler. Quais são as diferenças entre as atuais e as antigas?
A cronologia rígida ainda é uma limitação de que os biógrafos e memorialistas não conseguem se livrar. Por trás disso, a crença de que a vida vivida é a "vida conforme o relógio".

Quais os elementos que uma boa (auto) biografia deve conter para prender a atenção do leitor?
Pesquisa profunda, entrevistas detalhadas, reconstrução literária de cenas/episódios relevantes.

Das atuais publicações do gênero que se encontram nas livrarias no momento (Obama, Sarney, Agassi, Mandela, Lobão, Padre Cícero, entre outras), qual você recomendaria?
Não leio mais esse tipo de texto com a mesma avidez de dez anos atrás, e, dessas que você mencionou, só recomendo a do Padre Cícero.

Algumas celebridades, embora jovens como é o caso de Justin Bieber, Restart, Amy Whinehouse, também ganharam biografias. Você acha que elas já têm conteúdo de vida o suficiente para isso ou é questão de oportunismo e marketing?
São textos oportunistas e estarão esquecidos em alguns meses.

Além de livros dedicados ao gênero, você já escreveu alguma biografia? Qual? Se não, pretende fazê-lo?
Não tenho o menor interesse em escrever uma biografia do tipo das que abarrotam as livrarias: calhamaços gigantescos, catálogos cronológicos com índices onomásticos incontornáveis, volume em detrimento da relevância, às vezes remontando a bisavós e avós, e narração onisciente e autoritária. Por enquanto, minha opção é a de escrever sobre vivos, de maneira em que eu também possa me expressar como coadjuvante da construção. Este ano devo lançar O Homem das Telecoms, perfil de 200 páginas sobre um megaempresário brasileiro dos setor de telecomunicações.


* Para saber mais sobre Sergio Vilas Boas acesse http://www.sergiovilasboas.com.br/

5 comentários:

  1. Opa, recomendo a excelente biografia do Tim Maia, escrita pelo Nelson Motta.

    www.cantodoslivros.wordpress.com

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  2. Sempre gostei de biografias, em especial aquelas bem trabalhadas e pesquisadas, que fogem ao perfil "caça-níqueis". Uma que me impressionou muito pelo trabalho foi "Chatô, o rei do Brasil", escrita por Fernando Morais.

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  3. oi, amiga, eu gosto de ler biografias, principalmente aquela em que a pessoa em questão foi um exemplo de vida.
    Agora, imagina, o Justin vai falar sobre o que? além de nao acrescentar nada, é só vaidade: eu, eu, eu...
    bjks, Cris

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  4. Oi, Ceci

    Adorei o texto e parabéns pela entrevista. Não sabia que nosso professor tinha sido premiado com um Jabuti. Mas que bacana!

    bjs

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  5. Ceci, eu tentei responder seu comentário no 3meia5, mas não consegui. Desculpe usar seu blog para isso. É que queria agradecer por ter lido meu texto, twittado e ainda ter comentado! rs Obrigada!
    bjs

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