Criatividade e imaginação não faltam no Carnaval brasileiro, sobretudo em relação aos desfiles das escolas de samba, uma das maiores expressões da festa popular em território nacional.
Os enredos e sambas-enredos encantam e enchem nossos olhos e ouvidos de beleza e de admiração. Por trás deles há um extenso trabalho de pesquisa, de processo criativo e de mão de obra que irá culminar em fantasias, alegorias e adereços, carros alegóricos, bateria, alas e comissão de frente que, harmonizados, contarão em pouco mais de uma hora a história do enredo.
Neste ano, a exemplo do que vem acontecendo em anos anteriores, a literatura também fará parte da festa nas avenidas. No eixo Rio-São Paulo, onde se concentram as mais conhecidas escolas de samba do país, vários enredos lembram e homenageiam escritores e a literatura em geral.
Em São Paulo, por exemplo, a escola de samba Nenê de Vila Matilde, pretende voltar ao Grupo Especial levando para o Sambódromo no Anhembi o enredo Chica convida... no palácio da Nenê a festa é pra você! uma homenagem a Francisca da Silva de Oliveira, a Chica da Silva, escrava alforriada que viveu no arraial do Tijuco, hoje Diamantina (MG), em meados do século XVIII.
No enredo da Nenê, cujo centro é o sonho da abolição dos escravos, há referências a Machado de Assis, José do Patrocínio e Cruz e Souza, escritores de descendência negra e ligados ao abolicionismo.
Já no Grupo Especial, a Mocidade Alegre lembrará o centenário de Jorge Amado, homenageando o escritor baiano com o enredo Ojuobá – no céu, os olhos do rei... na terra, a morada dos milagres... no coração, um obá muito amado. De estilo afro e literário, o tema é baseado no livro Tenda dos milagres, uma das obras mais conhecidas e que já foi adaptada como minissérie para a televisão.
Na Sapucaí
Jorge Amado também é o tema do enredo de uma das escolas do Rio de Janeiro. A Imperatriz Leopoldinense o homenageará com o enredo Jorge, amado Jorge, levando para a Sapucaí alguns traços da Bahia que o autor cita em suas obras. Além disso, o enredo mostrará obras de Jorge Amado, como O País do Carnaval, seu primeiro livro, e sucessos como Tieta, Dona Flor e seus dois maridos e Capitães da Areia, assim como histórias infantis.
No Rio, ainda, outro centenário a ser comemorado este ano será lembrado. Desta vez o homenageado será o escritor e dramaturgo Nelson Rodrigues. Ele será tema do enredo da Unidos do Viradouro, intitulado A vida como ela é, bonitinha mas ordinária... Assim falou Nelson Rodrigues.
A escola, que foi vice-campeã do Grupo de Acesso A no ano passado espera, com o enredo, retornar ao Grupo Especial. Para tanto fará um desfile com base nas obras, personagens e frases do escritor, trazendo, já na abertura, uma grande máquina de escrever mostrando o lado cronista de Nelson Rodrigues. E durante o desfile, personagens do cotidiano do escritor invadem a avenida, com destaque para obras fundamentais como Vestido de noiva e A serpente.
A literatura de cordel também ganhará espaço na Sapucaí, levada pela Acadêmicos do Salgueiro com o enredo Cordel branco e encarnado. A escola contará toda a história da literatura de cordel, dos primórdios na Europa até o surgimento, com força, na região Nordeste do Brasil.
Das histórias que fazem parte do contexto está O romance do pavão misterioso, além de destaques para Lampião, Padre Cícero, Caipora e o boitatá.
Já a Império da Tijuca fará uma viagem a mais de 50 lugares utópicos retratados em obras literárias do mundo todo. O enredo, Utopias - Viagens aos confins da imaginação, deverá ser alegre, imaginário e cultural, começando pelo carro abre-alas que falará sobre a Ilha Encantada da Utopia, criada pelo escritor irlandês Thomas Moore.
No decorrer do desfile, a escola mostrará os mundos que despertam fascínio e mexem com o imaginário humano, trazendo elfos e os reinos de unicórnio. A Império da Tijuca contemplará também os mundos de Macondo, do colombiano Gabriel Garcia Marquez, dos corsários e piratas, e do Reino de Sabá. No final, o Morro da Formiga se transformará no Reino de Eufônia, o mundo das notas musicais.
Para fechar, a Tradição destacará a vida artística do cartunista Ziraldo, um dos mais aclamados escritores infantis brasileiros. O enredo Ziraldo: páginas de uma vida... Uma história de sucesso! destaque para a obra Menino Maluquinho e personagens como o saci, além da carreira de Ziraldo como cartunista e escritor.
Pode-se até não gostar de Carnaval, o que não é o meu caso, mas não se pode negar que ele também é cultura. Cultura popular.
nossa que lindo!!! eu não sabia de toda essa folia literária na avenida!! que legal !!
ResponderExcluirNOSSA! Praticamente uma enciclopédia, haha! Eu também não sabia que a Literatura seria tão homenageada nesse Carnaval!! Não sou a maior fã, mas acho lindo o trabalho que eles fazem na avenida...:) Mas ainda preciso vencer a "preguiça" e ler Jorge Amado, até porque tenho uma coleção dele, herdada da minha tia, e essa coleção deve ter mais de 20 livros, e por incrível que pareça, ainda não li nenhum! De qualquer forma, SIM, Carnaval é cultura, queira ou não admitir. Post muuito legal!!!
ResponderExcluirE sobre Villette...bem, foi um grande sacrifício haha! No fim "valeu a pena", mas nunca passei por tantas emoções lendo um livro antes! Incrível! Acho que foi por isso que continuei...;)
GRANDE beijo! E obrigada pelo selinho mais uma vez!