E não
era pra menos, afinal, além da presença de tão destacadas personalidades do
mundo literário, os livros em questão – Memorial
do convento e Levantado do chão, reeditados
agora pela Companhia das Letras – são dois dos mais vigorosos romances de
Saramago. Sem falar que para mim, que li o primeiro com sofreguidão e encantamento,
e anseio imensamente pela leitura do segundo, o acontecimento era uma
oportunidade única da qual não poderia deixar de participar.
Sabia
que a empreitada não seria fácil para um evento literário desse porte, ainda
mais gratuito, e o pior é que eu não conseguiria sair mais cedo do trabalho
para garantir o ingresso. Ainda assim insisti e me arrisquei a ir no dia 13 de agosto último, comprovando,
ao chegar, que as minhas suspeitas estavam certas, em razão da longa fila que se
formava à frente e que chegava ao interior do Sesc Consolação, local do evento.
Depois de o funcionário avisar que não havia mais ingressos, muitas pessoas
desistiram, mas fã que é fã nunca desiste até o fim e permaneci na fila junto
com outros leitores, vendo, tempo depois, a espera ser recompensada com o
ingresso ao teatro. Nem acreditava.
Foi
uma noite primorosa, de leituras inesquecíveis, em que vislumbrei Pilar del Rio
no palco e, por extensão, a memória de Saramago. Milton Hatoum subiu depois
para ler um trecho de Memorial do convento,
seguido de Andréa del Fuego que leu também Levantado
do chão. Mia Couto, que eu via pela primeira vez, completou as leituras
destacando também um trecho da obra.
Memorial do convento foi o quarto livro que li de
Saramago, um romance de ficção histórica que começa na idade Média e chega ao
século 20. Tem início com a promessa do rei D. João V de construir um Convento
em Mafra caso a rainha, Dna. Maria Ana, lhe dê um herdeiro. A graça é
concedida e assim começa a construção do convento que se prolonga por todo o
livro. Paralelo ao acontecimento, há a história de Baltazar Sete Sóis, que não
tinha uma mão, e Blimunda Sete Luas, que consegue enxergar além das pessoas e
coisas. Eles se conhecem e se apaixonam em um auto de fé da Inquisição, no qual
a mãe de Blimunda está sendo julgada por prática de bruxaria. Ao lado deles há
o padre Bartolomeu de Gusmão e sua obsessão em construir a passarola, uma
engenhoca que voa graças às vontades reunidas. Para tanto, ele conta com a
ajuda de Blimunda e Baltazar.
O
romance é uma delícia e foi muito bem definido pelo autor como uma história de “Era
uma vez...”
Era uma vez um Rei que fez a promessa
de levantar um convento em
Mafra. Era uma vez a gente que construiu esse convento.
Era uma vez um soldado maneta e uma mulher que tinha poderes.
Era uma vez um padre que queria voar e morreu doido.
Era uma vez.
Saindo
de Mafra, o romance Levantado do chão percorre
uma zona do Alentejo caracterizada pelo latifúndio desde o final do século XIX.
Nele, Saramago narra a luta de um povo em meio às forças opressoras, como os
latifundiários, a ordem e a Igreja.
O
livro é considerado como um dos romances fundamentais do escritor, tendo
recebido o Prêmio Cidade de Lisboa,
em 1980, e o Prêmio Internacional Ennio
Flaiano, em 1992.
Segundo
Pilar del Rio, trata-se de “um romance que se aproxima de uma reportagem ao
mostrar o destino conflituoso das pequenas gentes e das grandes fomes que
assolaram a região alentejana, devido à resistência ao regime que antecedeu a
Revolução dos Cravos”.
Dois
momentos. Duas histórias. Duas obras fundamentais de José Saramago que agora
contam com o selo da Companhia das Letras, editora que passa assim a reunir
toda a obra do escritor.
Oi Cecília, é com muita alegria que vejo o nome de Saramago de novo na mídia. Estou super empolgada com as duas reedições de seus livros, sei que é difícil escolher o melhor, apesar de ter o meu predileto, mas tanto Memorial do Convento, como Levantado do Chão são excelentes. Apesar da linguagem especial, o primeiro é um romance histórico inesquecível, tive o prazer de apresentar um seminário sobre ele na faculdade, período que pude me debruçar sobre ele e estudar a fundo, fascinante! Já Levantando do Chão, é uma saga familiar emocionante, muito sofrimento dos personagens e muito choro do leitor. Eu como nordestina, e que possuo o sangue cearense correndo seco, grosso e duro nas veias, me identifiquei muito com esse livro. Um livro belíssimo que vale a pena cada palavra. É um livro sobre o Homem, sobre a Terra, sobre sua Cultura. Tipo assim: homem + terra = cultura. Me emociono só de lembrar
ResponderExcluirAcho que a companhia das Letras ainda não tinha publicado esse livro, pois a edição que eu tenho não é dela, e na época eu quis ter todos iguais e não achei. O mesmo eu digo de O Cerco de Lisboa, o meu é de outra editora. Espero que ela publique esse também.
Adorei seu post.
Beijos
Oi Monica! Desde que comecei a ler Saramago minhas leituras adquiriram uma força maior. Fico cada vez mais encantada e apaixonada. "Memorial" é belíssimo, e agora estou na expectativa por esse "Levantado do Chão". Seus comentários só aguçaram ainda mais minha vontade em ler... e ainda tem mais, muito mais... que bom. Beijos, querida e obrigada por passar por aqui.
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