Vinícius de
Moraes, o poeta, poetinha, é um caso singular na literatura e na música.
Acredito que não há quem não conheça, pelo menos um ou outro poema ou canção de
sua autoria, que não tenha sido embalado pelas rimas e ironias de suas letras, que não
tenha suspirado pelas suas declarações de amor infinitas – pelo menos enquanto durarem
– que também não tenha ciência da sua
importância e de seu lugar na literatura e na música brasileira.
Pois é. Mas
o que pouca gente sabe – e eu me incluo nesse rol – é que Vinícius de Moraes, além
de grande poeta e compositor de mão cheia também fosse um bom garfo e um amante
incondicional da arte de cozinhar. Mas pelo menos essa paixão pode agora ser descoberta
com o lançamento de Pois sou um bom
cozinheiro – Receitas, histórias e sabores da vida de Vinícius de Moraes, livro lançado pela Companhia das Letras como parte das
comemorações do centenário de nascimento do poeta, em 19 de outubro.
A obra, que
já se tornou objeto do meu desejo, foi concebida por Luciana de Moraes, filha
de Vinícius, falecida em 2011. O projeto teve sequência com sua companheira,
Edith Gonçalves, com a colaboração da produtora gastronômica Daniela Narciso e
da família do poeta.
Elas fizeram
um trabalho de garimpagem pela vida de Vinícius, sobretudo na sua infância,
fase em que os sabores da casa materna ficaram cravados na memória e na imaginação
do poeta. Mas não só. Junto a eles, também textos, poemas, letras de canções,
correspondências, depoimentos de familiares e amigos, muitos parceiros da
música como Toquinho, foram utilizados para traçar a vida de Vinícius por meio
de receitas culinárias.
Dividido em
três partes, o livro foi prefaciado pela irmã mais nova de Vinícius, Laetita
Cruz de Moraes Vasconcellos, a tia “Leta”, hoje com 97 anos. Cada parte traz
receitas das diversas fases da vida do poeta, como a infância no Rio de
Janeiro, as cozinhas que frequentou e os bares e restaurantes da preferência.
Tudo recheado com fotos, trechos de poemas, depoimentos, causos e curiosidades,
além das receitas, como a do “franguinho na cerveja”, executadas pelo próprio
Vinícius.
Já no final
do livro, no último capítulo, um deleite: chefs como Alex Atala transformam
poemas célebres de Vinícius em receitas de verdade. “Delicinhas”, como diria o poetinha
pra fazer e saborear. Humm, deu até água na boca.
E um viva a Vinícius
de Moraes – poeta, compositor, cozinheiro...
Um amigo lembrou bem que no poema "Para viver um grande amor", Vinícius já mostrava essa faceta de cozinheiro no trecho:
ResponderExcluir"Conta ponto saber fazer coisinhas: ovos mexidos, camarões, sopinhas, molhos, strogonoffs — comidinhas para depois do amor. E o que há de melhor que ir pra cozinha e preparar com amor uma galinha com uma rica e gostosa farofinha, para o seu grande amor?".
Boa lembrança.